EPS – 23 FÚRIA E DESESPERO
Em meio à desolada tundra que se estende infinitamente, uma das duplicatas de Sayaka surge em disparada, rumo à área pontuada por rochas onde Hoozen foi cercada. Ainda distante de seu destino, ela para de repente, e seu delicado semblante se transforma, ficando perplexa ao ver de longe a brutalidade com a qual o confronto se desenrolava. Envolvida por um brilho esmeralda e demonstrando um sádico prazer estampado em seu rosto na forma de um sanguinário sorriso, Hoozen enfrentava não um, mas três adversários formidáveis ao mesmo tempo. Tomada pelo frenesi, ela parece ignorar a dor de ser atingida para revidar com furor a cada ataque recebido num espetáculo brutal de puro poder.
Hiei, que desferia socos rápidos e envoltos em suas chamas, desaparecia ante seus olhos devido à sua velocidade impressionante, abrindo assim, espaço para os pesados golpes de Darla que eram bem mais maciços e lentos que os seus. Cada um dos impactos dos socos da jovem garota era uma demonstração assustadora de força, e isso fez com que Hoozen, por um momento, esboçasse até um leve sorriso de satisfação, ao sentir, de certo modo, orgulho do que a próxima geração tinha a oferecer.
Com ferocidade Hoozen lhe disse:
– “Vamos, fedelha maldita! Mostre-me tudo o que você tem!”
E tentando provar que seu corpo aprimorado tornava-a a youkai mais forte do mundo das trevas, Hoozen não recuou em momento algum diante dos seus adversários. Nem mesmo ao enfrentar Mukuro, embora ela fosse sua maior preocupação. A outrora rainha do mundo das trevas era, de longe, a mais poderosa ali, e sua presença forçava Hoozen a se defender vigorosamente dos seus ataques, mesmo que isso abrisse brechas para as ágeis investidas de Hiei. Receber um forte golpe seu era melhor do que literalmente morrer ao sucumbir diante das assustadoras e agressivas arremetidas de Mukuro.
Com tenacidade, a mazoku de cabelos vermelhos resistia firmemente a cada golpe, que ressoavam pela vastidão gelada como um intimidante trovão. A escultural presença física dela, notavelmente maior que a de todos os demais presentes ali, fazia Hoozen parecer inabalável, e a adrenalina incorporada ao seu sangue e suor levava seu estado mental à beira da loucura.
Ora se viam as chamas negras explodindo em pleno ar, noutras vezes se ouvia o estrondoso impacto dos golpes de Darla reverberando contra as rochas que se despedaçavam e se destruíam. Em outros momentos, via-se um rastro intenso de eletricidade queimar o chão, deixado pelos terríveis ataques de Mukuro. Golpe a golpe, os três revezaram numa furiosa chuva de pancadas, naquilo que poderia ser descrito melhor como um pau a pau tremendo.
Hoozen, por sua vez, ao centro, era uma força imparável, inderrubável e de poder indescritível, que reagia violentamente aos ataques, golpeando-os com muita força também. Num embate intenso, mas em perfeito equilíbrio. Contudo, o crescente ritmo se tornou cada vez mais frenético, e a trégua entre os ataques de seus adversários diminuiu, tornando-se tão breves que parecia ser incessante, pois todos ali sabiam que sua energia estava se esgotando e que não tardaria até que ela fraquejasse e o pior lhe sobreviesse.
Sabendo que sua resistência estava se esvaindo, Sayaka apertou o passo e correu em direção à batalha, para quem sabe, vir a fazer parte dela. Seus olhos, neste momento, transbordavam de um profundo ódio e de uma dor inconfundível, alimentada ainda pelo desejo de vingança pela morte de seu irmão. Seu rosto estava sério e suas mãos tremiam perante a raiva contida, de modo que todo o seu ser, inegavelmente, estava envolto em escuridão.
Entretanto, tudo isso pareceu pequeno quando sua alma entrou em ressonância com um segundo fluxo imenso de energia obscura que lhe chamou a atenção, vinda de outro ponto mais distante no deserto. Apavorada, ela congelou por um instante, pois sabia que estava para ver o despertar de dois seres de um poder sem igual.
A centenas de metros dali, na mesma direção, numa reviravolta sombria, Takuma fechou o punho com força e cravou suas unhas na palma da mão, derramando seu próprio sangue para criar uma mandala carmesim banhada por sua youki às suas costas, desencadeando um desenlace nas amarras da realidade e abrindo assim uma nova passagem para a escuridão. Dela emergiu uma criatura primordial, de pele azul, com diversas marcas pelo dorso, que emanava uma energia cintilante, esbranquiçada e sinistra, de difícil compreensão, tal qual à natureza de seu corpo, aparentemente intangível. Sua forma etérea fazia-lhe assemelhar-se a uma entidade sobrenatural.
A Besta-rei possuía características selvagens como as de um leão, uma vez que possuía uma juba espessa e volumosa, mas diferente deste, tinha quatro patas na parte dianteira, duas atrás e um par de caudas. Suas proporções eram ainda maiores do que as das criaturas que estavam atacando brutalmente o vilarejo, e essas de certa forma pareciam ser da mesma espécie.
