domingo, 1 de janeiro de 2023

11 - ETERNAMENTE YU YU HAKUSHO

 EPS – 11 RETORNO AO MUNDO DAS TREVAS

Em meio a um despenhadeiro enevoado nas profundezas do mundo das trevas, erguem-se ruínas sombrias, repletas de fungos e desgastadas pelo tempo, entrecortadas por antigas e distorcidas raízes e habitadas por fantasmas. Em meio a um pátio que fora esculpido nas rochas, agora erodidas, mas que ainda sobrevivem ao tempo, vemos as chamas dançantes de algumas tochas que iluminam o lugar ao invadir o espaço da escuridão. A oscilante claridade revela a presença de um pequeno grupo de youkais, que diferentemente de quaisquer outros cultos estranhos, não se encontravam em profana adoração, mas sim, em silêncio, como se aguardassem por algo. Até que a serena calmaria que impera naquele lugar fétido é cortada pela chegada de uma dupla de youkais inferiores, que trazem junto consigo uma Magatama feita de jade e a cabeça daquele que outrora foi um poderoso adversário. 

Eles se aproximam de um grupo com seis indivíduos, aparentemente na liderança de uma dezena de outras criaturas aladas que não se destacam ante sua imponência. No centro, há uma bela e robusta mulher chamada Hoozen, com tatuagens tribais e longos cabelos vermelhos, seios fartos e que usa poucas vestes. Também marcado por chamativas tatuagens tribais, atrás dela  encontra-se um guerreiro forte de nome Takuma, bem mais alto e com longos cabelos brancos que esvoaçam ao vento. Ao lado daquela deusa ruiva, há uma segunda garota mais delicada de nome Sayaka, da qual não se pode dizer se é mais bela ou mais forte de tão equiparadamente atraente. Trajando calças compridas de um tecido leve, provavelmente para lhe favorecer os movimentos, um top sem alças e uma gargantilha preta que lhe enfeita o pescoço. A garota de cabelos azuis-claros encaracolados e curtos que vão apenas até a altura dos ombros usa ainda na cintura uma faixa de tom vermelho-escuro, assim como nos pulsos, onde se destaca uma espécie de bracelete. Abaixado ao lado esquerdo dela, vemos seu jovem irmão Toshio, que compartilha do tom de seus cabelos, apesar destes serem curtos e arrepiados. Ele utiliza um quimono de praticante de artes marciais, porém com mangas compridas e pequenas faixas vermelhas se mostram presentes em ambos os seus cotovelos. Vemos ainda que ali há mais um Youkai, de vestes verdes e cabelos compridos e alvos, envolto pelas sombras num canto escuro, cuja presença marcante só é ofuscada pela de seu líder, à direita, vestido com uma túnica densa e marrom recoberta por uma capa vermelha. Cuja grande cicatriz sobreposta sobre o olho direito, apenas firma seu olhar severo. E assim como nos outros, esconde-se sobre sua capa uma marca tribal em seu braço direito, bem perto do ombro. Ao que tudo indica, são todos membros de um mesmo clã. 

Os Youkais inferiores recém-chegados e citados antes então, se ajoelham diante de seu líder e erguem seus braços apresentando o que trouxeram. Com a voz rouca, anunciam: 

– Trazemos más notícias mestre Uragami, Lorde Daito morreu. 

No mesmo instante, entrecortado por trovões, um breve burburinho surge entre as pessoas à sua volta, que são incapazes de entender como o mais forte entre eles fora derrotado no mundo humano. Mas as palavras seguintes de seu arrogante líder, enquanto se apodera da Magatama, fazem com que todos se calem ao mesmo tempo:

– Já chega! Não importa. 

– O que quer dizer meu soberano? Ele era o nosso rei. Diz um deles.

– Não seja tolo, ele nunca foi realmente digno de tal alcunha. Daito desejava o poder de Hametsu apenas para si, não compartilhava verdadeiramente de nossos ideais. Sua morte não representa mais do que um empecilho a menos na conclusão de nossos planos.

– Então não haverá retaliação?

– Haverá sim, em um nível que eles jamais testemunharam. Faremos com que eles conheçam a mais terrível dor. Mas desta vez, será pelos motivos certos. Pois já é chegado o momento de libertarmos o verdadeiro rei do mundo das trevas. Yajima, pode prosseguir.

