quinta-feira, 19 de setembro de 2024

24 - ETERNAMENTE YU YU HAKUSHO

EPS – 24 CATACLISMO SOMBRIO

Enquanto aquela batalha épica entre Suizen e Yusuke se desenrolava nos céus, também foi possível ver ao longe, o caos desenfreado do confronto entre Hiei, Mukuro e Darla que se digladiavam violentamente contra Hoozen. A exuberante Mazoku dava tudo de si, aguentava os pesados golpes e os retribuía na mesma moeda. Mas Darla também lhe fez frente por alguns longos minutos quando se deixou levar pelo frenesi, despertando um novo nível de poder demoníaco tão intenso, que deixou todos os presentes estarrecidos.

Daquele ponto em diante, a brutalidade do combate se desenhava à medida em que a paisagem era devastada e destruída, até que algo inesperadamente aconteceu: A poderosa Hoozen, até então feroz e implacável, finalmente fraquejou e cedeu; após ser cercada e ferida por seus formidáveis oponentes muitas vezes.

Vendo sua inimiga cambalear e uma grande oportunidade surgir, Darla gritou:
 É agora! É tudo ou nada!

E partiu pra cima de sua oponente, desferindo-lhe um potente soco com o seu braço esquerdo, que deslizou em câmera lenta pelo ar em sua direção. Contudo, num instante de inconsciente destreza, Hoozen deslocou-se habilmente para a sua própria direita, escapando de sua investida devido a um reflexo automático do seu corpo. E em seguida, a ruiva agarrou o pulso de Darla ainda em pleno movimento e com uma torção brutal, apoiou seu antebraço na altura do cotovelo de sua inimiga, aplicando uma considerável força até que o braço de Darla se quebrou.

O estalo que ecoou na silenciosa tundra foi rapidamente abafado pelo terrível grito de dor que Darla rugiu através do campo de batalha. Em seguida, ela caiu ao chão alguns metros à sua frente e esbravejou enquanto agonizava em meio à poeira, mas não demorou muito até que se fez de forte e segurou a dor sentida para não ser humilhada por sua adversária.

Darla ficou sentada ali mesmo durante alguns instantes, segurando seu membro ferido, enquanto Hoozen, que sorria satisfeita, lhe disse:

 “Não me subestime garota. Pensou mesmo que eu ia cair tão fácil assim?”

O momento havia sido breve, mas decisivo. E vendo aquilo, uma grande ira tomou conta de seus corações. O que fez com que Hiei rompesse sua habitual impassibilidade para tornar a entrar em ação, dessa vez, com ainda mais furor.

O youkai de cabelos negros aumentou exponencialmente sua velocidade em apenas alguns instantes, e circundando ao redor de sua adversária com uma agilidade incrível, ele logo se tornou um borrão de chamas negras que se incendiou num grande turbilhão, gerando uma verdadeira fornalha de chamas em volta de Hoozen quando gritou furiosamente:

 Kaen-Ro! (Fornalha de chamas).

Mesmo fortalecida pela selvageria que a consome, Hoozen também gritou, por sua vez, de pura dor. Mas tentou resistir a todo custo ao vertiginoso sofrimento que estava sentindo na busca cega por uma possível saída, porém, era irrealizável para ela atravessar o turbilhão de chamas e fugir de sua armadilha.

Logo, Hiei se afastou num salto, acompanhado por Darla, no exato instante em que Mukuro surgiu nos céus, descendo num mergulho pelo centro do redemoinho com a sua prótese negra ameaçadoramente eletrificada por sua youki.

Ela se lançou no turbilhão de chamas em ataque e o impacto foi absurdamente incrível! As ondas de choque e de pressão varreram as chamas negras em todas as direções, marcando o solo com uma impressionante cratera, não tão profunda, mas inacreditavelmente larga.

Em meio ao cenário devastado, Darla sentiu uma assustadora energia pulsar por algumas dezenas de metros a sua frente e apurou suas vistas tentando enxergar o centro de toda aquela nuvem de destroços e destruição.

Sem conseguir disfarçar o quanto estava tensa e perplexa, perguntou aos berros para Hiei:  Ela está viva? Aquela desgraçada ainda tá viva?