Com um afago afetuoso na cabeça da fera, o youkai tornou a assumir a estranha postura que demonstrou na calmaria, enquanto Yusuke, já ciente de sua oscilação, pergunta-lhe curioso:
– Então, este é o tal Asura do qual você falava?
– Não. Essa é uma das bestas de Kamadhatu, uma peça chave para o que está por vir. Eu lido com essas enigmáticas criaturas desde a minha tenra infância. Essas feras etéreas são salteadores das sombras, vivem em outro plano de existência e só aparecem brevemente, durante um curto período de tempo neste mundo, normalmente, quando elas estão caçando. São predadores de almas, pesadelos, famintos e dispostos a te devorar. Mas eu já cacei e derrotei tantas delas que hoje até mesmo o seu rei está sob o meu completo domínio, em submissão.
– Então é mesmo você quem os controla.
Disse Yusuke tentando juntar os pontos.
Mas, em resposta recebeu:
– Sim. Levou muito tempo até que eu aprendesse a fazer isso. Quando eu os invoco através do sangue amaldiçoado que preenche as minhas veias, eles podem agir fisicamente e livremente neste mundo. Mas não apenas isto, as vezes eu também os devoro para me fortalecer! Como nenhum outro Mazoku já fez.
Takuma, repentinamente, transforma seu cuidadoso toque em algo brutal. Fazendo grunhir terrivelmente a fera quando começou a absorver a criatura para dentro de si através de seu braço direito, desencadeando assim, uma metamorfose total e severamente grotesca.
Sua pele clara, aos poucos foi tornando-se azul ao mesmo tempo em que suas marcas tribais deram lugar às da Besta-rei, tornando-se ainda mais evidentes em todo o seu corpo. Suas roupas rasgaram-se parcialmente, enquanto seus calçados desapareceram quando seus pés cresceram, assim como as faixas que ele trazia em seus braços. Seus olhos, agora pálidos e penetrantes o transformaram em uma versão demoníaca de si mesmo, caracterizada ainda mais pelas presas e garras afiadas que saíram das extremidades dos seus pés e de suas mãos, além de um par de chifres que saltou da sua testa, permanecendo enraizado ao seu crânio. Seus cabelos, antes lisos, e que lhe atingiam a cintura, agora avolumavam-se, ganhando uma forma parecida com a juba que a criatura ostentava. Ao término de sua transformação, o youkai já era uma perfeita personificação de um Asura budista ou ainda, de um robusto Oni.
Enquanto seu corpo dolorosamente mudava, Takuma lhe disse:
– Em nosso meio, diz-se que aqueles que vivenciam uma existência desprezível, atormentada pelo orgulho, consumida pelo ego, pela força ou pela violência, de modo que só conseguem subsistir entre os selvagens animais, transformam-se em avatares para espíritos malignos e asuras.
Assustado, Yusuke então perguntou:
– Está falando de possessão? Quer dizer que aquela criatura agora está dentro de você!?
– Sim, ela faz parte de mim agora. O meu corpo é como um vaso, uma ânfora, preparado durante a minha vida inteira e através do qual espíritos e entidades sombrias podem manifestar-se fisicamente neste mundo. Elas me emprestam o seu poder, mas em troca, consomem parte da minha vida e da minha mente. Criaturas primitivas como esta me deixam à beira da insanidade.
Enquanto proferia essas palavras, o corpo parcialmente deformado de Takuma assumiu um aspecto ainda mais bestial, quando, distorcendo a sua carne, um novo par de braços tomou forma sobre seus ombros, envolvidos por veias pulsantes repletas de um abundante e terrível poder. Com seus quatro braços anormalmente avantajados se prontificando para a batalha, o rosto alterado de Takuma deixou claro que a sua atual essência ressoava como algo ainda mais primitivo do que demonstrara antes. De perfil, ele até lembrava o Gokumonki e o Gouki.
Assertivo, mas lento no raciocínio, Yusuke questionou:
– Me diz uma coisa, então o novo Asura que disse que estava para nascer … era você?
Ao que Takuma, agora com uma voz completamente mudada e sinistra, lhe diz:
– Sim, já está acontecendo. Digamos que este sempre foi o nosso plano B, caso Raizen se provasse invencível. Eu fui preparado a minha vida inteira para me tornar um receptáculo para Suizen. E para que tudo se cumpra, só nos resta agora um último elemento: A energia que transborda de você. Eu a quero!
A essa altura já tremendo de ódio, Yusuke lhe diz com pinta de bad boy:
– Entra na fila garotão, que ela já tá dando voltas! Você não faz ideia de quanta gente tá me enchendo o saco por isso. E nenhum deles imagina como é difícil ter que suportá-la.
– Vamos resolver isso então, é melhor que você ponha tudo para fora, o seu ódio, o seu desejo de vingança, e toda a energia que você tiver ... venha descarregar ela em mim. Pois eu suportarei a sua dor!
Enquanto os dois começam a flutuar no ar, levitando a vários metros acima do chão na iminência da batalha, cinco esferas compostas por um youki vermelha quase palpável começaram a se formar e a girar ao redor de Takuma, emitindo uma vibração ameaçadora. Cada uma delas irradia uma aura intensa de puro poder.