O Youkai com aspecto misterioso a quem ele se dirigiu, é aquele que se ocultava nas sombras. Sob seus cabelos bagunçados, se nota um tapa olho sobre a vista direita. E chama ainda a atenção neste indivíduo, um colar que ele carrega no pescoço, cujo pingente se assemelha ao formato de um olho. Ele caminha alguns passos para longe do grupo, estende a palma de sua mão direita para cima e um estranho vendaval começa a soprar bruscamente sobre a cabeça de todos. Seus alvos cabelos balançam à medida que a ventania aumenta, e nuvens carregadas de energia giram no céu, acompanhando o movimento de sua mão, que descreve círculos no ar. De olhos atentos às nuvens, seus companheiros percebem que uma espécie de portal começa a se abrir e levantando voo ao seu redor surgem as dezenas de criaturas aladas que ali estavam, cuja aparência lembra muito a dos gárgulas das igrejas medievais. As criaturas o observam por um instante, quando ele faz um leve aceno e todas adentram o portal que logo se fecha.

– Pronto! Eu não sei onde está o filho de Raizen, mas as minhas criaturas vão achá-lo, onde quer que esteja. Completa ele com um sorriso de satisfação no rosto.

Neste momento, dos portões selados naquelas decadentes ruínas, advindo mais precisamente das profundezas da escuridão; uma voz gutural ecoa entre as brumas em compassadas gargalhadas que fariam estremecer a alma do mais corajoso dos homens. Fica evidente que uma alma atormentada jazia presa naquele lugar há séculos, ansiando pela liberdade. E sua risada era apenas o prenúncio do que estava por vir. 

– Hahahahahahahaha ...

Poucos dias se passam, porém, a situação de Shizuru ainda segue da mesma maneira. Seus sinais vitais são estáveis, mas nenhum indício de que ela possa voltar dessa.

Kuwabara observa pela janela de seu quarto, enquanto uma brisa leve sopra balançando suavemente seu topete. Absorto em seus pensamentos, com um olhar entre saudosista e melancólico, é interrompido pela chegada de Koenma em sua forma adulta.

Agora sentado na beirada da cama, ele olha para o detetive sobrenatural e lhe diz.

– Então, vamos começar Kuwabara?

– Sim, estou pronto.

– Deite-se, eu mesmo vou te ajudar no processo. Procure relaxar, vou irradiar energia pelo seu corpo e te guiarei até onde sua irmã está. Vai ser como um sonho lúcido, mas você estará no limiar entre a vida e a morte.

Kuwabara deita-se na cama e fecha os olhos. Koenma lhe impõe as mãos e irradia uma energia verde clara como ondas de calor ao corpo de Kazuma que sente uma sensação relaxante até que em alguns instantes, pega no sono. Ao abrir os olhos ele se vê próximo a uma praia, é fim de tarde e o céu está colorido por um rosa que se mistura ao azul até escurecer. O vento sopra fresco causando um leve arrepio na pele, ao mesmo tempo que o sol se põe, ele ainda o aquece por breves momentos.

Enquanto as ondas quebram na beira da areia suavemente, quase que como uma melodia relaxante, Kuwabara observa uma pessoa sentada num velho tronco de árvore tombado ali perto e que agora serve como banco. A figura, olhando para a paisagem, trata-se de Shizuru, que fuma distraidamente como se nada de mal estivesse acontecendo com ela naquele mesmo instante no hospital.

Seu irmão se aproxima a passos lentos, temendo assustá-la, mas enquanto ele caminha, ela se levanta e desce por uma pequena trilha até chegar na areia e então anda pela praia, enquanto as águas lhe tocam os pés. Kazuma desce ao seu encontro e aproximando-se diz.

– Ir... irmã...

– Que é essa cara Kazuma? Parece que viu um fantasma!

– Não é nada demais maninha. Como você está?

–Ih, que papo estranho, eu tô bem, não tá vendo? É gostoso aqui, eu estava sentindo esse vento e pensando que poderia ficar por aqui para sempre.

Kuwabara percebe nesse momento que sua irmã tem um olhar distante, como se não estivesse totalmente lúcida naquele momento.

