domingo, 12 de março de 2023

14 - ETERNAMENTE YU YU HAKUSHO

EPS – 14 ENCONTROS INESPERADOS

A viagem de nossos heróis prossegue por novas e estonteantes paisagens que provam que o mundo das trevas é inegavelmente vasto e diferente de tudo aquilo com o qual estamos acostumados. Em dado momento, porém, a fortaleza móvel para de repente, pois havia chegado aos limites dos campos terrestres, onde um precipício sem fim, encoberto por numerosas nuvens se estendia à sua frente até o horizonte. A partir dali, só vemos pequenas ilhas e rochas flutuantes, indicando que a viagem só prosseguiria se fosse pelo ar. O despenhadeiro à sua frente era imenso e inominável, dando a sensação de que haviam chegado na própria borda do mundo. Ali, abraçando o vazio, se situava a espantosa cidade de Julon; em parte incontestavelmente plana e aquecida pelo deserto e noutra parte, descendo pelos enigmáticos paredões, onde finalmente o grupo desembarca em seu primeiro destino.

Julon por sua vez é uma cidade imensuravelmente grande, uma zona sem lei, de arquitetura brutalista, feia e cheia de construções inacabadas. Frisando que se tratava de uma cidade em constante expansão, fervilhando de youkais em suas ruas e que carregava em suas características mais marcantes algumas poucas edificações deveras surreais e quase oníricas, como que saídas das obras de Victor Enrich, mas apropriadamente adequadas ao estilo mais cru comumente visto no Makai. Sem dúvidas, uma cidade que cresceu no meio do nada e se tornou o maior centro comercial de todo o mundo das trevas.

Numa espécie de estação de chegada barulhenta e extremante movimentada, Kurama logo explica ao resto do grupo o que precisavam fazer antes de qualquer outra coisa:

– Olha só pessoal, primeiro nós temos de nos apressar e desaparecer na multidão, pois o comandante vai tentar vender a espada que acredita ser de Mukuro aos receptadores mais renomados e não vai demorar muito para ele descobrir que tal artefato não tem poder ou valor algum.

– “Ora, isso não faz a menor diferença, afinal, a gente já chegou até aqui. O que aquele baixinho poderia fazer contra a gente?” Diz Yusuke em tom zombeteiro.

Mas Kurama logo retruca as palavras de Yusuke dizendo:

– No Makai nunca se deve subestimar nem mesmo a menor de todas as criaturas, Yusuke. Eu joguei com algo perigoso, pois passagens seguras pelo deserto são verdadeiramente muito caras, e nesse momento o comandante está pensando que está podre de rico. Acredite, ele pode fazer com que o resto da nossa viagem seja muito difícil. O ideal é que a gente saia da cidade o quanto antes. Eu só preciso resolver algumas coisas primeiro, ok?

– “Putz, ok. Abafa o caso.” Responde comicamente o Yusuke.

Para resolver seus assuntos, Kurama deixa o grupo de lado, que logo começa a se misturar na multidão de transeuntes. Não demora até que eles cheguem a uma gigantesca praça e Yusuke fique fascinado por uma imensa estátua que se situa ao centro dela. Onde vemos um homem cravar sua espada numa besta abominável.

Admirado ele exclama:
– Caraca! Que estátua maneira!

Mas Mukuro que se aproxima dele, por um momento sorri pela confusão do garoto.

– Essa não é uma estátua comum Yusuke, isto é chamado de Totem de Julon por que aí mesmo, é onde ele foi petrificado após matar essa grande besta de sangue.

– Tá de brincadeira! Então quer dizer que isso é uma pessoa de verdade?
– Sim. Um antigo herói do passado, que ajudou a fundar esta cidade.

Enquanto Mukuro continua a acompanhar Urameshi que se deslumbra com as fascinantes maravilhas locais, Darla observa atentamente quando Hiei tenta se afastar de fininho e desaparecer na multidão, e resolve segui-lo; deixando Yusuke e Mukuro para trás.

Não demora muito até que ela perceba que ele não está necessariamente agindo de maneira suspeita. Pois Hiei apenas se atém a verificar a qualidade das espadas dos vendedores locais. Ela compreende que aparentemente ele apenas gosta de andar sozinho, e entende que aquilo fazia parte de sua personalidade e em seguida, também se distrai.