E com os rostos em choque, eles primeiro ouviram a risada enlouquecedora de Hoozen pausadamente começar a surgir e ir ganhando níveis. Depois, viram seus olhos anormalmente arregalados em sua desfigurada face, já bastante arrebentada e ferida, se expressarem com vivacidade de uma maneira predatória.

Não demorou muito até Mukuro também surgir da nuvem de poeira num intenso avanço, e com seu braço mecânico, tentou lhe golpear com toda a sua força bem no meio da face, visando desmanchar seu sorriso.

No olhar de Mukuro, havia o tom mais puro de ódio já visto quando ela gritou:
 CAIA!!!

Mas Hoozen simplesmente segurou seu devastador ataque com a palma de uma única mão. O seu braço anormalmente musculoso se contraiu com o fulminante impacto, mas ela resistiu e se manteve firme e inabalável até o fim.

Ela, então, replicou dizendo:
 NÃO!

Em seguida, quase que inconscientemente, foi a sua vez de atacar. Hoozen a golpeou com seu membro direito, mas foi bloqueada por Mukuro com seu antebraço esquerdo, cujo punho foi erguido até a altura do seu queixo.

Mukuro então foi empurrada para trás e seus pés se arrastaram por vários metros pelo chão, deixando uma trilha no solo por onde o seu caminho se deu.

Impressionado com o que viu, Hiei exclamou:
 Que criatura abominável! Ela não cai de jeito algum!

Mas sentindo repentinamente uma aura obscura muito mais assustadora se manifestar nos céus, Hiei arregalou seus olhos e vagarosamente, virou sua assombrada face em sua direção. O que ele viu naquele instante, mudaria tudo, e se resume como a origem de um apocalíptico pesadelo, pois testemunhou todo o firmamento do mundo das trevas se distorcer mediante o acúmulo massivo de energia que estava sendo canalizada por Takuma naquela esfera de energia pulsante que ele chamou de coração do abismo e que naquele momento, girava ao seu redor dezenas de metros acima da sua cabeça.

Até que ele gesticulou com uma das mãos e finalmente concentrou todo este poder em um único ponto, desencadeando um inesperado e descomunal cataclismo sombrio.

O espaço/tempo se contorceu como se estivesse sendo literalmente rasgado até que em colapso se despedaçou, e de várias partes da espiral negra, surgiram luminosas esferas desmedidas que muito se assemelhavam a meteoritos incandescentes, acompanhados de destroços advindos de uma outra dimensão. Todos, fragmentos de um outro mundo muito distante dali.

Um estranho silêncio precedeu o caos iminente, evidenciado pelo espetáculo surreal que se desenhou no céu. Aquela lenta chuva de estrelas cadentes gerou impactos colossais, e o estrondo ensurdecedor advindo da destruição foi o primeiro sinal de que aquelas explosões estavam abrindo gigantescas crateras e também, profundas fendas no solo do Makai. Tão imensas que eram capazes de engolir ruas inteiras enquanto as estruturas do vilarejo eram tragadas para o vazio.

O abismo se expandiu rapidamente e os moradores locais lutaram em desespero para se manterem de pé durante as poderosas vibrações, que sacudiam tudo violentamente, enquanto as ruas se desintegravam e desapareciam debaixo de seus pés.

Os grandes ossos que sustentavam as tendas em que antes residiam os Mazokus, foram sistematicamente despedaçados pelo impressionante tremor, e as pessoas foram levadas pela força da tormenta, desaparecendo nas fissuras em meio a escuridão. As poucas árvores de aspecto surrealista daquele lugar inóspito, desvaneceram até ficarem cinzas enquanto outras foram distorcidas e arrancadas do solo, deixando para trás uma paisagem irreconhecível.

