EPS – 21 O ATAQUE A VILA MAZOKU
Em algum lugar nas profundezas do mundo das trevas, mais especificamente na região inóspita e desolada próxima a Hametsu em que se situa a vila Mazoku, o vento gélido soprava pela tundra desértica e balançava as variadas peles e tiras de couro que cobriam as barracas enquanto o solo em torno das tendas começava a estremecer com o avanço das numerosas criaturas selvagens que os atacavam mediante o controle de Takuma.
Feras enormes e musculosas como tigres e cavalos, sedentas por sangue e com os olhos faiscando de pura selvageria, que demonstravam em suas primitivas investidas, uma ferocidade incontrolável. Suas garras afiadas e presas ameaçadoras causavam arrepios em todos aqueles que se dispersaram em fuga pelas aglomeradas ruas do vilarejo.
Consciente de que estavam em desvantagem numérica para aquela terrível batalha, Takuma havia invocado das sombras do submundo aquela horda de monstruosidades para equilibrar a balança. Eram criaturas espirituais, compostas de pura energia maligna, mas de pele tão rígida que simulava até certo ponto as propriedades da carne. No entanto, ao abrirem suas bocas, revelavam as sombras da mais profunda escuridão que preenchia seus interiores.
Como antigo morador local, Takuma havia estudado as fraquezas da vila e planejado uma estratégia capaz de explorá-las ao máximo durante o confronto.
Dito isto, o ataque das criaturas bestiais que antes parecia apenas feroz e implacável, era na realidade uma investida coordenada que buscava dividir os Mazokus em grupos menores, forçando-os a se separarem e isolando-os uns dos outros para diminuir a sua força. Muitos dos aldeões eram atraídos para áreas específicas da vila, em que haviam becos sem saída, dificultando a sua resposta conjunta ao ataque e diversas emboscadas de criaturas repentinamente surgidas da escuridão também aconteciam.
Ainda assim, alguns dos youkais da tribo Mazoku provaram mais uma vez que são um povo guerreiro e demasiadamente valente, ao lutarem com todas as suas forças contra as feras animalescas que os cercavam.
Aqueles que conseguiam, se reuniam em grupos, unindo assim suas forças e habilidades em uma tentativa desesperada de sobrevivência. Às vezes, armados com lanças e espadas, intentavam cegar os olhos das criaturas; noutras, armados apenas com a mais inspiradora coragem, enfrentavam-nas até mesmo com as mãos nuas. Por diversas vezes, vimos rajadas de ventos cortantes e explosões de fogo advindas dos seus ataques.
De maneira geral, a maioria se posicionava estrategicamente ao redor das feras e, em meio ao caos, descobriam que a capacidade de regeneração dessas criaturas compostas por sombras era imediata e incrível. Quando cortados, percebia-se assustadoramente que o interior dos monstros transbordava escuridão, apesar de possuírem externamente todos os aspectos comuns da carne. Ainda assim, muitos persistiam lutando com bravura, visto que a morte seria a segunda opção. No entanto, tudo isso parecia inútil, pois, conforme os minutos se passavam, a horda de criaturas que surgia ficava cada vez maior.
Os gritos de dor e de fúria se misturavam ao som dos dentes e das garras das criaturas, que, numa grande matança, sobressaiam contra as defesas da aldeia. A vila Mazoku, em alguns pontos, começava a pegar fogo, deixando claro que estava sendo destruída de forma irreversível, enquanto outras tendas eram derrubadas, e os ossos que sustentavam suas estruturas eram esmagados sob as patas das feras. Neste palco, onde os youkais caíam, a terra era toda tingida de vermelho.
Mas, apesar de toda a destruição que os cercava, aqueles que ainda restavam se reuniam e se mantinham firmes de pé, formando uma barreira protetora ao redor dos mais vulneráveis, dentre os quais estavam os idosos e as crianças.
Enquanto as feras avançavam impiedosamente contra os moradores, o youkai chamado Takuma fitou Yusuke Urameshi e seu grupo de um ponto elevado do terreno. Sua postura altiva e endurecida se destacava enquanto, montado em uma das feras, fixava seus olhos ameaçadores no grupo e lhes transmitia um ar de desafio. Ao lado de Takuma estavam outras duas youkais: Hoozen e Sayaka.