Algumas ruas mais à frente, não muito longe dali Kurama se aproxima da barraca de um conhecido receptador local de itens roubados. A pequena loja, abarrotada de quinquilharias e artefatos mágicos, toma inclusive parte do espaço da estreita viela, mas em seu interior, o recinto se mostra amplo, comprido, e se estende até bem mais ao fundo. Entre os itens expostos que estão à venda, Kurama simplesmente ignora uma ave muito parecida com Murugu presa numa gaiola, uma irmã de ninhada talvez, ressequida e infeliz, e que não demonstra reação ao lhe ver passar enquanto se dirige ao vendedor, um senhor de macacão azul que também usa um avental amarrado nas costas. Da mesma maneira ele não lhe vê chegar pois está debruçado sobre algumas caixas.

Kurama então, inicia uma conversa de maneira interessante à beira do balcão:
– O que é levado sob a escuridão da noite …

– ... pertence a aquele que pagar melhor. Eu não acredito nisso, você ainda está vivo mesmo após tantos anos sua raposa maldita! O que fez consigo mesmo? Eu jamais iria te reconhecer assim!” Exclama o comerciante.

Após sua surpresa inicial, o receptador sorri ao rever seu velho amigo e abraça Kurama com força. O pequeno homem de orelhas caídas e bigode grosso, possui características em sua pele inegavelmente youkais, entre manchas atípicas e protuberâncias. Mas que não escondem a alegria estampada em seu rosto.

Kurama então lhe diz:
– Olá Elloi, já faz bastante tempo não é mesmo?

– Faz sim, eu não te vejo a muitos, muitos anos. Vamos sente-se velho amigo. Caramba Youko, você está fedendo a humanos, e olha a sua cara! O que está fazendo por aquelas bandas afinal?

Mas antes mesmo que responda ou se sente, Kurama reconhece um rosto familiar passar caminhando vagarosamente em meio à multidão de transeuntes na rua. Ele quase não acredita no que seus olhos veem de relance, mas a presença da espada circular em volta dos ombros daquele que passava, tornava inconfundível a sua identidade.

Consigo mesmo ele pensa:

– Então Shigure permanece vivo, mesmo após se lançar da árvore OkunenJu. Humff, de que serviu toda aquela cena então?

– O que foi Youko? Está olhando para onde?
– Não é nada Elloi. Só pensei ter visto um rosto conhecido.

Com sua atenção de volta ao mercador, Kurama logo é questionado por ele:

– Me diga, o que te traz aqui velho amigo?
– Bem, eu estou procurando por Darash, você tem notícias dele?

– Darash! Tá aí um nome que eu não imaginei que voltaria a ouvir tão cedo. Não tenho notícias dele a um bom tempo, mas eu soube através de boatos que havia se mudado para a vila Effigi.

– Effigi?! Isso é ótimo! Acho que até sei exatamente onde ele está agora.

– Bom, vai sair um “Aerodarma” para aquela região ainda hoje. E se você ainda for esperto como antigamente, pode até ser que consiga embarcar a tempo, pois eu tenho passagens bem aqui e posso te vender por um precinho bastante camarada visto que você é muito meu amigo. Que tal ... tudo pelo dobro da metade do preço. O que acha?

– Ha ha. Acho que você continua tentando bancar o esperto como sempre.

Kurama sorri e ao iniciar uma tentativa de reverter a última “bagatela”, ignora um certo movimento que começa a surgir lá fora. Um pequeno alvoroço entre alguns Youkais parece ter se formado nas proximidades, supostamente uma possível briga, que leva os mais cautelosos a se afastarem do local.

O movimento em questão, se deu quando acidentalmente Hiei se esbarrou numa mulher de longos cabelos vermelhos na rua. Ela que possui tatuagens tribais pelo corpo, e usa roupas despojadas em tons de branco e azul, ficou irada. E longe de pedir desculpas, Hiei preferiu mostrar o peso de toda a sua arrogância ao lhe dizer:

– Não olha por onde anda mulher imbecil?

O que fez com que os youkais à sua volta temessem pelo início de uma ferrenha batalha, enquanto ambos se encaravam. E isto não estava muito longe da verdade, visto que aquela figura robusta e de corpo avantajado não estava ali na sua frente por acaso. Não demorou muito para que Hiei percebesse que as marcas e características em seu corpo eram de uma Mazoku. Mas antes mesmo que pudesse dizer quaisquer coisas, Hoozen já lhe rugia ameaças:

– Eu sei muito bem por onde eu ando homenzinho. É você quem me parece estar perdido. Me diga, onde estão os seus amiguinhos? Você está sozinho aqui é?

