domingo, 14 de novembro de 2021

10 - ETERNAMENTE YU YU HAKUSHO

EPS – 10 DÚVIDAS E INDECISÕES

Passaram-se apenas alguns dias, e apesar do grande alvoroço de antes, a vida finalmente começa a voltar ao normal. O mundo continuou a girar com a mesma intensidade, trazendo novas catástrofes e guerras que fizeram as pessoas desviarem um pouco as suas atenções para outras coisas. Assim é a natureza humana.

Yusuke caminha tranquilamente pelo seu bairro, ainda recoberto de curativos e com os braços enfaixados. Muito lixo e algum entulho do que restou das casas que foram destruídas ainda estão espalhados pelas ruas, demonstrando que vai levar um bom tempo até que tudo realmente entre nos eixos.

Ao dobrar a esquina, Yusuke vê uma cena deveras lamentável. Dois delinquentes com típicas máscaras brancas no rosto, abordam uma garota que passava pelo local retornando do mercado e a ameaçam dizendo:

– O que você está levando aí gatinha? Passa logo pra cá essas sacolas e faça tudo o que a gente disser. E é melhor você ficar caladinha hein guria!

A garota parece apavorada, ao que Yusuke se aproxima surpreendendo a todos, e agarra um deles empurrando-o contra a parede com voracidade. Por instinto um deles logo diz:

– Tá ficando doido cara! Tá querendo morrer é?

Mas ao olhar diretamente para seu rosto, o outro delinquente o reconhece e tremendo ele grita antes de sair correndo desesperadamente:

– É o ... Urameshi!

A garota também se arrepia, pois a antiga fama do bad boy ainda o precede. Ela não sabia naquele momento se havia saído da bocados lobos para a do leão, mas sem jeito, tenta agradecê-lo por interferir, antes de também sair correndo do local por via das dúvidas.

Irritado, Yusuke pressiona o cara contra a parede que vai logo dizendo:

– Me desculpa Urameshi, eu juro que não sabia que essa era a sua área. Por favor cara, não me arrebenta não. A minha avó nem sabe que eu faço essas coisas.

Mas neste momento, o jovem deixa uma faca cair no chão e ao olhar para baixo, nota eu o zíper da calça do sujeito estava aberto. É quando Yusuke percebe que as intenções daquele maldito eram bem piores do que ele imaginava.

Verdadeiramente irritado agora por existirem escórias na sociedade como ele, que são capazes de abusar das pessoas mesmo num momento de tamanha fragilidade como nos últimos dias, Yusuke apenas com uma mão, o pressiona novamente com mais força contra a parede enquanto lhe diz:

– Desgraçado, no que você estava pensando!

Assustado, o jovem vê o semblante de Urameshi se tornar assustador de repente e visivelmente fora de si. A mudança foi tão drástica que o delinquente estava convicto de que Yusuke o iria matar naquele momento, como se estivesse diante de um demônio, ou de qualquer fera selvagem. Tremendo com a tensão que se formou no local, ele faz xixi nas calças e implora:

– Por favor cara, não faça isso. Não me mata não cara!

Como o som gutural de uma criatura, ouvimos seu estômago roncar horrivelmente de maneira muito semelhante ao rugido de um animal faminto. Mas no instante seguinte, Yusuke parece recobrar a consciência e larga o garoto que sai correndo desesperadamente e gritando:

– Obrigado cara, muito obrigado! Eu nunca mais faço uma coisa dessas.

Yusuke permanece abalado e imóvel por alguns momentos. Confuso ele se questiona:
 
– “Afinal, o que eu ia fazer!?”

No mesmo instante, ele dobra seus joelhos e apoia-se no muro. Bruscamente ele coloca a mão sobre seu abdômen e escuta seu estomago roncar assustadoramente mais uma vez, despertando uma fome insuportável!

Algo muito estranho estava começando a acontecer.

Não muito longe dali, nas proximidades do hospital, Kuwabara caminha ao lado de Yukina em uma breve pausa na vigília. Mas abalado com tudo que passou ele se mantém deslocado e se perde em seus pensamentos, lembrando de sua irmã e na proposta feita pelo mundo espiritual. Até que finalmente a voz de Yukina o desperta novamente pra vida.

– Kazuma ... Kazuma ...
– Ahnn!? É o que?

– Há algo de errado Kazuma? Você estava com uma cara estranha.

