domingo, 1 de janeiro de 2023

13 - ETERNAMENTE YU YU HAKUSHO

EPS – 13 UMA VIAGEM PELO MAKAI

Permanecendo pouco tempo por ali após a confusão que houve no castelo, Yusuke, Kurama, Hiei e Mukuro se despedem de todos antes de iniciarem a perigosa jornada que farão até os confins do mundo das trevas. Darla por sua vez, decide acompanhá-los, mas nitidamente, ela ainda não é bem vinda ao grupo.

Enquanto andam pelos longos corredores do castelo em direção à saída, Kurama vê uma espada simples e enferrujada fixada na parede apenas como objeto de decoração e rapidamente rouba o artefato escondendo-o em suas longas roupas ante os olhos perplexos de seus amigos. Hiei não segura um leve sorriso enquanto Yusuke o repreende:

– Caramba Kurama, esse negócio de roubar já está virando compulsão!
– Não se trata disso Yusuke, é que logo mais nós vamos precisar dela.
– E para que faríamos uso de uma espada enferrujada como essa?
– Você vai ver. Confie em mim.

Mais tarde, ainda naquele dia, nosso grupo de heróis surge em meio a uma multidão de mercadores locais numa região ainda muito próxima ao castelo central do reino de Tourin. Neste lugar em específico, nos últimos tempos, as ruas foram tomadas pelas barraquinhas de diversos mercadores ambulantes, que deixam bem claro que por aqui, aparentemente se negocia de tudo.

Kurama começa a puxar conversa com alguns deles e a cochichar nos ouvidos das pessoas nas ruas. Um youkai se mostra muito surpreso com suas palavras e sai correndo. E logo após se afastar dele, Yusuke pergunta o que eles estão fazendo ali afinal? Ao que Kurama replica:

– Estamos procurando condução, para termos uma viagem segura. A região dos três reinos, apesar de ser vasta, é apenas uma pequena parcela praticamente isolada do resto do mundo das trevas. E entre nós e a parte mais “ampla” do Makai, digamos assim, existe um gigantesco deserto, castigado por turbilhões de vento, vermes da areia e saqueadores sedentos. Sei que isso não seria muito mais do que um empecilho para um grupo como o nosso, mas é a morte certa para a maioria dos que tentam se arriscar.

– Eita, então como é que vamos passar?
– Com isso aqui.

Kurama mostra a espada enferrujada que retirou da parede do castelo de Enki mais cedo e confunde a todos. Sem entender nada, Yusuke questiona:

– Mas é o que?!

Logo eles são abordados e levados por um Youkai comum até seu comandante, um homem baixo, com longas barbas e chapéu engraçado, dono de um olhar desconfiado e uma bruta rispidez nas palavras. Que sem demora inicia uma conversa:

– Então, quer dizer que vocês estão procurando passagem segura pelo deserto, isso eu posso arranjar. Más não é nada barato. Você andou dizendo por ai que possui um artefato que vale muito a pena, mas eu me pergunto: é realmente o que você diz ser?

Kurama lhe mostra a espada ornamental enferrujada que retirou da parede do castelo de Enki e com seriedade lhe diz:

– Veja você mesmo, aqui está ela, a famosa “espada da destruição”! Retirada diretamente dos tesouros da rainha Mukuro. Um item único, que mediante bastante treino, irá lhe conferir poderes inimagináveis. Eu lhe ofereço essa rara peça pela minha passagem, e a de meus companheiros.

Espantado, o youkai toca a espada deteriorada com extremo cuidado, como se estivesse diante de uma preciosa relíquia, enquanto Yusuke tenta esconder sua cara de riso, morrendo por dentro ao saber que Kurama está mentindo dissimuladamente e na cara dura para o pobre Youkai.

Ainda desconfiado, o Youkai se questiona:

– Não sei não, isso se parece muito com uma espada comum. Como podemos atestar sua originalidade?

– Pergunte para a antiga dona dela. Ela está logo ali.

Diz Kurama apontando para Mukuro, que também não resiste e esboça um leve sorriso jocoso no canto da boca.

Agora, muito satisfeito, o Youkai aperta as mãos de Kurama com um grande sorriso e pede que o sigam. Yusuke e Hiei não conseguem acreditar na cara de pau de Kurama que logo lhes diz para pararem com as gracinhas antes que o capitão comece a desconfiar.

Mais à frente, eles se deparam com uma fortaleza móvel gigantesca semelhante a um inseto. Está viva, mas para dentro dela estão sendo embarcados dezenas de Youkais e é para ali que o grupo se dirige.

Hiei logo vai dizendo:
– Humf, é exatamente como a Mukade de Mukuro.

– Mais ou menos. As minhas eram armas de guerra e carregavam em seu interior o equipamento de que meus homens precisavam, como a câmara de regeneração em que você ficou. Essa, parece ser apenas para transporte de passageiros, ainda assim é a forma menos desgastante de se atravessar o deserto.

– Se você tem uma dessas, por que não a utilizamos? Questiona Darla.
– Foi destruída, na batalha contra o seu rei.

Procurando um canto para se deitar, Yusuke vai logo dizendo:
– Bom, sem dúvidas é melhor que ir andando.

Os quatro embarcam e rapidamente se misturam às pessoas que se espalham pela fortaleza móvel. Olhando pela janela, Yusuke sente a Mukade começar a se mover e observa as árvores ficando para trás, imaginando apenas o que o aguarda pela frente. E assim, uma emocionante viagem pelo mundo das trevas finalmente tem início.

Enquanto isso, nos cantos mais obscuros do Makai, o grupo de youkais que está decidido a abrir as portas de Hametsu planeja seu próximo passo. Com a chegada de uma pequena criatura alada ao local, que pousa sobre o ombro de Yajima.

O suposto líder do grupo, aquele a quem antes fora chamado de mestre, vendo aquilo o questiona:

– E então Yajima, onde eles estão?
– Em uma fortaleza móvel atravessando o deserto, senhor Uragami.

– Ótimo, eu nunca imaginei que ele teria peito para vir ao mundo das trevas buscar vingança. Más isto é um prato cheio para nós. Vá Yajima, leve Hoozen e Toshio com você. Vocês devem interceptá-los em Julon. Faça o que quiser com os outros, más não se esqueça, eu quero o filho de Raizen vivo. O poder que ele carrega será meu.

Neste momento, o Mazoku chamado Yajima deixa o local, acompanhado por Hoozen, a bela guerreira de longos cabelos vermelhos e Toshio, o homem de cabelos azuis espetados, que trajava roupas semelhantes à de um artista marcial.

A saída do grupo é marcada por um estranho tremor que abala as estruturas do mundo. Como que advindo do som de um trovão, cuja causa real se encontra nas profundezas de Hametsu. Interpretando aqueles sinais, o carrancudo Uragami apenas diz em voz alta:

– Desculpe pelo atraso, meu senhor, havia muitas coisas a serem feitas para que possamos garantir o seu retorno. Mas veja, desta vez, conseguimos muitas almas humanas para alimentá-lo. Talvez isto sacie por um tempo sua imensa fome.

Uragami ergue sua mão direita, e vemos em seu pulso, a Magatama de jade que lhe fora trazida anteriormente pelos remanescentes da invasão. Recitando algumas palavras indecifráveis e quase inaudíveis, ele liberta incontáveis almas que estavam aprisionadas no interior da joia. As mesmas se contorcem e dançam à sua volta num louco turbilhão de maneira indescritível enquanto ecoam seus murmúrios e gritos desesperados até serem tragados para a escuridão de Hametsu através das fendas que há em sua porta, como se houvesse ali, no olho do abismo, um intenso vácuo. Ao mergulharem nas assombradas câmaras abissais, aquelas almas são silenciadas para sempre.

Durante algumas horas, Yusuke observa cenários fascinantes e cheios de mistérios. Surrealistas até, como se tivessem saído da cabeça do próprio Roger Dean. Era como se suas obras tivessem ganhado vida. Pela Janela ele observa ao longe o que parece ser o esqueleto de um dinossauro, enorme em suas proporções. E vê também uma outra criatura, com um bando de pássaros sobrevoando ao seu redor, até que ali na areia, diante do calor escaldante, eles o consomem completamente em alguns poucos instantes, deixando só os restos da criatura que um dia animou aqueles ossos para trás.

Quando a primeira noite cai, um frio absoluto se abate sobre todos, como se todo aquele calor do dia se dissipasse, seria impossível sobrevier ali por muito tempo, mas ao longe, luzes chamam a atenção dos passageiros, que ao observarem melhor, percebem se tratar de montanhas cobertas por algum tipo de vegetação resistente tanto ao calor do dia, quanto ao frio da noite, e que brilham intensamente como se reagissem a alguma substância presente no ar.

No dia seguinte, regiões de beleza exuberante, convidam os passageiros a uma breve parada a fim de se refrescarem num dos poucos oásis daquele deserto sem fim. Pequenos lagos flutuantes, sem rochas para os segurar no ar, faziam daquele lugar único no mundo das trevas. Mukuro apenas lava seu rosto enquanto Hiei mergulha cautelosamente nas águas suspensas. Yusuke por sua vez, nada esparramando água para todos os lados como se fosse uma criança.

Mais tarde, eles se deparam com caravanas de Youkais que migram por regiões completamente ermas e a cada desfiladeiro, inúmeros salteadores tentam, sem sucesso algum, invadir a fortaleza móvel dos nossos aventureiros, que riem da audácia de tantos quanto tentam saltar no momento mais oportuno, mas que são tragados por fortes ventos e desaparecem em meio ao turbilhão de areias.