Neste momento, Hiei vê uma segunda figura surgir à sua esquerda em meio à multidão. Trata-se de um homem razoavelmente baixo e de cabelos espetados, que usa mangas compridas numa roupa vermelha que muito se assemelha às de um artista marcial. Ele imediatamente lhe sorri com certo desdém e fica claro que ambos ali estão juntos.

Logo em seguida, um pouco mais atrás e à sua direita, um terceiro inimigo o cerca. Este por sua vez parece muito diferente dos outros dois. Ele tem um aspecto mais carregado e estranho, que fica evidente por seus cabelos brancos definhados, pele mais parda e roupas verdes esfarrapadas. Um tecido enegrecido parece lhe cobrir um dos olhos, e no pescoço ele carrega um curioso colar dourado em formato de olho.

Com seriedade e envolto em pensamentos, Hiei percebe que caiu numa emboscada, que está cercado e que uma situação de conflito ali seria inevitável. Mas como velho zombeteiro que é e experiente guerreiro, ele os provoca dizendo:

– Há, ora ora, olha só o que temos aqui. Porque demoraram tanto para dar as caras? O Yusuke está louco para botar a mão em um de vocês. Mas quer saber? Acho que não vai sobrar muita coisa depois que eu acabar com vocês aqui.

Hiei então puxa sua espada, que reluz contra os olhos das dezenas de espectadores que se amontoaram formando um amplo círculo à sua volta, anunciando que uma batalha de vida ou morte estava prestes a acontecer ali.

Mas, enquanto isso, em algum lugar no mundo espiritual, Kuwabara prosseguia com seu treinamento sob a tutela de Genkai. E recebendo o auxílio de alguns membros do esquadrão de defesa do Reikai, a velha mestra mostra que ainda leva jeito, pressionando o pobre Kuwabara ao limite da exaustão. Vendo-o estirado no chão, ela provoca, criando insinuações enquanto grita:

– Já desistiu seu moleque? Levanta! O Yusuke fazia isso aqui com uma mão amarrada nas costas.

– Tá de sacanagem que isso é sério, né? Eu ainda nem sei como foi que ele conseguiu sobreviver a este inferno!

– Pois bem, se você realmente já não aguenta mais se levantar, então é melhor ficar aí mesmo e aproveitar este tempo para meditar, concentrando a sua energia.

Genkai se afasta por alguns metros, deixando Kuwabara em posição de meditação, e se dirige a Shunjun, ao perceber que algo aparentemente está errado. Ela havia lhe visto numa séria conversa com Riohi mais cedo, e por isto pergunta:

– O que foi agora?

– Desde a grande crise e o retorno de Enma ao poder, está havendo uma grande movimentação no escritório do além, nos portões do julgamento. Parece que haverá retaliação contra o mundo das trevas pelo que os youkais fizeram aos humanos.

– Eu não gosto de como isto está soando. O que pretendem fazer?

– Eu ainda não sei. Mas temo que estejamos testemunhando o prenúncio de uma grande guerra. Enma convocou todos os antigos membros da SDF, diversos aliados do mundo espiritual e até mesmo os Taijiyas. É como se estivéssemos lidando com a era negra que está prevista para acontecer somente daqui a alguns séculos. Mas e quanto a ele? Está se saindo bem com o treinamento?

– “Melhor do que o esperado.” Responde Genkai, falando sobre Kuwabara.

Ao que Shunjun se adianta a lhe dizer:

– O seikouki é uma dádiva. No passado, aqueles que manipulavam essa energia eram tidos como anjos devido à sua intrínseca relação de equilíbrio com a natureza.

– “Humm, mas eu acho que este não é bem o caso dele.” Responde Genkai, enquanto observa incrédula o que seu novo pupilo está fazendo.

Neste momento, vemos que Kazuma está extremamente irritado, correndo atrás de alguns animaizinhos sobrenaturais que muito se assemelham a esquilos e que estavam subindo em cima dele e atrapalhando sua meditação. Como se os desejasse matar, ele grita:

– Saiam daqui seus bichos desgraçados! Não estão vendo que eu preciso dormir um pouco ... opa, quer dizer, preciso “meditar” agora.

Vendo isto, Shunjun sorri e diz a Genkai:
– É, parece que não.

Ao que Genkai complementa:

– Na verdade, ele é engraçado assim as vezes, mas tem um bom coração. Está irritando agora, mas se dedica de corpo e alma aos seus amigos e tem uma profunda relação de amor com o seu gatinho Eikichi.