Ao testemunhar aquela transformação aterrorizante, um turbilhão de emoções tomou conta de Yusuke mais uma vez. Seu inimigo havia se tornado literalmente um demônio bem na sua frente. E simultaneamente, o ódio também crescia em seu coração, alimentado pelo poder ancestral e indomável que residia em seu interior.
Diante de tudo isto, o estigma dos reis pulsava, clamando para ser liberado. E incapaz de conter as forças que o habitam, Urameshi começou a se transformar também. Um calafrio percorreu o corpo dele quando finalmente foi engolido pela mesma energia dourada que manifestou pela primeira vez, anos atrás ao enfrentar Yomi no torneio. Seu cabelo e suas roupas foram tomados completamente por um tom esbranquiçado e radiante, que contrastava com seus olhos, agora amarelos, que eram envolvidos por uma esclerótica negra.
Raios de energia dourada estalavam em todas as direções, propagando como eletricidade em meio à escuridão. O poder que Yusuke emanava estremecia todo o ambiente, sacudindo as estruturas da terra por quilômetros e afetando, de certo modo, até a própria natureza da realidade ao seu redor.
Enquanto seu oponente começava a se transformar num monstro e as energias de Yusuke oscilavam e brevemente resplandeciam num clarão dourado, como a chama de uma vela brilhando intensamente antes de se apagar pela última vez, revelando em breves lampejos sua verdadeira face como um Toshin em meio ao que poderia ser a sua última batalha nas profundezas do Makai; no mundo dos homens, seu filho ainda não nascido e herdeiro do seu legado reagia, mesmo ainda sendo gerado no ventre de sua amada.
Em paralelo, enquanto uma vida se apagava, outra surgia.
Dito isto, no Ningenkai encontramos Keiko Yukimura naquele momento em sua casa, com a mão sobre a pouco aparente barriga, como se sentisse algum desconforto apesar de estar imersa em um ambiente acolhedor e aconchegante. A sala em que estava, possui paredes em tons claros e era adornada com móveis confortáveis, tendo ainda fotografias dela, do Yusuke e de seus próprios pais decorando as paredes. O que lhe evocava tenras memórias e boas recordações.
Sentadas ao redor de Keiko naquele ambiente caloroso e acolhedor, tagarelando feito maritacas enquanto desfrutam de uma adocicada xícara de chá, estavam Botan, Shizuru e Yukina. Com seus olhares cheios de animação e curiosidade, elas discutiam a gravidez de Keiko com certa alegria.
A mais entusiasmada entre elas era Botan, que sorrindo largamente de empolgação logo disse:
– Mal posso esperar para ver o bebê! Imagino se será um menino ou uma menina. Você precisa começar a pensar em alguns nomes, Keiko.
Yukina, com sua voz rouca, porém suave, lhes disse enquanto se inclinava para pegar mais chá:
– Sim, deve ser maravilhoso ter um novo membro na família! E talvez ele herde a força incrível que o Yusuke tem!
Ouvindo isso, Shizuru então acrescentou com entusiasmo:
– Pera aí. É verdade, hein. Eu ainda não havia pensado sobre isso. Será que essa criança vai herdar os poderes do Yusuke? Se ela for tão forte quanto ele, poderá viver uma vida cheia de aventuras.
As garotas começaram então a discutir animadamente, compartilhando suas especulações, enquanto Keiko permanecia em silêncio, imersa em seus pensamentos agora que a dor já havia passado. Com seus olhos levemente arregalados, ela começou a imaginar uma garotinha muito semelhante ao Yusuke liderando uma nova geração de aliados, incluindo dentre eles, um cômico suposto filho do Kuwabara com a Yukina.
Ao que Botan complementou o que diziam enquanto gesticulava animadamente com as mãos: – Isso é bem possível, a criança com certeza será muito forte. Afinal, ele será um youkai.
Mas neste ponto, Shizuru quase sente um colapso ao replicar dizendo:
– Espera um pouco aí. O Yusuke agora meio que é uma criatura das trevas não é mesmo? Aí Botan, vem cá: Não tem nenhuma possibilidade desse bebê nascer com os olhos vermelhos ou qualquer outra coisa estranha não né? Nenhum chifre vai começar a sair da sua cabeça?
Keiko repentinamente se levantou, franziu a testa e esticou o pescoço se mostrando inegavelmente preocupada. Ela permitiu que sua imaginação vagasse durante alguns instantes por inúmeras concepções estranhas e deveras engraçadas de como poderá ser a aparência do bebê. Ela chega até a imaginar um pequeno diabinho mordendo tudo pela frente, e então, irritada, exclama:
– Ei, vira essa boca pra lá Shizuru!
Botan neste momento intervém novamente, e buscando tranquilizar Keiko lhe diz:
– Ei, as coisas não são bem assim! Lembrem-se de que o Kurama e o Hiei também são youkais, mas são muito bonitos e são pessoas maravilhosas! Digo, pelo menos o Kurama é bonito e gentil né, já o Hiei ... nem tanto. Sem ofensas, Yukina. De todo modo, eles são a prova de que a natureza youkai não determina o caráter de ninguém.
Primeiro, Shizuru sorri divertidamente e só depois lhes diz:
– Eu estava só brincando meninas, e me desculpe Keiko. O Yusuke pode ser um youkai, mas não resta dúvida de que ele será um paizão coruja, amoroso e protetor!
