sexta-feira, 20 de setembro de 2024

27 - ETERNAMENTE YU YU HAKUSHO

 EM BREVE ...

26 - ETERNAMENTE YU YU HAKUSHO

EPS – 26 LAMENTOS NA ESCURIDÃO

As rajadas frias dos ventos do Makai assobiavam inquietantemente e varriam a paisagem desolada até que num rompante, Hoozen se ergueu do chão. Seu olhar outrora vazio, agora carregava uma ira desenfreada e em sua face, via-se que ela estava desesperada e mais perigosa do que jamais esteve.

 Não! Eu não vou deixar que tudo isso tenha sido em vão!
Bradou ela, avançando em sua direção.

Com uma velocidade surpreendente, as garras afiadas de Hoozen rasgaram violentamente o corpo de Yusuke, arrancando dele um pedaço de carne da região próxima às suas costelas. Seu sangue esguichou e em seguida molhou o chão, ao mesmo tempo em que Yusuke se esquivou evitando a morte certa no derradeiro instante.

Mesmo sentindo uma dor aguda, ele permaneceu firme, e novamente se transformou, retirando forças ninguém sabe da onde para assumir momentaneamente sua forma Toshin mais uma vez.

Seu corpo brilhou intensamente quando ele, em um piscar de olhos e com um único movimento brutal, acertou um soco devastador nas costas de Hoozen, enviando-a de volta ao chão com uma força esmagadora. O impacto foi tão violento que toda a terra ao redor dela estremeceu.

Quando a poeira misturada à fumaça, por fim, se dissipou, Yusuke conseguiu ver a figura feminina do corpo de Hoozen se destacar ao centro da pequena cratera. Mas agora, sem forças, aquela formidável oponente se contorcia no chão.

Mas, com um sorriso sádico em seu rosto, Hoozen ainda segurava firmemente o pedaço de carne ensanguentado em suas mãos, e o ergueu em triunfo dizendo:

 Pelo menos um pequeno pedaço de você eu levarei comigo! Espero que seja o suficiente para Uragami terminar o que começamos.

O findar da batalha atraiu então uma multidão de curiosos, os sobreviventes da vila Mazoku que se aproximaram rapidamente em pequenos grupos ainda em tempo de ver o seu derradeiro desfecho. Dentre eles estavam Hiroshi e o ferreiro Tsujimura, ambos ainda vivos, provando que parte do que nossos herois testemunharam com seus olhos foi realmente uma ilusão criada por Sayaka.

Após receber pelas costas o ataque devastador de Urameshi, Hoozen agora agonizava no chão tentando se firmar para se colocar de pé, mas completamente sem forças.

Ainda assim ela lhe rugiu ameaças logo que ele se aproximou, dizendo:
 Para trás maldito. Eu ainda posso acabar com você!

 Não, não pode. Essa maldita luta já terminou. Você está acabada, assim como muito em breve irá acontecer aos que restam da sua laia. Vocês massacraram centenas de pessoas no meu mundo buscando este poder, mas como eu disse, agora tá na hora de pôr um fim a toda essa loucura. Vocês vão receber o castigo que tanto merecem.

Ouvindo essas palavras, mas sem nem mesmo se abalar com o peso de tais verdades, Hoozen não se segurou e deliberadamente soltou mais uma gargalhada insana. Depois, em tom mais provocativo lhe disse enquanto apontava para o velho Hiroshi e para os moradores da aldeia que vinham chegando:

 Se é você quem nos levará ao fim, então é melhor que esteja pronto para acabar com todos eles também. Pois já que você nos odeia pelo que nós fizemos, também irá odiá-los pelo que farão. Neste momento, eles certamente também estão planejando o seu fim. Você precisa entender garoto, isto nunca vai acabar, não até alguém abrir novamente aqueles portões.

Confuso, mas demonstrando certa preocupação, Yusuke tentou se convencer do contrário ao lhe dizer:

 Acha mesmo que eu vou cair nessa sua conversinha a essa altura do campeonato, minha filha? É mais idiota do que eu pensava. Quer mesmo me voltar contra os únicos que me estenderam a mão? Escuta aqui, o velho Hiroshi disse que vai extrair essa coisa maldita de dentro de mim, antes que isso me mate.

Mas após uma nova gargalhada zombeteira, com seriedade em sua voz, Hoozen lhe disse:

 Não, aquele velho maldito estava apenas te enganando. Ele certamente não vai expurgar o estigma de dentro de você sem matá-lo, pelo simples fato de que isto é impossível seu imbecil! Além disso, essa energia é valiosa demais para qualquer um deixá-la evaporar e desaparecer. O que Hiroshi deseja de verdade é extraí-la, para depois utilizá-la em si mesmo ou em qualquer outro Mazoku. Mas no processo, não tenha dúvidas, isto definitivamente irá matá-lo. E eu ainda vou estar aqui para ver isso. Aliás, pelo visto, os seus dias já estão contados de qualquer maneira. Você não passará de hoje. hahahahaha.