– Nem brinca com isso, vira essa boca pra lá. Aqui é bonito, mas preciso de você comigo, lá em casa.

– Você não acha que já está crescidinho demais não? Você não é mais aquela criança que precisava de mim.

– Aí que você se engana, ainda tenho muito pra aprender com você.

– Ei, olha só que lindo aquela revoada de gaivotas. Diz Shizuru, ainda alheia.

Kuwabara se distrai, ao observar os pássaros que passam dançando pelo ar, e ao se virar para falar do que realmente interessa, percebe que sua irmã está desaparecendo bem na sua frente. Sem entender o que está acontecendo, ele ouve a voz de Koenma.

– Ela foi pra outro lugar, esse sonho acabou. Concentre-se na sua irmã e você irá para onde ela está.

Kuwabara segue as orientações e percebe que agora está num campo todo florido, ao longe ele reconhece duas crianças, ele e sua irmã! Como as sombras de um passado distante. Ele também reconhece o lugar como sendo uma praça em que costumavam ir quando eram pequenos para brincar, ficava perto de sua casa. Kazuma se vê sentado no chão após ter sofrido uma queda  enquanto sua irmã prontamente lhe ajuda a se levantar. Ele ralou o joelho naquele dia, deve ser uma memória forte para ela.

Kazuma Kuwabara sente que o tempo é curto e que precisa de uma maneira de ser ouvido por ela. Ele corre, e chama pelo seu nome, mas ela parece ter medo dele e corre de mãos dadas com sua contraparte jovem até chegar numa casa, onde entra com pressa.

Ao tentar abrir a porta, Kuwabara nota que o sonho mudou novamente, pois vê que é mesma mobília do interior é dos dias atuais. Ele ouve barulhos na cozinha e ao caminhar até lá, vê sua irmã novamente adulta bebendo um café. Sem perder tempo lhe diz com firmeza:

– Shizuru, presta atenção, tenho que falar com você, é importante!

– Como você cresceu Kazuma, está tão forte agora, não é?

– Só me ouve. Kuwabara pede, já aflito, mas a irmã parece apenas não entender a importância do momento.

– Então fala, o que é tão importante? Você quer um café? Acabei de fazer.

Kuwabara segura a irmã pelos braços e olhando firme em seus olhos ele diz.

– Você está morrendo!

– Ai, Kazuma, tá ficando doido é? Tá me machucando! E que conversa estranha é essa agora? Me solta logo, senão quem vai morrer é você.

Escuta-se novamente a voz de Koenma que o interrompe dizendo:

– Kuwabara, ela vai tentar trocar de sonho mais uma vez, você precisa convencê-la a ficar, tem que atrair a atenção dela, senão ela vai escapar outra vez. 

– Irmã, olha nos meus olhos, só uma vez, me ouve. Você está em um hospital, foi atacada por um Youkai, e agora está entre a vida e a morte, numa espécie de coma!

Como se acordasse de um transe estranho, Shizuru expressa terror em seu olhar, como se recordasse abruptamente do Youkai que lhe atacara mortalmente.

– Ah! É verdade. Estou me lembrando. Eu … morri? Mas, como é que você está aqui?

– Não dá pra explicar agora, eu só preciso que você retome o controle do seu corpo e se levante daquela cama de hospital. Rápido minha irmã, você tem que voltar. Não pode me deixar sozinho.

Mas como se sentisse um imenso vazio por dentro, uma ausência de luz, de conexão entre sua alma para com a vida, Shizuru apenas lhe diz em um tom melancólico:

– Eu … não posso voltar. Não mais. Não se culpe pela minha partida Kazuma, uma hora todo mundo morre, não é mesmo?

– Não diga isso, irmã! Você precisa reagir, Koenma disse que ainda é possível, que você tem que querer, é só você se decidir.

Kuwabara se vê envolto em desespero e quer falar muito mais, quer gritar até convencer sua irmã, mas ela apenas o abraça carinhosamente e lhe diz baixinho antes de desaparecer:

– Adeus Kazuma. Agora, não fica só me olhando com essa cara de bobo ... me abraça.

– Não! Shizuru! Você tem que querer!!!