As palavras reconfortantes de suas amigas trazem um grande alívio para Keiko, que agora, se sente emocionalmente tocada e mais emotiva. Ela pensa consigo mesma enquanto recosta sua mão com ternura e carinho novamente sobre a barriga e diz baixinho:
– Não importa como o bebê seja, eu o amarei incondicionalmente. E vou fazer de tudo para que ele tenha um lar cheio de amor e felicidade!
Botan não consegue conter sua emoção, enche seus olhos de lágrimas, e a abraça dizendo:
– Oh Keiko, isso foi tão lindo! Você será uma mãe incrível!
Quando Shizuru complementou:
– Verdade, e poderá sempre contar conosco.
Naquele momento, discretamente, uma lágrima saltou dos olhos da jovem princesa das neves, transformando-se numa brilhante pérola antes de tilintar no chão. Tão sólida quanto a firmeza de sua amizade.
De volta ao Makai, Yusuke e Takuma flutuavam frente a frente enquanto as suas energias se espalharam por todo o mundo das trevas. Sua essência era sentida por todos, reverberando como um preocupante presságio de que o confronto que veríamos a seguir tomaria proporções monumentais. Até que Takuma, agora transformado em uma figura completamente grotesca e indomável, fixou seus olhos em Yusuke, e num instante carregado de tensão, canalizou uma quantidade absurda de youki com um gesto quase imperceptível de suas mãos, gerando um estrondo aterrador quando disparou um feixe de destruição, violentamente, rumo a Yusuke.
O fluxo de energia, tão vermelho quanto seu próprio sangue, cortou o espaço numa velocidade inimaginável, indo em direção ao seu alvo. Urameshi, no entanto, estava à altura do desafio e envolvido por sua aura dourada, segurou todo o poder do inimigo com apenas uma de suas mãos. As forças opostas, por um instante, lutaram pelo domínio numa cena deslumbrante e assustadora, criando um espetáculo de luz e de sombras visualmente interessante no céu. E seu rubro clarão resplandeceu sobre a tundra desértica.
Até que, em um raro instante de maestria, Yusuke redirecionou o colossal ataque com um movimento simples e fluido de suas mãos, guiando-o em direção ao nada que tão vastamente os cercava.
Traçando uma linha de destruição inacreditável na paisagem gélida, a torrente de energia mortal, agora fora de controle e de sua trajetória original, atingiu centenas de metros a frente e com milimétrica precisão, a duplicata de Sayaka que corria ao socorro de Hoozen. A Mazoku então, gritou desesperadamente ao desmantelar-se diante do intenso fluxo de energia quando ficou claro, que de algum modo, Yusuke agora tinha conhecimento de tudo aquilo que se passava ao seu redor naquela região.
O tremendo impacto da colisão gerou uma tormenta letal e devastadora, que evaporou, instantaneamente, numa rósea poeira, a figura daquela graciosa garota. Deixando ainda, uma cicatriz permanente no solo semi-congelado como testemunho do que aquele poder era capaz de fazer.
Um estranho silêncio se instalou momentaneamente entre eles após a colossal explosão, mas não demorou muito até que Takuma irrompesse rumo ao seu adversário iniciando uma nova e violenta troca de golpes.
Diante da velocidade surreal de seus corpos em movimento, só era possível ver borrões tremendamente rápidos e o encontro de seus ataques no céu, que cintilavam como pequenas estrelas em meio à escuridão. Ocorrendo assim, dúzias de pequenas colisões que vibravam e distorciam o ar do próprio Makai. E até mesmo o tempo parecia dilatar-se, pois dentro daquilo que foi percebido pelos que estão de fora apenas como um efêmero segundo, uma troca desenfreada de centenas de golpes aconteceu.
Noutro ponto do deserto sombrio e não muito longe dali, Sayaka sentiu um abalo momentâneo e um inesperado lampejo, que indicavam que a sua última duplicata havia sido destruída. Este instante de desconcentração afetou seus poderes e fez com que as ilusões que vinham afetando Kurama desmoronassem mais uma vez.
Com os pés repentinamente firmes e sentindo a textura da areia nos seus tornozelos, ele soube agora que tudo aquilo era real. E pensando consigo mesmo, disse:
– Aconteceu alguma coisa. Desde que chegamos aqui, ela vem manipulando o ambiente ao meu redor para me deixar desorientado na escuridão, e ela vinha me atacando através dela. Mas agora, todas as suas ilusões caíram. Essa pode ser a minha chance!
Mas logo que avistou sua inimiga, Kurama também viu uma daquelas imensas e ferozes criaturas que estavam atacando o vilarejo surgir por detrás de uma colina e parar ao lado de Sayaka. A criatura selvagem foi primeiro acariciada por ela antes que essa se preparasse para avançar ferozmente num salto contra Kurama, que no último instante do ataque, pensou em fugir mas logo gritou:
– Eu não consigo me mover! Os meus pés estão presos!
Ao que Sayaka respondeu:
– É claro que não é possível se mover. Há criaturas vivendo sob todo este solo tolinho.