O desespero imediato permeou o ambiente na medida em que Hiei e todos os que estavam com ele ali testemunharam uma daquelas grandiosas esferas de energia vindo em sua direção. Seu semblante mudou diante da iminência da morte, até que Mukuro revelou todo o peso da experiência que carrega como uma guerreira da sua estirpe, ao avançar com destreza para perto de seus aliados, formando muito rapidamente sobre as suas cabeças, uma poderosa barreira de energia; um campo de força tão singular e intenso que brilhou em roxo e lilás como se a luz tivesse até se tornado sólida, na expectativa de que a mesma conseguisse resistir ao tremendo impacto que viriam a receber.

A preocupação se abateu sobre todos eles e gerou um desespero emocional tremendo, pois até o último momento não haviam garantias de que a defesa de Mukuro seria o suficiente para eles sobreviverem. A possibilidade de que todos ali iam perecer era palpável, de modo que isso também foi percebido por sua adversária.

Naquele momento crítico, Hoozen mudou completamente sua postura e agiu com seriedade e sabedoria quando, repentinamente, avançou em direção ao grupo. Mas não para atacá-los, e sim, intentando unir sua força a deles numa aliança improvável e inesperada com seus inimigos. A imprevisível ameaça era muito maior do que qualquer um deles poderia suportar sozinho, e isto os obrigou a trabalharem juntos mesmo que apenas por um breve momento. A rivalidade existente foi momentaneamente esquecida em prol da sua própria sobrevivência.

Agora, com a aura esverdeada de Hoozen reforçando o campo de força de Mukuro, eles resistiram com muito esforço ao impacto descomunal e a subsequente explosão. A destruição à sua volta se espalhou como uma torrente avassaladora e o tremor da colisão da esfera de energia com o solo pôde ser sentido através da barreira, que apesar de tudo, se manteve firme. Momentos depois, uma densa cortina de fumaça e poeira envolvia toda a região, obscurecendo ainda mais aquele lugar de trevas.

Quando a tormenta cessou, e só restou a nuvem de poeira, a barreira se desfez e uma estranha calmaria tomou a devastada tundra. Até que os poucos Mazokus que restaram, mesmo feridos, foram forçados a fugir das criaturas sombrias que se levantavam dos escombros e a se refugiar em áreas mais afastadas e seguras, enquanto o outrora decadente vilarejo acabava de ser reduzido a uma mera lembrança triste.

Diante de toda aquela tragédia e impressionante devastação, não tardou até que os guerreiros, separados por diferenças irreconciliáveis, rapidamente se mostrassem propensos a continuarem com o combate mais uma vez, apesar de terem se unido a tão pouco tempo.

Não conhecendo misericórdia ou piedade, Hiei aproveitou o breve momento de distração de Hoozen para violentamente atacá-la pelas costas, quando avançou de súbito em sua direção, cortando o próprio ar com seu movimento e atravessando o abdômen dela com seu braço direito recoberto por suas novas chamas brancas.

Ainda atordoada pelos eventos anteriores, Hoozen mal teve tempo de reagir, e apesar de pensarem inicialmente que seria frustrada a sua tentativa, o fulminante ataque foi mais do que suficiente para finalmente levá-la ao chão, após vomitar um considerável e volumoso fluxo de sangue.

O solo estremeceu com a sua queda, e Hiei se firmou mais uma vez como uma criatura sombria, ao olhar incólume e friamente para a youkai caída e lhe dizer:

 Pouco me importa o quão forte pensa ser. Você não é páreo pra mim.

E mesmo em momentos de aparente trégua como este, Hiei se mostrou implacável. Não hesitando nem por um momento em explorar uma oportunidade tão traiçoeira para derrubá-la.

No agora devastado campo de batalha, Takuma, ainda possuído por Suizen, pairava acima do solo enquanto um campo de trevas o envolvia como a um manto sombrio. Yusuke, em contrapartida, brilhava intensamente em meio a escuridão à sua frente enquanto se mantinha envolto numa aura dourada de pura luz.

 Você vai me pagar caro pelo que fez, maldito!

Esquentado como sempre, Yusuke finalmente se lançou diretamente contra seu oponente numa abordagem mais direta e avassaladora. Ele estava mais poderoso do que nunca e sem pensar, aplicou um festival de socos e chutes que foram desferidos com bastante vigor e energia, numa mistura de artes marciais com a malandragem das brigas de rua que ele sempre carregou. E embora seus furiosos ataques tenham pipocado no céu num ritmo descontrolado e crescente, eles se mostraram ineficazes contra seu odioso inimigo, que reagia de uma maneira inesperada, muito mais brutal e primitiva.