Ao que Shunjun sem olhar para o lado prossegue dizendo:

– Mas olhando-o assim, quem diria que seria ele a manifestar tal força? O seikouki é uma energia rara e pura, pelo que sabemos, pode bem ser uma espécie de evolução do Reiki. Ou até mesmo o contrário, a energia humana pode ter se originado a partir dela. O pouco que sabemos é que ela possui características únicas e distintas de todas as demais formas de energia, tendo um padrão quase divino. Alto demais até mesmo para os níveis do Reikai. E frisando talvez o óbvio, é por isso que ela não pode ser alcançada por quaisquer youkais, sendo por isto, tão importante para nós.

Ouvindo isto, Genkai corrobora com seus dizeres, mas também replica:

– Sim, o Sensui por exemplo, era um prodígio desde criança pelo que me disseram. Mas o seikouki não é algo que pode ser alcançado apenas por treinamento árduo ou mesmo pelo desejo de obtê-lo. Para isso, é necessário ter um forte senso de justiça e vontade de corrigir o mundo à sua volta. E acredito que isso não deve ter faltado ao Kuwabara durante a invasão. Ainda assim eu discordo de você quanto a uma coisa: Eu não ficaria admirada se existisse por aí um youkai capaz de manifestar algo parecido. Um seikouki de âmbito negativo, digamos assim. Uma evolução do Youki, ou ao contrário como você disse, a sua fonte de origem.

Neste mesmo instante a milhares de quilômetros dali, em meio às ruas da cidade de Julon no Makai, encontramos Yusuke agonizando mais uma vez, ao se confrontar com as dores advindas do estigma dos reis. Mukuro olha a sua volta, mas não vê nenhum dos amigos de Yusuke, e então tenta ajudá-lo como pode. Mas o fluxo de energias parece ser demais para ele conseguir controlar.

E não só isso, em sua mente, mais uma vez Yusuke escuta os sussurros daquele que habita à escuridão, e que tanto está atraindo-o para Hametsu:

– “O seu sangue é fraco. Não é como ele, como Raizen. Não vai resistir.”

Ao que irado pelas provocações e retomando o controle de si Yusuke grita:
– Ahhhh me deixa desgraçado! Sai da minha cabeça.

No momento seguinte, Urameshi ouve a voz de Mukuro que lhe pergunta:

– Está tudo bem com você Yusuke? Você sofreu outra daquelas crises.

– Está sim. Essa merda vai e volta. Está acabando comigo. Não sei mais o que eu faço. Deve ser este calor dos infernos. A gente precisa sair logo fora daqui. Onde estão os outros afinal?

– Eu não sei, quando me dei por mim eles já tinham sumido.


Mukuro e Yusuke então, permanecem por ali, sem saber que naquele momento em outro ponto da cidade uma verdadeira devastação começava a se dar em meio às ruas, longe de suas vistas, no local onde Hiei enfrentava três oponentes ao mesmo tempo, lutando por sua vida.

O círculo de pessoas que se formou para observar a luta, rapidamente se desfez, assim que a troca de golpes começou, primeiro entre Hiei e Toshio, o mais apressado e impaciente do grupo de Mazokus. A violência do combate que se seguiu e a incrível movimentação ritmada de ambos os lutadores foi tanta que impressionavam a qualquer um. Hiei estava portando sua espada, e Toshio, empunhava duas lâminas curvas, em formato de meia lua do tipo Karambit. A velocidade dos golpes era indescritível, e se intensificava a cada segundo. A voracidade com que um tentava arrancar a cabeça do outro com sua lâmina, estava estampada em seus olhares sombrios.

As investidas eram tão ferozes e rápidas que mal podiam ser vistas pelos poucos que não administraram fuga do local. E estes, no máximo viam faíscas advindas das lâminas quando os ataques se chocavam. Ininterruptamente eles ouviam os inconfundíveis sons dos metais se batendo e como foices de vento, os golpes cortavam tudo mais que tocavam, entre hastes de barracas comerciais a grandes jarros dispostos naquele lugar. E não demorou muito até que o primeiro transeunte tivesse o braço dilacerado por eles. Logo depois, um outro fora inesperadamente partido ao meio, formando naturalmente um tipo de caos do qual não precisavam. Ambos a certa altura, até pareciam equilibrados em velocidade e força, mas isso ficou menos evidente quando num ataque, Hiei foi bruscamente empurrado para trás.

Seus pés se arrastaram por alguns metros, deixando uma pesada marca no solo, mas Hiei permanecia de pé. Com as lâminas fumegantes, Toshio o provocava dizendo:

– Você está vendo isso Hoozen? O baixinho é invocado. Se mostrou bastante rápido e habilidoso com a espada. Este parece ser dos meus. Mas isso não tá com cara de que vai ser tão fácil quanto a gente pensava.