Mais um dia se passa após a sua partida, e Yusuke já avista uma paisagem que lhe desperta algo familiar, a singularidade da vida vegetal muito se assemelha à do local de seu confronto com Sensui.

Ao que pensa consigo mesmo:
– Ei, eu conheço este lugar.

E se perde em suas memórias daquele combate.

Enquanto isso, muito distante dali, Kuwabara e Yukina estão animados com a recuperação de Shizuru. Estão com eles também, o pai dos irmãos Kuwabara, Keiko e Koenma. O Dr. Satoshi a pouco estivera ali e tinha compartilhado que, pelos exames, ela não corria risco algum de morte. Era literalmente um milagre. Animado, Kazuma lhes diz:

– Ah irmãzinha, que bom que você finalmente acordou. Eu não aguentava mais. E o papai, bem … ele ficou aqui durante um tempo também, até revezou comigo. Ah, e a Yukina não me deixava esquecer de comer.

– Até parece né Kazuma, que um guloso como você ia se esquecer de comer. Responde Shizuru, sem perder o bom humor de sempre, fazendo todos gargalharem.

Após algum tempo de conversa agradável, Kuwabara se dirige a Koenma displicentemente e diz:

– Quando começará o treinamento no Mundo Espiritual? Eu não esqueci de nosso acordo.

– Muito em breve, estão sendo feitos os preparativos para que seu treinamento seja bastante eficaz.

Mas com ar de dúvida e de contrariedade, Shizuru interrompe dizendo.
– Como assim acordo?

– É que aquele sonho que você teve, não foi exatamente apenas um sonho. Eu realmente estava lá tentando te ajudar. O Koenma foi quem fez tudo isto. Mas o que fizemos, é uma violação da ordem natural das coisas e para termos a aprovação do Mundo Espiritual, tivemos que entrar em um acordo. Eu me comprometi a treinar com eles para dominar o brilho sobrenatural que despertei quando achei que você tinha morrido, e prometi me tornar uma espécie de protetor permanente de seus interesses.

– Humm, mas que palhaçada hein! Eles tinham era que ter feito isso sem pedir nada em troca. E afinal, você já não é o Detetive Sobrenatural que protege a Terra?

– Essa é a questão. Com certeza tem alguma jogada nessa história e eles vão me pedir alguma coisa além, más na hora a gente faz qualquer coisa por aqueles que ama. E eu dei a minha palavra. Então não dá mais pra fugir disso.

Diante dessa situação desconfortável, Koenma replica:

– Não pensem que usei vocês. Aliás, será uma ótima oportunidade para o Kuwabara ficar ainda mais forte e não haverá nem prejuízo para ninguém. Imagino que queriam apenas maior segurança quanto ao seu compromisso.

– Se você diz isso tudo bem. Más soa como se fosse rolar alguma chantagem. Responde Shizuru ainda sentindo que o irmão foi passado para trás.


No Mundo das Trevas, a fortaleza segue se movimentando rapidamente num embalo ritmado e sob os céus obscuros do Makai, ela atravessa incontáveis quilômetros pelo deserto da perdição durante o período que corresponde a um dia inteiro, levando consigo entre a multidão: Yusuke, Hiei, Kurama, Mukuro e Darla. Tudo parece correr bem nesta parte da viagem, e eles saem do deserto sem quaisquer problemas, deixando as tempestades de areia para trás enquanto adentram numa floresta completamente distorcida.

Recostado no canto de um salão, Kurama observa Darla fitar o amuleto em suas mãos como se estivesse perdida em pensamentos. E decide lhe abordar, dizendo:

– Era este o objeto que você disse ser capaz de abrir portais mesmo à longas distâncias no Makai, não é mesmo? Um amuleto Yaminade. Eu conheci um Yaminade certa vez. Foi-lhe dado por algum deles?

– Não, estes amuletos são feitos com a carne dos youkais bidimensionais que são controlados pelos Yaminades. Conseguir um de bom grado é praticamente impossível, pois implica na morte destes monstros, e eles são muito apegados as suas criaturas. Quem me deu isso aqui foi um Mazoku chamado Yajima Ryuuze, ele é um caçador de Yaminades. Nós dois ... já tivemos um lance uma vez. Mas ele não está mais entre os da minha tribo. O idiota escolheu o lado errado dessa guerra.

Darla se levanta e apoia suas mãos nos cotovelos, ela se vira de costas para evitar os julgamentos de Kurama, pois a expressão em seu rosto transparece nitidamente um coração partido. Kurama por sua vez decide ir mais a fundo:

– Parece que você ainda sente alguma coisa por ele.

Ao que Darla replica:
– Me deixe em paz. Isto não tem nada a ver com você.

– Desculpe por intrometer. Eu posso vê-lo? Como isso funciona? Diz Kurama estendendo suas mãos para pegar o estranho amuleto que possui dois olhos em sua superfície.

Ao que Darla lhe entrega e diz:

– Não sei bem ao certo. Mas toda vez que sua energia é utilizada, um dos olhos se fecha, e leva o maior tempão para ele se abrir novamente.

– Entendo. Como você o utilizou para chegar até aqui, um dos olhos se fechou. E agora só poderá ser usado mais uma vez. Pelo menos durante um tempo. Interessante.

Kurama fica um pouco por ali, com um olhar pensativo e já maquinando planos futuros em sua mente.

Neste meio tempo, noutro ambiente da Mukade, Hiei pergunta a Mukuro:
– O que deu em você para vir com a gente afinal?

Ao que ela responde:

– A muito tempo atrás, quando eu me firmei como rainha, numa época em que Yomi ainda não havia dado as caras, imaginei que automaticamente Raizen iria se sentir desafiado e lutaria comigo pelo destino do mundo das trevas numa guerra brutal. Más isto nunca aconteceu realmente. Ele nunca reagiu à altura das minhas provocações, mesmo nas vezes em que nos confrontamos diretamente. Ele observou minhas ações por séculos, e acredito que fez o mesmo com Yomi quando este ascendeu como rei. Eu não sei ao certo, mas parecia esperar por alguém que fizesse algo de bom pelo Makai.

– Resumindo: Você só veio com a gente para tentar descobrir algo mais sobre o passado daquele velho.

Neste momento um grito terrível é ouvido e chama a atenção de todos!
– É a voz do Yusuke!

Enquanto Hiei corre para ver o que está havendo, Mukuro parece apreensiva e pensa consigo mesma:

– O que é isso afinal?! Este Youki é quase tão grande quanto o meu!

Ambos correm para as acomodações onde Urameshi se contorce de dor enquanto é amparado por Kurama. Seu corpo parece liberar energias massivas e destrutivas enquanto ele grita de forma angustiante. Seu rosto queima e uma marca semelhante à de Raizen aparece. E em sua mente, ele houve os sussurros aterradores de uma voz estranha que tende a atraí-lo a Hametsu dizendo:

“– Venha me encontrar. Estou esperando por você.”

Mas, passados alguns minutos, ele se acalma. Ao que Mukuro pergunta:
– O que foi isso Yusuke?

Mas é Darla quem lhe responde:

– São os efeitos do estigma dos reis. Está se tornando mais intenso. Isto irá destruí-lo caso ele não o controle. A dor que o Yusuke vai enfrentar a partir de agora, será algo inimaginável.

Chateado, Yusuke serra os dentes e tenta se levantar:

– Tss, para de me espraguejar, ô boca de fossa. Não tá vendo que não era só isso não? Tinha mais alguma coisa, alguém falou comigo, más agora já passou. Agora me larga Kurama, me deixa sair daqui que eu tô precisando comer algo.

Urameshi se retira do local, sob o olhar preocupado dos demais. Ele sabe que alguém se aproveitou do seu momento de fraqueza para se conectar com ele.

Longe do campo de vista dos demais, ele se apoia contra uma parede enquanto morde uma maçã, mas lhe parece sem gosto. Logo ele sente seu estômago roncar de maneira monstruosa e assustadora. Ele sabe, que a fome que tem sentido recentemente, já não é mais algo natural. Agora ele não pode mais perder o controle de si, ou poderá seguir por um caminho sem volta. Então, vendo que as coisas tendem a ficar preocupantes, Yusuke se esforça para consumir o máximo possível de alimentos normais, mesmo tendo um sabor tão ruim.

Vendo-o agir como um glutão, Darla que havia acabado de chegar ao local o questiona:
– Precisa disso?

Ao que Yusuke lhe responde:

– Ah minha filha, não estranha não que eu sou assim mesmo. Como igual a uma capivara e depois tomo um chazinho que é pra secar cagando.

Tudo parece voltar à normalidade nas horas que se seguem, mas ao cair da noite, logo que adentram em uma floresta densa e sombria mais a frente, às coisas mudam drasticamente. Os troncos que se quebram e as folhas das árvores que se espalham, são completamente vermelhas. A mata, repleta de flores e de belezas vividas, é porem encoberta por uma névoa tóxica e mortal. As águas dos córregos e as frutas perfeitas nunca foram provadas, pois o veneno que os contamina seria fatal ao mais resistente dos seres.

Não demora muito até que a fortaleza móvel pare sua jornada e gritos surpresos comecem a se espalhar. Alguns Youkais correm pelos salões avisando a todos que fiquem quietos e façam total silêncio pois ...