No momento em que a monstruosa besta saltou em sua direção, Kurama sentiu toda a sua percepção de mundo mudar mais uma vez. Primeiro, vendo que seus pés foram agarrados por braços deformados saídos das entranhas da areia, depois, de olhos fechados ele esperou pelas presas da morte, mas sentiu a criatura passar através de si, como se fosse uma brisa forte, contudo comum, do próprio vento.
Quando abriu seus olhos, Kurama estava psicologicamente esgotado e suando frio. Até que percebeu mais uma vez que estava completamente seguro e apenas de pé num lugar absolutamente comum daquele vasto deserto.
Irritado por ter caído em seu truque mais uma vez, ele disse:
– Droga! Então essas terríveis criaturas, também não são reais?
– São reais sim, bobinho. Boa parte delas pelo menos. Elas foram invocadas de um outro plano de existência por Takuma. E eu, apenas aumentei um pouquinho a visão de seus números para ampliar suas fileiras. Tudo isto apenas pelo terror que isso iria lhes causar.
Ainda assustado e exausto, Kurama disse para si mesmo:
– Então é isso: Em tudo e em todo lugar há uma pitada de ilusão. E mesmo ciente de seu segredo, não me é possível dissociar o que é real do que não é. Ela literalmente entrou na minha mente.
Vendo sua expressão de desespero, sua adversária lhe disse:
– Admita, no começo você pensou que seria muito fácil me derrotar. Pensou que eu fosse ingênua, uma tola qualquer. Mas agora sabe que eu sou muito boa no que eu faço. Onde está toda aquela sua arrogância de antes? hahahahaha
– Tss. Isso ainda não acabou. Eu vou encontrar uma maneira de me libertar das suas amarras. Na verdade, preciso fazer alguma coisa rápido! Respondeu Kurama.
Mas ceifando toda a sua esperança ao concentrar suas energias, Sayaka lhe disse:
– Não, agora é tarde demais para isso. Chegou a hora de se fazer cumprir a minha vingança!
Tomada por um ódio sem tamanho que lhe cortava o coração e enchia seus olhos de lágrimas, Sayaka recordou por um breve momento do seu irmão e colocou toda a sua dor para fora enquanto avançou velozmente num repentino ataque, dizendo:
– “É o seu fim!”
Se movimentando num átimo em direção ao seu oponente, Sayaka deixou para trás de si uma série de imagens residuais de seu próprio corpo que muito se assemelham às duplicatas de diferentes personalidades que vimos antes. E enquanto transpassava o peito de Kurama com uma nova lâmina de energia que se estendia através do seu braço direito, com frieza ela disse:
– Acabou! E você perdeu.
Na momentânea agonia da morte, Kurama engasgou e se afogou em seu próprio sangue antes de cair, lhe tocando suavemente o rosto como se fizesse em sua oponente um respeitoso e concludente carinho, enxugando assim uma de suas mais dolorosas lágrimas. Até que seus olhos perderam o brilho e vagarosamente Kurama foi ao chão.
Sayaka não desviou o seu olhar de ódio misturado com tristeza nem por um instante até que se certificou de que seu inimigo realmente estivesse morto. E após um gélido vento soprar por cima do seu corpo inerte, ela finalmente desfez sua lâmina de energia, dizendo:
– É isso, finalmente morreu. Agora posso ir ao encontro daquela maldita desgraçada da Darla.
Mas ao virar-se de costas para dar os seus três primeiros passos, seu rosto repentinamente começou a arder e Sayaka foi tomada por esporos em eclosão. A rápida multiplicação de hifas e o crescimento de micélios vegetativos em sua face, levou a garota ao completo desespero. Engolida pelo alarmante tormento, ela logo começou a gritar, pois estava literalmente sendo tomada por fungos!
As estruturas semelhantes a pequenas raízes ramificam-se e entraram por seu ouvido esquerdo e pela boca para dentro do seu crânio, cobrindo metade do seu rosto e lhe fazendo sofrer engasgos. Ela logo caiu de joelhos e antes que sofresse um colapso cerebral completo, conseguiu ver pelo canto do olho Kurama se erguer com dificuldades, mas ainda vivo, do chão.
Confusa, em meio a grunhidos de dor excruciante ela o questionou:
– Como … isso foi possível?
Ao que Kurama diligentemente, puxou a parte esquerda da sua roupa e lhe mostrou uma estrutura vegetal alojada crescendo e cicatrizando rapidamente o buraco que ela fez em seu peito.
Enquanto o vegetal lhe curava os ferimentos, com ares de um jogador de xadrez ele lhe disse:
– Eu me preveni. Sabia que poderia ser ferido mortalmente em algum momento dessa viagem, então tomei a maior das precauções: Inseri em meu corpo, uma forma menos nociva de um vegetal parasita que tempos atrás cedi a um amigo. Ele é capaz de curar quaisquer ferimentos até que o cérebro do hospedeiro seja completamente destruído. Vai levar um bom tempo até que eu possa me curar, mas ficarei bem.
Se arrastando pelo chão, entre urros guturais de pura dor, ela tornou a questioná-lo:
– O que, o que … você fez … comigo?
E Kurama explicou antes de vê-la morrer:
– As minhas habilidades normalmente se restringem às plantas. Eu injeto a minha energia em estruturas vegetais antes de usá-las como diferentes armas. Mas as minhas sementes acabaram. Por sorte, não são tudo o que eu tenho. Ao lidar com plantas por tanto tempo eu acabei aprendendo uma coisinha ou outra sobre fungos também.
