domingo, 14 de novembro de 2021

09 - ETERNAMENTE YU YU HAKUSHO

EPS – 09 CORAÇÕES EM PEDAÇOS

Poucos dias se passaram desde que a grande crise chegou ao fim mas as coisas parecem não entrar nos eixos no Ningenkai. Não teve como evitar que as notícias se espalhassem rapidamente como um rastro de pólvora, as medidas de segurança tomadas pelo Reikai, tais como fechar as fronteiras da cidade e tentar apagar toda notícia vinculada à investida de Daito não obtiveram sucesso.

Embora o Reikai, tenha tentado a todo custo esconder do resto do mundo o que realmente aconteceu ali, tudo foi em vão. Todo o esforço de Koenma em tentar fazer uma aproximação pacífica entre humanos e youkais, estava perdido. As centenas de corpos espalhados pelas ruas, fotos e vídeos circulando pelo mundo todo, fizeram com que os humanos ficassem extremamente apavorados e passassem a ficar trancados em suas casas. Temendo que este seja só o começo de uma grande guerra, a população japonesa se agarra ao desespero e fica tão abalada quanto estiveram após a destruição de Hiroshima e Nagasaki. O contato com o sobrenatural, inflamou sua fé repentinamente e aumentou a religiosidade nas pessoas, que não veem outra saída senão se agarrar à sua espiritualidade.

A SDF também foi enviada pelo Reikai para encontrarem os inúmeros Youkais que perambulam pela região ilegalmente, pois mesmo que a nova barreira tenha impedido que mais deles viessem para nosso mundo, alguns dos eu já estavam aqui recobraram a consciência e fugiram do campo de batalha após a derrota de Daito.

As ruas começam a ser desobstruídas e a ajuda chega aos poucos trazendo água e alimento como ocorre em qualquer grande catástrofe natural. E enquanto toda esta grande movimentação acontece, os pequenos e dolorosos problemas atingem todas as famílias que sobreviveram, mas que perderam familiares e amigos queridos.

Longe dali numa clareira, um ainda ferido e esgotado Yusuke, juntamente com Kuroko Sanada, observam o último local da batalha. Anteriormente perdido em pensamentos, Urameshi diz em voz alta:

– O corpo dele já não está mais aqui.

– Não, ele deve ter sido levado pelos agentes do Reikai assim como está ocorrendo ao cadáver de todos os outros Youkais da invasão.

Yusuke caminha pelo local por algum tempo, mas pouco depois, sente uma forte dor em todo o seu corpo. Tomado por uma repentina vertigem, ele se ajoelha por alguns segundos até que Kuroko se aproxima preocupada e lhe ajuda a se levantar dizendo:

– Você está bem?
– Estou sim, é que o meu corpo ainda não se recuperou. Devo estar muito fraco.

Enquanto eles conversam, dois Youkais os observam de longe, por entre as árvores. Com olhares maliciosos e semblantes de pura maldade, mas diferentemente de seus irmãos bestiais, estes parecem deter certo grau de inteligência, pois parecem orquestrar um plano de ação. Um deles, é uma criatura alta, com pele escamosa, e traços semelhantes aos de um lagarto humanoide, tendo ainda chifres sobre sua cabeça, diz para seu companheiro:

– Este é o momento perfeito, eles estão sozinhos. O rapaz está fraco e ela não parece ser muito poderosa.

– Não! Nossos companheiros já levaram o corpo de Lord Daito de volta para o Makai, talvez eles precisem de ajuda pois era muito pesado. Além disso, eu ainda preciso levar esta Magatama* aos nossos mestres (Obs: Jóia ancestral cujas origens se entrelaçam com a da bola Gaki, outrora usada por Gouki). Discorda o companheiro que possui traços felinos.

– Não seja tolo, se conseguirmos capturar o garoto, o mestre ficará muito feliz. Vamos lá, eu vou na frente.

Yusuke sentindo-se melhor, vira-se para Kuroko dizendo:
– Eu já sabia que não teria nada por aqui, mas eu precisava ter vindo.

Não mais que de repente, Kuroko grita para Yusuke:
– Abaixe-se!

Que num rápido movimento, segue as ordens da ex-detetive a tempo de lhe ver disparar uma imensa rajada de energia em direção aos arbustos que atinge alguém que o atacou rápida e silenciosamente.