– O Errante foi avistado!! O Errante vem vindo para cá!!

Vendo toda a movimentação, Yusuke logo se pergunta:
– Quem é esse tal Errante?

Ao qual Kurama responde prontamente:

– O Errante? É um dos seres mais antigos do Makai. Ele é um Gashadokuro e vem das profundezas, ninguém sequer sabe ao certo se ele é um Youkai. O pouco que sabemos é que ele é uma criatura milenar e primitiva, que ocasionalmente devora cidades inteiras. Muitos até tentaram, mas ele nunca foi ferido. Se nos emboscar aqui e destruir a Mukade, estaremos perdidos, pois há veneno no ar lá de fora por incontáveis quilômetros.

No momento seguinte os Youkais se amontoam nos vitrais das janelas tentando vê-lo, más apenas os passos brutais da gigantesca criatura que vaga sem rumo são sentidos. E apenas por um breve momento, o terror de sua imagem é vista acima das nuvens e atrás das montanhas, sendo oculta pela névoa logo em seguida.

Kurama retoma a palavra esclarecendo para Urameshi:

– Existem muitas criaturas no Makai, mas ver o Errante e sobreviver é algo único. Pois existem coisas por aqui que simplesmente não dá para enfrentar. Mesmo alguém com o poder de Mukuro, pensaria duas vezes antes de ir lá fora.

– Vem cá Kurama, então por que é que ela está lá?
– O que?!!!

Como se quisesse desafiar o próprio poder, Mukuro está parada sobre uma grande rocha, diante da criatura. O errante tem um tamanho colossal perto da pequena estatura de Mukuro. Medindo cerca de 30 metros, o Errante vaga a passos lentos e movimentos vagarosos. Até finalmente notar a figura que o encara, como se sentisse a ameaça que ela representa.

Com um movimento extremamente brusco, ele então estica seu braço para alcançar Mukuro, que sutilmente se esquiva numa perspicaz acrobacia, saltando sobre o imenso pulso da criatura. E com incrível agilidade, ela corre por seu braço logo em seguida, alcançando a altura de seu tórax. Com grande violência, dali ela salta em direção à cabeça do errante, acertando-lhe um chute por debaixo do queixo, e assim, dando um salto mortal para trás. O impacto de seu golpe é incrível, e faz seu adversário ser erguido do chão. Em queda livre, ela ainda une suas mãos à frente do corpo e lança uma gigantesca bola de energia que se choca violentamente contra o errante e explode numa nuvem de fumaça que encobre toda a região.

Pouco depois, Mukuro observa a criatura levantar-se como se nada tivesse acontecido, porem todos conseguem ver quando seu ombro esquerdo desaba, levando consigo juntamente seu enorme braço, incontestavelmente arrancado do lugar no último ataque. Mas para assombro geral, a criatura regenera-se numa velocidade que deixa os espectadores atônitos, pois em poucos instantes outro braço já está no lugar.

Antes mesmo que o Errante pudesse andar em direção a Mukuro, a mesma já se encontra novamente correndo com uma velocidade vertiginosa, do tipo que poucos conseguem acompanhar com os olhos. Sem perder tempo, ela passa por entre as pernas da criatura, salta golpeando por trás de seu joelho esquerdo, e faz o Errante se curvar. A monstruosa criatura solta uma espécie de rugido, como se fosse um animal selvagem, e tenta com o braço esquerdo golpear sua ágil adversária, que na sequência, apenas toca o braço da criatura e gira por cima dele como se fosse uma hábil acrobata. Num movimento muito rápido, ela começa a brandir apenas dois de seus dedos no ar, e traça linhas no tecido dimensional com isso ao redor da criatura, que parece simplesmente ignorar o perigo que aquilo representa.

Vendo aquilo Kurama diz em alto e bom tom:

– Ela está cortando o espaço! Como fez quando enfrentou Hiei. Essa técnica vai limitar o espaço de ação do Errante, dificultando seus movimentos.

– Hunf. Que exibida! Resmunga Hiei.

O Errante tenta se recompor e levanta-se, enquanto Mukuro o observa friamente, analisando as reações da criatura, como se a estudasse. O que dura pouco tempo, pois o enorme monstro se mostra absurdamente poderoso quando ignora o espaço distorcido e o atravessa em direção à sua inimiga.

Uma série de estrondos são ouvidos, quando o Errante encosta nas distorções, e pedaços da criatura vão sendo retalhados à medida que ela passa pelo espaço que fora cortado. Mas o monstro segue regenerando-se tão rapidamente quanto é destroçado. Com um sorriso de desdém, Mukuro mais uma vez libera sua imensa energia, que se espalha ao seu redor e se eleva ao céu como um pilar de luz, mas desta vez, para surpresa de todos, a luz entra em turbilhão, se condensa e retorna às mãos de Mukuro que desaparece diante da luminosidade do poder acumulado em suas mãos. Esta energia, ao ser liberada vai de encontro à criatura que caminhava rumo ao seu sentido, numa detonação que muito se assemelha ao de uma explosão atômica, desconfigurando naquele momento, toda a paisagem.

Atônitos, todos veem Mukuro caminhar em direção a Mukade, sem nenhum arranhão após o combate, deixando o Errante para trás, caído e derrotado, e não apenas isto, mas também demasiadamente destruído. Embora ainda se regenerando, não dava mostras de que ele iria se levantar tão cedo.

Longe dali, no Mundo Espiritual para ser mais exato, Kazuma Kuwabara juntamente com Ryohi é recepcionado por Koenma e Botan nos portões do julgamento do Reikai. Nós os encontramos no meio de uma breve explicação que está sendo dada pelo pequeno filho de Enma Daioh à Kazuma:

– Como eu ia dizendo: Para chegar até aqui no mundo espiritual, você teve que desgarrar seu perispírito do seu corpo físico. Isso quer dizer, que as lições que você aprenderá aqui com o auxílio da SDF, deverão ser praticadas no Ningenkai também, para que haja o fortalecimento do seu corpo físico no mesmo grau daquele que haverá com seu corpo espiritual.

– Ah cara, não acredito que eu vou ter que fazer tudo em dobro.

– Não seja bobo Kuwabara, isso vai fazer de você alguém muito forte, tá me ouvindo? Além disso, eu tenho uma surpresa.

– Uma surpresa é, do que se trata Koenma? Fala logo de uma vez.

Eles caminham por uma longa passarela feita de rochas, que entrecorta o vazio imenso ao seu redor. Até que chegam a um amplo local de treinamento, onde alguns membros da SDF já trocavam golpes, enquanto outros pareciam meditar. Koenma então lhe diz:

– Ali, de costas perto daquela árvore, tá vendo? O seu presente está lá.

Confuso, Kazuma caminha na direção apontada sem identificar do que se trata. Até que sente seu coração acelerar e uma fraqueza repentina lhe suprimir a firmeza das pernas ao se deparar com a velha mestra Genkai ali, de pé bem na sua frente, recebendo-o com um sorriso.

– Velhinha! Eu não tô acreditando nisso. O que diabos você ainda está fazendo por aqui? Você já não deveria ter reencarnado ou qualquer coisa assim? Eu nunca poderia imaginar que te encontraria fazendo hora extra no Reikai.

– Vejo que ainda é um bobalhão. Mas confesso que eu não fiquei surpresa quando me disseram que você conseguiu despertar o Seikouki. Visto que sempre teve muito potencial. Meus sinceros parabéns.

– Ora essa, viu só? Obrigado por acreditar em mim. Mas responda a minha pergunta velhinha, o que você está fazendo por aqui? Não me diga que está treinando este pessoal?

– Não, estou aqui para treinar você.

As palavras de Genkai causam deslumbre em Kazuma Kuwabara, que chega a perder a pinta de bad boy por um momento. Imensamente feliz, ele comicamente abraça Genkai de maneira desconcertante e lhe tira do chão enquanto a imagem se afasta. O que fica, é a certeza de que o futuro nos reserva muitas possibilidades.

Fim do episódio.

Eu não conheci o outro mundo por querer!
Eu sei que meu coração, agora dói ...

12 - ETERNAMENTE YU YU HAKUSHO

EPS – 12 UMA NOVA JORNADA

A situação torna-se incrivelmente tensa muito rapidamente. Em meio à poeira e destroços, surge Urameshi, visivelmente mudado. Suas marcas tribais agora estão à flor da pele. E ele ataca a misteriosa garota com selvageria.

A Youkai limpa o sangue em sua boca com as costas das mãos enquanto parece notar com surpresa, uma das marcas que surgem no rosto de Urameshi. E no instante seguinte, também avança contra seu adversário.

Mas no último segundo, porém, Enki intervém na batalha, impedindo que ambos se atinjam mutuamente ao segurar os dois ao mesmo tempo. E num grito estridente, bota todos em seu devido lugar:

– Já chega!

Kokou não segura seu entusiasmo e lhe diz:

– O que está fazendo querido? Deixa ele quebrar a cara dessa perua. Afinal, quem ela tá achando que é?!

– Não, é exatamente por isso que não devemos atacá-la. Nós não sabemos quem ela é e nem o que ela realmente veio fazer aqui. Perdeu o controle de si menino? Ou melhor, todos vocês perderam o juízo? Não sentem vergonha? A guerra já os afetou tanto assim?