Com arrogância, a mulher de cabelos vermelhos como fogo o responde:

– Não seja tolo, é só mais um youkai medíocre. Ele está sozinho e nós somos três. Além disso, o nosso objetivo aqui é o filho de Raizen, então pode matá-lo.

– Se é um lutador medíocre eu ainda não sei, mas a energia do miserável parece sim se equivaler a nossa. Mas você tem razão. É hora de parar com as brincadeiras.

– Vocês vão ficar aí tagarelando ou virão logo lutar? Se quiserem, eu posso usar apenas uma das mãos. Isto é o que lhes diz Hiei, também em tom zombeteiro.

Ao que Toshio avança rapidamente numa nova investida enquanto lhe diz:
– Ok, me mostra do que você é capaz!

Uma nova série assustadora de golpes tem início. E devido à velocidade dos ataques, os espectadores não conseguem ver mais do que difusos borrões em vermelho e azul tingirem o ar. Mas para Hiei, é como se todo aquele combate estivesse em câmera lenta. Ele consegue acompanhar com os olhos cada movimento de seu adversário e cada detalhe do ambiente ao seu redor. E é quando ele atém melhor suas atenções a Toshio, que o vê segurando firmemente suas lâminas curvas encaixadas em suas mãos, como a um soco inglês. Ele nota claramente que elas possuem marcas talhadas delicadamente no aço rajado, muito provavelmente forjadas pelas mãos de algum ferreiro experiente, pois é como se as marcas nascessem do próprio metal. E também percebe o momento em que Toshio imanta suas lâminas com a sua energia, fazendo com que elas brilhem intensamente.

Logo logo, Hiei perceberia que diferente do Sniper, as suas armas não perseguiam os seus inimigos, mas elas também estavam intimamente ligadas ao seu manipulador, de forma que ele podia projetar suas energias através delas, fazendo de suas armas, uma extensão de seu próprio corpo.

Ao sentir o surgimento de uma brecha, Hiei impetuosamente tenta uma definitiva estocada, mas é interceptado por um golpe lateral que desvia sua mortal incursão e simplesmente quebra um pedaço significativo de sua espada. Por um segundo, Hiei até arregala seus olhos, surpreso com o ocorrido, visto que as lâminas energizadas e a habilidade de Toshio haviam superado sua própria maestria como espadachim. De maneira provocante, Toshio inclusive lhe sorri.

Porém ele não tem muito tempo para pensar, uma vez que nota pelo canto do olho a precipitada aproximação de Hoozen, que aproveitando de sua distração, se lança num impulsivo ataque visando acabar ali mesmo com o combate.

Hiei por sua vez não deixa por menos e simplesmente desaparece diante da vista de todos no exato segundo em que seria atingido. Deixando apenas uma imagem residual de si mesmo. Ele fora tão rápido que era como se tivesse se teletransportado, aparecendo num arrasto a alguns metros dali, estampando um sorriso sacana no rosto.

Mas este sorriso rapidamente se desfaz quando percebe atrás de si o terceiro indivíduo, já anteriormente conhecido por nós como Yajima, que também se lança num ataque mortal com a faca da sua mão esquerda num golpe que flui lateralmente. Hiei parecia perdido naquele momento, mas novamente o braço de Yajima apenas atravessara uma imagem residual do corpo de seu inimigo.

E a poucos metros dali Hiei novamente ressurge, mas desta vez, ofegante, como se tivesse escapado por um triz. O único pensamento em sua mente naquele momento era:

– Este é ainda mais rápido que o outro! De onde ele surgiu?

Após ter sido quase atingido e vendo seus adversários se prepararem para uma investida conjunta, Hiei pensa consigo mesmo que o melhor é recuar e usar as brechas que surgirem para contra-atacar.

Vendo que ele dispensará fuga, Hoozen escancara um sorriso e zomba, movendo pausadamente seus lábios ao dizer: – “Corre gatinho! Corre!”

Com olhar de desprezo, Hiei apenas reage dizendo “Tss” e depois deixa o local.

O que vemos a seguir é uma sequência acelerada de ataques e de perseguição, que faz com que o grupo se afaste rapidamente do ponto em que estavam a princípio. Hiei usa o ambiente ao seu favor, corre pelas paredes, desliza pelos telhados e salta sobre os ombros das pessoas. Lança ainda contra eles, qualquer coisa que possa retardar seu avanço. Mas atrás de si o que se forma é um rastro de destruição, com diversas barracas sendo cortadas em mil pedacinhos e pessoas sendo brutalmente mortas apenas por estarem no meio do caminho.

