segunda-feira, 1 de maio de 2023

16 - ETERNAMENTE YU YU HAKUSHO

EPS – 16 ALMA EM CHAMAS

Em meio a um escaldante deserto, situado em algum desconhecido lugar do mundo das trevas, vemos Yusuke e Mukuro caminhando sem rumo. Já bastante irritado, Urameshi queixa-se com sua companheira:

– Eu sinceramente não sei se te agradeço por ter nos libertado ou se eu te culpo por termos vindo parar aqui. E afinal, onde é que a gente está hein?

– Provavelmente no mesmo deserto em que estivemos antes.
– Você tem certeza? Para mim pode ser aquele e pode ser qualquer outro.
– Quer voltar pro lugar em que aquele Mazoku nos mandou?
– Não, melhor não. Quem reclamou já não tá mais aqui. Mas pra onde a gente vai?
– Seguir em frente. Eu estou sentindo algo, mesmo que ainda distante, naquela direção.
– Ah é? Eu não estou sentindo nada.

Enquanto eles seguem com a sua jornada, noutro lugar do mundo das trevas, quatro extraordinários lutadores se encaram frente a frente. A batalha entre a dupla de Mazokus contra Kurama e Hiei muito em breve seria retomada. E em meio à devastada cidade de Julon, testemunhamos o exato momento em que Hiei dispara e se movimenta rapidamente pelo campo de batalha indo em direção a Hoozen, visando matá-la.

Sob efeito do remédio ofertado por Kurama, ele agora demonstra notáveis melhoras em seu desempenho físico, mesmo que permaneça sem acesso à sua energia devido ao selamento que lhe foi imposto por Yajima.

Diante de sua ágil aproximação e pretendendo pará-lo, Hoozen executa um abrupto movimento de gancho com cada um de seus braços, sendo um após o outro, para gerar duas ondas massivas de destruição que se estendem logo à sua frente, como que geradas por uma sinuosa rajada de vento e que chegam a despedaçar em tiras o próprio solo rochoso do lugar.

Em estado de fúria, Hoozen neste momento grita:
– Tormenta de Fujin!

Mas ignorando o brilho esverdeado de sua energia que está impregnando as foices de vento e o fato de sua adversária estar praticamente atribuindo a pressão do vácuo ao próprio ar com o simples, mas brusco deslocamento de seus braços, Hiei agilmente se esquiva dos ataques enquanto continua a ganhar espaço em seu avanço até que explode o peito de Hoozen diretamente com um fortíssimo soco, como se quisesse atravessá-la.

Mas atingi-la em cheio era o mesmo que golpear uma rocha inabalável, e com tudo isso, Hiei conseguiu apenas quebrar os ossos de sua própria mão, enquanto ela apenas lhe sorri com ar de superioridade e psicopatia.

Vendo tamanha brecha surgir mediante seu fracasso, Hoozen tenta um contra-ataque pesado e igualmente poderoso, contudo, atingindo apenas uma imagem residual de Hiei, visto que ele já não estava mais ali. O efeito do golpe sozinho, por sua vez é devastador, pois o movimento de seu braço gera uma descarga elétrica impressionante e impiedosa que cria uma pequena cratera no solo enquanto seu ruído ecoa como um impressionante trovão. Era como se um raio tivesse caído naquele lugar.

E mais uma vez com furor, ela gritava o nome do seu ataque:
– Trovão de Raijin!

Hiei havia atacado com tudo o que tinha e escapado por muito pouco, Mas como uma maldita barata, Hoozen se mostrava bem durona. Aguentaria aquilo e muito mais. E já o tendo observado por todo o combate, neste ponto ela já era capaz de antecipar seus movimentos, começando no mesmo instante uma ferrenha perseguição à Hiei, primeiro em campo aberto e logo mais, entre as ruas que ainda restavam intactas naquela cidade.

De maneira implacável, ela o persegue e tenta repetidamente atingir seu adversário com seus pesados e destrutivos golpes, mas Hiei usa de toda a sua velocidade para se esquivar, deixando várias de suas imagens residuais para trás. Rapidamente ambos se afastam de onde Kurama e Yajima se encontravam, rumando em direção à zona de Julon que se dependura mais à beira do precipício.

Vendo que Hiei atraiu sua adversária para longe, Kurama provoca Yajima dizendo:

– Acho que agora somos só nós dois. Eu tenho a vantagem do terreno e você já não me parece bem das pernas devido a toxina paralisante. Acredito que nossa disputa logo irá se acabar.

– Não, não pense que isto mudará alguma coisa. Retruca Yajima com um olhar frio.