Kurama começou a se aproximar lentamente dela enquanto seguiu com o que lhe dizia:
– Apesar de serem muito mais difíceis de se manipular, visto que inversamente as plantas que são seres produtores, os fungos são seres decompositores; não foi impossível para mim, aprender a utilizar o meu youki como estopim primário para uma rápida proliferação. O fungo parasita que coloquei em você é uma variante do mundo das trevas do ophiocordyceps.
Com um olhar cruel raramente visto, Kurama então completou o discurso que fazia:
– Logo mais você vai aprender o quão horrível é ter alguém brincando com a sua cabeça.
Kurama então, não conseguiu mais se manter de pé, pois seu ferimento era grave e acabou sendo forçado a se escorar numa das rochas que havia ali. Ainda levaria um bom tempo para tudo cicatrizar, no entanto, agora aliviado por ter vencido a batalha, ele apenas observava Yusuke enfrentar Takuma ao longe no céu, enquanto, ao seu lado, sua oponente agonizava em seus últimos momentos de lucidez antes que o fungo lhe transformasse em uma espécie de zumbi que iria vagar por dias pelas obscuras paisagens do Makai antes de tombar completamente sem vida, espalhando pelo ar ainda mais dos seus terríveis esporos.
Sua disputa finalmente havia chegado ao fim, mas o confronto de Yusuke Urameshi contra Takuma apenas começava. Pois riscando os céus como um raio, seu inimigo avançou ferozmente em sua direção. E Yusuke, que agora agia como um verdadeiro Toshin, passou a combatê-lo de uma maneira indescritível, de modo que faltam-me até palavras para descrever a intensidade com que lutava o novo deus das batalhas.
A chuva infinita de socos e chutes lembrava os momentos em que se chocou nos céus do Makai com os também deslumbrantes golpes de Sensui. Mas tudo o que acontecia aqui era bem mais intenso e impactante, pois Urameshi naquele momento, quase colapsava, sobrecarregado por seu novo e imenso poder.
No momento em que Yusuke iluminou o céu com os raios emanados por seu agora dourado Leikoudan, pudemos perceber que um dos braços de Takuma havia ganho um aspecto bem mais pesado, resistente e estranhamente rochoso, com o qual passou a atacar e a se defender.
Lutando para resistir ao fluxo inimaginável de poder sem morrer no processo, Yusuke foi atingido por um dos golpes do inimigo e foi derrubado no deserto. E este não lhe oferecia nenhum refúgio onde pudesse descansar, servindo apenas como uma vasta arena para a sua batalha. O que forçou Yusuke a se esquivar sequencialmente dos poderosos golpes de Takuma enquanto recuava em direção a vila Mazoku. O aspecto alterado de seu inimigo lhe conferia uma postura corporal bem mais animalesca e exagerada, e seus ataques estremeciam o solo como se o mesmo aplicasse nele uma devastadora marretada.
Aos poucos, Yusuke foi desacelerando. Foi perdendo as forças e a chama de sua youki foi falhando por diversas vezes durante seus menos ágeis movimentos até que finalmente se apagou e desapareceu. Quando parou de pé em meio ao deserto, seus olhos perderam o brilho como se ele tivesse chegado ao esgotamento total e Yusuke então, ficou melancólico e esmorecido de repente, como se a dor e as feridas finalmente o tivessem vencido de uma vez por todas.
Como se fosse desfalecer naquele instante, comicamente molenga e com uma voz triste e sem forças ele disse:
– Eu estou nas últimas, não dá mais, está tudo ficando escuro.
Isto fez Takuma sorrir e avançar imediatamente em sua direção, sentindo-se motivado e encorajado a atacá-lo.
Entretanto, Yusuke rapidamente se recompôs durante seu avanço, e agora cheio de vigor, atingiu Takuma repentinamente com um poderoso golpe direto no queixo, que deixou o Mazoku momentaneamente atordoado e o levou ao chão.
Quando o mesmo pensava em se reestabelecer, agora ainda mais enraivecido, percebeu que Yusuke estava cinicamente cambaleante e enfraquecido mais uma vez, usando naquele momento de pura malícia. Mas por precaução, não foi ao seu encontro. O que fez com que Yusuke percebesse sua falta de atitude com frustração e se divertisse sozinho enquanto novamente reagia e ficava em imediata prontidão, dizendo:
– Opa! Brincadeirinha. Mas se quiser, pode vir que eu ainda tenho muito mais para você.
Yusuke disse isso com um sorriso travesso em seu rosto enquanto provocava Takuma, promovendo piadas absurdas diante do seu adversário mesmo em um momento como esse.
Vendo que não obteve sucesso diante das rápidas esquivas de seu adversário, Takuma mudou de estratégia e alterou seu braço direito mais uma vez, primeiro, retornando ele ao estado normal e deixando o aspecto pesado e rochoso para trás. Até que, repentinamente, ele alongou seu segundo braço direito, o mais alto, até que o mesmo ganhasse a forma de um chicote, e tentou atingir Yusuke com uma poderosa chibatada, da qual Urameshi escapou na primeira investida. Mas, tão rápido quanto se estendeu, o braço de Takuma recuou ao seu tamanho normal e disparou mais uma vez, fazendo-o cativo na segunda tentativa ao prendê-lo a uma grande rocha com uma espécie de garra que se formou no lugar da sua mão.