E enquanto grita, Kuwabara finalmente acorda e cai em prantos diante de Koenma ao perceber que o quadro de sua irmã não mudou. Ele havia fracassado.

Noutro lugar, tão distante dali, atraídos pela dúvida, remorso e incertezas deixadas pela última batalha, Yusuke, Kurama e Hiei finalmente retornam ao Makai na promessa de cumprirem uma perigosa jornada, sabendo que farão o que for necessário para encontrar a verdade.

Após alguns dias de caminhada, Hiei é o primeiro do grupo a avistar ao longe o castelo que outrora pertenceu a Raizen, mas que hoje está bem diferente. Não externamente é claro, mas sim por estar repleto de youkais de todo canto do mundo das trevas, pois agora, ali vive o primeiro rei do Makai unificado: O saudoso Enki.

Irritado pelo longo tempo que levaram para chegar até ali, Hiei vai logo dizendo:

– Vocês são muito lentos. Eu já poderia ter chegado aqui faz tempo.

– O que quer dizer? Tá chamando a gente de peso morto é?

– Calma Yusuke, ele só está irritado assim porque está preocupado.

Hiei se vira bruscamente, tentando ignorar as palavras de Kurama quando percebe que os dois tiram sarro de sua cara sorrindo e levantando o dedo mindinho de suas mãos (sinal este, que representa o romance no Japão, onde as almas enamoradas são amarradas por uma linha invisível pelo dedinho).

A zoeira, porém, é interrompida logo em seguida. Pois Kurama parece sofrer uma grave vertigem e é amparado por Yusuke. Que questiona:

– O que foi Kurama, está passando mal?

– Não é nada, já está passando.

– Ah, corta essa. Tá na cara que tá rolando alguma coisa.

– Não se preocupe, deve ser efeito do miasma do mundo das trevas. Ainda não me recuperei totalmente da última batalha que travamos. Para ser sincero, de uns tempos pra cá está cada vez mais difícil manter a aparência humana. Acredito que chegará um dia em que isso não será mais possível e a face do Youko virá definitivamente à tona.

Logo que Kurama se reestabelece, eles continuam seu caminho.

Não longe dali uma jovem assiste de cima de uma árvore a onda imensa de youkais cruzarem o céu. Não é possível ver com clareza quem é a figura misteriosa que os observa com ares de que vai segui-los, apenas o que se subentende é que trata-se de uma mulher, pois está vestindo uma espécie de larga saia amarrada por uma grossa corda na cintura.

Pouco depois, o trio se encontra em meio a dezenas de Youkais, sendo estes os antigos servos de Raizen. Hokushin, Nankai, Touou e Seitei são aqueles que primeiro os recepcionam. A princípio com preocupação, mas logo expressam um caloroso sorriso quando têm a notícia de que tudo no Ningenkai também já está em paz.

Ao ver Yusuke na companhia de Hiei, Nankai comenta:

– Esse filho de Raizen é osso duro mesmo. E parece cada vez mais forte sempre que o vemos, e seus amigos não ficam para trás.

Logo eles são guiados por Hokushin até a entrada do castelo, e dali, até a presença de Enki.

Em um grande salão, Enki aparece cercado de “assessores” e mostra-se muito atarefado. Mas quando avista o grupo (ao atravessarem a porta), este dispensa todos os seus compromissos para lhes dar a devida atenção.

– Mas olha só quem chegou! Olá Yusuke, como estão às coisas na terra?

– Ah, olá Enki, há quanto tempo. Foi um verdadeiro quiprocó. Mas finalmente tudo se resolveu, nós arrasamos o tal do Daito, e que luta meu irmão! Mas agora o jeito é esperar a poeira abaixar e as coisas se acalmarem outra vez.

– Mas quem o derrotou afinal? Aquele sujeito deveria ser muito forte. Nós sentimos sua energia daqui.

– Quem o derrotou foi eu mesmo.

Com simplicidade, Urameshi diz essas palavras e todos no salão o olham com surpresa e orgulho, pois ele é realmente um cara incrível, só não se dá conta disso. Yusuke estava ficando cada vez mais forte, e sua vitória só afirmava isso de fato.

