domingo, 1 de janeiro de 2023

13 - ETERNAMENTE YU YU HAKUSHO

EPS – 13 UMA VIAGEM PELO MAKAI

Permanecendo pouco tempo por ali após a confusão que houve no castelo, Yusuke, Kurama, Hiei e Mukuro se despedem de todos antes de iniciarem a perigosa jornada que farão até os confins do mundo das trevas. Darla por sua vez, decide acompanhá-los, mas nitidamente, ela ainda não é bem vinda ao grupo.

Enquanto andam pelos longos corredores do castelo em direção à saída, Kurama vê uma espada simples e enferrujada fixada na parede apenas como objeto de decoração e rapidamente rouba o artefato escondendo-o em suas longas roupas ante os olhos perplexos de seus amigos. Hiei não segura um leve sorriso enquanto Yusuke o repreende:

– Caramba Kurama, esse negócio de roubar já está virando compulsão!
– Não se trata disso Yusuke, é que logo mais nós vamos precisar dela.
– E para que faríamos uso de uma espada enferrujada como essa?
– Você vai ver. Confie em mim.

Mais tarde, ainda naquele dia, nosso grupo de heróis surge em meio a uma multidão de mercadores locais numa região ainda muito próxima ao castelo central do reino de Tourin. Neste lugar em específico, nos últimos tempos, as ruas foram tomadas pelas barraquinhas de diversos mercadores ambulantes, que deixam bem claro que por aqui, aparentemente se negocia de tudo.

Kurama começa a puxar conversa com alguns deles e a cochichar nos ouvidos das pessoas nas ruas. Um youkai se mostra muito surpreso com suas palavras e sai correndo. E logo após se afastar dele, Yusuke pergunta o que eles estão fazendo ali afinal? Ao que Kurama replica:

– Estamos procurando condução, para termos uma viagem segura. A região dos três reinos, apesar de ser vasta, é apenas uma pequena parcela praticamente isolada do resto do mundo das trevas. E entre nós e a parte mais “ampla” do Makai, digamos assim, existe um gigantesco deserto, castigado por turbilhões de vento, vermes da areia e saqueadores sedentos. Sei que isso não seria muito mais do que um empecilho para um grupo como o nosso, mas é a morte certa para a maioria dos que tentam se arriscar.

– Eita, então como é que vamos passar?
– Com isso aqui.

Kurama mostra a espada enferrujada que retirou da parede do castelo de Enki mais cedo e confunde a todos. Sem entender nada, Yusuke questiona:

– Mas é o que?!

Logo eles são abordados e levados por um Youkai comum até seu comandante, um homem baixo, com longas barbas e chapéu engraçado, dono de um olhar desconfiado e uma bruta rispidez nas palavras. Que sem demora inicia uma conversa:

– Então, quer dizer que vocês estão procurando passagem segura pelo deserto, isso eu posso arranjar. Más não é nada barato. Você andou dizendo por ai que possui um artefato que vale muito a pena, mas eu me pergunto: é realmente o que você diz ser?

Kurama lhe mostra a espada ornamental enferrujada que retirou da parede do castelo de Enki e com seriedade lhe diz:

– Veja você mesmo, aqui está ela, a famosa “espada da destruição”! Retirada diretamente dos tesouros da rainha Mukuro. Um item único, que mediante bastante treino, irá lhe conferir poderes inimagináveis. Eu lhe ofereço essa rara peça pela minha passagem, e a de meus companheiros.

Espantado, o youkai toca a espada deteriorada com extremo cuidado, como se estivesse diante de uma preciosa relíquia, enquanto Yusuke tenta esconder sua cara de riso, morrendo por dentro ao saber que Kurama está mentindo dissimuladamente e na cara dura para o pobre Youkai.

Ainda desconfiado, o Youkai se questiona:

– Não sei não, isso se parece muito com uma espada comum. Como podemos atestar sua originalidade?