Sentindo a presença de outro inimigo no local, Yusuke aponta seu dedo indicador e grita: “– Lei-gun!”

Porém sem sucesso, pois sua arma espiritual não funcionou. Ao que ele continua:

– Droga, eu estou completamente sem energia. Achei que tinha visto alguém se esgueirando por ali também, mas agora é tarde, já fugiu.

– Por que ainda estão te atacando? Eles não estavam sob o controle mental de Daito? E este já não está morto? O que foi tudo isso afinal? Questiona Kuroko, com um olhar distante.

Ao que ainda confuso, Urameshi lhe responde como pode:

– Eu ainda não sei ao certo. Mas ficou claro para mim que Daito não estava sozinho nessa. Ele não tinha nenhum interesse no mundo dos homens, veio aqui unicamente atrás de mim. Pelo visto eu sou uma espécie de chave. Mas o que eles realmente desejam, está num lugar chamado Hemetsu e eu não vou ter paz até conseguirem.

Kuroko então se despede de Yusuke dizendo:

– Bom, eu não posso mais ficar por aqui, preciso voltar para minha cidade e rever minha família. Lhes dei notícias, mas eles ainda devem estar preocupados.

– Eu entendo. E obrigado por toda a ajuda que nos deu.

Antes de sair Kuroko lhe diz:

– Yusuke, saiba que Genkai estaria orgulhosa. Você salvou a cidade.

– Só que não é assim que eu vejo. Olhe a sua volta Kuroko. Eu não salvei nada, foi a minha existência quem atraiu Daito para cá. Retruca um descrente Yusuke enquanto se vira e começa a caminhar.

Sentindo sua tristeza, Kuroko questiona: – “E o que vai fazer agora?”

Ao que ele responde com o coração apertado antes de sair de cena:
– O mesmo que todos estão fazendo ... enterrar os mortos.

Algumas horas depois, no princípio da tarde, Kazuma Kuwabara arrasado se recusa a ir embora da sala de espera do hospital até ter alguma modificação no quadro de sua irmã. Yukina permanece ao seu lado durante todo o tempo enquanto o mesmo se mantém inconsolável em sua tristeza.

– Kazuma, você precisa descansar, ficar aqui não vai mudar o quadro dela.

– Eu sei Yukina-chan, mas eu não consigo, eu sou tudo que ela tem, nosso pai disse que estaria aqui, mas até agora não apareceu para revezar comigo.

– Entendi, mas você precisa pelo menos tomar um banho, comer, está acordado há dias. Como vai ajudar sua irmã se continuar nesse estado? Nem os meus poderes curativos têm ajudado a Shizuru a acordar, mesmo que já tenha tentado várias vezes.

– É isto que está me destroçando. Ela está numa condição em que eu não sou capaz de fazer nada para ajudar.

Pouco depois, Yusuke chega acompanhado de Keiko e é abordado por Kurama perto da porta do quarto, que lhe diz:

– Olá Yusuke, você não parece bem, como está se sentindo?

– Ah, oi Kurama. Eu estou todo quebrado. A batalha foi difícil e me deixou de cabeça quente, tenho muita coisa pra pensar. Mas e você, o que está fazendo aqui? Parece até pior do que eu. Por que está tão triste?

– Fui eu quem disse para mantermos a Shizuru por perto durante a batalha. Foi ideia minha, a responsabilidade é minha, e não consegui evitar que ela fosse ferida. Mesmo agora, as ervas que possuo não podem ajudá-la. Responde Kurama.

Vendo o estado de todos, Yusuke muda completamente de postura e entra no quarto de maneira espalhafatosa, esbravejando:

– Escuta aqui Kuwabara, você vem pra casa agora comigo, tá me entendendo? Você vai comer e dormir nem que eu tenha que te nocautear pra isso! Tá pensando o que? Saco vazio não para em pé rapá.

Neste momento, Yusuke toma um grande tapa da Keiko e vai ao chão.

– Eu falei pra você não ser grosseiro Yusuke! Isso aqui é um hospital! Você não disse que só ia falar com ele? Reclama Keiko com cara de quem está muito brava com o Urameshi.

Apesar do escândalo, Kazuma parece que nem notou a presença deles ali. E logo todos se calam ao ouvirem ele deprimido e fitando o chão, dizer baixinho:

– Eu só queria poder falar com ela, dizer que estamos aqui e que ela precisa ser forte. Diz um sofrido Kuwabara.