Constrangidos e com os ânimos um pouco mais calmos, todos se recompõem. E a garota agora finalmente pode respirar e dizer a que veio:

– O meu nome é Darla e eu não vim lhes fazer nenhum mal. Eu sou uma Mazoku, assim como Raizen também era e este rapaz o é. Raizen foi um valoroso e conhecido guerreiro da nossa tribo no passado, mas nos deixou há muito tempo atrás.

– Então você também conheceu Raizen. Diz Enki.

– Na verdade, não. Eu nasci muito tempo depois. Mas algumas das histórias sobre ele, ainda nos são contadas.

– Interessante, eu não sabia que ainda existiam Mazokus por aí.
– Nossa tribo vive a milênios nos arredores de Hametsu.

– Esse nome de novo. Há, então estávamos certos. Você está ligada a Daito.

– Não exatamente, eu viajei até aqui, no extremo oposto do mundo das trevas, justamente para lhes dizer que nós não temos nenhuma relação com os atos de Daito. É bem verdade que até pouco tempo atrás, ele era tido como o nosso rei, mas, na verdade, foram as suas ações mais recentes que dividiram a nossa tribo em duas.

Deixando Enki e os outros um pouco de lado mais uma vez no Makai, nos voltamos para o Ningenkai onde encontramos Shizuru num local já bem conhecido por todos. Mas desta vez, não é do hospital que estamos falando, embora seu corpo ainda esteja por lá. Mas sim, caminhando com sua alma e mente libertas pelos corredores de uma projeção do estádio que anos atrás havia na ilha dos enforcados, onde se deu o último torneio das trevas. Um local que possui certo significado para ela.

Das sombras, surge uma figura que muito se assemelha ao Sr. Sakyo, e que no intervalo entre uma tragada no cigarro e outra, se dirige a sua visitante inesperada:

– Você não deveria estar aqui.

– Você!? É você mesmo ou a minha mente está pregando peças? Eu vi você morrer.
– E ainda assim, de algum modo, estamos aqui. Está perdida?

– Ah, é verdade, eu também morri. Não, espera um pouco aí. Eu ainda não morri. O Kazuma disse que estou entre a vida e a morte, como numa balança.

– E o que é que você ainda está esperando para mudar essa situação? Acha que alguém decidirá isso por você?

– Decidir por mim? Ele também falou algo a respeito disso. Que eu mesma tenho que me decidir.

– Para uma mente bem estruturada, a morte é apenas uma porta para a aventura seguinte. Mas para isso, você terá que deixar tudo pra trás. Está realmente pronta?

Sakyo estende sua mão, como se esperasse que ela fosse para junto de si. Mas Shizuru titubeia e recua, lhe dizendo logo em seguida:

– Não, eu acho que não.

Ao que Sakyo tristemente lhe diz:

– Eu pensava que estava quando apertei aquele botão. Não merecia viver, mas sabe, as vezes ainda penso que as coisas poderiam ter sido diferentes.

Sakyo se vira de costas, começa a caminhar e a desaparecer, mas antes que isto ocorra porém, ele se despede de Shizuru dizendo:

– Olha você aí agora, cheia de vida. Ainda não percebeu? Você já tomou sua decisão. Shizuru, não é mesmo? Eu estarei esperando por você.

Aquelas palavras, fazem o coração de Shizuru disparar, e bater fortemente, por não saber se aquele era realmente o espírito de Sakyo ou apenas uma alucinação gerada por sua mente enferma.

De volta ao castelo de Raizen, o diálogo entre eles continua:

– Poderia se explicar melhor mocinha? Diz Enki apreensivo.
– É isso mesmo, é melhor explicar tudo tintim por tintim. Completa Yusuke.

Ao que Darla responde:

– Tudo bem. Entre os do nosso povo, Hametsu é tido como um lugar sagrado. Há forças inigualáveis escondidas ali, algo que poderia mudar, num piscar de olhos, digo, numa fração ínfima de segundos, a natureza total deste mundo. Por muito tempo, nós Mazokus agimos como os guardiões de Hametsu, e utilizávamos o poder contido ali para preservar o equilíbrio do Makai. E assim, nós mesmos vivíamos em prosperidade. Foi assim por séculos, senão milênios, até que um dia, os portões de Hametsu foram infelizmente selados para sempre.

Kurama a interrompe dizendo:

– Antigas lendas cravadas na rocha, contam que dois deuses se enfrentaram em meio aos tormentos da escuridão e que ao fim do confronto, as portas para o abismo foram seladas, aprisionando um deles lá dentro. Isto porém, também ocultou seus preciosos segredos do resto do mundo definitivamente. É por isso que o lugar é tão impossível de se alcançar.

– Correto. Só que não foram deuses, no sentido literal da palavra, mas sim youkais de imenso poder, que carregavam desde o nascimento, uma centelha da chama da criação. Entre os Mazokus, nós os chamamos de Toshins.

– Toshin?! Este era um título que carregava o nosso rei. Diz Hokushin.

– Sim, Raizen foi um deles. Os Toshins são extremamente raros de surgirem neste mundo, mesmo entre os Mazokus. Eles carregam aquilo que chamamos de estigma dos reis, que é uma energia diferente de tudo mais que conhecemos. Eles são os únicos capazes de adentrar em Hametsu e manipular o seu poder. Nas histórias que me foram contadas, os Toshins do passado utilizaram o poder contido em Hametsu para criar um paraíso na terra, onde tudo era verde e agradável, os rios eram limpos e os céus eram azuis, mesmo no Makai.

– Tá de sacanagem! Isso tudo tá me cheirando à lorota. Diz Yusuke.

Ao que Kurama também replica, sob um novo olhar desconfiado de Yusuke, como o que dera lá no comecinho dessa conversa:

– Me desculpe mocinha, mas eu também acho que você está omitindo a verdade. Eu já estive em Hametsu, e toda aquela região é desértica e árida. Tomada por uma escuridão angustiante. É difícil acreditar que algo assim já tenha existido ali, mesmo no passado, se já não restam nem mesmo vestígios disso.

– Porém, é a mais pura verdade, tudo só veio a ficar assim tempos depois. Devido a um grande erro justamente cometido por Raizen. Pois foi Raizen quem num certo dia, selou a fonte de poder de Hametsu com seu próprio sangue. O que nem mesmo ele esperava, acredito eu, é que o cataclismo que se seguiria, trouxesse o fim de todas as criaturas, e engolisse em trevas toda aquela região. O fluxo de energia advindo de Hametsu, destruiu toda a vida daquele lugar num raio de milhões de quilômetros. E apenas os mais poderosos Mazokus sobreviveram.

– O que?! E por que ele faria isso?

– Essa resposta infelizmente eu não tenho. Como seu amigo mesmo disse: aparentemente ele lutou para aprisionar uma criatura naquele lugar. Mas isso foi há muito tempo. Talvez a milhares de anos na verdade. Ali já não resta nada a não ser ruínas e fantasmas. Tudo o que sei é que sem um propósito, a nossa tribo se tornou decadente e se dispersou. Frente a revolta de seu próprio povo, Raizen também decidiu partir, restando apenas alguns poucos indivíduos que ainda acreditavam no reestabelecimento do clã. Estes, vem tentando sobreviver naquele lugar praticamente desprovido de vida desde então.

– Não entendi, mas já tô compreendendo. E onde Daito entra em toda essa história afinal?

– Daito possuía uma obsessiva necessidade por poder. Mas não se pode agir assim sem cautela ao lidar com este tipo de força. Ele ansiava reabrir os portões de Hametsu e se apossar das energias que estão contidas ali há muito tempo. Porém ele não era um Toshin, e sua posição no trono sempre foi questionada devido a isso. Através dos séculos, ele enfrentou Raizen inúmeras vezes, ansiando roubar seu estigma, mas sem sucesso. Com a morte de Raizen, tudo parecia perdido para sempre. Até tomarmos conhecimento sobre a sua existência.

– Pera lá, do que diabos você está falando agora?

– A marca que eu vi em seu rosto e a energia que senti, é a isto que chamamos de estigma dos reis. Não há dúvidas.

– Para, para, para tudo. Você tá falando da maldição lançada por Daito?

– Não, isto não é uma maldição. No máximo, Daito apenas evidenciou algo que já existia em você. Esta é literalmente, a energia de um Toshin. Você é um Toshin. Foi devido a este poder que Daito foi atrás de você, ele queria roubá-lo. Não está sentindo seus poderes aumentarem gradativamente? Você não está perdendo o controle de si?

– Nessa ela acertou em cheio hein Yusuke. Diz Kurama.

– Sim, mas não coloca a charrete em frente aos burros, vamos por partes. Eu bem que já estava desconfiando que tinha algo mais aí, pois a primeira vez que eu manifestei essa energia dourada, foi na minha luta contra o Yomi. E ela voltou com tudo quando enfrentei o Daito. Só que de lá para cá, as coisas só estão piorando.

– Não quero ser portadora de más notícias, visto que já está sentindo os sintomas, más isso ainda vai piorar muito mais. O poder que flui dentro de você irá matá-lo mais cedo ou mais tarde. Irá rasgá-lo de dentro pra fora caso você não o domine corretamente.

Yusuke permanece apreensivo, e com irritação lhe diz:

– Que droga é essa sobre me matar assim de repente? Eu tô meio fora de controle, mas isso vai ser mamão com açúcar, já enfrentei muita parada dura. E afinal, se Daito já foi derrotado, então por que é que eu ainda estou sendo atacado?