Mas, inesperadamente, visto que seria de praxe a esquentada ruiva tomar a frente com sua costumeira arrogância e grosseria numa situação como essa, é Sayaka a primeira a lhes dirigir a palavra dizendo:
– Demônios malditos! Vocês mataram o meu irmão! Eu jamais irei perdoá-los!
Comicamente confuso com a repentina acusação da charmosa garota, Yusuke lhe respondeu:
– Tá falando comigo é minha filha? Antes de tudo, não me venha com choradeira que esse tipo de coisa não me comove não. Segundo, que eu não faço a menor ideia de quem seja o seu irmão, ok? Então não me venha apontar o dedo que eu não tenho nada a ver com isso não.
– Vai se fazer de inocente agora? A culpa, sem dúvida alguma, é de um de vocês!
– Olha só, descer o sarrafo eu já desci em muita gente. Mas matar, matar mesmo, não faz bem o meu estilo não, então eu normalmente evito. Só aconteceu algumas poucas vezes com alguns youkais metidos a besta. Quer ver só? Deixa eu contar aqui … teve um, dois, eita, teve aquela vez que foram quinze, ah não, eram vinte e cinco … ih rapaz, também teve aquela outra vez em que eu ...
– Está zombando de mim? Cafajeste!
Interrompe Sayaka ainda mais irritada. E vendo aquilo, o desconcertado Yusuke respondeu:
– Não é bem isso não, queridinha. Eu só não sei mesmo é de quem você está falando. Me diz aí, como é que ele era? Se parecia muito com você?
Reagindo de maneira totalmente inusitada, a feminina e delicada Sayaka se emociona com a pergunta e enche seus olhos de lágrimas, salta da criatura em que estava, deixando-a para trás com a habilidade de uma acrobata e cai inclusive em um só pé, em um exímio equilíbrio perfeito. Se achegando para perto de onde o Yusuke está, ela então lhe conta uma breve história da sua vida dizendo:
– Sim, nós éramos muito parecidos. Tão parecidos, que quando ainda éramos bebês, precisávamos usar pulseiras de identificação com os nossos nomes o tempo todo. Até que certa vez, quando estávamos tomando banho juntos, a nossa mãe precisou sair por um breve momento e quando voltou, percebeu que as nossas pulseiras haviam se apagado completamente na água, de modo que a nossa mãe já não sabia mais quem era quem. Por fim, ela teve de escolher os nossos nomes aleatoriamente ao pôr as nossas pulseiras de volta.
Um tanto quanto confuso com o que ouviu até ali, Yusuke espera por um breve momento pela conclusão daquela inusitada história. Mas vendo que ela havia parado de falar e não tinha chegado a lugar algum, lhe pergunta:
– Espera um pouco aí que eu não entendi foi nada, do que você está falando afinal?
Desnorteado em seus pensamentos, Yusuke se questiona se a mãe dela não havia percebido que possuía um casal de filhos gêmeos, composto por um menino e uma menina. Ao que Sayaka respondeu:
– Você não entende não é? Eu posso muito bem ser o meu irmão!
Completamente abismado agora com tamanha burrice, Yusuke deixa sua cara cair ao chão e segura o riso enquanto lhe diz em voz alta:
– É o que?! Você é meio lerdinha né minha filha? E pelo visto, a sua mãe também era bastante. Olha só, eu não sei nada sobre isso aí que você tá falando não, então é melhor sair da minha frente, pois se entrar no meu caminho vai acabar tomando uma bicuda.
– Como ousa dizer algo assim a alguém que está de luto?
– Ah, eu não faço nenhum tipo de distinção não. Se vier com arrogância pra cima de mim o pau vai estalar na moleira, independentemente de quem seja ou como esteja.
– “Já basta de tolices!” Diz o introspectivo Takuma intervindo na ridícula situação.
A imensa fera que lhe serve de montaria salta diante deles, aumentando a distância que há entre os dois e após alguns sólidos e firmes passos ao redor de Urameshi, quase como se estivesse traçando um círculo ao seu redor, ela para diante dele de maneira ameaçadora.
Takuma então retoma a palavra diferindo muito de sua regular passividade e natureza calma e paciente ao dizer:
– É melhor você se afastar Sayaka, nenhum destes inimigos é oponente para você. Temos um objetivo aqui, e desta vez nós iremos cumpri-lo.