Suizen era uma criatura muito antiga, já acostumada a vivenciar a dor e resistir ao medo. Ele não sucumbia a nenhum dos seus poderosos ataques, e passando a conduzir o ritmo da batalha, esperou pelos momentos certos para contra-atacar. Suas investidas vinham em menor número, mas eram bem mais pesadas e avassaladoras. O que pressionou Yusuke, ao provar que ele era poderoso demais.

Em dado momento, Suizen chegou a agarrar Urameshi, segurando-o pela metade do rosto com sua enorme mão, enquanto socava sem piedade o outro lado da sua face repetidamente. Yusuke se agarrou ao seu braço tentando resistir, mas Suizen lhe desferiu duas cabeçadas violentas e em seguida, chegou ao ponto de lhe morder a região do corpo que se situa entre o peito e o ombro, lhe arrancando com um movimento brusco de cabeça, um pequeno pedaço de carne.

Neste momento, Yusuke tentou reagir e desferiu um disparo à queima roupa contra seu oponente para se libertar, mas Suizen girou seu corpo e arremessou Yusuke contra o chão. O leigun passou rente ao seu inimigo e riscou o céu enquanto Yusuke se chocou violentamente contra o solo.

Suizen logo desceu até aquele lugar, e ao sentir o gosto do sangue, sua pele passou a ter um tom mais acinzentado e ressequido. Enquanto ele mastigava e engolia o pedaço de carne que arrancou de Yusuke, o mesmo se levantou irritado e lhe disse:

 Você é doente ou o quê? Tá achando que eu sou algum tipo de petisco ô meu camarada?

 Hehehehe, desculpe, foi por mero reflexo. Eu sou um predador garoto, e já faz muito tempo.

Neste momento, emergiu das sombras ao seu redor, um grupo de Mazokus enraivecido. Tratavam-se dos sobreviventes da tragédia na vila, que entorpecidos pelo ódio, não se intimidaram em buscar vingança com muita fúria e determinação.

Havia ali, cerca de oito deles, todos feridos, um deles inclusive, sem um braço, que por uma das feras foi arrancado, todos cercando Suizen de diferentes posições. As expressões em suas faces era a de homens destruídos, considerando que já não tinham mais nada a perder.

 Demônio maldito! Deveríamos tê-lo matado muitos anos atrás. Você destruiu nossa vila!
Disse um deles, seguido por outro que lhe falou:

 Aberração imunda! Seu lugar sempre foi entre os animais. Você desonrou o nosso clã.

Confiantes de que poderiam matá-lo, eles avançaram pelo campo de batalha pensando que enfrentariam Takuma, mas ao ignorarem a presença opressiva de Suizen, também ignoraram o risco. Antes mesmo que eles se aproximassem de seu inimigo, os olhos de Suizen se obscureceram, e ao se achegarem junto dele, seus gritos de fúria logo se calaram, suas faces ficaram vazias e sem vida e seus passos decididos amoeceram. Até que já não pudessem mais se mover.

Espantado com a maneira como Suizen dobrou facilmente suas vontades e os deixou imobilizados e impotentes diante de sua presença, Yusuke questionou:

 O que você fez com eles?

Ao que Suizen respondeu:

 Os coloquei sob meu completo domínio. Apesar da coragem, são guerreiros muito fracos quando comparado a mim. Eu poderia ordená-los a te atacarem. Ou mesmo … poderia pulverizá-los aqui diante de você.

Divertindo-se com uma demonstração de sua inigualável força, Suizen manifestou brutalmente suas energias, vaporizando-os logo em seguida até que seus ossos desapareceram, de modo que não restou nada de sua existência.


Frente àquela monstruosidade personificada, Yusuke tremeu e perguntou:

 Como pôde fazer isso com eles? E o que diabos você fez com o Takuma? Traga ele de volta agora! O que afinal de contas é você monstro maldito?