De maneira embaraçosa, Kuwabara sorri e tenta disfarçar dizendo:
– Não é nada não, eu só estava pensando. Me desculpe Yukina.

Ele a agarra pelo braço e a puxa até uma sorveteria. E de maneira muito gentil, vai logo dizendo: 

– “Você vai adorar isso aqui Yukina-chan, é muito gostoso”. Ao que ela experimenta e faz uma expressão agradável dizendo:

– É realmente saboroso ... e coisas geladas me lembram um pouco a minha terra. Sabe Kazuma, eu entendo a tristeza pela qual você está passando, mas você fica muito melhor assim ... sorrindo.

Essa frase toca seu coração de alguma maneira e ele a olha com grande felicidade.

– Obrigado Yukina, é realmente muito difícil ver a Shizuru nessa situação.
– Ela vai sair dessa Kazuma, eu tenho certeza.

Terminado o sorvete, os dois voltam para o hospital do outro lado da rua.

Mais tarde, no meio da noite e durante o sono, o mundo particular de Yusuke é tomado por pesadelos inquietantes. Urameshi caminha em meio ao vazio cercado por escuridão e começa a ter visões confusas de lugares que nunca visitou ou conheceu.

Ele se sente atraído por uma muralha de ossos em meio a um vale pútrido e enevoado. As palavras de Daito se repetem várias vezes e não param de ecoar em sua mente: Hametsu ... Hametsu ...

O corpo de Yusuke desliza pelo espaço, atraído a regiões mais sombrias e logo à frente ele consegue ver a figura de um Yokai assustador reclinado de cócoras devorando restos humanos.

Ele caminha lentamente em sua direção, o observando pelas costas. E se arrepia assustadoramente quando percebe que aquele Youkai era ele mesmo! Yusuke acorda repentinamente e assustado, vê Keiko a sua frente aparentando estar muito preocupada. Ela o questiona:

– O que houve Yusuke? Você estava suando muito e gemendo enquanto dormia, eu tentei te acordar, mas você não reagiu.

Olhando fixamente em seus olhos ele lhe diz:

– Me desculpe, não é nada. Foi só um ... pesadelo.
– Deve ter sido um dos muito ruins hein.

Ela o abraça e ambos se deitam novamente, mas Yusuke já não conseguia mais fechar os olhos e pegar no sono, perdido em pensamentos.

Naquele mesmo dia, Yusuke atravessa a cidade e vai até a casa dos Hatanaka, sendo recebido na porta por Shiori Minamino, mãe de Kurama. Sem o reconhecer, ela o questiona:

– “Pois não meu jovem?”
E desconcertado Yusuke lhe diz:

– Ah, olá! A senhora não me reconhece, mas eu sou muito amigo do Kurama, ops, ... quero dizer, do Shuichi e eu queria saber se ele está em casa?

– A qual Shuichi você se refere? Espera um pouco, você não é aquele amigo que o meu filho me apresentou enquanto eu estava internada no hospital a alguns anos, é você não é mesmo?

– Caramba! A senhora é muito boa em guardar fisionomias.

E de maneira muito educada e gentil ela lhe diz:

– Pois pode entrar, aceita algo para beber? Ele está lá em cima no quarto ... eu vou chamá-lo. Qual é mesmo o seu nome?

– Ah, é Yusuke minha senhora.

– Yusuke. O Shuichi fala muito de você! E das viagens que já fizeram juntos. Ele me disse algumas vezes que vocês são bons amigos.

Surpreso e desconcertado Yusuke questiona: – “Ele fala é !?”

Nesse momento Kurama aparece e vai logo entrando na conversa:

– Sim Yusuke, eu contei para a minha mãe sobre os acampamentos que fazemos regularmente e sobre aquela nossa viagem de estudos pela Europa, lembra?

Num primeiro momento Urameshi se mostra confuso, mas depois compreende que ele deve estar falando do tempo que passaram no Makai.

– Ah sim, mas é claro! Uma pena a gente não ter tirado boas fotos ...

Logo em seguida, Kurama lhe dá um toque e diz:

– Com licença mãe, eu vou subir. Acredito que Yusuke tenha algo importante para tratar comigo por ter vindo de tão longe.


Eles sobem as escadas até o andar superior e Kurama tranca a porta do quarto ao passar, pois sabe que seu irmão também está em casa e não quer ser interrompido.