Sayaka parece irritada com sua intervenção, e cogita repreendê-lo até que repentinamente do alto, ouve-se uma voz ríspida que se dirige a ela dizendo:
– Ele tem razão criança. Deixe que a gente faça o trabalho por aqui. Como eu já lhe disse antes, não foi nenhum destes idiotas quem matou o Toshio, mas sim, aquela peruazinha da Darla. Ela deve estar por aí, em algum lugar, por que não vai procurá-la? Quanto ao baixinho ali, ele é todo meu!
Diz Hoozen lançando-se para perto de Hiei ao saltar das costas da criatura, que juntamente com aquela que outrora fora montada por Sayaka, dispersa-se em meio ao vilarejo atrás de suas próprias vítimas.
Irritado, Hiei lhe diz com um sorriso sanguinário estampado no rosto:
– Heh, mulherzinha arrogante. Eu vou acabar com essa sua confiança ainda hoje. Desta vez as coisas vão ser muito diferentes.
Diante daquela situação humilhante, em que Sayaka foi colocada de escanteio, Kurama vê suas lágrimas e compadecendo por seu constrangimento, se aproxima a passos vagarosos da garota com uma semente que se tornam três belíssimas rosas entrelaçadas em suas mãos, formando assim um pequeno e singelo buquê.
Ele estende sua mão esquerda para ela, que confusa, o questiona de imediato dizendo:
– O que vem a ser isso?
Ao que Kurama responde:
– Flores … pelo luto do seu irmão.
Irritada, Sayaka esbofeteia as rosas com as costas da sua mão esquerda, despetalando-as. E com selvageria lhe diz:
– Está me provocando assassino? Vocês todos vão morrer, está me ouvindo? Todos desta vila medíocre vão morrer! Não tenha dúvidas disso. Agora saia da minha frente, e me diga onde a Darla está? Eu tenho contas a acertar com aquela menina desgraçada.
Kurama no entanto, transforma o caule espinhoso que restou em suas mãos num notável chicote, e se posiciona no campo de batalha como seu pressuposto oponente, impedindo a sua passagem dizendo:
– Infelizmente não posso deixar você sair daqui. Como restou apenas nós dois, acho que teremos de nos enfrentar.
– Humf, que mudança rápida de atitude. Resolveu mostrar suas verdadeiras intenções? Em nenhum momento me enganou.
– Vejo que não é tão boba quanto parece. Se tivesse apanhado as rosas, seria aprisionada por elas. Desculpe, mas eu realmente não me importo com o que fizeram com você, visto que foram consequências de suas próprias ações. E para encerrar essa loucura, desta vez não vamos deixar que nenhum de vocês escape daqui.
Kurama se põe em posição de combate enquanto Sayaka sorrindo lhe diz:
– Que pressa para morrer! Mas se quiser me enfrentar, vai ter que me pegar primeiro, garotão.
Sayaka logo em seguida faz uma suave transição de status ao levantar sua perna esquerda enquanto inclina seu corpo para trás ao mesmo tempo em que toca o chão com as mãos e gira o quadril, dando algumas piruetas e caindo inversamente à posição em que estava antes. Sem hesitar, ela parte em fuga imediatamente, afastando-se do local muito rapidamente, visando ganhar terreno, mas sendo perseguida de maneira implacável por Kurama, que dá início ali a uma grande caçada, um terrível jogo de gato e rato.
No local em que estavam anteriormente, Hiei por sua vez é consumido pelo ódio e concentrando abruptamente as suas energias, avança contra sua oponente numa velocidade incrível. Ele soca sua adversária diretamente e explode todo o poder do seu intenso e destrutivo golpe recoberto por chamas contra ela, que cruza imediatamente seus braços em frente ao seu rosto para se proteger, numa defesa perfeita.
Em meio às chamas que se dissipam no ar, vemos Hoozen quase que ao mesmo tempo se transformar e assumir a sua forma avantajada e robusta num milésimo de segundo, antes de socar Hiei num contra-ataque que o arremessa para bem longe dali com brutalidade enquanto estampa um sádico sorriso no rosto.
Antes de sair ao encalço de Hiei, Hoozen para de repente por um instante e se vira para onde está Takuma. Mudando completamente a expressão em sua face; como se estivesse preocupada em deixá-lo sozinho ali, ela estranhamente lhe dá um aviso:
– Ei, lembre-se que este aí nós precisamos levar vivo. Então não vá matá-lo!