– Como eu lhes disse antes, após os atos de Daito, nossa tribo se dividiu em duas. Há um grupo que se camuflou nas trevas e que ainda deseja o seu poder. Eles acreditam que um antigo rei habita aquele lugar, aprisionado, e querem reabrir os portões para libertar essa abominação no mundo. Mas a maior parte de nós entende que isto é impossível, nada sobreviveria por tanto tempo ali, no vazio.

– Tá, más e quanto a vocês?

– Nós? Bem, nós somos aqueles que por outro lado, se opuseram a isso. Não queremos lhe causar nenhum mal. Pelo contrário, queremos é ajudar você. E foi por isto que viajei até aqui a pedido do velho mestre Hiroshi. Ele deseja falar pessoalmente com você. Se propôs a te oferecer ajuda para controlar o estigma do rei antes que essa poderosa energia te destrua completamente.


– Ah, qual é. É muito conveniente à essa altura do campeonato que você chegue me dizendo que não apoiava o seu próprio rei e que deseja me ajudar. No mínimo, alguma coisa vocês querem em troca. Por que eu deveria confiar em você afinal?

– A ajuda que oferecemos é sincera e verdadeira, pois realmente, é como você disse, o futuro do nosso clã também depende disso. Hiroshi me disse que irá lhe fazer uma proposta assim que sua vida não estiver mais em risco.

– Ahhh, então a máscara finalmente caiu, não é mesmo? A seu modo, vocês também querem este poder para si.

– De certo modo, sim. Mas apenas Hiroshi poderá lhe explicar tudo melhor, se aceitar vir comigo é claro. Deixe-me ser a sua guia nesta jornada. Poderemos estar diante de Hiroshi ainda hoje se me seguir.

Neste momento, Enki intervém e intrigado, pergunta:

– Espera um pouco aí, como assim ainda hoje? É possível chegar em um lugar tão distante assim em um único dia!?

Ao que Darla retira do bolso um estranho artefato, que muito se parece com uma pequena bola de carne disforme, tendo em seu centro, dois olhos. Estando um olho aberto e o outro fechado. Ela então segue com o que dizia:

– Sim, eu trouxe comigo este artefato Yaminade, ele é capaz de abrir portais entre dois pontos distantes no universo.

Vendo o objeto, Yusuke e Kurama começam a ponderar comicamente se aquele não é o Behelit (nota de referência a: Berserk). Pois possui muitas semelhanças com o mesmo. Mas logo são ignorados por Darla que prossegue o que dizia:

– Este objeto, é algo de uso comum entre os da minha tribo, apesar de se esgotar muito rapidamente e de nunca termos vindo tão longe assim.

Intrigado, Yusuke se questiona:
– E é tão longe assim é?

Enki que parece calmo apesar da desconcertante situação, explica:

– Eu nunca vaguei por aquela região do mundo das trevas, mas ouvi as histórias. Do local onde estamos, leva cerca de mil anos para se chegar até lá.

Evidentemente perplexo, Yusuke replica:
– MIL ANOS !!!

Yusuke não consegue esconder sua cara de surpresa e olha diretamente para Kurama buscando alguma resposta, visto que ele havia lhe dito que o levaria até lá. De olhos fechados e semblante sereno, o demônio raposa cruza os braços e começa a explicar.

– Não se preocupe Yusuke, pode deixar os detalhes da viagem comigo. Eu prometo que nós estaremos de volta em menos de um mês.

Ao que Yusuke então afirma:

– Bom, então já que é assim, nós vamos pelo caminho mais longo mesmo. Não me leve a mal menina, mas mesmo depois de toda essa ladainha, eu ainda não confio em você nem nos da sua tribo. Até onde eu sei, tudo isso pode muito bem ser uma armadilha. Mas se quiser nos seguir, pode vir, só não será como uma guia. Pois nós vamos seguir pelo nosso próprio caminho.

Yusuke dá alguns passos em direção à porta e já vai logo dizendo:
– Simbora moçada, puxar o bonde, pois não há tempo a perder.

– Que empolgação é essa agora de repente? Pergunta Nankai.

– Ah cara, depois dessa conversa, fiquei aqui pensando que Raizen era muito mais antigo do que imaginávamos, e cheio de segredos. Se Daito não era o outro cara que entrou em Hametsu com ele, quem foi afinal? Ah moleque, esse negócio tá ficando bom! E por isso o meu sangue tá pulsando forte.

Yusuke diz essas palavras com um sorriso visível nos lábios. E ao invés de temer, parece estar muito empolgado com tudo o que ouviu.

Preocupado, Hokushin os alerta:

– Talvez vocês devessem ficar. E deixar tudo isso de lado agora que o inimigo foi derrotado e as coisas se resolveram.

– E perder a muvuca que isso aqui vai virar? Nem morta Creuza.

Yusuke caminha por alguns metros e para na entrada do salão. Aparentemente irritada com a irresponsabilidade deles, Kokou chega a dizer:

–Hummf. Essa é a coisa mais idiota que eu já ouvi em toda a minha vida. Se estão atrás do Yusuke, porque diabos o imbecil vai se jogar no olho do furacão? Estão é procurando encrenca.

Ao que Kurama responde:
– O Yusuke é assim mesmo. Não vai ficar feliz até ir a fundo nisso.

– Bom, é melhor vocês tomarem cuidado. O que foi fechado pode muito bem ser aberto novamente.

– Pois estou começando a achar que o Yusuke meio que está contando é com isso mesmo. Pra falar a verdade, até eu já estou. Diz Kurama, surpreendendo a todos.

Hiei não segura o sorriso e também empolgando lhes diz:

– Há, parece que com essa história, o próprio Kurama despertou novamente seu velho anseio por saquear tesouros antigos. Algumas coisas nunca mudam. Eu vou com vocês.

– E eu também vou.
Mukuro, que até então estava calada, lhes diz isso com seriedade.

Kurama se aproxima e de maneira desconcertante lhe pergunta:

– Você tem certeza disso? Boa parte do seu antigo reino foi destruído na última batalha, não deveria ficar e guiar a todos na reconstrução?

Com frieza, e desgarrada de seu passado tal como de suas responsabilidades, ela apenas lhe diz:

– Eu não sou mais a rainha deles. Sou apenas um monstro comum agora. E como sempre, dona do meu próprio destino.

– Você quem sabe, seria muito bom ter você conosco.

Kokou passa entre os dois, se dirige irritada até uma mesinha onde pega uma bebida. Ela dá dois goles e sai resmungando:

– Bando de malucos, já vi que vai sobrar pra mim e pro grandão, vamos ter que limpar a sujeira de vocês de novo.

– Eu até queria ir, mas não posso. Estou até o pescoço de trabalho. Então fica pra próxima. Só lhes desejo uma boa viagem e retorno seguro.

Da entrada, Yusuke com um aspecto confiante apenas grita:
– Esquenta não Enki, a gente volta logo. Pode ficar sossegado.

De volta ao hospital, onde desde a imersão de Kazuma rumo aos sonhos de sua irmã, dias atrás, ele segue ao lado dela na cama. Seu pai, não apareceu mais. Porém, Yukina sempre está com ele.

Dr. Satoshi, o médico responsável pelo caso de Shizuru, passava diariamente para avaliar a progressão do caso e beber uma xícara de café com o acompanhante de sua paciente. De pé, diante de Kazuma ele lhe diz:

– Boa tarde Sr. Kuwabara, como tem passado?

– Oh, Dr. Satoshi, tudo caminhando. E então, há alguma mudança no quadro da minha irmã?

– Infelizmente não, apesar dela não correr risco de morte, já que seus sinais vitais estão completamente normais, o seu caso é um grande mistério, não há nada que a impeça de acordar, no entanto, ela continua assim. Mas vamos aguardar mais, ainda é cedo para conclusões.

– Então o senhor nunca viu um caso desses?

– Não, nunca. E sabe Sr. Kazuma, mesmo que não haja conclusões, talvez seja bom o senhor pensar em todas as possibilidades, digo, nunca tivemos um caso assim aqui no hospital, mas ela pode, você sabe, ela pode nunca mais acordar...

– Ora, que isso doutor, eu tenho esperanças de que ela vai acordar.

– É isso mesmo doutor, não diga bobagens para ele, eu não vou largar do pé dele assim tão fácil.

Sem acreditar em seus ouvidos, ele vira-se para trás para confirmar com seus próprios olhos. E fica maravilhado ao ver que sua irmã o observava com um semblante cansado, mas com um sorriso no rosto. Shizuro havia acabado de acordar de seu coma!

Fim do episódio.

Eu não conheci o outro mundo por querer!
Eu sei que meu coração, agora dói ...

11 - ETERNAMENTE YU YU HAKUSHO

 EPS – 11 RETORNO AO MUNDO DAS TREVAS

Em meio a um despenhadeiro enevoado nas profundezas do mundo das trevas, erguem-se ruínas sombrias, repletas de fungos e desgastadas pelo tempo, entrecortadas por antigas e distorcidas raízes e habitadas por fantasmas. Em meio a um pátio que fora esculpido nas rochas, agora erodidas, mas que ainda sobrevivem ao tempo, vemos as chamas dançantes de algumas tochas que iluminam o lugar ao invadir o espaço da escuridão. A oscilante claridade revela a presença de um pequeno grupo de youkais, que diferentemente de quaisquer outros cultos estranhos, não se encontravam em profana adoração, mas sim, em silêncio, como se aguardassem por algo. Até que a serena calmaria que impera naquele lugar fétido é cortada pela chegada de uma dupla de youkais inferiores, que trazem junto consigo uma Magatama feita de jade e a cabeça daquele que outrora foi um poderoso adversário. 