Com um sorriso presunçoso, ele ergueu sua cabeça deixando escapar um ruído gutural, antes de falar com uma voz carregada de arrogância e desprezo:

 Eu já fui Suizen, um guerreiro mazoku respeitado, mas sou a mais profunda escuridão agora. Esquecido nas trevas por tanto tempo, acabei me tornando parte de Hametsu. Se quer realmente saber o que eu sou, eu lhe digo: Eu sou o puro mal que contamina o coração dos youkais.

Suas palavras carregavam um peso sinistro, e pareciam impregnadas com um poder primordial assustador que começou a afetar a mente de Yusuke. Enquanto Suizen falava, Yusuke sentiu dificuldades e teve que se esforçar para se manter de pé. Logo, ele caiu de joelhos sofrendo com sua influência enquanto a aura negra de seu inimigo se intensificava e crescia mais uma vez, como se a própria escuridão estivesse respondendo ao seu comando.

Certo de que sua sugestão mental teria efeito contra Yusuke, Suizen então lhe revelou uma grande fraqueza:

 Takuma infelizmente é apenas um recipiente imperfeito, seu corpo está se deteriorando com a minha presença e sua mente já está perdida. Minha culpa. Sua alma eu subjuguei e a estou a consumir. Não há como trazê-lo de volta, pois você jamais será capaz de me expulsar deste corpo que possui.

 Então é assim que eu te derroto, ô coisa bisonha?

Resistindo inesperadamente à manipulação dos seus “sussurros do abismo”, Yusuke se levantou, e revigorado, ignorou aquela nova tentativa de minar sua esperança e força de vontade.

Observando atentamente uma pequena fissura que se formou no peito ressecado de Suizen, por onde uma discreta luminosidade avermelhada começava a vazar, e acreditando que se tratava da alma de Takuma, Yusuke manifestou uma poderosa energia em uma de suas mãos. Em seguida, ela se acendeu como se fosse uma chama, enquanto Urameshi passou a lhe dizer:

 Eu deveria ter prestado mais atenção nos ensinamentos da velha mestra. Eu não sei usar a técnica da purificação, então vou ter que fazer isso do meu próprio jeito. Preciso converter essa energia em uma outra coisa, como fiz anos atrás com a esfera do Meikai quando enfrentei Yakumo. Mas dessa vez, preciso transformar a energia em algo diferente, algo muito mais puro.

A luminosidade nas mãos de Yusuke, então, mudou de cor e passou a brilhar agora num tom esverdeado. Yusuke avançou rapidamente contra Suizen e num piscar de olhos, lhe desferiu alguns golpes nada sutis. Suizen se esquivou como pôde, até que finalmente foi atingido bem no meio do peito pela chama esmeralda de Urameshi que tentou lhe forçar a purificação.

Suizen pendeu e se reclinou para trás, enquanto o fluxo de energia emanado pelo ataque passou a ser absurdo. A energia se manifestou quase que como uma correnteza e a mão direita de Urameshi chegou a adentrar através do peito de Suizen, lhe fazendo um belo rasgo. Era como se aquela torrente de luminosidade fosse eliminar o mal que nele habitava, enchendo seu interior com a mais pura luz.

E por um segundo, Yusuke até se sentiu esperançoso, confiante da vitória. Mas quando toda a sua energia foi embora e ele fitou o profundo, vazio e obscuro buraco que se formou no peito de seu adversário, ele percebe que seu ataque havia falhado, e que já era tarde demais para Takuma.

Suizen sorriu sarcasticamente e lhe golpeou o rosto com toda força com as costas da sua mão direita enquanto lhe disse:

 O que foi isso? Pensou mesmo que poderia me expurgar deste corpo garoto? Eu já lhe disse, não há mais nada dele aqui, só uma casca vazia, este corpo agora é meu! A alma de Takuma foi obliterada e substituída pela escuridão!

Neste momento, a negra energia de Suizen ondulou e se manifestou como se estivesse viva. Era como se ele fosse um portal pelo qual as almas em agonia de Hametsu estivessem vazando. Sua aura obscura começou a vazar por pequenas rachaduras que passaram a surgir em sua pele, e essa energia se mostrava tão poderosa que na certa o faria se desfragmentar em algum momento.