Essas palavras, naquele momento, soam como se ela estivesse falando com alguém que é ainda muito mais brutal e sem o devido controle de si do que ela mesma. Mas isto diferia muito da personalidade calma e pacata do imenso homem à sua frente, que apenas lhe acena positivamente com a cabeça em resposta.
Deixando, a princípio, um suor frio escorrer por seu pescoço ao ver a seriedade da ameaça do enorme homem à sua frente, Yusuke logo em seguida o encara dizendo:
– Tá achando que eu vou facilitar as coisas pra você grandão? Cai dentro.
No instante seguinte, a monstruosa criatura selvagem sob a qual Takuma estava montado, arrepia-se e avança em direção a Yusuke como se fosse o ataque de um tigre, e o que vemos em seguida, é apenas a ferocidade bestial do olhar e das presas do grande felino, antes de Yusuke se esquivar facilmente da sua investida e lhe derrubar com um único, violento e implacável golpe.
A imensa e sanguinária criatura vai ao chão com um soco só, e quando ela desaba, o impacto de seu deliberado peso reverbera num surpreendente tremor. Takuma, que antes montava a criatura, saltou para evitar a queda e logo que viu a besta abatida, se colocou cara a cara com Urameshi.
Ao cruzarem seus olhares por uma última vez, antes de se engalfinharem, Takuma o questiona:
– Qual é mesmo o seu nome garoto?
– É Urameshi.
– Pois bem, prepare-se Urameshi. Você jamais enfrentou alguém como eu. Estou pronto para testar os seus limites!
No mesmo instante, eles se atacam simultaneamente com socos desmedidos, que se arrebentam em suas faces com vivacidade, anunciando o esperado início da decisiva batalha.
A centenas de metros dali, Kurama perseguia Sayaka que fugiu em disparada. Os olhares arregalados dos moradores em fuga se fixam no demônio raposa que empunha seu Rose Whip com uma destreza impecável enquanto perseguia implacavelmente sua adversária pelas ruas do vilarejo. Ele avança rapidamente em direção a Sayaka com determinação, efetuando várias de suas ágeis investidas, mas a bela garota escapa de todos os ataques, valendo-se apenas de uma série de acrobacias.
Em determinado momento, ele até balança seu chicote fazendo-o espiralar-se, e formando um arco gracioso na tentativa de envolvê-la, no entanto, Sayaka demonstra uma extraordinária agilidade quando se esquiva de sua investida, executando movimentos fluidos que mudam sua trajetória ainda no ar, com a perícia digna de uma insigne ginasta ou bailarina.
Kurama não se deixa intimidar e continua a brandir seu Rose Whip com mais vigor, desferindo golpes rápidos e precisos. No entanto, Sayaka se move com uma leveza incomparável, ziguezagueando entre as tendas e as pessoas numa dança sinuosa sucedida por diversas acrobacias que ela faz pela rua enquanto movimenta-se graciosamente com uma agilidade sobre-humana. Com isso, ela desvia-se facilmente de seus ataques e ainda encontra tempo para derrubar algumas cestas e tendas com seus golpes poderosos pelo caminho, tentando dificultar os avanços de seu inimigo.
Em certos momentos da perseguição, Sayaka mostra um equilíbrio perfeito nas pontas dos seus pés, quando chega a saltar por vários postes, mourões e estacas, passando ainda por pontos estreitos que há pelas cercas das ruas. Ela chega a realizar esquivas rápidas e quase impossíveis ao atravessar vãos muito pequenos, como se fosse uma hábil e flexível contorcionista.
Kurama se surpreende com a destreza de Sayaka e a encara com admiração, dizendo:
– Você é realmente muito ágil. Mas não escapará dos meus ataques por muito mais tempo!
A encantadora garota para, e primeiro lhe sorri com charme mediante o reconhecimento, agradece-lhe com o reclinar de seu corpo o pequeno elogio, como se tivesse encerrado uma magnífica apresentação circense em cima de um palco e, em seguida, vemos em seus olhos uma mistura de desafio e confiança quando ela lhe diz:
– Ouça as minhas palavras com atenção: Nenhum dos seus ataques terá efeito contra mim. É melhor desistir agora e morrer rapidamente, antes que sofra.
– Essas são palavras muito confiantes vindas de alguém que até agora só está fugindo. Por que não para quieta e me enfrenta? Eu vi como seus companheiros trataram você, suponho que possa ser a mais fraca do seu grupo. Quem deveria estar com medo é você.