– Pergunte para a antiga dona dela. Ela está logo ali.

Diz Kurama apontando para Mukuro, que também não resiste e esboça um leve sorriso jocoso no canto da boca.

Agora, muito satisfeito, o Youkai aperta as mãos de Kurama com um grande sorriso e pede que o sigam. Yusuke e Hiei não conseguem acreditar na cara de pau de Kurama que logo lhes diz para pararem com as gracinhas antes que o capitão comece a desconfiar.

Mais à frente, eles se deparam com uma fortaleza móvel gigantesca semelhante a um inseto. Está viva, mas para dentro dela estão sendo embarcados dezenas de Youkais e é para ali que o grupo se dirige.

Hiei logo vai dizendo:
– Humf, é exatamente como a Mukade de Mukuro.

– Mais ou menos. As minhas eram armas de guerra e carregavam em seu interior o equipamento de que meus homens precisavam, como a câmara de regeneração em que você ficou. Essa, parece ser apenas para transporte de passageiros, ainda assim é a forma menos desgastante de se atravessar o deserto.

– Se você tem uma dessas, por que não a utilizamos? Questiona Darla.
– Foi destruída, na batalha contra o seu rei.

Procurando um canto para se deitar, Yusuke vai logo dizendo:
– Bom, sem dúvidas é melhor que ir andando.

Os quatro embarcam e rapidamente se misturam às pessoas que se espalham pela fortaleza móvel. Olhando pela janela, Yusuke sente a Mukade começar a se mover e observa as árvores ficando para trás, imaginando apenas o que o aguarda pela frente. E assim, uma emocionante viagem pelo mundo das trevas finalmente tem início.

Enquanto isso, nos cantos mais obscuros do Makai, o grupo de youkais que está decidido a abrir as portas de Hametsu planeja seu próximo passo. Com a chegada de uma pequena criatura alada ao local, que pousa sobre o ombro de Yajima.

O suposto líder do grupo, aquele a quem antes fora chamado de mestre, vendo aquilo o questiona:

– E então Yajima, onde eles estão?
– Em uma fortaleza móvel atravessando o deserto, senhor Uragami.

– Ótimo, eu nunca imaginei que ele teria peito para vir ao mundo das trevas buscar vingança. Más isto é um prato cheio para nós. Vá Yajima, leve Hoozen e Toshio com você. Vocês devem interceptá-los em Julon. Faça o que quiser com os outros, más não se esqueça, eu quero o filho de Raizen vivo. O poder que ele carrega será meu.

Neste momento, o Mazoku chamado Yajima deixa o local, acompanhado por Hoozen, a bela guerreira de longos cabelos vermelhos e Toshio, o homem de cabelos azuis espetados, que trajava roupas semelhantes à de um artista marcial.

A saída do grupo é marcada por um estranho tremor que abala as estruturas do mundo. Como que advindo do som de um trovão, cuja causa real se encontra nas profundezas de Hametsu. Interpretando aqueles sinais, o carrancudo Uragami apenas diz em voz alta:

– Desculpe pelo atraso, meu senhor, havia muitas coisas a serem feitas para que possamos garantir o seu retorno. Mas veja, desta vez, conseguimos muitas almas humanas para alimentá-lo. Talvez isto sacie por um tempo sua imensa fome.

Uragami ergue sua mão direita, e vemos em seu pulso, a Magatama de jade que lhe fora trazida anteriormente pelos remanescentes da invasão. Recitando algumas palavras indecifráveis e quase inaudíveis, ele liberta incontáveis almas que estavam aprisionadas no interior da joia. As mesmas se contorcem e dançam à sua volta num louco turbilhão de maneira indescritível enquanto ecoam seus murmúrios e gritos desesperados até serem tragados para a escuridão de Hametsu através das fendas que há em sua porta, como se houvesse ali, no olho do abismo, um intenso vácuo. Ao mergulharem nas assombradas câmaras abissais, aquelas almas são silenciadas para sempre.