Em choque e virando-se com furor em direção à Hiroshi, Yusuke buscou em sua face uma resposta, uma certeza de que tudo aquilo que ela havia lhe dito não era verdade. Mas para seu desapontamento, o senhor Hiroshi apenas abaixou a sua cabeça com constrangimento, escondendo a vergonha de ter que fitar diretamente os seus olhos.

 Me desculpe Yusuke, mas realmente não há nenhuma outra maneira de te ajudar. Até onde sabemos, esta energia ancestral só pode ser passada naturalmente de pai para filho, ou ainda, se ela for extraída por alguém da linhagem Mazoku através da morte de um verdadeiro Toshin. Como você recusou a minha oferta para se tornar o nosso novo rei e se mostrou incapaz de dominar essa força, imaginei que, pelo menos, poderíamos fazer bom uso dela quando você partisse. Talvez, transferindo o estigma para a jovem Darla.

Com perplexidade, Urameshi então mudou seu tom e fez a seguinte pergunta:

 Quer dizer que você é só mais um destes desgraçados que me querem morto? O que tá acontecendo aqui afinal velho maldito? Em vez de me ajudar, você planejava apenas me dar o golpe de misericórdia quando eu estivesse perto do fim?

 Eu sinto muito, mas essa é a mais pura e dolorosa verdade. A única dúvida que me restava era apenas decidir como faria para extrair seu sangue ainda quente para abrir as portas de Hametsu.

Tsujimura então, toma a palavra e disse:

 Infelizmente, você já está condenado filho, então nos deixe pelo menos utilizar o seu poder para recuperarmos a grande dádiva e o paraíso em que vivíamos no passado.

Arrepiando-se dos pés à cabeça e agora desiludido com tudo, Urameshi cerrou seus dentes e deixou transbordar através de si toda a sua ira. Ele ergueu seu punho e apontou o dedo indicador em direção a Hiroshi e à multidão, que num movimento de onda, ficaram imediatamente apavorados. Em seguida, concentrando suas monstruosas energias, Yusuke se preparou para manifestar toda a força do seu Leigun.

Mas antes mesmo que disparasse, Yusuke lhes disse:

 Então, quer dizer que você acha mesmo que algum de vocês é capaz de lidar com toda essa energia? Pois bem, se querem ela tanto assim, então toma ela pra vocês!

No momento em que lançou seu poderoso leigun, Yusuke foi inesperadamente empurrado por Darla que mesmo gravemente ferida, conseguiu se arrastar até ali e se lançar contra ele tentando evitar o pior. A imensa bola de energia passou rente à multidão, vitrificando a areia no solo antes de explodir dezenas de metros atrás deles gerando o estridente som de um trovão, que os fez estremecer, antes mesmo de serem recobertos pela espessa cortina de poeira que logo em seguida se formou.

No campo de batalha, Yusuke agarrou Darla pelo pescoço e então lhe disse:

 Você! Malditaaa!!! Mentiu na minha cara o tempo inteiro. Eu sabia que não deveria ter confiado em nenhum de vocês.

Se esforçando para não ser esganada, Darla implorou por sua vida dizendo:
 Por favor … Yusuke, não faça isso. Você … não entende.

Neste momento, Hiei e Kurama também se aproximaram dele e testemunharam o desfecho dos acontecimentos. Eles não disseram nada, mas Yusuke os fitou pelo canto do olho por um momento.

Observando então fixamente dentro dos seus olhos enquanto expressava em sua face um intenso furor, ele finalmente retomou o controle de si e largou Darla no chão enquanto apenas urrava de irritação caminhando em círculos pelos arredores como se fosse um animal.

De repente, Yusuke se lembrou de Hoozen e buscou a presença de sua inimiga com o olhar, pensando em acabar com a sua vida, mas percebeu naquele momento que ela já não está mais ali. E cada vez mais irritado, disse para si mesmo:

 Como diabos tudo isso foi me acontecer? Como isso é possível? Para onde foi aquela maldita?! Desgraçada de nove vidas do cacete! Você vai morrer! Não importa onde estiver, tá me ouvindo? Ferida como estava eu sei que você não deve ter ido muito longe.

Após tossir um bocado, Darla lhe falou com firmeza:

 Você é incapaz de entender o que é este poder e o propósito da nossa existência Yusuke. E nem mesmo percebeu que está renegando a sua própria natureza youkai. Você tem em suas mãos a única chave que poderia fazer com que tudo fosse diferente, mas ao invés de usá-la, vai deixar que isto simplesmente lhe escape, o destrua e desapareça para sempre. Você jamais será um Mazoku de verdade. Então é melhor que parta … todos vocês.

Cerrando os dentes com força mais uma vez enquanto se segurava para não explodir tudo, Yusuke virou as costas a todos e saiu caminhando sozinho a passos firmes e vagarosos.