Sayaka ergue uma sobrancelha e expressa um sorriso amarelo quando visivelmente ofendida lhe diz:
– Ora vejam só, já começamos mal. Você tem me saído tão pouco modesto. Um aviso: Jamais subestime uma guerreira da tribo Mazoku, nem mesmo se for a mais bela e delicada dentre elas. É você quem precisará se esforçar muito mais se quiser realmente me acompanhar!
Percebendo que ela estava completamente relaxada e cheia de si agora, Kurama aproveita este breve momento de distração para tentar finalizar Sayaka ali mesmo, ao desferir inesperadamente e sem prévio aviso o seu chicote de espinhos diretamente contra seu corpo, num rápido e violento movimento ondulante de chibatada, atacando-a quase que em linha reta.
Mas no instante em que a garota seria supostamente despedaçada e partida ao meio pelo golpe vertical, o chicote apenas vai ao solo sem nada atingir. Sayaka naquele momento simplesmente se dividiu em duas cópias exatas e idênticas de si mesma, complicando ainda mais a situação.
Satisfeita por ter frustrado seu repentino plano, uma delas zomba e lhe diz:
– Surpresa! Se chateou? Vamos, não fique assim, ainda tenho muitas mais!
As duas análogas lutadoras avançam simultaneamente contra Kurama, uma de cada lado da linha marcada no solo pelo chicote de espinhos, pressionando-o a princípio com sua presença conjunta numa série de ataques sincronizados. Os socos e chutes são desferidos por cima e por baixo num intervalo de tempo extremamente curto, o que exige que Kurama logo largue sua arma e explore ao máximo as suas habilidades marciais.
Kurama se esquiva de todos os golpes e decide contra-atacar, quase atingindo um baita soco bem no meio do rosto de uma delas, que assustada com aquele inesperado golpe totalmente fora de sua postura defensiva regular, recua e subitamente lhe diz em repreensão:
– Ficou louco? No que estava pensando? Nunca se deve atingir o rosto de uma garota.
Ao que Kurama, ofegante após seus rápidos movimentos, lhe responde dizendo:
– Me desculpe a deselegância, mas duas contra um já é covardia. E se não quiser se machucar, é melhor não se aproximar tanto de mim.
A Sayaka em questão, aparentemente muito mais delicada e temerosa que a anterior, além de bem menos hábil fisicamente, recua e decide apenas dar suporte à distância, a partir de um ponto mais seguro. Kurama então dispara em fuga pelas ruas enquanto sua receosa oponente emite inúmeras esferas de energia de uma cor roseada que o perseguem e causam espantosas e impressionantes explosões. Estas, vão destruindo as barracas e também as rochas que há no local.
Enquanto isso, a mais flexível e charmosa delas, mediante seus trejeitos e acenos, contra quem Kurama lutava inicialmente, parte pro combate corpo a corpo, utilizando uma variedade de diferentes investidas com os pés e as mãos, que causavam em Kurama a estranha sensação de estar se esquivando das rápidas e vorazes investidas de uma serpente.
Apesar dos frenéticos movimentos, nenhuma delas conseguiu atingir seu oponente, resultando apenas em uma série de esquivas ágeis e contra-ataques impressionantes, que mostram o domínio extraordinário que ambos possuem de suas habilidades. Os golpes passavam tão rentes, mas tão rentes que parecia que eles estavam dançando em meio àquele duelo intenso e fascinante.
Kurama tenta em determinado momento, atingir a Sayaka contra quem fisicamente estava lutando, mas a mesma pula para trás após um salto-mortal evitando o ataque e ganhando o espaço de alguns metros entre ela e o seu adversário. E ao mesmo tempo em que seu corpo recua ainda suspenso no ar, ela se divide mais uma vez criando uma terceira cópia de si mesma, que emerge de dentro do seu corpo como se o seu espírito é quem estivesse saltando pra fora e deixando a matéria.
Essa nova versão da Sayaka, muito mais agressiva, ruma para frente e avança em direção a Kurama enquanto a outra continua a cair para trás. O youkai de cabelos vermelhos observa o exato momento em que sua nova adversária manipula a sua energia, formando uma espécie de lâmina de youki na extensão de todo o seu braço esquerdo e resolve se esquivar, movendo-se quase que involuntariamente para trás. Contudo, já era tarde demais!