Durante algumas horas, Yusuke observa cenários fascinantes e cheios de mistérios. Surrealistas até, como se tivessem saído da cabeça do próprio Roger Dean. Era como se suas obras tivessem ganhado vida. Pela Janela ele observa ao longe o que parece ser o esqueleto de um dinossauro, enorme em suas proporções. E vê também uma outra criatura, com um bando de pássaros sobrevoando ao seu redor, até que ali na areia, diante do calor escaldante, eles o consomem completamente em alguns poucos instantes, deixando só os restos da criatura que um dia animou aqueles ossos para trás.

Quando a primeira noite cai, um frio absoluto se abate sobre todos, como se todo aquele calor do dia se dissipasse, seria impossível sobrevier ali por muito tempo, mas ao longe, luzes chamam a atenção dos passageiros, que ao observarem melhor, percebem se tratar de montanhas cobertas por algum tipo de vegetação resistente tanto ao calor do dia, quanto ao frio da noite, e que brilham intensamente como se reagissem a alguma substância presente no ar.

No dia seguinte, regiões de beleza exuberante, convidam os passageiros a uma breve parada a fim de se refrescarem num dos poucos oásis daquele deserto sem fim. Pequenos lagos flutuantes, sem rochas para os segurar no ar, faziam daquele lugar único no mundo das trevas. Mukuro apenas lava seu rosto enquanto Hiei mergulha cautelosamente nas águas suspensas. Yusuke por sua vez, nada esparramando água para todos os lados como se fosse uma criança.

Mais tarde, eles se deparam com caravanas de Youkais que migram por regiões completamente ermas e a cada desfiladeiro, inúmeros salteadores tentam, sem sucesso algum, invadir a fortaleza móvel dos nossos aventureiros, que riem da audácia de tantos quanto tentam saltar no momento mais oportuno, mas que são tragados por fortes ventos e desaparecem em meio ao turbilhão de areias.

Mais um dia se passa após a sua partida, e Yusuke já avista uma paisagem que lhe desperta algo familiar, a singularidade da vida vegetal muito se assemelha à do local de seu confronto com Sensui.

Ao que pensa consigo mesmo:
– Ei, eu conheço este lugar.

E se perde em suas memórias daquele combate.

Enquanto isso, muito distante dali, Kuwabara e Yukina estão animados com a recuperação de Shizuru. Estão com eles também, o pai dos irmãos Kuwabara, Keiko e Koenma. O Dr. Satoshi a pouco estivera ali e tinha compartilhado que, pelos exames, ela não corria risco algum de morte. Era literalmente um milagre. Animado, Kazuma lhes diz:

– Ah irmãzinha, que bom que você finalmente acordou. Eu não aguentava mais. E o papai, bem … ele ficou aqui durante um tempo também, até revezou comigo. Ah, e a Yukina não me deixava esquecer de comer.

– Até parece né Kazuma, que um guloso como você ia se esquecer de comer. Responde Shizuru, sem perder o bom humor de sempre, fazendo todos gargalharem.

Após algum tempo de conversa agradável, Kuwabara se dirige a Koenma displicentemente e diz:

– Quando começará o treinamento no Mundo Espiritual? Eu não esqueci de nosso acordo.

– Muito em breve, estão sendo feitos os preparativos para que seu treinamento seja bastante eficaz.

Mas com ar de dúvida e de contrariedade, Shizuru interrompe dizendo.
– Como assim acordo?

– É que aquele sonho que você teve, não foi exatamente apenas um sonho. Eu realmente estava lá tentando te ajudar. O Koenma foi quem fez tudo isto. Mas o que fizemos, é uma violação da ordem natural das coisas e para termos a aprovação do Mundo Espiritual, tivemos que entrar em um acordo. Eu me comprometi a treinar com eles para dominar o brilho sobrenatural que despertei quando achei que você tinha morrido, e prometi me tornar uma espécie de protetor permanente de seus interesses.