Sabendo que a tribo Mazoku é uma tribo guerreira e que ele não deve subestimar seu inimigo, Kurama estende seu braço num movimento rápido como se ordenasse a suas criaturas vegetais que atacassem ao seu inimigo. E no mesmo instante, elas o fazem com selvageria.

Ainda debilitado e com certa dificuldade de movimentos, Yajima se esquiva das investidas ferozes das criaturas com diversos saltos para trás. Porém, era este o plano de Kurama o tempo todo, que posicionou uma de suas monstruosidades atrás de si, naquela justa direção, já de boca aberta esperando Yajima dar seu último salto para devorá-lo.

O mazoku contudo, antecipando a armadilha de seu adversário e sem nem mesmo olhar para trás, estende seu antebraço esquerdo a frente do peito e abre um novo portal em suas costas mediante o sacrifício de mais um dos olhos em seu braço, desaparecendo através dele antes que a criatura o devorasse.

Kurama neste momento, não tarda em reconhecer o recurso utilizado pelo Mazoku, mas tem maiores preocupações agora, visto que Yajima ressurge atrás de si tentando tocá-lo para selar seus poderes com um nova mandala, da mesma maneira que fez com Hiei. Minamino por sua vez, gira seu corpo muito rapidamente e se esquiva de sua investida, mantendo certo espaço entre eles e mostrando que possui reflexos extraordinariamente apurados.

Descontente, Ryuuze olha para sua mão, decepcionado pelo toque não lhe ter alcançado e culpa o efeito da toxina em seu organismo ao pensar consigo mesmo:

– Ainda estou reagindo com lentidão. Será o maldito efeito do veneno?

Tentando a este ponto, evitar o combate, Kurama lhe diz:

– Escute, você deve ser o Ryuuze não é mesmo? Eu não te conheço, mas a Darla me contou um pouco sobre você e me disse coisas sobre o relacionamento que vocês mantinham. O que me impele a te questionar: Você não se importa mais com os sentimentos dela?

– Ela … contou? É claro que eu me importo, tanto que a protegi.
– Deixando-a ferida e à própria sorte em algum lugar sobre todos estes escombros?

Transparecendo seus sentimentos, ele olha em volta e com remorso lhe diz:

– Você não entende, ela também não entendeu. Não há outro caminho. O filho de Raizen jamais aceitará a proposta de Hiroshi, e sem o poder que ele carrega, sem aquilo que há nas entranhas de Hametsu, nossa tribo continuará a definhar até desaparecer.

– Eu não entendo, há muito tempo atrás eu tive vislumbres em Hametsu, mas o que há lá dentro afinal? Por que nenhum de vocês fala sobre isso com clareza? Tudo isto já está me parecendo um grande quebra cabeças.

– O que há lá dentro? Um rei aprisionado entre obscuras almas. E há vida! Uma força infinita que precisa mais uma vez ser controlada. Os Mazokus são longevos, todavia precisam de energia vital, e sem aquela força, nós carecemos de ceifar outras vidas. E não qualquer vida, apenas nos serve a das crias de Yanmo. Mas como você bem deve saber, no mundo das trevas não existem muitos humanos. Agora, chega de falar.

Ainda mais confuso, Kurama muda o foco da conversa e contudo, insiste:
– Não, você precisa pelo menos me dizer: Onde está o Yusuke?

– Eu sinto muito, mas essa informação você jamais conseguirá de mim.

Com um semblante absurdamente frio agora, como se tivesse encarnado o próprio Youko, Kurama o responde com toda grosseria, pondo pra fora o que transborda do peito:

– Então você já não me serve para nada. E deve pagar pelo que fez.

Yajima mal tem tempo de perceber o movimento ao seu redor, visto que distraidamente, deixou de notar a aproximação de diversas daquelas criaturas vegetais contra quem lutou antes. Cercado e sem saída, ele mal tem tempo de juntar as mãos para criar seu último portal. Sendo deliberadamente atacado por todas elas ao mesmo tempo. O que levanta uma espessa nuvem de poeira.

Mas pouco depois, Yajima ressurge de um novo portal a alguns metros dali. Desta vez, bastante ferido e exalando vapores ácidos e tóxicos. Em seu braço, o último olho se fecha, evidenciando que seu limitado recurso havia finalmente chegado ao fim.

Este, porém, não era o findar da batalha.

Longe dali a perseguição prosseguia causando ampla destruição por onde eles passavam. Fisicamente, Hoozen se mostrava imensa, tão robusta que mais se assemelhava a uma monstruosidade anômala repleta de veias e com os nervos à flor da pele do que com a delicada mulher que foi outrora. Seu semblante permanecia assustador, como se quisesse fazer Hiei em pedaços. Até que em dado momento, Hiei para sobre o ponto mais alto de uma pequena estrutura urbana de seis metros e zombando dela mesmo a essa altura, lhe diz com ironia:

– De que adianta você ser tão forte se não consegue nem tocar no seu adversário?