A lâmina passa perigosamente tão rente ao seu corpo que Kurama até sente uma intensa queimação no local onde supostamente teria sido atingido. Por um momento de incerteza ele teme a morte e até pensa que suas entranhas pudessem estar de fora, mas ao tocar seu abdômen em desespero, constata que não havia sido ferido.
Em seus pensamentos, ainda aterrorizado com o que aconteceu, ele reflete consigo mesmo:
– Eu não entendo, jurava que havia sido atingido por este golpe! Mas de algum modo, meu corpo conseguiu se mover a tempo.
A terceira e mais recente versão da Sayaka à sua frente, assume uma postura desconcertada e confusa, e ela parece bastante irritada e descontente por não tê-lo conseguido matar. Essa Sayaka também expõe uma natureza inegavelmente mais forte e diferente das outras duas, sendo um tanto quanto mais rude e cruel, transparecendo ter uma personalidade muito mais semelhante à presença de espírito que normalmente vemos em Hoozen.
Ela então lhe diz com uma postura de voz mais grave e imponente:
– Foi uma jogada de sorte, esguio como uma raposa maldita, mas não escapará da próxima vez.
Em seguida, manifesta a sua energia na mão oposta, criando uma segunda lâmina de energia.
Uma nova sequência de golpes tem início, vindo até Kurama como uma onda de três frentes, visto que cada uma delas revelou habilidades distintas. Ele então tem de lidar não só com aquelas que partem para o combate corpo a corpo, como também, com aquela que é capaz de disparar esferas de energia a longa distância.
Por vezes, Kurama é obrigado a se esquivar e a buscar abrigo para evitar ser atingido, mas consequentemente acaba sendo cercado. Pressionado pela presença das três Sayakas, o demônio raposa decide utilizar seu “Fuka Embu Jin” para ganhar espaço e tempo para pensar.
Um forte redemoinho de vento então se forma ao seu redor, aromatizado pelas cortantes pétalas de rosas e flores de cerejeira. Ele logo se intensifica, e se manifesta como um poderoso vendaval, forçando as garotas a se afastar e permitindo que ele escape de uma vez, se movimentando estrategicamente para desaparecer do seu campo de vista.
Logo que notam que ele não está mais ali, elas se espalham para procurá-lo e passam assim a persegui-lo. Uma voz chega a sussurrar na mente de uma daquelas garotas, dizendo:
– Ele pensa que pode escapar, mas já caiu na minha armadilha. Estou um passo à frente.
Em meio a região bem mais rochosa que se ergue do gélido e obscuro deserto que se estende pelos arredores da vila Mazoku, vemos uma coluna de poeira subir do ponto em que Hiei aterrissou após ser lançado por centenas de metros pelo impacto do golpe desferido por Hoozen.
Recuperando-se rapidamente, visto que estivera atordoado, Hiei começa a se levantar em meio aos destroços da grande rocha que foi dividida ao meio por seu corpo na queda. Apesar da vasta distância pela qual se deslocou pelos céus, os seus ferimentos não eram tão graves.
Hoozen chega pouco depois, firmando sua pesada presença ao fincar por alguns centímetros os seus pés na areia e Hiei, retomando o fôlego, a provoca como de costume dizendo:
– Demorou a chegar, monstra horrorosa. Quase me esqueço de como você é lenta nessa forma.
– Do que foi que você me chamou, cara queimada? Já se esqueceu do que eu fiz com você no nosso último encontro? Você deveria estar tremendo!
Por um brevíssimo momento, Hiei hesita, como se fosse reviver algum pequeno trauma relacionado a sua última batalha. Mas, lembrando-se do que Mukuro lhe disse, sorri de maneira ordinária e a provoca dizendo:
– Tá falando disso aqui?
Ele abre sua mão diante do rosto, apontando para a profunda cicatriz, e segue com o que dizia:
– Eu estou começando a me acostumar. E quem sabe até faça algumas em você. Se eu conseguir achar algum lugar intacto nesse seu corpo medonho. Se me lembro bem, você também foi carbonizada pelas minhas chamas. O que você fez, enxerto de pele com algum animal? Acho que vou ter que garantir que dessa vez não sobre nada de você!
Irritada, Hoozen transparece seus nervos à flor da pele e lhe contrapõe dizendo:
– Veremos, seu petulante. Eu sou muito mais poderosa e resistente do que você imagina. No final dessa batalha, somente eu estarei de pé sobre o que restar do seu cadáver.
– Então vamos logo com isso, venha sua besta avantajada!