– Humm, mas que palhaçada hein! Eles tinham era que ter feito isso sem pedir nada em troca. E afinal, você já não é o Detetive Sobrenatural que protege a Terra?

– Essa é a questão. Com certeza tem alguma jogada nessa história e eles vão me pedir alguma coisa além, más na hora a gente faz qualquer coisa por aqueles que ama. E eu dei a minha palavra. Então não dá mais pra fugir disso.

Diante dessa situação desconfortável, Koenma replica:

– Não pensem que usei vocês. Aliás, será uma ótima oportunidade para o Kuwabara ficar ainda mais forte e não haverá nem prejuízo para ninguém. Imagino que queriam apenas maior segurança quanto ao seu compromisso.

– Se você diz isso tudo bem. Más soa como se fosse rolar alguma chantagem. Responde Shizuru ainda sentindo que o irmão foi passado para trás.


No Mundo das Trevas, a fortaleza segue se movimentando rapidamente num embalo ritmado e sob os céus obscuros do Makai, ela atravessa incontáveis quilômetros pelo deserto da perdição durante o período que corresponde a um dia inteiro, levando consigo entre a multidão: Yusuke, Hiei, Kurama, Mukuro e Darla. Tudo parece correr bem nesta parte da viagem, e eles saem do deserto sem quaisquer problemas, deixando as tempestades de areia para trás enquanto adentram numa floresta completamente distorcida.

Recostado no canto de um salão, Kurama observa Darla fitar o amuleto em suas mãos como se estivesse perdida em pensamentos. E decide lhe abordar, dizendo:

– Era este o objeto que você disse ser capaz de abrir portais mesmo à longas distâncias no Makai, não é mesmo? Um amuleto Yaminade. Eu conheci um Yaminade certa vez. Foi-lhe dado por algum deles?

– Não, estes amuletos são feitos com a carne dos youkais bidimensionais que são controlados pelos Yaminades. Conseguir um de bom grado é praticamente impossível, pois implica na morte destes monstros, e eles são muito apegados as suas criaturas. Quem me deu isso aqui foi um Mazoku chamado Yajima Ryuuze, ele é um caçador de Yaminades. Nós dois ... já tivemos um lance uma vez. Mas ele não está mais entre os da minha tribo. O idiota escolheu o lado errado dessa guerra.

Darla se levanta e apoia suas mãos nos cotovelos, ela se vira de costas para evitar os julgamentos de Kurama, pois a expressão em seu rosto transparece nitidamente um coração partido. Kurama por sua vez decide ir mais a fundo:

– Parece que você ainda sente alguma coisa por ele.

Ao que Darla replica:
– Me deixe em paz. Isto não tem nada a ver com você.

– Desculpe por intrometer. Eu posso vê-lo? Como isso funciona? Diz Kurama estendendo suas mãos para pegar o estranho amuleto que possui dois olhos em sua superfície.

Ao que Darla lhe entrega e diz:

– Não sei bem ao certo. Mas toda vez que sua energia é utilizada, um dos olhos se fecha, e leva o maior tempão para ele se abrir novamente.

– Entendo. Como você o utilizou para chegar até aqui, um dos olhos se fechou. E agora só poderá ser usado mais uma vez. Pelo menos durante um tempo. Interessante.

Kurama fica um pouco por ali, com um olhar pensativo e já maquinando planos futuros em sua mente.

Neste meio tempo, noutro ambiente da Mukade, Hiei pergunta a Mukuro:
– O que deu em você para vir com a gente afinal?

Ao que ela responde:

– A muito tempo atrás, quando eu me firmei como rainha, numa época em que Yomi ainda não havia dado as caras, imaginei que automaticamente Raizen iria se sentir desafiado e lutaria comigo pelo destino do mundo das trevas numa guerra brutal. Más isto nunca aconteceu realmente. Ele nunca reagiu à altura das minhas provocações, mesmo nas vezes em que nos confrontamos diretamente. Ele observou minhas ações por séculos, e acredito que fez o mesmo com Yomi quando este ascendeu como rei. Eu não sei ao certo, mas parecia esperar por alguém que fizesse algo de bom pelo Makai.