Estas palavras deixam então, Hoozen ainda mais enfurecida, fazendo-a serrar os dentes com força uns contra os outros num rangido. Hiei, porém, se dá conta de que mesmo ele sendo tão rápido que se fazia intocável agora, também não tinha o poder necessário para feri-la. E caso não conseguisse fazer alguma coisa contra ela, essa luta jamais chegaria ao fim.

Contudo, mais uma vez fora de si, Hoozen lhe diz em resposta:
– Você não faz a menor ideia da extensão da minha força.

E enfurecida, Hoozen manifesta o seu poder máximo, liberando toda a extensão de sua energia numa coluna de luz colossal que se estende até o céu, gerando um efeito assombroso ao iluminar as densas e obscuras nuvens do mundo das trevas que pairam sobre a cidade de Julon.

A milhares de quilômetros dali, até mesmo Yusuke e Mukuro, que até então permaneciam quase sem rumo no meio do deserto, conseguem ver o clarão surgir no horizonte e sentem o poder tremendo e inimaginável que é emanado a partir dela.

Analisando criticamente a situação, Mukuro lhe diz:
– Este poder … é sem dúvidas o de um daqueles Mazokus.

Ao que Yusuke esperançoso, mas também preocupado responde:

– Então, a direção que devemos seguir é para lá. Mas o que está acontecendo Mukuro? Prestando atenção agora, eu consigo sentir vagamente a energia do Kurama, mas por que eu não sinto o poder do Hiei? Algo pode ter acontecido com ele?

Preocupada, ela apenas lhe diz:
– Devemos nos apressar, eles certamente estão em perigo.

Yusuke e Mukuro então, se dirigem à Julon em disparada. Enquanto Kurama e Yajima também param o que estavam fazendo para testemunhar aquela força colossal.

Não muito longe da borda do precipício, Hoozen libera toda a sua força contra o solo num único e impiedoso golpe que simplesmente despedaça toda a superfície terrestre partindo a cidade literalmente ao meio, e criando uma fenda gigantesca que leva consigo para o abismo, boa parte de suas ruas, consolidando como verdadeiros, os temores de Mukuro.

O inevitável cataclismo, traga para o despenhadeiro natural que já delimitava a cidade, não só as inúmeras casas e demais edificações, como também, incontáveis youkais que são tomados pelo desespero.

Com tudo desmoronando rumo à vastidão do abismo, Hiei percebe tarde demais que ela havia destruído todo o solo da região simplesmente para limitar seus movimentos e atacá-lo, mesmo naquela situação. Contudo, manifestando uma agilidade incrível e jamais vista antes, Hiei consegue saltar de um pedaço de rocha a outro buscando a segurança do topo, enquanto elas caem em direção ao desconhecido.

Ambos se engalfinham numa luta ferrenha em pleno ar e em meio à fenda colossal, e ainda em queda livre, trocam várias sequências de golpes enquanto tudo está desmoronando. Enquanto eles vão subindo, vemos inúmeros youkais comuns caindo para a morte certa diante deles e desaparecendo no precipício, entre as nuvens e a poeira.

Quando consegue se desvencilhar dela e toca com os pés o último pedaço de construção que estava em queda, Hiei se impulsiona com toda força para cima e gira no ar, caindo finalmente de pé, em solo firme e seguro. Mas é logo perseguido por Hoozen, que também não tarda a aparecer.

Diante um do outro, fitando o abismo e apesar de toda aquela destruição, havia ficado claro para Hoozen que ela não tinha obtido sucesso algum com seu ataque. Frustrada, ela finalmente entende o que precisa ser feito. Pois mesmo ferido e sem energia, Hiei ainda era o youkai mais rápido contra quem ela já havia lutado.

Percebendo agora que ele era ágil demais, Hoozen novamente retoma o controle da situação ao liberar suas energias na forma de um estranho vapor esverdeado. Ao liberar seu poder, reduzindo seu condicionamento físico, ela diminui drasticamente de tamanho, sacrificando significativamente a força demonstrada outrora, para ficar mais rápida.

Estranhando sua nova postura, Hiei a encara enquanto pensa:
– O que essa miserável está pensando em fazer agora?

Longe dali Kurama analisa atentamente o braço de Yajima e tem uma estranha sensação de reconhecimento daquele aspecto quando se atém que é muito semelhante ao dos braços que serviam o Itsuki no passado. Então o questiona:

– Eu já vi essas coisas antes, onde as conseguiu?

Induzindo Yajima a contar um pouco de sua história:

– Eu sou um caçador entre os Mazokus. Juntamente com o Takuma, caçamos Yaminades desde que nos entendemos por gente.