Quando questionado por Kurama quanto ao rumo do seu destino, Yusuke surpreendeu a todos apenas ao dizer:

 Se todos querem que eu abra aquele maldito lugar chamado Hametsu, é isso mesmo o que eu vou fazer, vou escancarar as portas daquela porcaria. Mas não antes de acabar com cada um dos desgraçados que estavam ligados ao Daito.

Yusuke sai caminhando do local, seguindo a direção das poucas pegadas manchadas de sangue deixadas por Hoozen na areia antes de desaparecer. Atrás de si, um a um, seu grupo também se movimentou junto com ele, sem dizer nada para Darla, nem mesmo, uma única palavra de adeus. Tristemente, a breve e conturbada relação de amizade que havia se formado entre eles, acabava ali.

Enquanto Yusuke se afastava dos destroços da vila, todos ficaram em silêncio. Mas este foi cortado pelo choro abafado de uma criança perdida de seus pais que estava misturada entre os sobreviventes, cujos olhos refletiam toda a destruição ao seu redor.

Aqueles Youkais agora, vagariam sem rumo, carregando o peso de um futuro incerto e na memória, o lamento pelo que foi perdido. Naquele dia, a tristeza se fez presente, não apenas no céu nublado, mas nos corações daqueles longevos youkais que testemunharam o fim de tudo o que conheciam. A tragédia ocorrida ali, ecoaria nos corações do clã Mazoku para todo o sempre.

Um pouco mais tarde, diante das ancestrais ruínas de pedra que estão ao centro das imensas muralhas de ossos que separam o mundo das trevas de tudo mais que há além, no universo desconhecido; Uragami se viu estupefato e apreensivo ao testemunhar as portas de Hametsu começarem a estremecer de uma maneira assustadoramente alarmante enquanto emanava de seu interior, gases sepulcrais.

Além dos diversos fragmentos que se desprenderam com tamanha trepidação, naquilo que mais se assemelhava a um intenso terremoto, um dos enormes pilares de pedra que sustentava parte da gigantesca estrutura se soltou e acabou por desabar até o chão, onde se quebrou em outros três pedaços menores.

Nervoso, Uragami questionou:

 É inacreditável! Os espíritos que vagam na escuridão estão empurrando as portas de dentro para fora! Eles intentam romper o limite entre o real e o sobrenatural. Sabem que alguma coisa poderosa está vindo.

Ao fitar o caminho mais a frente, observando o horizonte, Uragami se viu novamente surpreso quando sua atenção se voltou para a chegada de Hoozen. Gravemente ferida, ela se arrastou até ali, cambaleando com dificuldades. Num pedido desesperado de socorro ela então implorou:

 Me ajude ... arghh ...Uragami.

Mas antes mesmo que lhe fosse possível se aproximar da garota, o puído Mazoku viu um intenso clarão cortar os céus rapidamente em sua direção enquanto tomou a forma de uma imensa esfera de energia. O poderoso leigun disparado por Yusuke, queimou e dilacerou a terrível guerreira Hoozen em apenas um segundo, ao desintegrá-la completamente numa colossal explosão bem à sua frente.

Aquele era definitivamente o fim daquela formidável adversária (ou, pelo menos, era nisso que Yusuke acreditava), visto que ela foi transformada em cinzas após ser seguida e usada por Urameshi para que este pudesse rastrear Uragami, que por sua vez, estava apenas começando a conhecer a fúria de seu inimigo e o terror que viria a ser enfrentá-lo.

O velho general Mazoku, com arrogante rispidez, ignorou completamente o ocorrido e vendo Yusuke surgir em meio à poeira levantada lhe dirigiu ofensas, mesmo a esta altura:

 Então, você veio. Teve realmente a coragem de vir até aqui mesmo sabendo que era exatamente isso o que queríamos desde o princípio. Jamais vi tamanha estupidez em todos estes séculos.

Vivenciando um turbilhão de emoções, mediante o medo da morte que se aproxima, com seus pensamentos direcionados à Keiko (que ele provavelmente nunca mais tornará a ver) e extasiado pelo volume massivo de poder que transbordava de seu corpo, Yusuke, possesso e já quase fora de si, lhe respondeu com grosseria:

 Eu vim até aqui para dar fim a tudo isto seu animal. Vocês não deveriam ter me tirado do sério. E se quer saber, não vai haver perdão agora, mesmo que você me implore de joelhos.

Ainda irritado com a destruição causada por Daito, e pelo que aconteceu à Shizuru; juntando tudo isto ao sentimento que carregava desde que viu os currais humanos que são usados para alimentação dos Mazokus, Urameshi viu na atual situação uma oportunidade rara, senão, única de extravasar toda a sua fúria e acabar de uma vez por todas com a última peça que faltava dessa associação de malfeitores que lhe causou tanto sofrimento.

Sem mais delongas, e com apenas um grito, ele declarou o destino de seu adversário:
 É o seu fim miserável, você também irá morrer!

No instante seguinte, após um rápido movimento, Urameshi disparou em direção à Uragami como se fosse uma bala, e abruptamente quase atravessou seu peito com uma de suas mãos nuas, cravando em meio ao seu tórax, todo o seu punho num soco brutal.