Suizen estendeu seu braço esquerdo, e antes mesmo de disparar, percebeu que Yusuke já havia se antecipado e começado a fugir. A esfera rápida de energia porém o perseguiu, mas Urameshi se moveu numa velocidade incrível, percorrendo em zigue-zague centenas de metros através do cenário destruído à sua volta em poucos instantes.

A esfera logo se dividiu em outras três, tentando com isso, cobrir mais terreno, até que não lhe restou escapatória. Com Yusuke impedido de desviar seu curso devido a trajetória de um movimento de esquiva que escolheu, as esferas começaram a girar em torno de si mesmas enquanto iam em sua direção até finalmente colidirem, umas com as outras, ao atingirem em cheio o seu alvo.

O momento do impacto foi avassalador, e obscureceu toda a área ao seu redor formando uma espécie de eclipse negro. Yusuke, porém, não tombou diante de tamanha provação, mas apareceu gravemente ferido logo em seguida. Como uma intensa luminária de energia em meio à sombra residual deixada pelo ataque ele surgiu, e com determinação Urameshi gritou:

 Maldito! Isso eu também sei fazer! Toma essa!

Neste momento, Yusuke se mostrava furioso e manifestava suas novas energias mais uma vez ao lançar um leigun diferente: O mesmo começou a girar em torno de si mesmo com alta rotação até que o turbilhão começou a absorver os resíduos de escuridão que pairavam ao seu redor. Quando disparou, no entanto, Suizen demonstrou uma postura altiva e suicida, ao firmar os seus pés para segurar o poderoso ataque com apenas uma de suas mãos!

Mas, o movimento rotacional do leigun criou em seguida uma poderosa força de sucção, gerando um efeito semelhante ao de um pequeno buraco negro que quase arrancou o braço de seu inimigo. Até que Suizen finalmente entendeu a realidade do perigo que estava enfrentando ali e se afastou a tempo, recuando alguns metros para trás enquanto tudo ao seu redor foi absorvido por alguns instantes até finalmente o vórtice desaparecer.

Mais aliviado agora, ele pensou consigo mesmo:

 Essa foi por pouco! O garoto está aprendendo a utilizar seus novos poderes muito rapidamente. Eu devo ficar esperto, a força de um Toshin não pode ser subestimada.

Com sede pela batalha em seu olhar, Yusuke lhe disse:

 Sentiu a firmeza? E olha que eu nem comecei a mostrar o que eu posso fazer. Pode esperar que eu vou abalar o Makai, essa zona inteira ainda vai tremer!

 Tolice, a nossa luta se aproxima do fim enquanto você caminha em direção à morte. Você não deveria brandir ameaças, pois não faz ideia de quem está enfrentando e não sabe nada sobre o mundo das trevas. Sequer percebeu que está em território hostil.

Apesar do alerta dado, Yusuke não havia percebido nada de anormal ao seu redor, exceto pelo fato de que estava pisando numa vasta extensão de areia branca e fina que repentinamente, começou a se mover por conta própria formando pequenos redemoinhos ao seu redor, de onde surgiram criaturas arredondadas, de pele mole, cheias de dentes, agressivas e famintas, que passaram a drenar a sua energia espiritual mesmo à distância.

Vendo que havia sido conduzido à uma perigosa armadilha devido ao seu total desconhecimento do terreno, Yusuke tentou se afastar do local, mas neste momento, foi aprisionado por diversas línguas extensivas saídas das bocas daquelas estranhas abominações. Irritado, e determinado a se libertar, ele manifestou toda a sua força visando destruí-las, mas o fluxo de sucção de cada uma delas era forte demais e o ataque acabou não surtindo efeito algum.

Num segundo momento Yusuke gritou, e liberou um volume ainda maior de energia, que finalmente varreu e desintegrou todas criaturas que estavam ao seu redor.