– Resumindo: Você só veio com a gente para tentar descobrir algo mais sobre o passado daquele velho.

Neste momento um grito terrível é ouvido e chama a atenção de todos!
– É a voz do Yusuke!

Enquanto Hiei corre para ver o que está havendo, Mukuro parece apreensiva e pensa consigo mesma:

– O que é isso afinal?! Este Youki é quase tão grande quanto o meu!

Ambos correm para as acomodações onde Urameshi se contorce de dor enquanto é amparado por Kurama. Seu corpo parece liberar energias massivas e destrutivas enquanto ele grita de forma angustiante. Seu rosto queima e uma marca semelhante à de Raizen aparece. E em sua mente, ele houve os sussurros aterradores de uma voz estranha que tende a atraí-lo a Hametsu dizendo:

“– Venha me encontrar. Estou esperando por você.”

Mas, passados alguns minutos, ele se acalma. Ao que Mukuro pergunta:
– O que foi isso Yusuke?

Mas é Darla quem lhe responde:

– São os efeitos do estigma dos reis. Está se tornando mais intenso. Isto irá destruí-lo caso ele não o controle. A dor que o Yusuke vai enfrentar a partir de agora, será algo inimaginável.

Chateado, Yusuke serra os dentes e tenta se levantar:

– Tss, para de me espraguejar, ô boca de fossa. Não tá vendo que não era só isso não? Tinha mais alguma coisa, alguém falou comigo, más agora já passou. Agora me larga Kurama, me deixa sair daqui que eu tô precisando comer algo.

Urameshi se retira do local, sob o olhar preocupado dos demais. Ele sabe que alguém se aproveitou do seu momento de fraqueza para se conectar com ele.

Longe do campo de vista dos demais, ele se apoia contra uma parede enquanto morde uma maçã, mas lhe parece sem gosto. Logo ele sente seu estômago roncar de maneira monstruosa e assustadora. Ele sabe, que a fome que tem sentido recentemente, já não é mais algo natural. Agora ele não pode mais perder o controle de si, ou poderá seguir por um caminho sem volta. Então, vendo que as coisas tendem a ficar preocupantes, Yusuke se esforça para consumir o máximo possível de alimentos normais, mesmo tendo um sabor tão ruim.

Vendo-o agir como um glutão, Darla que havia acabado de chegar ao local o questiona:
– Precisa disso?

Ao que Yusuke lhe responde:

– Ah minha filha, não estranha não que eu sou assim mesmo. Como igual a uma capivara e depois tomo um chazinho que é pra secar cagando.

Tudo parece voltar à normalidade nas horas que se seguem, mas ao cair da noite, logo que adentram em uma floresta densa e sombria mais a frente, às coisas mudam drasticamente. Os troncos que se quebram e as folhas das árvores que se espalham, são completamente vermelhas. A mata, repleta de flores e de belezas vividas, é porem encoberta por uma névoa tóxica e mortal. As águas dos córregos e as frutas perfeitas nunca foram provadas, pois o veneno que os contamina seria fatal ao mais resistente dos seres.

Não demora muito até que a fortaleza móvel pare sua jornada e gritos surpresos comecem a se espalhar. Alguns Youkais correm pelos salões avisando a todos que fiquem quietos e façam total silêncio pois ...

– O Errante foi avistado!! O Errante vem vindo para cá!!

Vendo toda a movimentação, Yusuke logo se pergunta:
– Quem é esse tal Errante?