Eles se aproximam de um grupo com seis indivíduos, aparentemente na liderança de uma dezena de outras criaturas aladas que não se destacam ante sua imponência. No centro, há uma bela e robusta mulher chamada Hoozen, com tatuagens tribais e longos cabelos vermelhos, seios fartos e que usa poucas vestes. Também marcado por chamativas tatuagens tribais, atrás dela  encontra-se um guerreiro forte de nome Takuma, bem mais alto e com longos cabelos brancos que esvoaçam ao vento. Ao lado daquela deusa ruiva, há uma segunda garota mais delicada de nome Sayaka, da qual não se pode dizer se é mais bela ou mais forte de tão equiparadamente atraente. Trajando calças compridas de um tecido leve, provavelmente para lhe favorecer os movimentos, um top sem alças e uma gargantilha preta que lhe enfeita o pescoço. A garota de cabelos azuis-claros encaracolados e curtos que vão apenas até a altura dos ombros usa ainda na cintura uma faixa de tom vermelho-escuro, assim como nos pulsos, onde se destaca uma espécie de bracelete. Abaixado ao lado esquerdo dela, vemos seu jovem irmão Toshio, que compartilha do tom de seus cabelos, apesar destes serem curtos e arrepiados. Ele utiliza um quimono de praticante de artes marciais, porém com mangas compridas e pequenas faixas vermelhas se mostram presentes em ambos os seus cotovelos. Vemos ainda que ali há mais um Youkai, de vestes verdes e cabelos compridos e alvos, envolto pelas sombras num canto escuro, cuja presença marcante só é ofuscada pela de seu líder, à direita, vestido com uma túnica densa e marrom recoberta por uma capa vermelha. Cuja grande cicatriz sobreposta sobre o olho direito, apenas firma seu olhar severo. E assim como nos outros, esconde-se sobre sua capa uma marca tribal em seu braço direito, bem perto do ombro. Ao que tudo indica, são todos membros de um mesmo clã. 

Os Youkais inferiores recém-chegados e citados antes então, se ajoelham diante de seu líder e erguem seus braços apresentando o que trouxeram. Com a voz rouca, anunciam: 

– Trazemos más notícias mestre Uragami, Lorde Daito morreu. 

No mesmo instante, entrecortado por trovões, um breve burburinho surge entre as pessoas à sua volta, que são incapazes de entender como o mais forte entre eles fora derrotado no mundo humano. Mas as palavras seguintes de seu arrogante líder, enquanto se apodera da Magatama, fazem com que todos se calem ao mesmo tempo:

– Já chega! Não importa. 

– O que quer dizer meu soberano? Ele era o nosso rei. Diz um deles.

– Não seja tolo, ele nunca foi realmente digno de tal alcunha. Daito desejava o poder de Hametsu apenas para si, não compartilhava verdadeiramente de nossos ideais. Sua morte não representa mais do que um empecilho a menos na conclusão de nossos planos.

– Então não haverá retaliação?

– Haverá sim, em um nível que eles jamais testemunharam. Faremos com que eles conheçam a mais terrível dor. Mas desta vez, será pelos motivos certos. Pois já é chegado o momento de libertarmos o verdadeiro rei do mundo das trevas. Yajima, pode prosseguir.

O Youkai com aspecto misterioso a quem ele se dirigiu, é aquele que se ocultava nas sombras. Sob seus cabelos bagunçados, se nota um tapa olho sobre a vista direita. E chama ainda a atenção neste indivíduo, um colar que ele carrega no pescoço, cujo pingente se assemelha ao formato de um olho. Ele caminha alguns passos para longe do grupo, estende a palma de sua mão direita para cima e um estranho vendaval começa a soprar bruscamente sobre a cabeça de todos. Seus alvos cabelos balançam à medida que a ventania aumenta, e nuvens carregadas de energia giram no céu, acompanhando o movimento de sua mão, que descreve círculos no ar. De olhos atentos às nuvens, seus companheiros percebem que uma espécie de portal começa a se abrir e levantando voo ao seu redor surgem as dezenas de criaturas aladas que ali estavam, cuja aparência lembra muito a dos gárgulas das igrejas medievais. As criaturas o observam por um instante, quando ele faz um leve aceno e todas adentram o portal que logo se fecha.

– Pronto! Eu não sei onde está o filho de Raizen, mas as minhas criaturas vão achá-lo, onde quer que esteja. Completa ele com um sorriso de satisfação no rosto.

Neste momento, dos portões selados naquelas decadentes ruínas, advindo mais precisamente das profundezas da escuridão; uma voz gutural ecoa entre as brumas em compassadas gargalhadas que fariam estremecer a alma do mais corajoso dos homens. Fica evidente que uma alma atormentada jazia presa naquele lugar há séculos, ansiando pela liberdade. E sua risada era apenas o prenúncio do que estava por vir. 

– Hahahahahahahaha ...

Poucos dias se passam, porém, a situação de Shizuru ainda segue da mesma maneira. Seus sinais vitais são estáveis, mas nenhum indício de que ela possa voltar dessa.

Kuwabara observa pela janela de seu quarto, enquanto uma brisa leve sopra balançando suavemente seu topete. Absorto em seus pensamentos, com um olhar entre saudosista e melancólico, é interrompido pela chegada de Koenma em sua forma adulta.

Agora sentado na beirada da cama, ele olha para o detetive sobrenatural e lhe diz.

– Então, vamos começar Kuwabara?

– Sim, estou pronto.

– Deite-se, eu mesmo vou te ajudar no processo. Procure relaxar, vou irradiar energia pelo seu corpo e te guiarei até onde sua irmã está. Vai ser como um sonho lúcido, mas você estará no limiar entre a vida e a morte.

Kuwabara deita-se na cama e fecha os olhos. Koenma lhe impõe as mãos e irradia uma energia verde clara como ondas de calor ao corpo de Kazuma que sente uma sensação relaxante até que em alguns instantes, pega no sono. Ao abrir os olhos ele se vê próximo a uma praia, é fim de tarde e o céu está colorido por um rosa que se mistura ao azul até escurecer. O vento sopra fresco causando um leve arrepio na pele, ao mesmo tempo que o sol se põe, ele ainda o aquece por breves momentos.

Enquanto as ondas quebram na beira da areia suavemente, quase que como uma melodia relaxante, Kuwabara observa uma pessoa sentada num velho tronco de árvore tombado ali perto e que agora serve como banco. A figura, olhando para a paisagem, trata-se de Shizuru, que fuma distraidamente como se nada de mal estivesse acontecendo com ela naquele mesmo instante no hospital.

Seu irmão se aproxima a passos lentos, temendo assustá-la, mas enquanto ele caminha, ela se levanta e desce por uma pequena trilha até chegar na areia e então anda pela praia, enquanto as águas lhe tocam os pés. Kazuma desce ao seu encontro e aproximando-se diz.

– Ir... irmã...

– Que é essa cara Kazuma? Parece que viu um fantasma!

– Não é nada demais maninha. Como você está?

–Ih, que papo estranho, eu tô bem, não tá vendo? É gostoso aqui, eu estava sentindo esse vento e pensando que poderia ficar por aqui para sempre.

Kuwabara percebe nesse momento que sua irmã tem um olhar distante, como se não estivesse totalmente lúcida naquele momento.

– Nem brinca com isso, vira essa boca pra lá. Aqui é bonito, mas preciso de você comigo, lá em casa.

– Você não acha que já está crescidinho demais não? Você não é mais aquela criança que precisava de mim.

– Aí que você se engana, ainda tenho muito pra aprender com você.

– Ei, olha só que lindo aquela revoada de gaivotas. Diz Shizuru, ainda alheia.

Kuwabara se distrai, ao observar os pássaros que passam dançando pelo ar, e ao se virar para falar do que realmente interessa, percebe que sua irmã está desaparecendo bem na sua frente. Sem entender o que está acontecendo, ele ouve a voz de Koenma.

– Ela foi pra outro lugar, esse sonho acabou. Concentre-se na sua irmã e você irá para onde ela está.

Kuwabara segue as orientações e percebe que agora está num campo todo florido, ao longe ele reconhece duas crianças, ele e sua irmã! Como as sombras de um passado distante. Ele também reconhece o lugar como sendo uma praça em que costumavam ir quando eram pequenos para brincar, ficava perto de sua casa. Kazuma se vê sentado no chão após ter sofrido uma queda  enquanto sua irmã prontamente lhe ajuda a se levantar. Ele ralou o joelho naquele dia, deve ser uma memória forte para ela.

Kazuma Kuwabara sente que o tempo é curto e que precisa de uma maneira de ser ouvido por ela. Ele corre, e chama pelo seu nome, mas ela parece ter medo dele e corre de mãos dadas com sua contraparte jovem até chegar numa casa, onde entra com pressa.

Ao tentar abrir a porta, Kuwabara nota que o sonho mudou novamente, pois vê que é mesma mobília do interior é dos dias atuais. Ele ouve barulhos na cozinha e ao caminhar até lá, vê sua irmã novamente adulta bebendo um café. Sem perder tempo lhe diz com firmeza:

– Shizuru, presta atenção, tenho que falar com você, é importante!