Como um animal ensandecido pela caçada, Hoozen chega a partir um youkai em dois com as suas próprias mãos enquanto este distraidamente passava.

Hiei observa que diferente dos demais, Yajima não está em seu encalço. E ao correr os olhos pelos arredores, percebe que o mesmo se encontrava de pé no telhado de uma edificação à sua frente. Aquilo por si só não era possível, pois ele estava em disparada e não havia como ele ser tão rápido, mas o desgraçado simplesmente estava ali. Calmamente e de olhos fechados, Yajima recitava uma espécie de mantra quando Hiei deixou ele de lado para voltar suas atenções à Hoozen, que se preparava para uma investida poderosa.

A frente, Hiei se via preso a um beco sem saída, enquanto Hoozen surge imediatamente na sua retaguarda. Ela estica totalmente o seu braço e vemos as veias marcarem sua pele com furor quando a mesma desfere um violento soco. Sem muitas alternativas, Hiei desliza rapidamente o que restou da sua espada da destra para a canhota e a usa como escudo para amortecer o golpe. Mas a absurda força dispensada neste ataque era imprevista. Hiei é simplesmente arremessado violentamente para trás e atravessa toda a estrutura de madeira de um casarão que estava a sua frente, indo parar em uma outra rua.

Surgindo surpreso dos escombros em seguida ele diz:
– O que diabos foi isso? Essa mulher medonha é ridiculamente forte!

Hoozen também surge em seguida, atravessando o tremendo buraco que se formou na parede enquanto apoia uma de suas mãos nas tábuas soltas. Ela expressa olhos sedentos e por alguns segundos para e apenas o observa.

Hiei não entende por que ela não o ataca até que seu próprio corpo se move quase que voluntariamente para escapar de uma investida rápida de Toshio, que num átimo, tentou cortar seu rosto. Hiei se esquiva para trás, dando dois saltos mortais e tomando certa distância. Mas nem mesmo isto o ajuda apropriadamente a escapar, visto que quando toma conhecimento do que está acontecendo à sua volta mais uma vez, já era tarde demais: Yajima já estava à sua espera.

A posição em que seu inimigo se encontrava era mais do que adequada e favorável para ceifar a vida de Hiei ali mesmo, seus olhos fixos e profundos inclusive, pareciam firmar que isto realmente ia acontecer, mas ao invés disso, Yajima apenas lhe toca suavemente as costas com uma das mãos e um estranho símbolo brilhante surge muito brevemente, semelhante a uma mandala. O ponto atingido até manifesta certa sensação de ardência, mas essa também logo desaparece.

Pensando então em aproveitar a oportunidade perdida por seu adversário, Hiei gira seu corpo lateralmente e tenta lhe retalhar a face com a sua espada, mas Yajima se move para trás ao mesmo tempo que ele e meramente atravessa um portal, indo para bem longe do seu alcance. Ainda confuso e devidamente frustrado, Hiei pelo menos tinha uma resposta agora. Yajima não era naturalmente rápido como anteriormente havia pensado, a sua habilidade é que lhe permitia abrir portais.

Mais uma vez ofegante, já apresentando leves ferimentos, com sua espada quebrada e vendo que estava numa tremenda desvantagem ao ter que enfrentar os três sozinho, Hiei pensa consigo mesmo que já é hora de acabar com a festa. Ele incendeia seu braço direito ao tentar manifestar as chamas negras, e até vemos as ataduras se desfazerem, porém as chamas não se manifestam adequadamente, e com elas fora de controle, ele é violentamente ferido pelo seu próprio poder.

Vendo aquilo de um ponto mais elevado, Yajima lhe diz:

– Isto é impressionante! Você realmente não é um youkai qualquer. A sua energia foi selada e a esta altura, não deveria ser capaz de fazer nem mesmo isso. Mas sua vontade é incrivelmente forte. Ainda assim, o máximo que conseguirá com isto é ferir a si próprio. Talvez eu deva usar em você um selamento ainda mais forte.

Hiei serra os dentes tentando ignorar a dor enquanto pensa consigo mesmo:

– Estes malditos não estão para brincadeira, fizeram alguma coisa comigo. Vou ter que encontrar uma outra forma de usar as chamas negras, uma que a muito tempo ignoro, mas vou mostrar para estes desgraçados do que eu sou capaz.