– Não, não desta vez. Assim não.
Deixando todo o seu furor de lado e percebendo que a força bruta não foi capaz de derrotar Hiei em seu último confronto, Hoozen diminui suas energias e reduz sua estrutura muscular ao porte mais atlético que lhe conferiu uma impressionante agilidade anteriormente e a qual ela chamou de: Kaminari.
No instante seguinte, ela simplesmente desapareceu diante dos olhos de Hiei. E como um clarão, ressurgiu ao seu lado num movimento tão rápido que só poderia ser acompanhado com os olhos se estivesse em câmera lenta. Com a pressão do giro lateral, Hiei desfigurou sua face ao tentar vê-la pelo canto do olho e neste momento, apenas um breve pensamento lhe passou pela cabeça:
– Com este olho quase cego, sou incapaz de acompanhar seus movimentos!
Mas em um igualmente rápido deslocamento, Hiei também desapareceu diante de sua adversária antes de ser atingido. O veloz soco de Hoozen atravessou a imagem residual como se fosse uma chicotada, gerando um ruído estridente e tardio ao golpe que muito se assemelhou ao som de um trovão, justificando o nome que ela escolheu para sua técnica.
Hoozen calmamente se prontificou e procurar Hiei pelos arredores, encontrando-o a alguns metros de distância, completamente sem fôlego, como se tivesse feito das tripas coração para conceber aquela esquiva.
Após uma breve troca de olhares, ambos desapareceram simultaneamente mais uma vez em um movimento impressionante de avanço contra seu adversário. Por um momento, parecia que eles haviam deixado o local, já que não se via nenhum sinal de sua presença ou mesmo, se ouvia ecoar quaisquer pequeno ruído. Mas a verdade é que eles apenas estavam lutando fora do alcance da nossa capacidade de visão.
Não demorou muito até que começássemos a perceber as sutis consequências da batalha, que se manifestaram primeiro como o som de numerosos trovões, e posteriormente, através da completa destruição dos grandes rochedos que se espalham pelo espaçoso ambiente, cujo solo também começou a se despedaçar. Em alguns instantes, se tornou devastadora a destruição causada quando ambos colidiram seus melhores golpes no epicentro daquele cataclismo, criando uma onda de choque que varreu tudo ao seu redor.
A partir daquele momento, o campo de batalha parecia mergulhado em caos enquanto Hoozen e Hiei travavam um combate feroz. Golpes rápidos e poderosos eram trocados entre os dois, enquanto suas energias espirituais colidiam no ar. A atmosfera permanecia tensa, e a cada golpe, cada movimento, a chama da sua brutal rivalidade ressurgia.
Não mais que de repente, a troca de golpes simplesmente parou e envolta por uma aura protetora de energia esverdeada, Hoozen questionou ao seu inimigo dizendo:
– Como você está fazendo isso? Como está sendo capaz de acompanhar os meus movimentos mesmo nessa velocidade? Eu estava certa de que poderia atingir facilmente os seus pontos vitais nessa forma! Me diga, como?
Mas com o seu Jagan brilhando intensamente, Hiei apenas lhe disse em resposta:
– Eu já falei que dessa vez as coisas vão ser muito diferentes. Você será derrotada de uma vez por todas.
Ambos se afastaram, e encarando-se friamente, Hoozen se perdeu em pensamentos e apontou em alto e bom tom o que deduziu e entendeu:
– Então é isso. Você se libertou completamente do selo restritivo de Yajima e recuperou o acesso às suas energias.
– Não. É muito mais do que isso, eu também conquistei um novo poder.
Concentrando suas energias na mão direita, Hiei manifestou intensamente as suas chamas negras mortais ao mesmo tempo em que Hoozen lhe fitou o olhar com atenção. Ele inesperadamente começou a emanar em sua mão esquerda, pequenas quantidades de uma energia muito mais pura e de tonalidade esbranquiçada, que aparentemente fluia com muito esforço da sua própria chama de vida, criando um efeito rajado e luminoso incrível que causava em sua adversária uma terrível sensação de perplexidade.
Hoozen estremeceu ao reconhecer aquele grandioso poder e sem pensar, avançou brutalmente intentando acabar com a sua vida, mas ela apenas atravessou mais uma imagem residual de Hiei, que foi deixada para trás por sua insigne velocidade. No instante seguinte, Hiei ressurgiu alguns metros acima de si, subindo cada vez mais alto num movimento em espiral que deixou um rastro de fogo alvo e negro muito belo para trás antes de descer, aplicando contra ela o seu mais novo golpe mortal:
– KUROSHIRO SHORYU REPPA! (O tornado de chamas ascendentes).