Antes que alguém pudesse responder qualquer coisa, Kuwabara percebe que Yukina e Keiko estão paradas como estátuas. Num rápido olhar, nota que o ponteiro de segundos do relógio da parede também parou, e que apenas ele, Kurama e Yusuke não foram afetados.

– E se eu disser que existe um jeito disso acontecer? Diz Koenma, ao chegar de repente e interromper toda a conversa. Com o aspecto de uma criança, ele flutua no centro da sala.

– Koenma! Exclamam todos ao mesmo tempo.
– O que aconteceu com as meninas? Pergunta Kuwabara.

– Não se preocupe, elas estão todas bem, eu apenas congelei o tempo dentro desta sala, pois a conversa que vamos ter é um tanto quanto delicada. Mas não vai durar muito, então vê se presta bastante atenção: O estado atual da Shizuru é muito mais grave do que você imagina. Pode ser que ela não acorde nunca mais deste coma. Pois como posso dizer ... ela realmente está entre a vida e a morte. O corpo e a alma possuem ondas de frequências diferentes, que se conectam apenas quando estão em sincronia. O choque que ela sofreu, fez com que este equilíbrio entre ambos se perdesse, e agora ela literalmente não sabe se está viva ou morta. Com o cuidado certo, o corpo ficará bem, más no caso da alma dela, é um pouco mais complicado. Para se recuperar totalmente, a Shizuru precisa de uma injeção de energia vital e precisa lutar para reestabelecer sua conexão com o mundo dos vivos, ao decidir por si mesma, se vai ficar por aqui ou se vai desencarnar. E é aqui que nós entramos. Primeiro, eu vou transferir parte da sua energia vital para o corpo dela enquanto ao mesmo tempo, vou te levar para dentro do sonho dela, numa viagem astral guiada onde você poderá conversar pessoalmente com ela, e poderá convencê-la a ficar.

Yusuke se recorda do passado e interrompe Koenma dizendo:

– Ah, é verdade! Eu tinha me esquecido desse lance de entrar nos sonhos! Eu já fiz isso uma vez! Quando estava vagando por aí como um fantasma, foi a Botan quem me ensinou a fazer este negócio.

– Só que neste caso é diferente. Ela não está apenas dormindo, está num sonho pré-morte e sua ligação com a vida pode desaparecer a qualquer momento levando a sua consciência junto com a dela para o limbo. Ou seja, isso é perigoso para os dois. É por estas e outras razões que o Reikai possui regras rígidas e não permite que ninguém interfira no fluxo natural da vida.

Ouvindo isto, Kurama os interrompe dizendo:

– Mas espera um pouco Koenma, se o mundo espiritual não permite que isso seja feito, por que você está aqui agora? Vão abrir uma exceção?

– Bom, é agora que a nossa conversa fica complicada. O mundo espiritual realmente vai permitir que isto aconteça desta vez, pois se trata de um caso muito especial, porém o meu pai impôs uma condição.

– Tá de sacanagem? Como assim condição? Ele já não é um Detetive Sobrenatural atuando aos seus serviços, que história é essa de condição? Vocês é que estão devendo uma pra ele. Diz um Yusuke revoltado.

– Pera lá Yusuke que eu já vou explicar. Antes de tudo, isto não está em minhas mãos. Você sabe como é o meu pai e é ele quem está de volta ao comando agora. A situação é a seguinte: O poder despertado por Kuwabara durante a batalha, chamou muito a atenção do mundo espiritual. A energia sagrada é algo especial mesmo para o Reikai. E o que o meu pai quer é que você treine o Seikouki sob a tutela do Reikai e aceite se tornar o protetor do mundo dos homens. Como você bem sabe, atualmente o mundo espiritual não consegue lidar com youkais de categoria “S”, mas com o treinamento certo, a sua força poderá rivalizar inclusive com a de seus companheiros um dia.

– Acho que não entendi Koenma, como detetive eu já não sou este protetor?

– Sim, mas o que eles esperam é um acordo diferente, mais compromissado. Uma ligação mais forte com o Reikai. Eles basicamente querem que você se torne um membro da SDF, literalmente um soldado, e que execute certas ordens sem muito questionar. E é aí que tudo se complica, pois isso pode te levar a realizar algumas missões das quais você não gostaria. Digo, você seria capaz de enfrentar até mesmo os seus companheiros caso fosse necessário?