– Yaminades? Você fala sobre os seres que são originalmente donos dessas mãos sombrias cuja pele você enrolou em seu braço?

– Sim, são criaturas grotescas que distorcem a realidade. Na região de Hametsu, onde o mundo real fita com o sobrenatural, criaturas dimensionais são as mais abundantes. Monstros que ora estão ali, e num piscar de olhos já não estão mais. Criaturas, cuja passagem por este mundo costuma ser tão breve, que nem se pode dizer com certeza que elas realmente estiveram ali. As crianças Mazoku os veem como pesadelos. Mas como Hametsu é uma região deslocada do Makai, uma zona dimensionalmente quebrada, não é de se estranhar que os pesadelos ali ganhem vida.

– Imagino que tenha sido difícil para vocês viverem ali.

– Você não faz ideia de quantos perigos existem na escuridão. Mas aprendemos a nos defender bem cedo. Foi por isso que eu me especializei na criação de mandalas. Algumas são usadas para cura, outras para selamento, outras como kekkais e barreiras. Primitivas mandalas estão enraizadas em diferentes culturas pelo mundo das trevas inteiro. Este padrão circular está presente até nas danças cerimoniais de vários povos, pelo pouco que eu soube, isto ocorre mesmo no mundo humano.

Como se preparasse algo grande, Yajima junta suas mãos, conectando as pontas de seus dedos estendidos num padrão semelhante a letra “A”. E no mesmo instante, ele vai criando mandalas umas sobre as outras, envolvendo-as todas num círculo. Uma magnífica mandala dourada então se forma na terra, gerando ainda um poderoso tremor que abala as estruturas do mundo, deixando Kurama paralisando diante da situação enquanto Ryuuji extrai das profundezas do solo, minérios que antes estavam encrustados na rocha.

Um número incalculável de pequenos cristais e pedras preciosas começam a surgir, e a levitar, ondulando acima do solo como se fossem poeiras levadas pelo vento, em padrões circulares em volta de seu invocador. Conduzindo ainda, uma energia absurdamente brilhante e eletrificada em volta de si.

Com tranquilidade, Yajima caminha até o centro da mandala enquanto lhe diz:

– A mais poderosa entre todas as mandalas é conhecida como Sik’uli - o olho de deus. Que é literalmente, um portal de invocação. E é a isto que eu vou mostrar para você agora.

Kurama até tenta se aproximar, visando atacá-lo, mas o fluxo de energia em volta de seu adversário é tão inacreditável que ele mal consegue se mover. Da mandala, primeiro surgem inúmeros gárgulas que Kurama rapidamente reconhece do ataque ao castelo de Enki. No momento, estes se mostram inofensivos e despendem fuga, como se o que viesse atrás de si fosse algo muito pior.

E não demora muito até que do portal surja uma criatura quadridimensional de aparência fantasmagórica, verdadeiramente imensa, bizarra e disforme, com a qual Yajima se conecta e que logo é absorvida por seu corpo, tornando-o uma espécie de avatar do seu poder.

A mudança em si é visivelmente notada. Visto que as roupas de Yajima se rasgam em diversos pedaços, conservando apenas um pequeno saiote à altura do joelho enquanto ele transborda um imenso poder, que pode ser visto pelo intenso brilho de suas marcas tribais. Levitando a alguns metros do solo, a aura ao se redor brilha como mil sóis. E quando a intensa claridade diminui, é possível perceber que em meio a tanta luz, há certa escuridão em seus olhos.

Já nessa forma, as monstruosidades vegetais de Kurama o atacam em sequência, mas são facilmente despedaçadas por rajadas psiônicas e telecinéticas, iluminadas por seu próprio ki. Banhando todo o solo com seu líquido digestivo sulfuroso, ao qual Yajima simplesmente ignora e evita, ao passar por sobre elas levitando.

Vendo a situação perigosa que está enfrentando, Kurama dispensa fuga. Enquanto calmamente Yajima o persegue com um sorriso psicótico no rosto emanando um aspecto enlouquecedor.

Enquanto isso, não tão longe, Hoozen avança contra Hiei mais uma vez, contudo, superando em muito a velocidade dele agora, e desta vez, ela havia mudado de estratégia, usando uma sequência de golpes precisos e sutis, com os punhos mais leves, atingindo diversos pontos de pressão no corpo de seu adversário até imobilizar Hiei enquanto grita:

– Kaminari!

Quase que completamente paralisado agora e sem entender por que seus músculos não reagem devidamente, Hiei não consegue se contrapor a uma nova investida e tem sua barriga decepada pelas mãos de Hoozen num corte lateral, indo ao chão enquanto seu sangue jorra veementemente, mas mantendo-se pelo menos de joelhos enquanto sublima sua resistência.