Avançando com uma fúria indomável, com seus punhos cobertos de sangue e o suor escorrendo por sua testa, Yusuke desferiu uma nova sequência frenética e eletrizante de golpes. Ele estava no limite e lutava para não perder o controle. A pressão aumentou e Suizen lhe respondeu à altura, se entregando também ao clímax máximo do combate. Ambos foram tão rápidos, que percorreram quilômetros dentro da região desértica em segundos, enquanto o impacto de cada um de seus golpes reverberou pelo céu.

Urameshi, que até aquele momento vinha lutando com todas as forças que tinha, passou repentinamente a sentir um cansaço profundo. O suor de seu rosto se misturou ao sangue de suas feridas enquanto sua visão embaçava, e sua aura, que antes pulsava num fluxo vibrante, agora se apagava e tremeluzia. Enfraquecendo cada vez mais à medida que o tempo passava, apesar de tudo isso, ele tentava resistir, e não permitia que seu espírito fosse quebrado.

Lá embaixo, vendo-o de todas as direções, seus amigos e aliados nessa batalha torciam por sua vitória. Cada batida de seus corações era como uma súplica silenciosa para que ele não desistisse, ou tudo estaria perdido. Seus músculos foram levados ao limite e a dor que vinha sendo ignorada até agora, tornou-se insuportável. Até que o inevitável infelizmente aconteceu.

Num último grito desesperado, Yusuke se lançou ao ataque contra seu oponente e o golpeou. Mas naquele momento, Suizen se mostrou inabalável enquanto ele inesperadamente sucumbiu. Seu corpo falhou, e a energia canalizada dissipou-se no ar e desapareceu com o vento, até que a última fagulha da sua aura finalmente se apagou e ele caiu. Yusuke havia chegado à exaustão completa.

Como se o tempo tivesse desacelerado por um instante, ele começou a cair em câmera lenta, seu corpo despencou do céu e enquanto a gravidade o puxava implacavelmente para baixo, o vento gélido acariciou seu rosto pela última vez. Antes de seus olhos fecharem, ele teve uma visão vertiginosa e intercalada do solo e das nuvens que estavam lá em cima, enquanto permaneceu em queda livre. Sentindo seu corpo desfalecer e ser engolido pela escuridão, Yusuke aceitou seu fim, fechou os olhos e se agarrou à lembrança de todos que ele amava.

O chão se aproximou cada vez mais rápido e todos que viram a cena sentiram uma profunda tristeza em seus corações, incapazes de aceitarem tudo aquilo, rezaram silenciosamente para que algo o salvasse, mas impotentes demais para reverter aquela situação, nada ocorreu.

Do alto, Suizen observou a queda com um sorriso amarelo e descontente estampado em seu rosto. Sua derrota, era a confirmação de sua superioridade, mas ela vinha ao custo da perda amarga de sua única saída, ou seja, da sua própria liberdade. As profundezas do Makai naquele dia, haviam devorado o espírito de mais um grandioso guerreiro.

Nos céus, se fez caótico o momento em que a intensa chama de Yusuke repentinamente se apagou. Paralisados, todos pensaram que este era o seu fim, que ele havia morrido e que eles teriam perdido aquela batalha.

Quilômetros abaixo, o local em que ficava o vilarejo estava em ruínas e as vastidões desérticas que o cercavam ainda tremiam levemente num ritmo intermitente. Fragmentos de rochas caiam infrequentes por toda parte e as imensas fissuras que haviam se formado no solo, às vezes, se alargavam por dezenas de metros, engolindo tudo o que ainda existia em seu caminho, não sendo possível sequer definir a sua profundidade.

Distraídos com o trágico fim de Yusuke, eles não perceberam o momento em que Hoozen, que parecia ter sucumbido anteriormente ao devastador ataque de Hiei, subitamente despertou e se ergueu, e com uma agilidade surpreendentemente inumana, começou a correr, revelando que possui uma força interior que parece transcender a mera resistência física. Seus olhos, agora enegrecidos, fixaram-se em Hiei e sem hesitação, ela se agarrou a ele e avançou rumo à fissura no que viria a ser um duplo suicídio.