Yusuke, como sempre espaçoso, logo se atira na cama e coloca as mãos atrás da cabeça enquanto Kurama arrasta uma cadeira e se senta com as pernas cruzadas em sua frente.

– E então Yusuke, o que você queria me falar?

– Eu ando um pouco preocupado com algumas coisas Kurama, então eu meio que vim te pedir alguns conselhos.

– É sobre a sua luta com o Daito?
– Sim, e sobre o que vem ocorrendo antes e depois disso.

“– Me explique isso melhor.” Pede Kurama, um tanto quanto confuso.

– Ando sentido coisas estranhas e até fiquei fora de mim algumas vezes durante a última batalha.

– Não estaria apenas empolgado, por ter encontrado uma boa luta depois de tanto tempo? Você inclusive me disse que estava se sentindo entediado devido a calmaria do último ano.

– Na verdade, essa não é a primeira vez, a cada batalha que eu entro o meu sangue ferve, e parece que por mais que eu lute, nunca é o bastante. Eu nunca estou satisfeito.

– Humm ... Você sempre gostou de lutar Yusuke, sempre se jogou de corpo e alma nos confrontos que enfrentou e ainda por cima despertou como um Youkai, acredito que seja normal que você se sinta assim as vezes.

– É, mas desta vez parece diferente. Tem outras coisas: Eu não estou dormindo direito, senti fortes dores no peito e até sonhei que estava devorando pessoas.

Com uma cara engraçada de espanto, Kurama diz a seu amigo:

– Agora sim você está me assustando Yusuke! Pensei que não sentisse este tipo de desejo.

– Eu nunca havia sentido isso antes. Mas agora, tudo mudou.

– Imagino que seja por que você ainda está muito fraco após a sua luta contra o Daito. Essa é uma característica forte e até primitiva, em alguns Youkais que se alimentam exclusivamente de humanos. Você deve conseguir se segurar pelos próximos dias até isto passar. Mas se essa condição persistir, pode se tornar um sério problema no futuro mediante a vida que você leva.

– A vida as vezes é engraçada. Você é um youkai que se tornou um tanto quanto humano. E eu aqui, me tornando cada vez mais, um youkai.

Tentando ignorar o problema ao mudar de assunto, Yusuke lhe diz:

– Sabe Kurama, tem uma coisa que eu sempre quis te perguntar: Você era temido como um ladrão de sangue frio. Um Youkai terrível que vagava pelo mundo das trevas saqueando e roubando. Mas você mudou bastante, e não venha me dizer que foi apenas por que renasceu como um ser humano. Pois eu ouvi suas histórias ... de quando ainda vivia no Makai, não pareceu para mim que você realmente possuía grandes ambições assim como o Yomi por exemplo.

– Ah, mas eu tinha. Por um tempo até cogitei me tornar uma terceira força no mundo das trevas. Mas o poder dos reis era algo absurdo demais para lidar. O máximo que eu iria conseguir era ficar preso num tríplice impasse, senão, morrer tentando.

– Eu entendo o que quer dizer. Quanto mais forte ficamos, mais parece que eles estão num nível inalcançável.

– Sim, só que não foi apenas por isto. Mesmo naquela época eu já estava começando a me tornar uma pessoa diferente. A princípio, eu apenas gostava do risco na hora de cometer os roubos, e ficava satisfeito em possuir alguma fama entre os ladrões. O que ninguém nunca soube, é que com o tempo, eu passei a devolver parte do espólio.

– O quê?! Como assim?

– Uma parte dos artefatos e tesouros que roubei eu doei secretamente à Youkais pacíficos de regiões que conheci em minhas viagens pelo Makai e por algumas vezes, eu apenas os recuperei para seus verdadeiros donos.

– Tá de brincadeira comigo! Isso é verdade? Então afinal de contas você não era um cara tão mal assim, não é mesmo?!

– Cada um possui seu próprio caminho Yusuke, acho eu comecei a descobrir o meu bem antes, em minhas andanças pelo Makai, ao conhecer lugares e pessoas que muito além das ambições e assassinatos, tinham espaço em suas vidas para coisas mais importantes como a amizade e o amor. Apesar de que eu mesmo só fui capaz de conseguir compreender essa questão em totalidade, após receber o amor daquela que está lá fora. Ainda assim, quando eu deixei tudo de lado e parti do mundo das trevas, é por que já estava tentando encontrar o meu lugar.

– Cara, essas viagens devem ter sido incríveis, realmente parecem ter mudado muito você. Imagino que tenha visto muita coisa, e conhecido todo tipo de gente.