Mas antes que pudesse raciocinar direito, Toshio avança em direção ao seu adversário, que milimetricamente esquiva-se com maestria de seu primeiro ataque, estando Hiei agora de olhos fechados. Este ainda precisa evadir de uma segunda investida de Hoozen, que veio logo atrás dele. Ambos são evitados e os youkais passam direto, e quando olham para trás é que conseguem ter uma compreensão melhor do ocorrido.

Hiei os observa fixamente e se coloca em posição de combate, enquanto não um, mas sim, vários olhos começam a se abrir grotescamente em todo o seu corpo. Da testa, ele retira a bandana que cobria seu Jagan, e que lhe servirá de suporte, enquanto seu cabelo se arrepia. Apenas a mudança no tom da pele aqui é que não acontece, como outrora.

– O que é isso agora? Uma transformação? É bom que não venha se gabar.

Responde Toshio esticando seu braço e disparando da ponta de dois de seus dedos um feixe de luz vermelha, que muito se assemelha a projeção que regularmente faz com sua lâmina. A certa distância, a energia para e expande-se para todos os lados, formando um imenso asterisco de luz que corta com violência tudo aquilo em que tocar. Inclusive árvores, paredes e seus próprios aliados, como vimos quando um dos feixes fere Yajima de raspão.

Hiei evita este ataque perigoso graças à sua grande velocidade e escapa mais uma vez em disparada, tomando distância do grupo que se reúne e acelera em seu encalço.

Irritado por ter sido atingido, Yajima repreende seu companheiro dizendo:

– Ei Toshio, é melhor tomar mais cuidado com estes seus ataques. Sabe que eles são perigosos mesmo pra gente. Sei que você está empolgado, mas ele já está perdido, só não se deu conta disso. Então que acha de desacelerar?

– Ora essa, não seja um estraga prazeres Yajima! Responde Toshio aumentando a velocidade.

Ao que Hoozen sorri e também lhe diz:

– Humm, acredito que essa você perdeu meu amigo, pois são dois contra um. Sei que o baixinho não é um Yaminade dos quais você odeia tanto, mas pelo menos se divirta e se entregue à emoção da caçada. Há quanto tempo não fazemos isso juntos?

Notando mais uma vez a loquacidade, Hiei então para bruscamente sua corrida e volta-se repentinamente para seus inimigos para contra atacá-los. Primeiro ele troca golpes com Toshio, que faz três investidas sequenciais de larga amplitude, cuja pressão dispensada no ar marca profundamente as paredes e o terreno à sua volta ao rasgá-los com violência. Com sua percepção aumentada mediante a abertura de tantos olhos sobre diversas partes de seu corpo, foi para ele mais fácil desta vez acompanhar os movimentos de Toshio.

Em seguida, Hoozen salta por cima de seu companheiro e dispara seus poderosos socos contra o parcialmente incapacitado Hiei, que é brutalmente atingido. Este por sua vez, muito gostaria de finalizar rapidamente com a ruiva ali mesmo, mas ainda sentindo uma dor excruciante em seu braço, foi incapaz de fazê-lo. Conseguindo apenas, rechaçar o ataque final sacrificando mais uma vez o seu membro ferido, que é posto à frente como a um escudo vivo, lhe possibilitando bloquear o golpe e evadir do local, mediante a um esforço enorme quando ele foi arremessado para cima.

Hiei gira no ar, dando um salto-mortal para trás e se firma sobre o galho de uma árvore, que não muito depois é dilacerada por um golpe pesado e brutal de Hoozen. Tamanho é o poder do ataque que o solo se abre, expondo inclusive as raízes da árvore, que logo em seguida cai dividida ao meio. Instintivamente Hiei busca a segurança do solo, onde seus inimigos infelizmente já lhe aguardavam.

Toshio persiste em seu encalço, arremessando duas de suas lâminas contra ele. A primeira delas lhe passa rente ao rosto, enquanto a segunda, atinge sua perna esquerda que imediatamente jorra seu sangue youkai, profundamente ferida.

Mas mesmo naquela situação tremendamente crítica, Hiei percebe que Toshio estava finalmente desarmado e dispara contra ele numa sagaz e mortal investida. Percebendo, porém, que o golpe lhe seria fatal, Hoozen avança em direção a Toshio e o arremessa para longe dali com um abrupto empurrão, tirando-o da rota do ataque e assumindo seu lugar enquanto grita:

– Sai da frente Toshio! Isso não é para você.

O que vemos em seguida, é uma vertiginosa explosão de chamas totalmente descontroladas. Sem nenhuma dúvida, compatíveis com o poder de um youkai de rank S como Hiei. Quem não foi atingido diretamente já no primeiro instante, fora engolido pelas chamas da explosão que se espalharam por dezenas de metros.