Yusuke se contorceu tentando forçar uma abertura, mas do ombro de Takuma vimos fluir uma radiante energia que transcorreu toda a extensão do seu braço e disparou como o tiro de um canhão usando a extremidade de sua garra como saída, assim, atingindo Urameshi diretamente. A explosão foi colossal e a rocha em que ele se encontrava preso foi imediatamente reduzida a menos do que pó.
Ao tomar aquele poderoso tiro a queima roupa, Yusuke cambaleou, e ao tentar se firmar, ainda desorientado, foi preso por estruturas alongadas e flexíveis que o envolveram de uma maneira sinuosa. Takuma agiu rapidamente e o prendeu com os dedos de sua mão direita, que se alongaram de maneira adaptativa até ele como se os mesmos fossem tentáculos.
E com seu adversário imobilizado, Takuma se mostrou implacável quando finalmente drenou parte das energias de Yusuke e saboreou aquilo que considerava o sucesso há muito buscado. Enquanto o alarmante fluxo de energia era absorvido, uma atmosfera carregada por seu triunfo permeou o local.
Entre o êxtase e a euforia que estava sentindo, contrastada pela agonia vivida por Urameshi, Takuma, como um saciado parasita lhe sorriu enquanto gritava:
– É isso! Finalmente conquistei a peça que me faltava para trazê-lo de volta! Me dê mais! Me dê todo o seu poder Yusuke! Mesmo que morra!
Mas ao mesmo tempo em que o fluxo de energia que estava destruindo Yusuke era significativamente drenado, ele também aumentava, oscilando como se transbordasse de uma fonte infinita.
Até que repentinamente, Urameshi parou de gritar. Superou a dor que lhe causavam seus sentidos e se libertou de todo o sofrimento. O corpo de Yusuke naquele momento, havia alcançado um nirvana, um ponto de equilíbrio, deixando fluir tudo o que não era capaz de suportar.
Ele passou então a emanar poderosos relâmpagos dourados que se espalhavam pelo ambiente como feixes de pura luz e energia, em todas as direções, dilacerando e despedaçando os tentáculos que antes o aprisionavam.
Recuando imediatamente com o que restou de seu braço de volta ao tamanho normal, sem expressar nenhuma dor, Takuma agora se sentia completo e pronto para trazer Suizen de volta, pois apresentava o mesmo brilho dourado visto em Urameshi. Contudo, este queimava e sutilmente desintegrava a pele da sua mão direita, como se o mesmo não pudesse suportar aquele poder naturalmente.
Ainda assim, Takuma sorriu e com seu sangue, abriu um novo portal ao seu lado ao manifestar mais uma vez a sua rubra mandala de energia e com isso enfiou um de seus braços esquerdos lá dentro, arrastando das trevas, uma nova criatura bestial muito semelhante a um dos pequenos gárgulas que Ryuuze invocava, e que mais uma vez foi absorvida pela fera monstruosa na qual Takuma se transformou, desta vez, através da sua mão esquerda, curando momentaneamente seus ferimentos.
Enfurecido, Yusuke desceu vagarosamente ao solo e firmou suas pernas para disparar um leigun nunca antes visto, um raio dourado que emergiu furiosamente da ponta de seu dedo. Após o disparo, num reflexo quase absoluto, o deformado Takuma cravou a sua mão esquerda no solo e usou de suas enigmáticas habilidades para criar três grandes barreiras semelhantes aos ossos e à carne daquela criatura sobrenatural que havia absorvido a pouco.
Era como se três grandes asas tivessem brotado do solo a sua frente para lhe protegerem do iminente impacto, mas para sua surpresa, não tiveram a eficácia esperada, uma vez que semelhante a uma grande flecha o ataque de Yusuke atravessou sem esforço algum, perfurando as barreiras até atingir seu alvo numa monumental explosão, que se estendeu até o horizonte, arrastando tudo que estava em seu caminho.
No entanto, após a inimaginável devastação e alguns instantes de uma profunda incerteza, Yusuke viu em meio a nuvem de poeira uma estranha luminosidade avermelhada se formar, como se fossem inquietantes clarões numa tempestade. Urameshi então fechou seu punho com força e começou a caminhar em sua direção pelo rastro deixado pelo leigun. Ele sabia, naquele instante, que a batalha ainda não havia chegado ao fim.
A passos firmes e com pinta de bad boy, ele seguiu até o ponto em que Takuma se encontrava. Frente a frente naquele lugar de trevas, em meio a paisagem melancólica de cores cinzentas e escuras, o vento gélido soprou a poeira e começou a castigar a face de Urameshi, deixando tudo com um estranho clima de despedida no ar, tal qual aconteceu anos atrás no dia em que Toguro confrontou Genkai pela última vez.
Vendo seu inimigo alterado, naquilo que já não se parecia mais com um corpo comum, mas sim, uma disforme aura dourada e iluminada de energia, Yusuke questionou:
– O que você fez consigo mesmo agora, besta maldita?