A cena foi deveras horrível, mas ignorando completamente o imenso buraco aberto em seu peito, Uragami expôs seus dentes amarelos num sorriso enfadonho sob o grosso bigode antes de golpear Urameshi de volta com a mesma selvageria, empurrando-o para trás por vários metros para bem longe de si.

Depois disso, seguiu dizendo:
 E quem foi que lhe disse que a morte é realmente o fim garoto?

Enquanto estancava o sangramento com uma das mãos e regenerava rapidamente o ferimento em seu corpo ao manifestar seus poderes, Uragami disse em voz alta:

 Eu sou o senhor da vida e da morte, não só possuo o dom de curar a carne como também o de manipular espíritos. Eu sinto cada uma das almas que estão ao nosso redor. E é por isto que eu sei que o nosso verdadeiro rei Suizen, não está morto, mas sim, apenas aprisionado ali dentro, naquele mundo de trevas sombrio. E eu quero que você saiba que há mais alguém aqui neste lugar, na verdade, há muitas almas atormentadas e uma delas busca vingança especificamente contra você.

Estendendo sua mão direita para frente, Uragami esconjurou palavras indecifráveis enquanto sua Magatama de jade era tomada por um brilho intenso e misterioso. Ele parecia fazer grande esforço para manifestar seja lá o que estivesse fazendo, quando, da cratera formada por Yusuke assim que matou Hoozen, ergueu-se uma monstruosidade negra do solo a meia distância entre Uragami e onde Yusuke estava. A cena em si foi aterradora, tal qual a criatura surgida dali. Uma mistura de pó de rochas, sangue e energia tomou o aspecto humanoide de uma mulher e quando ela se viu finalmente completa, inegavelmente apresentava as mais marcantes características e peculiaridades de Hoozen.

Apesar de seu semblante assustador, o intenso brilho que transbordava de seu interior deixou claro que se tratava apenas de uma alma acorrentada ao plano físico, era a alma da própria Hoozen que estava reencarnada ali, animando aquele golem sepulcral.

Emanando uma energia sombria, intensa e uma aura repleta de rancor e asco, a criatura se mostrou quase ignóbil e incapaz de pronunciar uma única palavra. Mas seu invocador tomou este ato para si enquanto brincava e manipulava alguns outros espíritos que se manifestaram em torno de seu corpo com as suas mãos.

Ele então completou o que dizia:

 Não filho de Raizen, a morte não é o fim. Isto nunca vai ter fim. Após extrair o que preciso de você, sua alma será torcida e dilacerada em minhas mãos. Uma agonia jamais experimentada por você até então.

Essas ameaças se tornaram o estopim que fizeram com que a cabeça de Yusuke finalmente explodisse num acesso de raiva inimaginável. Inicialmente tremendo, ele libertou tudo o que sentia de uma única vez numa espiral de energia destrutiva ao seu redor. E o que vimos a seguir foi um Urameshi transbordando ódio como nunca vimos antes.

Ele disparou mais uma vez em alta velocidade, mas seu golpe foi interceptado pela criatura que Hoozen se tornou. Ela firmou seus pés no chão e segurou seu poderoso soco com apenas uma de suas mãos, estando Yusuke ainda no ar. Por não mais de um segundo, Urameshi fitou o olhar macabro da criatura e em seguida, o vimos travar uma troca absurdamente rápida de golpes que mal pôde ser acompanhada com o olhar. A potência de seus golpes chegou a ser sentida através das ondas de choque e dos estrondosos trovões que ecoaram por todo o lugar.

Mostrando uma hostilidade inimaginável, Yusuke despedaçou um dos braços da criatura com o próximo soco que desferiu antes de uma breve pausa no combate que se iniciou entre eles. Ambos, agora, se encaram frente a frente. Logo, Uragami saltou sobre Hoozen e tomou a dianteira no combate enquanto o braço da golem amaldiçoada se regenerava, extraindo do solo e da escuridão, tudo aquilo de que precisa para se refazer.

Uragami também mostrou habilidades de combate inacreditáveis, ao desferir pesados golpes contra Yusuke. Sua postura, de base bem mais firme que a dos demais, mostrou por que ele era um líder entre os Mazokus, e como tal, não era de se espantar que fosse por menos.

A primeira investida de Yusuke contra ele foi defendida com maestria e precisão e cada contragolpe dispersou e distorceu o vento ao seu redor como se fossem os estálidos de uma chibatada, porém com o peso igualável ao de uma carreta. Rapidamente surgiram marcas avermelhadas nos braços e no peito do Yusuke, claras lesões causadas pela força absurda dos seus golpes.

Quando Yusuke pensou em revidar com mais velocidade e força, Uragami recuou e foi substituído na linha de frente por Hoozen. Essa troca de posição entre eles ocorreu outras duas vezes nos minutos de combate que se seguiram. Até que Yusuke, enfurecido, resolveu lutar ainda mais a sério.