Hoozen se posiciona toda altiva à sua frente. Imodesta e cheia de orgulho, ela explica o que fez:

– Eu disse que sou uma especialista em combate corpo a corpo. Conheço cada ponto de pressão e como cada músculo reagirá ao toque. Jamais perderia para alguém como você. Sacrifiquei toda a minha imensa força física para me tornar mais ágil e ser capaz de te superar para acabar com este combate.

Mas sorrindo ironicamente e tentando disfarçar sua preocupação, Hiei a provoca:

– Você não sabe nem mentir, já percebi que quer sempre sair por cima em tudo. Não foi apenas por isto que o fez, eu posso sentir, você se esqueceu? Eu sei que você diminuiu o seu tamanho por que também esgotou toda a sua energia.

Mas vendo Hiei sorrir na face da morte e não engolindo o desaforo, Hoozen lhe diz: “– Que grande observador você é, mas não, toda não, ainda sobrou um pouquinho.”

Hoozen então manifesta pela última vez o que resta de sua energia, acendendo uma chama intensa e esverdeada em suas mãos a partir de um pequeno estopim, que se trata do estalar de dedos de sua mão esquerda.

Contudo, vendo aquilo, é aí mesmo que Hiei se desmancha em gargalhadas, talvez disfarçadamente ainda tentando ganhar tempo enquanto se recupera, mas explica:

– Fogo? Isso não vai funcionar em mim sua idiota, eu sou imune. Não vê que eu sou um youkai com esta natureza? Eu nasci envolto em chamas.

Mas enquanto caminha lentamente em sua direção, Hoozen declara seu fim com arrogância:

– Ah, mas essa chama Onibi que manifesto é algo muito, mas muito diferente do que qualquer coisa que você já tenha visto. O Uragami foi quem me ajudou a desenvolver essa técnica. Este fogo não é nada comum e certamente vai ser capaz de te ferir. Você já causou muita dor, mas apenas agora é que vai entender realmente o verdadeiro terror que pode ser trazido à tona pela luz das chamas espirituais. Com isto, eu vou tocar a sua alma!

Em seguida, Hoozen toca e queima sua face direita com grande satisfação mediante a imensa dor que lhe é sentida, e diante da tortura e da incapacidade de desvencilhar-se, Hiei grita desesperadamente em agonia. Ele esgoela-se a todos pulmões vendo seu rosto ser definitivamente desfigurado, enfrentando ainda, o peso de um trauma que o acompanhará pelo resto da vida.

Mas neste momento, algo muito estranho acontece dentro de si, pois ao tocar sua alma, Hoozen também atinge o âmago do seu ser, desencadeando a liberação de uma nova energia que a leva a testemunhar o despertar de um novo tipo de poder. Hiei inesperadamente se incendeia e é envolto pelas chamas da sua própria alma, quando labaredas extraordinariamente brilhantes e totalmente brancas rapidamente engolem Hoozen em seu intenso turbilhão e também levam a ela a conhecer o verdadeiro significado da dor.

Desesperadamente ela se afasta, tentando se dispersar das chamas, mas é dolorosamente consumida por elas, tombando pouco depois como um escurecido pedaço de carvão a alguns metros dali.

E do mesmo modo que tamanho poder tão inesperadamente veio, ele também se foi, desaparecendo logo em seguida. Como se Hiei tivesse queimado uma centelha da chama da sua própria existência para se salvar. Exausto, e quase imóvel, ele dá um tempo para si mesmo e se recupera. Enquanto Kurama, desesperadamente em fuga, pensa num plano que possa lhe possa fazer vencer.

Ao ver Yajima surgir entre as construções levitando a sua frente, ele percebe que o mesmo não se mostra dependente desta condição visto que não demora a tocar o solo com seus pés, quando se apoia num pilar. Yajima então, brinca com sua presa ao dizer:

– O que você está fazendo? Pensou que poderia fugir do desfecho desta batalha?

– Não, eu apenas precisava de tempo e de mais espaço para o que eu vou fazer. Lembra-se? É sempre minha a vantagem do terreno. Responde Kurama com a confiança de que irá vencer.

Em seguida, Kurama toca mais uma vez o solo como se tivesse preparado uma armadilha e manifestando poderosamente a sua energia, cria desta vez uma floresta inteira em meio ao campo de batalha, dando vida novamente a árvores muito antigas que já estavam praticamente petrificadas sob o solo.