– Como você cresceu Kazuma, está tão forte agora, não é?

– Só me ouve. Kuwabara pede, já aflito, mas a irmã parece apenas não entender a importância do momento.

– Então fala, o que é tão importante? Você quer um café? Acabei de fazer.

Kuwabara segura a irmã pelos braços e olhando firme em seus olhos ele diz.

– Você está morrendo!

– Ai, Kazuma, tá ficando doido é? Tá me machucando! E que conversa estranha é essa agora? Me solta logo, senão quem vai morrer é você.

Escuta-se novamente a voz de Koenma que o interrompe dizendo:

– Kuwabara, ela vai tentar trocar de sonho mais uma vez, você precisa convencê-la a ficar, tem que atrair a atenção dela, senão ela vai escapar outra vez. 

– Irmã, olha nos meus olhos, só uma vez, me ouve. Você está em um hospital, foi atacada por um Youkai, e agora está entre a vida e a morte, numa espécie de coma!

Como se acordasse de um transe estranho, Shizuru expressa terror em seu olhar, como se recordasse abruptamente do Youkai que lhe atacara mortalmente.

– Ah! É verdade. Estou me lembrando. Eu … morri? Mas, como é que você está aqui?

– Não dá pra explicar agora, eu só preciso que você retome o controle do seu corpo e se levante daquela cama de hospital. Rápido minha irmã, você tem que voltar. Não pode me deixar sozinho.

Mas como se sentisse um imenso vazio por dentro, uma ausência de luz, de conexão entre sua alma para com a vida, Shizuru apenas lhe diz em um tom melancólico:

– Eu … não posso voltar. Não mais. Não se culpe pela minha partida Kazuma, uma hora todo mundo morre, não é mesmo?

– Não diga isso, irmã! Você precisa reagir, Koenma disse que ainda é possível, que você tem que querer, é só você se decidir.

Kuwabara se vê envolto em desespero e quer falar muito mais, quer gritar até convencer sua irmã, mas ela apenas o abraça carinhosamente e lhe diz baixinho antes de desaparecer:

– Adeus Kazuma. Agora, não fica só me olhando com essa cara de bobo ... me abraça.

– Não! Shizuru! Você tem que querer!!!

E enquanto grita, Kuwabara finalmente acorda e cai em prantos diante de Koenma ao perceber que o quadro de sua irmã não mudou. Ele havia fracassado.

Noutro lugar, tão distante dali, atraídos pela dúvida, remorso e incertezas deixadas pela última batalha, Yusuke, Kurama e Hiei finalmente retornam ao Makai na promessa de cumprirem uma perigosa jornada, sabendo que farão o que for necessário para encontrar a verdade.

Após alguns dias de caminhada, Hiei é o primeiro do grupo a avistar ao longe o castelo que outrora pertenceu a Raizen, mas que hoje está bem diferente. Não externamente é claro, mas sim por estar repleto de youkais de todo canto do mundo das trevas, pois agora, ali vive o primeiro rei do Makai unificado: O saudoso Enki.

Irritado pelo longo tempo que levaram para chegar até ali, Hiei vai logo dizendo:

– Vocês são muito lentos. Eu já poderia ter chegado aqui faz tempo.

– O que quer dizer? Tá chamando a gente de peso morto é?

– Calma Yusuke, ele só está irritado assim porque está preocupado.

Hiei se vira bruscamente, tentando ignorar as palavras de Kurama quando percebe que os dois tiram sarro de sua cara sorrindo e levantando o dedo mindinho de suas mãos (sinal este, que representa o romance no Japão, onde as almas enamoradas são amarradas por uma linha invisível pelo dedinho).

A zoeira, porém, é interrompida logo em seguida. Pois Kurama parece sofrer uma grave vertigem e é amparado por Yusuke. Que questiona:

– O que foi Kurama, está passando mal?

– Não é nada, já está passando.

– Ah, corta essa. Tá na cara que tá rolando alguma coisa.

– Não se preocupe, deve ser efeito do miasma do mundo das trevas. Ainda não me recuperei totalmente da última batalha que travamos. Para ser sincero, de uns tempos pra cá está cada vez mais difícil manter a aparência humana. Acredito que chegará um dia em que isso não será mais possível e a face do Youko virá definitivamente à tona.

Logo que Kurama se reestabelece, eles continuam seu caminho.

Não longe dali uma jovem assiste de cima de uma árvore a onda imensa de youkais cruzarem o céu. Não é possível ver com clareza quem é a figura misteriosa que os observa com ares de que vai segui-los, apenas o que se subentende é que trata-se de uma mulher, pois está vestindo uma espécie de larga saia amarrada por uma grossa corda na cintura.

Pouco depois, o trio se encontra em meio a dezenas de Youkais, sendo estes os antigos servos de Raizen. Hokushin, Nankai, Touou e Seitei são aqueles que primeiro os recepcionam. A princípio com preocupação, mas logo expressam um caloroso sorriso quando têm a notícia de que tudo no Ningenkai também já está em paz.

Ao ver Yusuke na companhia de Hiei, Nankai comenta:

– Esse filho de Raizen é osso duro mesmo. E parece cada vez mais forte sempre que o vemos, e seus amigos não ficam para trás.

Logo eles são guiados por Hokushin até a entrada do castelo, e dali, até a presença de Enki.

Em um grande salão, Enki aparece cercado de “assessores” e mostra-se muito atarefado. Mas quando avista o grupo (ao atravessarem a porta), este dispensa todos os seus compromissos para lhes dar a devida atenção.

– Mas olha só quem chegou! Olá Yusuke, como estão às coisas na terra?

– Ah, olá Enki, há quanto tempo. Foi um verdadeiro quiprocó. Mas finalmente tudo se resolveu, nós arrasamos o tal do Daito, e que luta meu irmão! Mas agora o jeito é esperar a poeira abaixar e as coisas se acalmarem outra vez.

– Mas quem o derrotou afinal? Aquele sujeito deveria ser muito forte. Nós sentimos sua energia daqui.

– Quem o derrotou foi eu mesmo.

Com simplicidade, Urameshi diz essas palavras e todos no salão o olham com surpresa e orgulho, pois ele é realmente um cara incrível, só não se dá conta disso. Yusuke estava ficando cada vez mais forte, e sua vitória só afirmava isso de fato.

Irritado, inquieto e impaciente, Hiei se mostra visivelmente preocupado e quebra o clima de alívio dizendo:

– Chega de papo furado, o que houve com Mukuro afinal?

Kurama toma a palavra dizendo:

– Verdade, nós estivemos no local da batalha em Alaric antes de vir para cá, mas não restava nada a não ser pedaços de uma de suas fortalezas móveis. Não havia ninguém por lá.

Abruptamente a chegada de Mukuro por uma escada lateral é notada por todos. Tão diferente do que imaginavam, ela não possui ferimentos graves. Apenas escoriações após sua batalha com Daito. Havia sim, sido derrotada, mas por ter sido posta inconsciente por um golpe de sorte. E ficou sob os escombros após uma grande explosão. Deixando claro que tudo pode ocorrer quando se trata de uma luta, mesmo entre pessoas com um poder tão grande.

– Estou aqui Hiei. Não vou dar desculpas a vocês, eu realmente vacilei, e aquele maldito Youkai acabou tendo uma chance de atravessar para seu mundo. Quando despertei, Enki me levou a acreditar que vocês poderiam dar conta do recado. E vejo que não o decepcionaram.

Um tanto constrangido e disfarçando o alívio que sentiu ao vê-la bem, Hiei permanece calado nos minutos seguintes, apenas ouvindo o restante da conversa. 

Enki logo quebra o gelo dizendo à Yusuke:

– Que bom que tudo deu certo. Você está ficando muito forte rapaz.

– Né não, um cara daqueles agora é fichinha pra mim.

Yusuke de maneira engraçada, toma para si méritos maiores até do que seu próprio ego, enquanto Kurama entra na conversa esclarecendo tudo.

– O Yusuke realmente está mais forte, mas Daito não havia se recuperado da batalha contra Mukuro e foi isso que contou bastante. Agora, Enki, fiquei intrigado com o fato de não termos avistado as hordas de Youkais que foram seladas deste lado da barreira logo que chegamos.

– Bom, enquanto vocês guerreavam por lá, estivemos ocupados em batalha por aqui também. Foi assim que dissipamos os Youkais logo que a barreira foi selada novamente.

– Ah, então foi isso. Eu já imaginava. 

– Sim, mas confesso que o clima entre os Youkais anda muito tenso desde então. Essa crise desencadeou muitos problemas, todos estão alvoroçados. Estou até pensando em antecipar o próximo torneio para acalmar os ânimos, antes que as coisas piorem. Se não tomarmos cuidado, essa crise pode se tornar o princípio de uma nova grande guerra. Neste momento, não sabemos sequer se o Reikai vai manter os portões do Ningenkai abertos aos Youkais pacíficos depois de tudo o que aconteceu.

Um clima estranho toma conta do lugar.

Mas despertando a curiosidade de todos, Enki logo pergunta por que foi mesmo que todos vieram assim tão longe se as coisas já se acertaram no Ningenkai?

Prontamente e sem cerimônias, Yusuke lhes diz:

– Estamos indo até um lugar chamado Hametsu.