Ele avançou contra Hoozen e lhe desferiu uma sequência inacreditável de golpes no abdômen, a criatura não parecia sentir dor, mas se desdobrou ante o impacto dos golpes, que foi algo tão intenso que chegou a ser entrecortado por raios elétricos, advindos da fricção dos seus punhos com o próprio ar. Partes do corpo da criatura começaram a rachar e a desaparecer, sendo desintegradas no ar por aquilo que mais parecia um triturador humano.

Até que em dado momento, Yusuke a agarrou pelo pescoço e lhe desferiu uma cabeçada absurdamente poderosa que lhe empurrou por muitos metros para trás.

Infelizmente, a criatura que Hoozen se tornou começou a se restaurar imediatamente após a metralhadora de golpes. E quando Yusuke pensou em dar sequência ao ataque, foi envolvido e paralisado por uma estranha sensação que parecia lhe dilacerar a própria alma.

No chão em volta de si, Yusuke viu surgir um círculo mágico, e como se inúmeros filetes de vidro estivessem se movendo sob a sua pele, Urameshi foi tomado pela sensação de formigamento e por uma dor inimaginável.

Do seu lado, surgiu Uragami, rodeado por uma aura esverdeada de energia tentando extrair seu espírito à força enquanto utilizava de sua Magatama de jade. Ele “queimou” grande parte de seu poder interior tentando segurar a alma de Yusuke, enquanto disse:

 É chegada a hora garoto! Me entregue essa força que está dentro de você, esta energia que fora tão desejada e que irá trazer de volta a este mundo o seu verdadeiro soberano.

Uragami em seguida, fez um extraordinário esforço para mantê-lo sob controle enquanto Yusuke obviamente resistia com toda a sua força. Distraídos com a batalha, eles ignoraram os indivíduos que neste momento, chegaram ao local, também conhecidos como: Kurama, Mukuro e Hiei. Eles rapidamente se posicionaram numa rocha entrecortada por raízes que havia nas proximidades. E vendo a gravidade da situação, Kurama logo se adiantou em dizer:

 Não deveríamos ajudá-lo?

Ao que, despreocupado, Hiei lhe respondeu:

 Ajudar a quem? Observe melhor o Yusuke, ele está transbordando energia mais uma vez, essa aura dourada é uma força infinita, eles são quem estão muito ferrados. Aquele cara ali logo logo vai morrer. Tá na cara que está fazendo um esforço violento para segurá-lo.

Lá embaixo, as palavras de Hiei se confirmaram, visto que Urameshi agonizava e sangrava através de sua pele, mas estava tão poderoso agora que facilmente se libertou das influências de seu inimigo, quando liberou inesperadamente, um volume impressionante de energia que varreu absolutamente tudo o que se encontrava ao seu redor e fez a Magatama de jade de seu adversário se partir.

Yusuke, respirou com dificuldades como se fosse um animal enfurecido e antes que fosse capaz de dar o próximo passo, teve sua mente invadida mais uma vez pelo inimigo que se oculta nas sombras de Hametsu. Sussurrando algo quase inaudível, aparentemente seu nome, ele insistiu para que ele abrisse as portas de Hametsu, ao que Urameshi simplesmente dispersou sua manifestação liberando ainda mais poder, no mesmo instante em que gritou a plenos pulmões:

 Espere a sua vez maldito! Sua hora ainda vai chegar, Suizen! Eu prometo. Arrrggghhh!

Neste momento, Hoozen atacou por cima, se arremessando de corpo inteiro contra Urameshi num chute brutal, que foi defendido por ele utilizando seus dois braços. O impacto por si só foi muito forte e fez tremer todo o chão, mas Urameshi se mostrava inabalável agora, expondo uma crescente de poderes cada vez maior. Ela porém, nem mesmo caiu, e se recuperou ainda no ar, partindo para uma nova investida de ataques rápidos, que foram combatidos com furor pelo jovem Urameshi.

 “Desapareça daqui!” Disse Yusuke, quando golpeou brutalmente o rosto de sua oponente, arrancando nada mais, nada menos que metade de sua face, empurrando-a mais uma vez por dezenas de metros para trás.

Desta vez, a reconstrução da criatura se mostrou muito mais lenta, indicando que Uragami realmente estava ficando sem energias. O esforço para mantê-la ativa num combate de tão alto nível deveria ser inegavelmente desgastante para o velho. Por hora, Yusuke se sagrava superior aos dois, mas, por trás de si, o antigo líder do grupo de Mazokus espreitava numa nova tentativa de atingi-lo de surpresa.

Urameshi, porém, percebeu sua presença e o interceptou no momento exato em que um golpe covarde contra si seria desferido, frustrando seu ataque e agarrando-o pelo pescoço com toda a sua força.

Yusuke então o esganou com uma de suas mãos e o arremessou contra o solo com brutalidade no instante seguinte. Tomado por furor, ele energizou seu punho enquanto dizia:

 Você se cura rápido, mas ainda sente dor não é mesmo?