As raízes, despedaçam o concreto e desnudam de suas edificações, todo a paisagem pela qual se estende. As árvores, possuem ondulações em suas cascas que muito se assemelham a rostos bizarros encrustados em seus troncos, mas essas se mostram inofensivas e conferem sua proteção a Kurama quando o mesmo salta em direção a suas copas. E sobre todo o chão, crescem inúmeras plantas de folhas finas e pequenas em formato de coração, cheias de pelos com gotículas de seiva leitosa e arbustos que se estendem até a altura dos joelhos de Yajima. Mantendo-se, as maiores delas, à meia cintura.

Kurama se refugia nas árvores enquanto Yajima, todo altivo, permanece em seu encalço, caminhando calmamente entre a vegetação enquanto lhe diz:

– O que é tudo isso? Quer se ocultar na floresta? Não adianta fugir ou se esconder agora. Eu posso sentir a sua energia, sei exatamente onde você está. Vamos lá, apareça. E me mostre qual é a próxima abominação vegetal sob seu controle que eu devo destruir e despedaçar. Devo queimar essas suas árvores medonhas para começar?

Contudo, Kurama surge momentos depois sobre um galho, de braços cruzados e com um sorriso no rosto, repousando tranquilamente enquanto está recostado ao tronco de uma daquelas antigas árvores.

Ainda confiante, Yajima olha para cima, deduz e lhe diz:
– Então é isso? Não fará nada? Desistiu de lutar e de viver?

Mas serenamente, Kurama o responde dizendo:

– Não. É você quem não percebeu ainda, mas já está morto. Apesar dessas árvores serem chamativas, o perigo aqui vem da mais comum de todas as plantas. Estes arbustos simples e a vegetação rasteira que lhe parecerem tão inofensivas, são na verdade, todas elas, plantas letais.

– O que?! O que está dizendo?

– A “amoreira ferrão” com a qual você está em contato, reflete a Gympie Dendrocnide moroides do mundo dos humanos, e possui glicosídeos, saponinas, oleandrinas, gympietides e muitas outras toxinas mortais até mesmo para os youkais. Quando o vi levitando, pensei que teria de elaborar uma estratégia para forçá-lo a se expor a elas. Mas só de tocá-las durante a sua caminhada, você mesmo selou o seu destino.

Yajima então é repentinamente acometido por uma gravíssima reação alérgica. A princípio, experimentando uma cegueira momentânea logo que seus batimentos cardíacos inesperadamente disparam, ficando irregulares. Sua aura de poder instantaneamente desaparece, e ele começa a sofrer uma dor extrema, mediante o surgimento de inúmeras erupções cutâneas avermelhadas que queimam a sua pele, desenvolvendo-se no crescimento de inúmeras bolhas enormes e cheias d'água que estouram por si mesmas, expondo em certas partes, até mesmo os seus ossos.

Por fim ele cai, definitivamente morto ali mesmo, sendo coberto pela folhagem em crescimento enquanto o que resta de sua pele inflama e se enche de horrendas feridas. Felizmente, essas folhagens impedem que vejamos o horrendo estado final de seu corpo.

E após essa longa e dura batalha, onde Kurama finalmente havia derrotado Yajima; Hiei, mesmo agarrado ao seu abdome ferido, por fim também pensava em relaxar e respirar fundo pela primeira vez desde que este intenso combate começou.

Mas infelizmente para ele, essa seria uma falha fatal, visto que Hoozen se levanta e surge inesperadamente mais uma vez atrás de si, mesmo estando toda queimada e gravemente ferida. Sua presença só lhe é sentida tarde demais, impossibilitando a ele qualquer reação.

Com furor em suas palavras ela se lança em seu último ataque dizendo:
– Você vai morrer canalha!

Mas no exato instante em que Hiei seria mortalmente ferido por Hoozen, ouvimos um grito que anuncia a sua salvação e a chegada de um inesperado aliado ao local:

– RINKA ENREKI-TÔ... SAIKURON-KEN !!

Uma espada circular irrompe do nada girando e formando ao seu redor um imenso ciclone de energia. De seu interior, vemos Shigure aparecer e atingir Hoozen com violência. A potência do golpe derruba Hiei onde estava, enquanto arremessa Hoozen dezenas de metros para trás, despedaçando totalmente uma série de barracas comerciais que são varridas pelo forte vendaval, enquanto a multidão que começava a se formar ao redor deles testemunhava tudo, correndo desesperada mais uma vez das consequências da batalha.

Incrédulo sobre como escapou e diante de seu antigo mestre de esgrima, Hiei se questiona: – Shigure?! O que faz aqui? Por um momento pensei que eu já estivesse morto.

– Essa foi por pouco, não foi? Meu amigo. Mas você não pode morrer até que se encontre com a sua irmã.

Com uma expressão estranha de alívio, disfarçada por um leve sorriso, Hiei fecha seus olhos e deixa escapar apenas um: – Hummff.