– Eu não estou ouvindo isso, tá tirando onda com a minha cara Koenma? Depois de tudo o que fizemos nós agora é que somos considerados uma ameaça? Mas deixa quieto. Afinal, até parece que o Kuwabara faria algo assim. Não é mesmo Kuwabara? Kuwabara ...

Yusuke observa atônito seu amigo desviar o olhar e fitar a parede com seriedade. Pensando unicamente em sua irmã neste momento ele apenas diz:

– Eu preciso de um tempo para pensar a respeito.

O clima na sala fica horrível de repente. Antes de sair porém, Koenma lhes diz:

– Tudo bem, eu vou avisar ao meu pai e preparar as coisas caso aceite. Eu te procuro assim que você fizer contato.

Logo depois, a imagem residual de Koenma desaparece, o tempo se reestabelece e as meninas voltam a se mexer normalmente. O estranho clima de tensão que paira no ar por sua vez, parece que irá demorar a desaparecer.

Não longe dali, no terraço do Hospital, Hiei se mantem absorto em seus pensamentos, até ser surpreendido por Kurama, que como uma raposa aproximou-se sem ser notado.

– Pensando em Mukuro? Ou quem sabe ... na Yukina?

– Mas que diabos... está me seguindo agora Kurama? E que papo é este?

Vendo a expressão de Hiei, que transparece constrangimento e raiva, Kurama sorri e lhe dá um tapinha nas costas forçando-o até mesmo a descruzar os braços ... o que o irrita bastante.

– Você já contou para ela não é mesmo? Que são irmãos. Todo mundo já está sabendo disso. Eu só vim lhe dar meus parabéns pela coragem.

– Ora seu ...

Neste momento, Kurama nota a presença de Yukina que surge de pé logo atrás dele e virando-se, constata que é hora de ir.

– Acho que essa é a minha deixa. Melhor deixar vocês dois a sós.

– Seu idiota ... resmunga Hiei.

– Hiei, que bom que você ainda está por aqui. Não tivemos a oportunidade de conversar depois daquela hora ... há tanto que eu quero te dizer. Diz Yukina com um sorriso singelo na face.

Desconfortável, Hiei apenas consente afirmando com a cabeça positivamente. Os irmãos parecem conversar por um tempo. E tudo o que vemos por fim é o colar com a pedra da lágrima sendo devolvido por Hiei a Yukina e um doce, mas reconfortante sorriso da garota das neves. Os irmãos estavam finalmente unidos, apesar de sabermos que Hiei jamais lhe contará os detalhes sobre o seu verdadeiro passado sombrio.

Pouco depois vemos Yusuke, Keiko e Botan caminharem pelas ruas ao voltarem para casa. O clima parece péssimo até que Urameshi quebra o silêncio e pergunta:

– Aí Botan, que diabos de neblina estranha é essa agora?

– Ah, eu esqueci de te falar. O mundo espiritual está usando essa espécie de nevoeiro por toda a cidade para fazer as pessoas se sentirem melhor. Além de tranquilizante, ela faz com que o organismo produza substâncias que favorecem à superação dos traumas e ajuda as pessoas a lidarem com as grandes tragédias que viveram, fazendo com que elas possam seguir em frente, mantendo o seu foco no futuro. Acho que a última vez em que ela foi utilizada por aqui foi na segunda guerra mundial. Acreditam nisso?

– Não sabia que eles eram capazes de fazer isso, de nos manipular desse jeito. Responde um irritado Yusuke, que enxerga neste ato, muito mais do que solidariedade. Preso em pensamentos, ele fita Keiko com um olhar de preocupação. Ao que ela replica:

– Ih, o que foi Yusuke? Está estranho ...

– Humm? Não é nada. Foi só uma sensação ruim que tive pensando em tudo o que houve recentemente. Ontem mesmo a Shizuru tava aí, e agora ... bem, você já sabe.

– Ah, para com isso. Tá com medo de me perder agora é? Logo você?
– É ... eu estou.

Keiko para de sorrir de repente ao perceber que Yusuke está falando sério. E não consegue sequer se lembrar de qual foi a última vez em que já lhe viu com medo.

Fim do episódio.
Eu não conheci o outro mundo por querer!
Eu sei que meu coração, agora dói ...

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