– Talvez você devesse fazer o mesmo Yusuke.
– Humm, talvez ... mas não sei se este é o momento certo.

– Ainda está preocupado com as consequências da batalha? O mundo espiritual está cuidando de tudo, então não tem com o que se preocupar agora.

– Que nada, o Daito me falou umas coisas estranhas as quais não consegui engolir até agora. Disse que alguém o avisou sobre mim, e que isto lhe fez vir ao Ninguenkai. Que estava atrás do sangue de Raizen que corre em minhas veias e que eu era a chave que ele tanto buscou. Além disso, disse que isto não vai parar, que outros virão atrás de mim.

– Entendo, então há outros à espreita em algum lugar do Makai se preparando para uma nova investida.

Só que desta vez eu não vou ficar parado não. Eu é quem vou atrás de cada um destes malditos para acabar de vez com esta história.

– Nós não devemos nos precipitar. E quanto a chave, o que mais disseram? Você seria uma chave para quê?

– Um tal de ... Hametsu. Ele falou várias vezes sobre isto.

– Hametsu!? Isto sim é realmente muito interessante. Existe um lugar com este nome nas profundezas do mundo das trevas, é muito antigo e está em ruínas. Eu já estive neste lugar, é uma região inóspita e perigosa demais.

– O quê? Isto é verdade Kurama? O que você buscava neste local?

– Há uma antiga lenda sobre um grande poder que fora lacrado em Hametsu, mas com a força que eu possuía na época, não consegui chegar nem perto de mover aquelas portas. Seria um tanto quanto arriscado, mas eu poderia levar você até lá se for isso que realmente deseja. Talvez a gente acabe por encontrar as respostas que tanto buscamos.

– É hora de correr atrás de explicações e de acertar as contas com esses desgraçados. Eles se meteram com a pessoa errada. Mas como chegaremos ao Makai agora? Depois de tudo o que houve, os portais, com certeza, devem estar totalmente fechados.

– Talvez exista uma forma, amanhã o Hiei vai voltar para o mundo das trevas. Ele não quer admitir, mas está muito preocupado com Mukuro e até ameaçou tacar fogo em tudo caso os soldados da SDF não abrissem uma passagem segura para ele. Se você realmente estiver decidido, poderíamos seguir todos juntos.

Impulsivo como sempre, Yusuke pensa apenas por alguns segundos:
– Vamos nessa!

Já no dia seguinte, num local arborizado, Hiei e Kurama se preparam para atravessar o portal aberto pelos soldados das forças SDF, onde Kuwabara e Yukina se despedem deles. Logo, Yusuke chega acompanhado de Keiko e após um caloroso abraço da garota, Urameshi se aproxima de Kazuma que lhe diz com seriedade:

– Eu resolvi aceitar a proposta que o Koenma me ofereceu.

– Isso pode até ser bom para você Kuwabara, só não vai muito na onda daqueles caras, ok? Mas aproveita e treina um pouquinho por lá, você anda muito fraquinho, já ficou para trás. Tô só avisando ...

– Ora seu desgraçado! Quem acabou com boa parte dos youkais da invasão fui eu! Você só matou “um” cara. Mas pode deixar que eu vou com certeza ficar muito mais forte do que você, que é para acabar com essa sua raça, maldito!

Yusuke ignora a raiva de Kuwabara e acaricia Puu que parece maior a cada dia. Em seguida, antes de atravessar o portal, ele se vira para Keiko e como em poucas vezes em toda a sua vida, fala algo com seriedade:

– Keiko, eu sei que já te deixei me esperando mais de uma vez, mas infelizmente é assim que eu sou. Quando menos esperar, já estarei de volta.

Keiko abraça seu abdômen com força e segura a respiração, como se estivesse escondendo algo que se revelado, seria capaz de mantê-lo ali. Mas engolindo à seco seus próprios sentimentos, ela prefere se manter paralisada e lhe deixa ser um espírito livre. Uma lágrima corre em seu rosto discretamente enquanto Urameshi se dirige até o portal acompanhado de Kurama e Hiei, até que logo desaparecem. Assim eles partem mais uma vez para o mundo das trevas em uma nova jornada.


Fim do episódio ... nos vemos no próximo volume: “Uma viagem pelo Makai”.

Eu não conheci o outro mundo por querer!
Essa noite o tempo passa devagar ...

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