Com certa surpresa, Shigure parece entender sua reação e lhe diz:
– Ora essa, então você já a encontrou. Mas manteve seu juramento ou quebrou nosso trato?

– Eu nunca dei a mínima para promessa alguma. Se não lhe contei antes, foi por que nunca tive vontade.

Mostrando seriedade e descontentamento, Shigure o ignora por um momento, e logo que a poeira abaixa, observa com atenção os destroços das barracas procurando por sua adversária. Mas constata que ela já não estava mais ali e que havia escapado com vida do local.

Naquele momento, Hoozen já se encontrava longe, em disparada pelas ruas movimentadas de Julon com um dos amuletos Yaminades que eram usados para abrir portais por Yajima em suas mãos. Sem energia, cega de um olho e carregando queimaduras por todo o seu corpo, nada mais lhe era pesado que o sentimento de humilhação. Não só o seu orgulho, como um de seus braços também estava ferido, fruto da violenta investida de Shigure. Sendo ela a única sobrevivente do ataque orquestrado.

Vergonhosamente, a primeira investida do grupo de vilões de nossa história havia falhado miseravelmente. E seria difícil explicar seu fracasso, visto que subestimá-los foi um erro. Mas o grupo do Yusuke está forte demais, eles também são youkais de rank “S”.

De volta ao local da batalha, Shigure estende sua mão e ajuda Hiei a se levantar. Vendo que o perigo já passou, primeiro observa seus olhos e depois, os ferimentos em sua barriga. Shigure então, retira uma espécie de adaga cirúrgica de suas roupas, a aquece com sua energia e cauteriza dolorosamente o corte em seu abdome.

Depois, o provoca em tom zombeteiro dizendo:

– Parece que você passou por uma batalha difícil. Mas vê-lo neste estado deplorável é um pouco vergonhoso, visto que a covarde fugiu ao meu primeiro ataque. Ela era realmente forte?

– Era sim. E estes malditos também selaram a minha energia. Mesmo agora, não consigo manifestar as minhas chamas.

– Sem energia, não é mesmo? Mas onde estão as suas habilidades de espadachim? Não foi contra você com quem eu empatei no nosso último confronto?

– Não me enche Shigure. Era pra ser uma piada? Você chegou quando a festa já tinha terminado. E se quer saber, eu já te superei há tempos!

– Ha ha ha. Desculpe meu amigo, mas você fala como se as pessoas parassem no tempo e você fosse o único a evoluir e ficar mais forte. Saiba que as minhas habilidades com a espada estão ainda melhores agora. No nosso próximo encontro, eu posso te mostrar um pouco delas, mas aviso que as coisas podem terminar diferente.

Levando suas palavras a sério, como se fossem uma ameaça, Hiei serra o punho e o encara dizendo: – Está mesmo querendo morrer? Gostaria de me testar agora?

Mas comicamente, Shigure alivia a tensão ao lhe dizer:

– Calminha aí meu esquentado amigo. Eu realmente não me importaria de testar sua atual habilidade com a espada, mas esta não é a melhor hora e lugar para lutarmos. Onde estaria a honra em vencer assim? Creio que vamos ter que resolver nossas alfinetadas entre professor e aluno numa outra ocasião. Mas me diga, por que queriam a sua vida?

– Eram lacaios, do tipo que seguem ordens. Acho que queriam atingir o Yusuke, mas confesso que na maior parte do tempo eu já nem sei mais. Sempre tem algum idiota infeliz tentando me matar.

– Humm, não os julgo. Com o passar do tempo eu também me vi lutando as guerras de outras pessoas. Dediquei muito do meu tempo a isso, e ainda não sei se valeu à pena ter seguido por este caminho. Visto que no fim de tudo, eu não conquistei nada. A própria rainha Mukuro desistiu de seus objetivos ... Queria pelo menos ter-lhe sido útil, para que pudesse dizer que minha vida teve algum significado.

Neste momento, Mukuro chega repentinamente ao local acompanhada de Yusuke e o repreende com severidade dizendo:

– Você é um tolo por pensar essas coisas Shigure. Sempre me foi um valoroso guerreiro, apesar de não ocupar o posto mais alto das minhas fileiras.

– Minha rainha!

Shigure se inclina e vai de joelhos ao chão quando percebe de quem se tratava. Enquanto Hiei com um sorriso apenas lhes diz: – Então, vocês conseguiram escapar.

Ao que Urameshi o responde com firmeza:
– Sim, mas demorou muito pra gente chegar até aqui.

Enquanto Mukuro, por sua vez, se aproxima de Shigure e o observa com ar de repreensão, prosseguindo o que dizia:

– Deveria se orgulhar por ter sido autodidata na arte da esgrima, e por ter se tornado um grande cirurgião. Foi através deste conhecimento, que você desenvolveu o soro regenerativo que enche as minhas câmaras e que tantas vezes ajudou ao meu exército. Além disso, foi você quem primeiro me falou sobre este emburrado aí, o que possibilitou a nossa aproximação.