– Evoluí. Para algo jamais sonhado. Finalmente estou pronto para entregar o meu corpo. Ainda não é possível libertá-lo, mas como seu avatar, Suizen finalmente poderá se manifestar neste mundo mais uma vez. Diz Takuma, enquanto se levanta, manifestando novamente uma grande mandala à suas costas.
– Você é idiota ou o que hein? Não vê que isso irá matá-lo? Raizen fez algo parecido comigo certa vez, então eu sei do que tô falando. É poder demais ô imbecil! A sensação é de que seu corpo não vai suportar e que a sua mente vai ser suprimida e desaparecer. Não vê que ele mexeu com a sua cabeça? Esse desgraçado também tá tentando fazer o mesmo comigo desde que eu pisei os pés no Makai.
Mas na mente de Takuma, a voz de Suizen ecoou, lhe dizendo:
– Não lhe dê ouvidos, faça agora! O garoto está morrendo e o nosso tempo é curto!
Expandindo imensamente a sua obscura energia, Takuma disse a Urameshi em resposta:
– Há seres que vagam pela escuridão deste e de outros mundos, persuadindo e instigando pessoas a partir de seus invisíveis reinos ao longo de toda a nossa história, tentando em muitos casos e a todo custo ao longo de suas vidas, tomar os seus corpos. É por isto que aqui, o nascimento de um Asura normalmente é considerado algo profundamente triste. Pois representa o fracasso daqueles que sutilmente sucumbiram à escuridão.
– Então você entende o que estou te dizendo. Renegue a este ser.
– Não. Eu não estou triste diante do que irá me acontecer, e pode ter certeza que eu não vou desaparecer. Como uma gota atirada ao oceano, farei parte de algo maior. Eu me tornarei um com o nosso verdadeiro rei. Acredito que o meu corpo está suficientemente forte agora para resistir a tremenda intensidade da sua alma. Então prepare-se!
Imóvel diante do inimigo, Yusuke testemunhou o momento em que Takuma, um dos mais notáveis guerreiros da tribo Mazoku, desapareceu. Dando lugar a uma outra entidade advinda das trevas. Seu corpo absorvia através da mandala às suas costas um imenso poder, que se manifestava como sinistros tentáculos negros, que ondulavam em sua direção. Rapidamente, a sua aura dourada se tornou completamente negra como o âmago do próprio mal.
E enquanto aquela aura enegrecida o envolvia, Yusuke também canalizou e externou todas as suas próprias forças, deixando claro que naquele momento decisivo a sobrecarga de poder do estigma dos reis já não mais o incomodava. O poder ainda estava lhe destruindo, mas ele já havia entregado os pontos, e estava disposto a vencer essa batalha mesmo ao custo de sua própria vida.
Os olhos de Takuma brilharam de uma forma demoníaca quando Suizen finalmente despertou e tomou o seu corpo. Seus cabelos originalmente verdes, tornaram-se brancos e seus olhos ficaram com o fundo negro e com as pupilas avermelhadas. Naquele instante, dotado de uma aura intimidadora, ele até poderia inspirar medo e enfraquecer a vontade de seus oponentes apenas com o olhar.
Durante os séculos em que permaneceu aprisionado naquelas sombras, Suizen se tornou parte delas. Ele havia se tornado parte de Hametsu. E naquele momento, toda essa essência transbordava. Sua presença era avassaladora e trouxe consigo uma nuvem escura que enegreceu todo o céu. O próprio ar se tornou pesado e opressivo, como se tivesse sido saturado pela escuridão.
Ante a face desesperada de Urameshi, seu derradeiro inimigo ergueu uma de suas mãos, acumulando uma quantidade massiva de energia sobrenatural numa pequena esfera pulsante que foi crescendo a cada latejar, até tomar proporções gigantescas, de tal modo que fez ondular a própria atmosfera. Aquilo, ao qual ele chamou de “coração do abismo”, contorceu todo o céu, criando uma tempestade dimensional em espiral que fez com que o espaço-tempo começasse a se desintegrar enquanto todos olhavam com terror o fim pairando sobre eles.
Diante dos temerosos e desorientados guerreiros do vilarejo, as criaturas que antes foram invocadas por Takuma responderam imediatamente a presença de Suizen, como se eles estivessem diretamente conectados. E diante de sua presença, tornaram-se maiores, mais fortes e completamente envolvidos por aquela aura negra, metamorfoseando-se literalmente em sombras vivas, enquanto ele dizia a Urameshi:
– Os frágeis alicerces que fundamentam este mundo estão desmoronando diante da minha presença. Pois essa é a aniquilação. O fim de tudo o que existe! Eu sou Suizen, e estou livre mais uma vez!
Enquanto o céu se contorcia anunciando a mais devastadora de todas as tempestades, os moradores locais lutavam para impedir o avanço implacável das feras das sombras. Eles tentavam a todo custo proteger o que restou de seu lar, canalizando suas energias para criarem barreiras de luz, dissipando assim as sombras com seus mais fervorosos ataques e repelindo-os de volta à escuridão.
Muitos deles lutavam para se manterem vivos, e naquele momento, nossos heróis também se encontravam na mais terrível das situações.
Fim do episódio.
Eu não conheci o outro mundo por querer!
Eu sei que meu coração, agora dói ...
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