Momentos depois, Hiei é o primeiro a dar as caras e agonizava mais uma vez devido ao seu braço drasticamente ferido. Por um segundo, Hoozen parecia ter sido consumida pelo ataque, mas do meio das chamas negras, ela também ressurge, com uma aura espectral esverdeada exalando uma espécie de mana em volta de si.

Com certo furor e expressando na face um olhar sociopata ela lhe diz:

– Essa passou bem perto animal. Você é mais arisco do que eu esperava. Eu estou até tremendo, veja… mas é de desejo de te matar!

Ao que baqueado pelo esgotamento e pela gravidade de seus ferimentos, Hiei diz:

– “Essa desgraçada é realmente durona! Tomou o ataque diretamente no peito e ainda está de pé como se nada tivesse acontecido. Preciso encontrar uma forma de matar todos eles ou serei eu quem vai morrer aqui.”

A esta altura, todo o local ao seu redor já estava em ruínas. Um a um todos foram ressurgindo em meio aos destroços em chamas das construções, junto de algumas poucas pessoas que ainda corriam em desespero por todos os lados. Estes quando atravessavam o caminho de um dos três Mazokus, eram mortos sem comiseração. Os youkais ainda cercavam Hiei, mas estavam agora numa postura totalmente diferente daquela apresentada no começo do combate. Muito mais sérios e de olhar frio. Por alguns segundos, todos ficaram apenas parados, retomando o fôlego e se entreolhando com cautela.

Hiei estava inegavelmente ferido e cercado, mas se mantinha perigosamente vivo e imerso no frenesi da batalha. Ninguém queria se dar ao risco de ser o primeiro a atacar. Ele certamente ia dificultar as coisas para eles.

Naquele momento, eles haviam percebido o tremendo vacilo que tinham cometido ao subestimar seu adversário. A princípio eles pensavam que seria muito fácil derrotar ele que estava sozinho, mas quebraram a cara, visto que Hiei se mostrou muito mais habilidoso do que imaginaram e conseguiu se virar bem contra todos eles.

Ainda assim, a sua situação atual era grave, e o combate estava apenas começando. Hiei já sangrava e utilizava o Jagan como sua fonte de energia. Além disso, já acreditava naquele momento que não seria mais possível manifestar novamente as Chamas Negras sem um grande sacrifício. Suas chances de sobreviver contra os três oponentes que estava enfrentando eram mínimas. Ele precisava mudar de estratégia, partir para o tudo ou nada. Então começa a concentrar o que resta de sua energia visando fazer algo muito arriscado.

– “É hora de acabarmos com isso, o atrevido passou muito perto de me matar! Eu não teria resistido a este golpe como a Hoozen.” Diz Toshio bem mais sério agora.

Absorto, irritado e neste ponto sem suas lâminas, Toshio carrega intensamente suas energias, e um grande facho de luz sobe a partir dele como se o conectasse ao céu. As folhas das árvores começam a chacoalhar ao seu redor e as nuvens giram como num ciclone enquanto trovoadas são escutadas a quilômetros de distância. Todo o ar ao seu redor começa a ficar denso e a estalar, como se pequenas faíscas elétricas estivessem se formando, quando na verdade, era o próprio ar que estava sendo cortado por sua energia. Ele estava pronto para retalhar tudo o que houvesse ao seu redor, e mesmo sem imaginar o que aconteceria, Hiei já se preparava para o pior.

No momento decisivo, porém, e surpreendendo absolutamente a todos os presentes, Darla surge inesperadamente no campo de batalha e num ataque devastador e certeiro, esmaga Toshio completamente com um soco brutal vindo de cima e por trás. A investida é primorosa e o impacto é fulminante, formando uma imensa cratera que seria digna do próprio Toguro, de onde uma espessa nuvem de poeira se espalhava ao seu redor.

Quando ela se dissipa, podemos ver que o rosto de seus inimigos está atônito e tomado de assombro diante do que viram-na fazer. Pois Darla, agora, tinha em uma de suas mãos o núcleo maligno ainda pulsando que fora arrancado através das costas de Toshio. Diante do primeiro corpo sem vida desta batalha, surgia a certeza de que o jogo havia virado e que seria agora mais justo: Pois teríamos dois contra dois.

Fim do episódio.

Eu não conheci o outro mundo por querer!
Eu sei que meu coração, agora dói ...

Nenhum comentário:

Postar um comentário