Irritado, Hiei se questiona dizendo:
– Ei, a quem essa imbecil está chamando de emburrado?

Yusuke então, retoma a palavra dizendo:

– Caramba, quanta destruição. Vocês fizeram um belo alvoroço aqui depois que a gente saiu. Então, terminou Hiei? Vocês acabaram com eles?

– Sim, dois foram mortos, mas uma escapou e deve estar lambendo suas feridas em algum lugar. Se for esperta, não vai voltar. O Kurama está ali, naquela direção.

Aponta então Hiei para a floresta que se formou em meio ao centro urbano, enquanto Mukuro mais uma vez retoma o que dizia para Shigure:

– Se quiser culpar alguém pelo que houve no torneio, culpe ao Yusuke. Mas eu não tinha motivos para odiar as pessoas contra quem lutei. E mesmo sem razão alguma, tentei dar tudo de mim na ocasião. Eu lutei honestamente, como um monstro comum. O resultado só teria sido diferente, se eu tivesse enfrentado o Yomi ali.

Arrependido, Shigure então lhe diz:

– Perdoe as minhas palavras, rainha Mukuro, isto não tornará a se repetir. Quero que saiba que você me inspirou muito no passado ao recusar o tratamento de suas lesões e ao me contar sua trajetória de vida. Se algum dia precisar de meus serviços novamente, eu virei sem pensar. Mas por hora, vou seguir o meu caminho.

Mukuro acena afirmativamente com a cabeça de forma quase inexpressiva e logo vemos Shigure deixar o local, ao dizer para seu pupilo apenas:

– Se cuide.

Se distanciando deles logo em seguida e desaparecendo na multidão de youkais que está se formando a certa distância ao redor do grupo. Darla e Kurama também chegam ao local e ela já vai logo dizendo:

– O que houve com o Ryuuze? Ele está, ele está … morto?

– “Infelizmente sim, eu sinto muito Darla.” Responde Kurama assumindo a responsabilidade para si.

Ao que ela em choque apenas lhe diz:
– Eu preciso, buscar o corpo. Preciso ... enterrá-lo.

Mas vendo-a dar alguns passos involuntários em direção à floresta, como se ela estivesse sendo consumida pelo vazio, Kurama a impede e em seguida lhe diz:

– Me desculpe, mas você não pode ir até lá Darla, ou compartilhará do seu triste destino. Aquelas são plantas altamente tóxicas. Além disso, a visão de seu corpo não é algo que você deva guardar na memória.

Sentindo-se fragilizada pela primeira vez em toda a sua vida, Darla perde a pinta de durona e se recolhe solitária ao canto, cobrindo seu lindo rosto com as mãos enquanto tenta lidar com a dor da perda de seu amado.

Analisando a situação, Yusuke se aproxima de Kurama e o questiona:

– Aí, vem cá Kurama. Se o corpo dele ficou tão feio assim, por que diabos você invocou isso bem no meio da cidade? Essas plantas representam um grande perigo para as pessoas comuns.

– Não, não se preocupe Yusuke. Em apenas algumas horas, todas essas plantas irão se secar e desaparecer. Elas têm uma vida muito curta. Somente aquelas grandes árvores, enraizadas ao solo a muito tempo é que permanecerão vivas.

Kurama então, dá alguns passos à frente e se aproxima de Hiei. Observando atentamente a queimadura que lhe cobre o rosto, e seu olho, agora permanentemente branco. Então ele o questiona:

– Você ainda está enxergando?

Ao que responde:
– Sim, Mas não tão bem quanto antes.

– Me desculpe por não estar presente para ajudar você. Mesmo a gente tendo vencido, eu sinto como se tivéssemos perdido essa batalha. Olha quanta destruição foi causada, além de tudo o que fizeram com você.

Agora recomposta, Darla se aproxima deles e lhes diz:

– Não é de se estranhar todo o estrago que fizeram, eles são considerados uma elite, mesmo entre os Mazokus. O surpreendente é que todos nós estejamos vivos ao final da batalha. No momento, deveríamos ser gratos, mesmo que só por isto.

Yusuke por fim intervém e lhes diz então:

– Sim. Esses caras eram realmente fortes. E me dá calafrios saber que há mais deles por aí. Se todos forem fortes assim, nós vamos ter sérios problemas para enfrentá-los.

Com estas palavras, chegamos ao fim de mais um episódio.


Eu não conheci o outro mundo por querer!
Eu sei que meu coração, agora dói ...

Nenhum comentário:

Postar um comentário