Em seguida, desferiu um poderoso soco contra seu adversário que estava caído no chão. O golpe foi tão brutal que sua caixa torácica simplesmente afundou para dentro de si mesma. Ele o observou agonizar por alguns segundos enquanto Uragami se regenerava. E em seguida, desferiu um novo soco igualmente violento. Depois outro, e mais um, seguido de uma chuva de golpes cada vez mais agressivos e brutais.

Neste ponto, sua selvageria era inigualável. Aquele não parecia o Yusuke. Ele estava completamente fora de si. A batalha havia sido rápida, mas aparentemente culminara em seu fim. Os poderes regenerativos daquele youkai não eram mais capazes de competir com a bestialidade demonstrada por Yusuke no status de um verdadeiro Toshin, que a cada golpe, transformava Uragami em algo muito mais parecido a um emaranhado de carne esmagada e distorcida.

Ao seu lado, Hoozen surgiu caminhando a passos vagarosos, incapaz de se reconstruir agora, ela definhou e desmoronou em punhados de terra a cada dano que era sofrido por seu invocador, logo, compartilhando consigo o mesmo destino: Ela simplesmente deixou de existir, transformada em um monte de cinzas e pó que se acumularam sobre o chão.

Cada golpe desferido contra Uragami, carregava o peso de um sentimento conflitante. O furioso Yusuke que vemos aqui poderia nunca mais tornar a dar as caras, mas naquele momento, ele tinha todos os motivos do mundo para se deixar odiar e perder o controle. E o que vimos ali foi exatamente isso, um Yusuke em pleno colapso.

Exalando ardentes vapores de seus punhos e completamente possesso por uma aterradora fúria, Yusuke se ergueu sobre o cadáver de Uragami, que se encontrava naquele momento, completamente esmagado e com o peito parcialmente aberto no chão. Estirado ali, ele agora estava irreconhecível. Yusuke se manteve assim, sobre ele, por mais alguns instantes enquanto tentava retomar o fôlego.

A cena anterior havia sido chocante, e deixou todos os presentes estupefatos. Mas concluindo que a batalha havia finalmente chegado ao fim, Kurama decidiu se aproximar cautelosamente, e tentando chamar a atenção de Yusuke e fitá-lo nos olhos, falou:

 Acabou Yusuke? Este é o fim? Ele está derrotado?

Ao que Yusuke agora, aparentemente aliviado após extravasar tudo o que sentia, apenas disse:

 Eu não sei ao certo. Esta “coisa” não para de se mexer.

Fitando o corpo no chão e as entranhas de Uragami que estavam de fora, Kurama constatou que ele ainda conseguia se mexer, mesmo que estivesse apenas se contorcendo de dor. Ao que disse:

 Não se preocupe, é apenas o poder regenerativo dele ainda tentando agir. Mas sem energia e no estado em que está, não vai mais a lugar algum. Sua capacidade de regeneração não vai ser capaz de salvá-lo desta vez, ela está apenas prolongando o seu sofrimento. Mas logo ele irá morrer.

 “Então que sofra”. Disse Yusuke enfurecido.

Vendo que Urameshi permanecia irritado, e com receio dele ainda estar tomado por aquela perigosa insanidade momentânea que demonstrou agora a pouco, Kurama tentou trazê-lo de volta com calma ao dizer:

 Está tudo bem Yusuke, isto finalmente acabou. Nós vencemos a batalha, e derrotamos todos eles.

Mas ainda tremendo e com uma voz rouca e anormal, como que tomada por um profundo desespero, Urameshi se irritou com sua frase e lhe respondeu com rispidez dizendo:

 Não! Eles me disseram repetidamente que isso nunca vai acabar. Disseram isso toda maldita vez que eu pensei que isso havia terminado. E essa é a verdade. Pois ainda tem mais um infeliz desgraçado que eu preciso derrotar. O cara que está me atormentando desde o momento em que eu pisei os pés no mundo das trevas: O miserável que está lá dentro, atrás daquelas portas!

Yusuke então começou a caminhar em direção às portas de Hametsu a passos firmes e vagarosos. Ao perceber suas intenções, Kurama lhe abordou com preocupação dizendo:

 Espere um pouco Yusuke, o que pensa que vai fazer? Não me diga que estava realmente falando sério? Este deveria ser o fim de nossa jornada. É isto, nós enfim estamos aqui, no limite do mundo das trevas onde a vida se mistura a morte e diante das portas do Yomi no kuni. Hametsu é o lugar mais antigo de todo o Makai, não vê? Essa é a chibiki no iwa, a pedra que sela o mundo dos mortos. Seria de mau agouro removê-la pois estas são literalmente as portas do próprio inferno, não há nada além a não ser espíritos amaldiçoados e o esquecimento, e nenhum deles pode chegar até você, nenhum deles pode chegar até nós. A gente já venceu, e isto que está pensando em fazer não é nenhuma brincadeira. Abrir aquelas portas pode levar a sérias consequências. Melhor deixar tudo isso de lado, como disse o Hokushin quando partimos. É hora de voltarmos para casa.