Quando alcançou a borda do abismo, um arrepio percorreu a espinha de todos os presentes, e o mergulho foi inevitável. Em desespero segurando seu braço ferido, Darla gritou:

 Eles caíram! Precisamos fazer alguma coisa!

Mas Mukuro, diante daquela situação inesperada, estranhamente titubeou e sentiu-se dividida. Seu corpo sabia o que tinha de fazer, ela quase se moveu inconscientemente em sua direção e até cogitou penetrar no inexplorado abismo à sua frente para salvá-lo. De alguma maneira, ela soube naquele momento que Hiei havia encontrado um lugar em seu coração, pois um sentimento com o qual ela não estava pronta para lidar havia nascido.

Contudo, em sua cabeça a mais pura lógica prevaleceu, e ela direcionou sua total atenção para Urameshi, que estava em um estado mais grave e para a batalha que havia acabado de acontecer.

Decidida a ajudá-lo, ela então gritou para Darla:
 Não, eu cuido do Yusuke. O Hiei sabe se virar. Se quiser, vá e ajude-o.

 “Mukuro! O que está dizendo?” Chamou Darla, como se quisesse que ela se atentasse ao seu braço ferido e à sua grave situação.

Mas virando-se de costas, ela apenas respondeu:

 Se eu não fizer alguma coisa agora, o Yusuke será levado pelo inimigo. E este poderá ser o fim de todo o mundo das trevas.

Enquanto o silêncio solene predominou na paisagem desolada após a queda de Yusuke, não muito longe dali, Suizen ressurgiu de repente, envolto por sua aura espectral, que parecia queimar a pele de Takuma cada vez mais com seu brilho etéreo.

Levitando suavemente a alguns centímetros do chão, ele pairou sobre o corpo inerte de Urameshi que repousava sobre a areia, de semblante esgotado e inexpressivo. O suposto “cadáver”, denotava em seu rosto os rigores da batalha.

Suizen o encarou atentamente, e com seus olhos penetrantes, constatou que ele estava desmaiado e enfraquecido, mas ainda vivo!

Com uma voz preponderante, então disse:

 Humm, que garoto formidável. O meu corpo está se desintegrando e não vai durar muito tempo. Enquanto ele está esgotado, mas ainda vivo. É quase imperceptível, mas ainda lhe resta uma fraca centelha de vida. Devo levá-lo agora até Uragami, para que suas energias sejam extraídas e o seu sangue seja derramado naqueles portões malditos que por séculos têm me aprisionado.

Entretanto, antes que Suizen pudesse agir, uma figura imponente surgiu no campo de batalha, subitamente interrompendo sua linha de pensamentos. Irradiando uma aura de youki monstruosa e firmando sua presença com ares de superioridade e determinação, Mukuro se colocou diante de Suizen como sua mais nova oponente.

Determinada a proteger Urameshi, ela então lhe disse:
 Não vou permitir que você o tire daqui, e se me enfrentar, perderá sua vida.

Reconhecendo de imediato a admirável força que dela transbordava, Suizen empolgadamente se prestou a dizer:

 Que energia incrível! Um poder tão grandioso assim sem dúvida alguma se compara ao meu! Me diga, você alguma vez na vida colocou toda essa força para fora?

 Não, eu nunca precisei utilizar todo o meu poder. E espero continuar assim, a menos que você me obrigue a fazer isso hoje, antes de varrer o chão do mundo das trevas inteiro com a sua cara.

Gargalhando de maneira sinistra após ver tamanha ousadia, Suizen lhe retrucou dizendo:

 Que mulher insolente! Deve se achar a youkai mais poderosa do Makai para dizer algo assim. Veja, eu até gostaria de testar a sua força, mas não posso perder muito tempo aqui. Então saia da minha frente, pois definitivamente eu levarei o garoto. E pode ter certeza que você não é capaz de me impedir.

 Não. Se quer levá-lo, vai ter que passar primeiro por mim.

A tensão entre os dois finalmente explodiu, quando cada um avançou em direção ao seu inimigo, reiniciando a fervorosa batalha que mudaria o desfecho dessa guerra maldita.

Fim do episódio.
Eu não conheci o outro mundo por querer!

Eu sei que meu coração, agora dói …

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