Hoozen foi então atingida em cheio na altura do peito e um fluxo intenso de energias foi emanado pelas chamas de seu ataque mortal. Como se tivesse sido atirada viva numa fornalha gigantesca, ainda assim ela resistiu a volumosa torrente e se manteve de pé enquanto era poderosamente incendiada pelas chamas.
Após longos momentos, o ataque se esgotou e ao cessar a crescente onda de energia, Hiei se afastou e observou com incredulidade o momento em que sua oponente surgiu do meio da fumaça, gravemente ferida, mas ainda sorrindo. Envolta pela luminosidade esmeralda advinda de sua própria energia protetora, ela se mostrou mais uma vez, impossível de se derrubar, e quando tocou seu peito com a mão direita, cobriu e apagou o último ponto em que a chama branca ainda queimava.
Com um olhar sádico e psicótico, emanando uma energia sem precedentes, Hoozen lhe disse:
– Isto foi maravilhoso! Um ataque sem igual. Qualquer outro no mundo das trevas estaria morto neste momento! Mas eu não, isto não é o suficiente para me derrotar seu homenzinho medíocre. Vai ter que se esforçar muito mais se realmente quiser me vencer!
Perplexo diante de tanto poder, Hiei deixou escapar sua grande frustração ao dizer:
– Tss, maldita tanker!
Noutro lugar bem longe dali, a vegetação atípica e surrealista estendia-se diante de Mukuro e Darla, numa vasta extensão rochosa, quase branca e parcialmente congelada em meio às tundras do Makai. O vento frio soprava, carregando consigo discretos flocos de neve que dançavam no ar, criando um cenário desolado e desafiador. As duas mulheres, acompanhadas de um pequeno grupo de guerreiros, avançavam cautelosamente, com os olhos atentos aos arredores em busca dos humanos que haviam escapado dos currais anteriormente.
Mukuro, com seu cabelo ruivo sendo maltratado pelos ventos e com seus olhos marcados por uma história de lutas, ergueu sua mão direita para sinalizar uma pausa. Ela havia inconscientemente assumido no grupo, uma posição de liderança. As criaturas insectóides que eram usadas pelos Mazokus como montaria imediatamente pararam. E na parte traseira dos animais, era possível ver deformadas criaturas amarradas. Aquelas que em nenhum dia ao longo de suas miseráveis vidas puderam ser chamadas de pessoas.
Sua experiência e instinto a alertaram para uma presença estranha no horizonte. Uma energia diferente, distinta das demais que permeavam a região. Ela franziu o cenho, tentando entender o que poderia estar acontecendo enquanto Darla, por outro lado, parecia estar mais preocupada em encontrar o restante dos humanos fugitivos do que em prestar atenção nas estranhas sensações de Mukuro.
A expressão de Darla mostrava que ela estava impaciente, e querendo encerrar a busca o mais rápido possível, questionou: _ “O que foi? Por que paramos?”
Neste momento Mukuro olhou para Darla, e com uma mistura de seriedade e urgência em sua voz lhe disse:
– Há algo errado na vila. Há muita energia sendo manifestada por lá. Precisamos voltar.
Incapaz de sentir o que Mukuro estava percebendo, Darla apenas confiou em seus instintos e questionou:
– São eles? Os nossos inimigos?
– Não tenho certeza. O youki do Yusuke está cobrindo tudo. Ele está despertando ... algo verdadeiramente poderoso e ameaçador. Precisamos agir rápido.
Enquanto elas retornavam, a paisagem ao redor parecia ganhar uma aura ainda mais sinistra e assustadora. As nuvens se fechavam no céu, obscurecendo toda a claridade e mergulhando a tundra em uma semi escuridão. A sensação de tensão no ar era palpável, como se o próprio ambiente estivesse respondendo à energia misteriosa de Yusuke.
Por um momento, Mukuro sentiu que o destino de todo o mundo das trevas poderia estar em suas mãos, e que Yusuke muito em breve enfrentaria a maior de todas as batalhas.
Fim do episódio.
Eu não conheci o outro mundo por querer!
Eu sei que meu coração, agora dói ...
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