Mas caminhando firmemente sem dar ouvidos às suas palavras, Yusuke respondeu:

 Não, eu já vim até aqui e não vou voltar atrás justo agora. De que me importa tudo o que você disse? Olha pra mim, eu nem mesmo vou aguentar essa energia por muito mais tempo, então não há retorno. Eu quero o sangue daquele maldito desgraçado que se chama Suizen antes disso tudo acabar! Foi por causa dele que estes miseráveis ferraram tanto com a gente. Eu vou arrancar de uma vez este mal pela raiz que é para isto nunca mais tornar a acontecer.

 Não seja presunçoso Yusuke, você não sabe o que existe naquele lugar!

 Sei sim Kurama, eu sei sim. E pelo visto, você também sabe. É a mais profunda escuridão. Mas tá na hora de mostrar para aquele mundo de trevas a luz do meu Leigun! Se era o meu sangue que eles queriam para abrir essas portas, é isto o que vão ter.

Olhando para o seu próprio punho, que está recoberto pelo sangue de seus ferimentos, Yusuke completou o que dizia ao gritar com furor:

 Toma aqui o meu sangue seus malditos!

Com um soco poderoso direcionado à grande porta que selava aquele lugar, Yusuke fez estremecer mais uma vez as estruturas da gigantesca muralha, salpicando com seu próprio sangue as portas do enigmático recinto. Elas inicialmente brilharam de maneira resplandecente, mas depois, foram tomadas pelo negrume mais profundo da escuridão que irrompeu através das fendas abissais até a luz do dia. Saindo dos mais terríveis pesadelos, para o nosso mundo material.

O fluxo de energia que vazou do seu interior foi algo jamais visto e rapidamente se estendeu por quilômetros a partir do ponto em que estavam. Em seguida, as portas se escancararam de vez e do interior daquela região maldita, vimos centenas de espíritos impuros e ancestrais ganharem a liberdade numa dança macabra que foi embalada por seus gritos mórbidos e lamentos sepulcrais. Era como se tivessem aberto a própria caixa de pandora, como se tivessem libertado todas as almas obscuras que se encontram em danação no próprio inferno.

Atravessando a poderosa tempestade e o fluxo intenso de almas com o peito aberto e a passos vagarosos, Yusuke se esforçou para atravessar a passagem obscura e chegar até o interior do recinto. Enquanto queimava com a sua própria Youki, todas as almas amaldiçoadas que tentavam se aproximar dele. Urameshi então, avançou com toda a sua coragem para o âmago da escuridão em busca da batalha derradeira.

Lá fora, o grupo tentou se proteger como pôde da avalanche de almas perdidas que se espalharam por todo o lugar e avançaram contra eles num fluxo que parecia não ter mais fim. Mukuro logo descobriu que seus poderes dimensionais eram efetivos para desintegrar boa parte dos espíritos malignos que estavam escapando. Enquanto o mesmo sucedeu a Hiei, que descobriu características únicas e até então desconhecidas das suas chamas negras mortais quando estas se mostraram igualmente eficazes ao queimarem tais espíritos.

Sem que percebessem, ali mesmo ao lado deles, a alma de Uragami finalmente desencarnou e deixou seu corpo. Em desespero ao se ver caído e morto ali, ele mal percebeu o momento em que foi cercado e atacado pelas incontáveis criaturas abissais, que sem cerimônia, despedaçaram e desfiguraram a sua própria alma. Levando ele e a nefasta Hoozen a um destino muito pior do que poderiam imaginar.

Vendo que a situação se tornou desesperadora, Kurama se transformou voluntariamente em Youko mais uma vez e disse a seus amigos:

 Eu preciso que vocês fiquem aqui, que contenham o avanço dessas criaturas. Eu sei que não vai dar para lidar com todas elas, mas preciso que vocês mantenham pelo menos essas portas abertas até nós voltarmos.

Já irritada por ter sido jogada no olho do furacão, Mukuro lhe disse:

 O que você pensa que irá fazer? Pretende entrar lá também? Por acaso perdeu o juízo? Pelo visto você não prestou atenção na explicação que nos deram.

Ao que Hiei complementou o que ela disse:

 Não está vendo o inferno que ele trouxe sobre nós, Kurama? Deixa o Urameshi se virar com o estrago que causou pelo menos dessa vez, além disso, ele perdeu o juízo, é um caso perdido. Ficou claro que ele só vai parar quando morrer e é melhor você não estar junto dele quando isso acontecer.

Ao que Kurama, demonstrando muita coragem, responde a Hiei:

 Eu vou entrar lá sim. E não se preocupem, eu sei bem o que eu estou fazendo. Vou trazer o Yusuke de volta a qualquer custo. Então, estou contando com vocês, não me decepcionem.