Aquelas palavras parecem ter forte significado, afetando todos ali, que se mostram surpresos e deveras confusos ao mesmo tempo. Um barulho alto é ouvido quando percebemos o momento em que até mesmo Kokou cai bruscamente do trono onde estava deitada durante todo esse tempo sem que ninguém ali percebesse antes. Ela se levanta de maneira desajeitada e junto com os outros grita em uníssono:

– HAMETSU!!?

Deixando um pouco aquele clima de surpresa de lado, nos vemos de volta ao Ningenkai por alguns momentos, onde o esperançoso Kuwabara corre às pressas para o hospital, porém se depara com o estado de Shizuru ainda inalterado. Ele olha para sua irmã inerte sobre a cama e depois para seu pai que a acompanhava naquele momento e lhe diz em voz reticente:

– O que eu vou fazer se ela não acordar?

– Seguir em frente filho. Seguir em frente.

– Como pode ser tão duro? Aliás, por que você não se faz tão pouco presente como de costume e se manda daqui?

Kazuma se entrega à tristeza e cegamente expulsa seu pai do local, sem notar que por baixo de seus óculos, as lágrimas também corriam em desolação.

De volta ao Makai, Enki finalmente se recompõe, mas ainda incrédulo questiona:

– Eu não entendo o que farão ali, pelo que eu soube, não existe nada em Hametsu, apenas ruínas e lendas. Por sinal, aquela região nunca foi devidamente mapeada, e por isso é conhecida por alguns como “o continente negro”, onde a escuridão do abismo simplesmente devora todos os que se atrevem a atravessá-lo. Isso se vocês não morrerem antes mesmo de chegar lá, então por que se arriscar numa viagem tão perigosa e longa indo para o meio de lugar nenhum?

Ouvindo tudo, Kokou se levanta e com ar de seriedade mesclada a irritação ela se aproxima dizendo:

– Eu já sei o que esses idiotas estão tramando. Deve ter sido Raizen quem andou contando histórias e mentiras a você antes de morrer não é mesmo moleque?

Kokou agarra Yusuke pelo colarinho e o olha diretamente nos olhos. Incomodado por estar cara a cara, ele nem sabe do que ela está falando e todos ficam curiosos sobre a situação. No instante seguinte, Urameshi toma a palavra dizendo:

– Acreditamos que aquele desgraçado do Daito veio deste tal de Hametsu. Pois ele não parava de falar desse lugar. Mas além disso, eu não acho que ele estava sozinho nessa. Pelo que entendi, as ordens para atacar o Ningenkai vieram de uma outra pessoa. Eu só quero é acertar contas com este filho da mãe seja ele quem for, por tudo o que fez ao nosso mundo.

Yusuke parece muito sério e suas palavras deixam um ar pesado no salão. Confuso e quebrando o silêncio, Nankai então questiona:

– Se não há nada neste lugar, porque é tão famoso então?

Ao que Kurama se atem a responder:

– Na verdade, há sim. Pelo menos é no que todos acreditam. Aquelas ruínas nos limites do mundo das trevas foram alvo de toda sorte de saqueadores ao longo do tempo. Eles acreditavam que Hametsu abrigava um grande poder, e a maioria deles, o queria a qualquer custo. Mas todos apenas acabaram pagando com suas vidas, pois nenhum nunca retornou de lá a salvo, encontrando apenas o seu próprio fim. Por isso o local é tão temido, mesmo entre os Youkais mais antigos.

Neste momento, Yusuke observa Kurama pelo canto do olho, desconfiado. Ele sabia que Kurama havia estado em Hametsu e que havia voltado. Então por que estava mentido? Ou não estava? Seu pensamento porém, logo é interrompido.

– É isso mesmo, você só se engana sobre uma coisa.

Kokou toma a palavra fitando o chão. Ela parece incomodada, mas continua dizendo:

– Uma pessoa já esteve em Hametsu e conseguiu sair de lá vivo: Raizen.

Todos se surpreendem com tais palavras e Enki logo a questiona:

– Do que está falando querida? Você sabe de alguma coisa?

– Certa vez, Raizen me contou algumas histórias. Ele estava muito bêbado, e me parecia angustiado com alguma coisa. Eu não me lembro de tudo, pois isso já faz muito tempo e eu pensei que fossem só lorotas de um bêbado. Mas me lembro do momento em que Raizen me disse isso: Disse que já estivera em Hametsu. Que aquele lugar é dominado por criaturas que parecem saídas do seu pior pesadelo e que ele vagou por anos até encontrar a luz novamente. Eu não acreditei muito a princípio, pois ele sempre fazia esse tipo de coisa e depois vinha com aquela cara sacana de idiota, mas naquele dia foi diferente, sabe. Ele estava sério ao falar de Hametsu, um abismo de escuridão cuja simples lembrança o fez suar frio bem na minha frente. Justo ele.

Engolindo a seco, Hokushin balbucia:

– Certamente isso é algo que não poderia ser esquecido.

Continuando, Kokou diz coisas ainda mais absurdas:

– Ele sempre me dizia que as pessoas já nem se lembravam mais de por que ele começou a ser chamado de “Toshin”. Acho que tinha algo a ver com aquele lugar. Onde mesmo ele, teve de lutar para sobreviver.

Neste momento porém, ouve-se um terrível barulho de asas batendo, como se fosse um grande enxame de gafanhotos. Até que pelo teto e pelas paredes, as criaturas enviadas por Yajima invadem o salão onde Yusuke e seus companheiros se encontravam, atacando a todos.

Um grande conflito começa, mas rapidamente percebe-se que os Youkais alados não tem condição alguma de vencer a turma ali reunida. Ainda assim, o número absurdo de adversários que invadiu o lugar em turbulenta revoada começa a irritar Hiei e os outros.

Rajadas de golpes passam de um lado para o outro, Kurama brande seu chicote e executa acrobacias para desviar das inúmeras investidas. Sem dificuldade alguma Mukuro rasga um número sem fim de criaturas, quando já sem paciência, Yusuke lança um Reigun enorme que explode na parede do interior da edificação, arrastando pelo menos uma dezena de inimigos através dos céus do Makai. Com terrível força, Enki golpeia todos que passam pelo seu caminho, enquanto às gargalhadas, Kokou esmaga impiedosamente  monstruosas criaturas.

– Chega dessa palhaçada. Eu mesmo vou lidar com essas criaturas medíocres. Diz Hiei enquanto sua espada incendeia em chamas negras.

E num átimo, como um relâmpago, Hiei praticamente se torna um vulto em meio ao campo de batalha, onde poucos conseguem segui-lo com os olhos, e menos ainda conseguem vê-lo com perfeição. Enquanto ele atravessa o salão, o brilho de sua lâmina é o que indica onde ele está realmente, para em seguida, o restante dos monstros tombarem ao chão carbonizados.

– Calma Hiei, pra que essa pressa toda! Justo agora que eu tava esquentando. Ironiza Yusuke com seu sarcasmo costumeiro.

No momento seguinte, todos notam em meio ao mar de cadáveres a presença de uma jovem youkai baixinha, vestindo uma saia com uma corda amarrada em sua cintura, pulseiras, tornozeleiras e uma espécie de faixa na testa que está impedindo seus cabelos de caírem sobre seus olhos. Era como se ela tivesse surgido do próprio ar, visto que ninguém havia percebido sua chegada ao local. Ao que Yusuke lhe questiona:

– Quem diabos é você?

Mas antes mesmo que ela responda, e tomado pelo calor do momento, Hiei erroneamente pressupõe o pior e logo lhe explica:

– Olhe bem Yusuke, veja as marcas dela, não percebe? Ela é como você. Deve fazer parte do grupo sob o comando de Daito!

A youkai sem cerimônias, afirma:

– Sim, eu sou como você. Também sou uma Mazoku.

– O que!? Questiona-se Yusuke estarrecido. E em apenas um segundo, antes mesmo que ela diga qualquer outra coisa, uma imensa fúria toma conta do seu ser. Urameshi caminha até a Youkai com furor, e com força, lhe segura pelo pescoço e a esgana contra a parede. Erguendo-a com os pés pendurados no ar, ao que vemos em seu olhar uma sombra aterradora.

– É muita ousadia sua vir até aqui. Olhe ao seu redor, achou mesmo que teria alguma chance de me atacar neste lugar?

Incapaz de responder, ela apenas engasga em sua própria saliva enquanto agoniza. Ao que Yusuke continua:

– Os seus mestres tem de entender, que eles não precisam vir atrás de mim. São eles quem deveriam se preparar, pois eu vou até as profundezas do inferno se for preciso para resolver essa bronca.

Em meio aos que estavam presentes, alguém grita:

– Ele vai matá-la!

Mas a Youkai ainda possui muito fogo em seus olhos, e com as mãos, golpeia o antebraço de Yusuke forçando-o a dobrar o cotovelo, o que faz com que ele a largue por um momento. No instante em que toca o chão, ela reage rapidamente e com ferocidade, fere seu peito com uma de suas mãos abertas num ataque devastador.

Yusuke é empurrado para trás bruscamente pela força do golpe, como se tivesse sido varrido por uma tempestade ou como se tivesse sido atropelado por um caminhão. A pressão do golpe é tanta que ele chega a atravessar uma das paredes do interior do castelo. Diante daquilo, todos ficam estarrecidos com a cena, e se preparam para a batalha.

Fim do episódio ...

Eu não conheci o outro mundo por querer!
Eu sei que meu coração, agora dói ...