Irritado, inquieto e impaciente, Hiei se mostra visivelmente preocupado e quebra o clima de alívio dizendo:

– Chega de papo furado, o que houve com Mukuro afinal?

Kurama toma a palavra dizendo:

– Verdade, nós estivemos no local da batalha em Alaric antes de vir para cá, mas não restava nada a não ser pedaços de uma de suas fortalezas móveis. Não havia ninguém por lá.

Abruptamente a chegada de Mukuro por uma escada lateral é notada por todos. Tão diferente do que imaginavam, ela não possui ferimentos graves. Apenas escoriações após sua batalha com Daito. Havia sim, sido derrotada, mas por ter sido posta inconsciente por um golpe de sorte. E ficou sob os escombros após uma grande explosão. Deixando claro que tudo pode ocorrer quando se trata de uma luta, mesmo entre pessoas com um poder tão grande.

– Estou aqui Hiei. Não vou dar desculpas a vocês, eu realmente vacilei, e aquele maldito Youkai acabou tendo uma chance de atravessar para seu mundo. Quando despertei, Enki me levou a acreditar que vocês poderiam dar conta do recado. E vejo que não o decepcionaram.

Um tanto constrangido e disfarçando o alívio que sentiu ao vê-la bem, Hiei permanece calado nos minutos seguintes, apenas ouvindo o restante da conversa. 

Enki logo quebra o gelo dizendo à Yusuke:

– Que bom que tudo deu certo. Você está ficando muito forte rapaz.

– Né não, um cara daqueles agora é fichinha pra mim.

Yusuke de maneira engraçada, toma para si méritos maiores até do que seu próprio ego, enquanto Kurama entra na conversa esclarecendo tudo.

– O Yusuke realmente está mais forte, mas Daito não havia se recuperado da batalha contra Mukuro e foi isso que contou bastante. Agora, Enki, fiquei intrigado com o fato de não termos avistado as hordas de Youkais que foram seladas deste lado da barreira logo que chegamos.

– Bom, enquanto vocês guerreavam por lá, estivemos ocupados em batalha por aqui também. Foi assim que dissipamos os Youkais logo que a barreira foi selada novamente.

– Ah, então foi isso. Eu já imaginava. 

– Sim, mas confesso que o clima entre os Youkais anda muito tenso desde então. Essa crise desencadeou muitos problemas, todos estão alvoroçados. Estou até pensando em antecipar o próximo torneio para acalmar os ânimos, antes que as coisas piorem. Se não tomarmos cuidado, essa crise pode se tornar o princípio de uma nova grande guerra. Neste momento, não sabemos sequer se o Reikai vai manter os portões do Ningenkai abertos aos Youkais pacíficos depois de tudo o que aconteceu.

Um clima estranho toma conta do lugar.

Mas despertando a curiosidade de todos, Enki logo pergunta por que foi mesmo que todos vieram assim tão longe se as coisas já se acertaram no Ningenkai?

Prontamente e sem cerimônias, Yusuke lhes diz:

– Estamos indo até um lugar chamado Hametsu.

Aquelas palavras parecem ter forte significado, afetando todos ali, que se mostram surpresos e deveras confusos ao mesmo tempo. Um barulho alto é ouvido quando percebemos o momento em que até mesmo Kokou cai bruscamente do trono onde estava deitada durante todo esse tempo sem que ninguém ali percebesse antes. Ela se levanta de maneira desajeitada e junto com os outros grita em uníssono:

– HAMETSU!!?

Deixando um pouco aquele clima de surpresa de lado, nos vemos de volta ao Ningenkai por alguns momentos, onde o esperançoso Kuwabara corre às pressas para o hospital, porém se depara com o estado de Shizuru ainda inalterado. Ele olha para sua irmã inerte sobre a cama e depois para seu pai que a acompanhava naquele momento e lhe diz em voz reticente:

– O que eu vou fazer se ela não acordar?

– Seguir em frente filho. Seguir em frente.

– Como pode ser tão duro? Aliás, por que você não se faz tão pouco presente como de costume e se manda daqui?

Kazuma se entrega à tristeza e cegamente expulsa seu pai do local, sem notar que por baixo de seus óculos, as lágrimas também corriam em desolação.