Ao qual Kurama responde prontamente:

– O Errante? É um dos seres mais antigos do Makai. Ele é um Gashadokuro e vem das profundezas, ninguém sequer sabe ao certo se ele é um Youkai. O pouco que sabemos é que ele é uma criatura milenar e primitiva, que ocasionalmente devora cidades inteiras. Muitos até tentaram, mas ele nunca foi ferido. Se nos emboscar aqui e destruir a Mukade, estaremos perdidos, pois há veneno no ar lá de fora por incontáveis quilômetros.

No momento seguinte os Youkais se amontoam nos vitrais das janelas tentando vê-lo, más apenas os passos brutais da gigantesca criatura que vaga sem rumo são sentidos. E apenas por um breve momento, o terror de sua imagem é vista acima das nuvens e atrás das montanhas, sendo oculta pela névoa logo em seguida.

Kurama retoma a palavra esclarecendo para Urameshi:

– Existem muitas criaturas no Makai, mas ver o Errante e sobreviver é algo único. Pois existem coisas por aqui que simplesmente não dá para enfrentar. Mesmo alguém com o poder de Mukuro, pensaria duas vezes antes de ir lá fora.

– Vem cá Kurama, então por que é que ela está lá?
– O que?!!!

Como se quisesse desafiar o próprio poder, Mukuro está parada sobre uma grande rocha, diante da criatura. O errante tem um tamanho colossal perto da pequena estatura de Mukuro. Medindo cerca de 30 metros, o Errante vaga a passos lentos e movimentos vagarosos. Até finalmente notar a figura que o encara, como se sentisse a ameaça que ela representa.

Com um movimento extremamente brusco, ele então estica seu braço para alcançar Mukuro, que sutilmente se esquiva numa perspicaz acrobacia, saltando sobre o imenso pulso da criatura. E com incrível agilidade, ela corre por seu braço logo em seguida, alcançando a altura de seu tórax. Com grande violência, dali ela salta em direção à cabeça do errante, acertando-lhe um chute por debaixo do queixo, e assim, dando um salto mortal para trás. O impacto de seu golpe é incrível, e faz seu adversário ser erguido do chão. Em queda livre, ela ainda une suas mãos à frente do corpo e lança uma gigantesca bola de energia que se choca violentamente contra o errante e explode numa nuvem de fumaça que encobre toda a região.

Pouco depois, Mukuro observa a criatura levantar-se como se nada tivesse acontecido, porem todos conseguem ver quando seu ombro esquerdo desaba, levando consigo juntamente seu enorme braço, incontestavelmente arrancado do lugar no último ataque. Mas para assombro geral, a criatura regenera-se numa velocidade que deixa os espectadores atônitos, pois em poucos instantes outro braço já está no lugar.

Antes mesmo que o Errante pudesse andar em direção a Mukuro, a mesma já se encontra novamente correndo com uma velocidade vertiginosa, do tipo que poucos conseguem acompanhar com os olhos. Sem perder tempo, ela passa por entre as pernas da criatura, salta golpeando por trás de seu joelho esquerdo, e faz o Errante se curvar. A monstruosa criatura solta uma espécie de rugido, como se fosse um animal selvagem, e tenta com o braço esquerdo golpear sua ágil adversária, que na sequência, apenas toca o braço da criatura e gira por cima dele como se fosse uma hábil acrobata. Num movimento muito rápido, ela começa a brandir apenas dois de seus dedos no ar, e traça linhas no tecido dimensional com isso ao redor da criatura, que parece simplesmente ignorar o perigo que aquilo representa.

Vendo aquilo Kurama diz em alto e bom tom:

– Ela está cortando o espaço! Como fez quando enfrentou Hiei. Essa técnica vai limitar o espaço de ação do Errante, dificultando seus movimentos.

– Hunf. Que exibida! Resmunga Hiei.

O Errante tenta se recompor e levanta-se, enquanto Mukuro o observa friamente, analisando as reações da criatura, como se a estudasse. O que dura pouco tempo, pois o enorme monstro se mostra absurdamente poderoso quando ignora o espaço distorcido e o atravessa em direção à sua inimiga.