De volta ao Makai, Enki finalmente se recompõe, mas ainda incrédulo questiona:

– Eu não entendo o que farão ali, pelo que eu soube, não existe nada em Hametsu, apenas ruínas e lendas. Por sinal, aquela região nunca foi devidamente mapeada, e por isso é conhecida por alguns como “o continente negro”, onde a escuridão do abismo simplesmente devora todos os que se atrevem a atravessá-lo. Isso se vocês não morrerem antes mesmo de chegar lá, então por que se arriscar numa viagem tão perigosa e longa indo para o meio de lugar nenhum?

Ouvindo tudo, Kokou se levanta e com ar de seriedade mesclada a irritação ela se aproxima dizendo:

– Eu já sei o que esses idiotas estão tramando. Deve ter sido Raizen quem andou contando histórias e mentiras a você antes de morrer não é mesmo moleque?

Kokou agarra Yusuke pelo colarinho e o olha diretamente nos olhos. Incomodado por estar cara a cara, ele nem sabe do que ela está falando e todos ficam curiosos sobre a situação. No instante seguinte, Urameshi toma a palavra dizendo:

– Acreditamos que aquele desgraçado do Daito veio deste tal de Hametsu. Pois ele não parava de falar desse lugar. Mas além disso, eu não acho que ele estava sozinho nessa. Pelo que entendi, as ordens para atacar o Ningenkai vieram de uma outra pessoa. Eu só quero é acertar contas com este filho da mãe seja ele quem for, por tudo o que fez ao nosso mundo.

Yusuke parece muito sério e suas palavras deixam um ar pesado no salão. Confuso e quebrando o silêncio, Nankai então questiona:

– Se não há nada neste lugar, porque é tão famoso então?

Ao que Kurama se atem a responder:

– Na verdade, há sim. Pelo menos é no que todos acreditam. Aquelas ruínas nos limites do mundo das trevas foram alvo de toda sorte de saqueadores ao longo do tempo. Eles acreditavam que Hametsu abrigava um grande poder, e a maioria deles, o queria a qualquer custo. Mas todos apenas acabaram pagando com suas vidas, pois nenhum nunca retornou de lá a salvo, encontrando apenas o seu próprio fim. Por isso o local é tão temido, mesmo entre os Youkais mais antigos.

Neste momento, Yusuke observa Kurama pelo canto do olho, desconfiado. Ele sabia que Kurama havia estado em Hametsu e que havia voltado. Então por que estava mentido? Ou não estava? Seu pensamento porém, logo é interrompido.

– É isso mesmo, você só se engana sobre uma coisa.

Kokou toma a palavra fitando o chão. Ela parece incomodada, mas continua dizendo:

– Uma pessoa já esteve em Hametsu e conseguiu sair de lá vivo: Raizen.

Todos se surpreendem com tais palavras e Enki logo a questiona:

– Do que está falando querida? Você sabe de alguma coisa?

– Certa vez, Raizen me contou algumas histórias. Ele estava muito bêbado, e me parecia angustiado com alguma coisa. Eu não me lembro de tudo, pois isso já faz muito tempo e eu pensei que fossem só lorotas de um bêbado. Mas me lembro do momento em que Raizen me disse isso: Disse que já estivera em Hametsu. Que aquele lugar é dominado por criaturas que parecem saídas do seu pior pesadelo e que ele vagou por anos até encontrar a luz novamente. Eu não acreditei muito a princípio, pois ele sempre fazia esse tipo de coisa e depois vinha com aquela cara sacana de idiota, mas naquele dia foi diferente, sabe. Ele estava sério ao falar de Hametsu, um abismo de escuridão cuja simples lembrança o fez suar frio bem na minha frente. Justo ele.

Engolindo a seco, Hokushin balbucia:

– Certamente isso é algo que não poderia ser esquecido.

Continuando, Kokou diz coisas ainda mais absurdas:

– Ele sempre me dizia que as pessoas já nem se lembravam mais de por que ele começou a ser chamado de “Toshin”. Acho que tinha algo a ver com aquele lugar. Onde mesmo ele, teve de lutar para sobreviver.

Neste momento porém, ouve-se um terrível barulho de asas batendo, como se fosse um grande enxame de gafanhotos. Até que pelo teto e pelas paredes, as criaturas enviadas por Yajima invadem o salão onde Yusuke e seus companheiros se encontravam, atacando a todos.

Um grande conflito começa, mas rapidamente percebe-se que os Youkais alados não tem condição alguma de vencer a turma ali reunida. Ainda assim, o número absurdo de adversários que invadiu o lugar em turbulenta revoada começa a irritar Hiei e os outros.

Rajadas de golpes passam de um lado para o outro, Kurama brande seu chicote e executa acrobacias para desviar das inúmeras investidas. Sem dificuldade alguma Mukuro rasga um número sem fim de criaturas, quando já sem paciência, Yusuke lança um Reigun enorme que explode na parede do interior da edificação, arrastando pelo menos uma dezena de inimigos através dos céus do Makai. Com terrível força, Enki golpeia todos que passam pelo seu caminho, enquanto às gargalhadas, Kokou esmaga impiedosamente  monstruosas criaturas.

– Chega dessa palhaçada. Eu mesmo vou lidar com essas criaturas medíocres. Diz Hiei enquanto sua espada incendeia em chamas negras.

E num átimo, como um relâmpago, Hiei praticamente se torna um vulto em meio ao campo de batalha, onde poucos conseguem segui-lo com os olhos, e menos ainda conseguem vê-lo com perfeição. Enquanto ele atravessa o salão, o brilho de sua lâmina é o que indica onde ele está realmente, para em seguida, o restante dos monstros tombarem ao chão carbonizados.

– Calma Hiei, pra que essa pressa toda! Justo agora que eu tava esquentando. Ironiza Yusuke com seu sarcasmo costumeiro.

No momento seguinte, todos notam em meio ao mar de cadáveres a presença de uma jovem youkai baixinha, vestindo uma saia com uma corda amarrada em sua cintura, pulseiras, tornozeleiras e uma espécie de faixa na testa que está impedindo seus cabelos de caírem sobre seus olhos. Era como se ela tivesse surgido do próprio ar, visto que ninguém havia percebido sua chegada ao local. Ao que Yusuke lhe questiona:

– Quem diabos é você?

Mas antes mesmo que ela responda, e tomado pelo calor do momento, Hiei erroneamente pressupõe o pior e logo lhe explica:

– Olhe bem Yusuke, veja as marcas dela, não percebe? Ela é como você. Deve fazer parte do grupo sob o comando de Daito!

A youkai sem cerimônias, afirma:

– Sim, eu sou como você. Também sou uma Mazoku.

– O que!? Questiona-se Yusuke estarrecido. E em apenas um segundo, antes mesmo que ela diga qualquer outra coisa, uma imensa fúria toma conta do seu ser. Urameshi caminha até a Youkai com furor, e com força, lhe segura pelo pescoço e a esgana contra a parede. Erguendo-a com os pés pendurados no ar, ao que vemos em seu olhar uma sombra aterradora.

– É muita ousadia sua vir até aqui. Olhe ao seu redor, achou mesmo que teria alguma chance de me atacar neste lugar?

Incapaz de responder, ela apenas engasga em sua própria saliva enquanto agoniza. Ao que Yusuke continua:

– Os seus mestres tem de entender, que eles não precisam vir atrás de mim. São eles quem deveriam se preparar, pois eu vou até as profundezas do inferno se for preciso para resolver essa bronca.

Em meio aos que estavam presentes, alguém grita:

– Ele vai matá-la!

Mas a Youkai ainda possui muito fogo em seus olhos, e com as mãos, golpeia o antebraço de Yusuke forçando-o a dobrar o cotovelo, o que faz com que ele a largue por um momento. No instante em que toca o chão, ela reage rapidamente e com ferocidade, fere seu peito com uma de suas mãos abertas num ataque devastador.

Yusuke é empurrado para trás bruscamente pela força do golpe, como se tivesse sido varrido por uma tempestade ou como se tivesse sido atropelado por um caminhão. A pressão do golpe é tanta que ele chega a atravessar uma das paredes do interior do castelo. Diante daquilo, todos ficam estarrecidos com a cena, e se preparam para a batalha.

Fim do episódio ...

Eu não conheci o outro mundo por querer!
Eu sei que meu coração, agora dói ...

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