Uma série de estrondos são ouvidos, quando o Errante encosta nas distorções, e pedaços da criatura vão sendo retalhados à medida que ela passa pelo espaço que fora cortado. Mas o monstro segue regenerando-se tão rapidamente quanto é destroçado. Com um sorriso de desdém, Mukuro mais uma vez libera sua imensa energia, que se espalha ao seu redor e se eleva ao céu como um pilar de luz, mas desta vez, para surpresa de todos, a luz entra em turbilhão, se condensa e retorna às mãos de Mukuro que desaparece diante da luminosidade do poder acumulado em suas mãos. Esta energia, ao ser liberada vai de encontro à criatura que caminhava rumo ao seu sentido, numa detonação que muito se assemelha ao de uma explosão atômica, desconfigurando naquele momento, toda a paisagem.

Atônitos, todos veem Mukuro caminhar em direção a Mukade, sem nenhum arranhão após o combate, deixando o Errante para trás, caído e derrotado, e não apenas isto, mas também demasiadamente destruído. Embora ainda se regenerando, não dava mostras de que ele iria se levantar tão cedo.

Longe dali, no Mundo Espiritual para ser mais exato, Kazuma Kuwabara juntamente com Ryohi é recepcionado por Koenma e Botan nos portões do julgamento do Reikai. Nós os encontramos no meio de uma breve explicação que está sendo dada pelo pequeno filho de Enma Daioh à Kazuma:

– Como eu ia dizendo: Para chegar até aqui no mundo espiritual, você teve que desgarrar seu perispírito do seu corpo físico. Isso quer dizer, que as lições que você aprenderá aqui com o auxílio da SDF, deverão ser praticadas no Ningenkai também, para que haja o fortalecimento do seu corpo físico no mesmo grau daquele que haverá com seu corpo espiritual.

– Ah cara, não acredito que eu vou ter que fazer tudo em dobro.

– Não seja bobo Kuwabara, isso vai fazer de você alguém muito forte, tá me ouvindo? Além disso, eu tenho uma surpresa.

– Uma surpresa é, do que se trata Koenma? Fala logo de uma vez.

Eles caminham por uma longa passarela feita de rochas, que entrecorta o vazio imenso ao seu redor. Até que chegam a um amplo local de treinamento, onde alguns membros da SDF já trocavam golpes, enquanto outros pareciam meditar. Koenma então lhe diz:

– Ali, de costas perto daquela árvore, tá vendo? O seu presente está lá.

Confuso, Kazuma caminha na direção apontada sem identificar do que se trata. Até que sente seu coração acelerar e uma fraqueza repentina lhe suprimir a firmeza das pernas ao se deparar com a velha mestra Genkai ali, de pé bem na sua frente, recebendo-o com um sorriso.

– Velhinha! Eu não tô acreditando nisso. O que diabos você ainda está fazendo por aqui? Você já não deveria ter reencarnado ou qualquer coisa assim? Eu nunca poderia imaginar que te encontraria fazendo hora extra no Reikai.

– Vejo que ainda é um bobalhão. Mas confesso que eu não fiquei surpresa quando me disseram que você conseguiu despertar o Seikouki. Visto que sempre teve muito potencial. Meus sinceros parabéns.

– Ora essa, viu só? Obrigado por acreditar em mim. Mas responda a minha pergunta velhinha, o que você está fazendo por aqui? Não me diga que está treinando este pessoal?

– Não, estou aqui para treinar você.

As palavras de Genkai causam deslumbre em Kazuma Kuwabara, que chega a perder a pinta de bad boy por um momento. Imensamente feliz, ele comicamente abraça Genkai de maneira desconcertante e lhe tira do chão enquanto a imagem se afasta. O que fica, é a certeza de que o futuro nos reserva muitas possibilidades.

Fim do episódio.

Eu não conheci o outro mundo por querer!
Eu sei que meu coração, agora dói ...

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