Kurama então se lançou em direção às sombras, arriscando sua própria vida enquanto atravessava as incontáveis hordas que passavam por ele como se fossem os ventos fortes de uma poderosa tempestade, até finalmente desaparecer em meio ao fluxo incontrolável de espíritos.

Ele caminhou sem direção em meio ao caos que se formou ao seu redor até se aproximar de Yusuke, já no interior da antecâmara, quando Kurama finalmente o agarrou pelo antebraço esquerdo e gritou para ser ouvido em meio ao forte barulho que a tudo abafava:

 Já chega Yusuke! Precisamos voltar.

Recobrando apenas agora à sua consciência ao se mostrar um tanto quanto preocupado com a situação do colega que o seguiu até ali, Yusuke o alertou dizendo:

 Kurama?! O que faz aqui? Não percebe que está arriscando a sua própria vida? Você não ouviu o que disseram? Ninguém pode atravessar essas sombras a menos que seja um Toshin, como eu.

Enquanto era empurrado para trás pela intensa tempestade, mas sendo arrastado cada vez mais para o fundo pelos daquele lugar maldito pelos passos poderosos do próprio Urameshi, Kurama, agarrado a ele, usou de todas as suas forças para se segurar enquanto lhe dizia:

 Não, eu não vou voltar sem você. Já acabou Yusuke, desista!

Mas decidido a pôr um fim em tudo isso, Urameshi seguiu em frente e o ignorou dizendo:
 Não! Eu não vou voltar atrás até arrancar o couro daquele desgraçado!

Após dar mais alguns passos rumo às profundezas do desconhecido, Yusuke tentou novamente olhar para trás e ver se Kurama ainda o acompanhava, porém, demonstrando uma tremenda expressão de espanto e terror, ele testemunhou o momento em que o Youko simplesmente se desfragmentou e desapareceu, sendo finalmente varrido pela força da escuridão.

A última frase que ele ouviu de Kurama, num tom sereno e esboçando um sorriso sutil, foi:

 Não se entregue a essas sombras meu amigo. E me prometa, que nunca se esquecerá de mim.

Yusuke então entrou em choque ao ver seu grande amigo ser engolido pelas sombras daquele lugar, e logo que isto aconteceu, sua mente começou a ser inundada por lamentos e angústias, e por todo o peso de sua vida e das ações que nela tomou. Ele encheu seus olhos de lágrimas e a amargura desabou sobre ele na forma de muita dor e sofrimento que lhe sobrevieram em inúmeras lembranças tristes que passaram rapidamente por sua mente quando vozes confusas se misturaram ecoando ao seu redor lhe dizendo:

– “Você fracassou. Não deveria estar aqui!” Disse um destes sussurros.
– “Seu coração é o puro mal, Youkai!” Disse outra voz em eco.
– “Está repleto de ódio! Você só pensa em lutar!” Frisou mais um daqueles murmúrios.

Yusuke então, olhou para suas mãos e elas começaram a derramar uma lama viscosa e enegrecida em grande quantidade que em pouco a pouco começou a tomar forma daquilo que ele mais temia se tornar, donde emergiu uma criatura sinistra que lhe faz tremer a própria alma! Confuso e assustado ele disse:

 Más que droga é essa agora?! O que tá acontecendo aqui?

A abominação surgiu primeiro de cócoras, devorando restos humanos como primeiro aconteceu em seu sonho, tempos atrás, e depois se ergueu, ficando de pé bem na sua frente.

Era como se Yusuke estivesse olhando seu próprio reflexo no espelho, a aparência da criatura era exatamente igual à sua. Urameshi havia se tornado um youkai, um ser das trevas. Após fitar seu olhar nele por alguns segundos, o ser macabro que se fez de sósia atirou-se violentamente contra Urameshi, mas antes mesmo que o tocasse, se dissipou nas brumas e desapareceu, mesclando-se a uma estranha névoa que pairou ao seu redor.

Na verdade, aquilo não era mais do que um simples vulto vindo de si mesmo.

Confuso e aterrorizado com o que aconteceu, Urameshi se encheu de temor e pouco a pouco, de coragem novamente ao persistir firmemente pelo caminho que escolheu, seguindo cada vez mais em direção ao fundo daquele lugar infinito, rumo ao âmago da escuridão, e em sua longa caminhada, pareceu perder a noção das horas, até se encontrar numa zona completamente vazia, uma região mais calma e totalmente erma.

Parecia que ele havia chegado ao grande nada, ao fim de tudo e de todas as coisas, onde as almas são esquecidas e deixadas para desaparecer. Onde apenas uma serena neblina, com resquícios do mundo material, se espalhava por toda parte, escondendo o horizonte. E onde um profundo silêncio fazia ecoar todo e qualquer ruído.

Repentinamente, uma ínfima chama dourada surgiu em meio à escuridão, discreta e fraca, iluminando uma criatura abatida que jazia esquecida ali a tempos, reclinada sobre si mesma, como se tivesse criado raízes. Ela então se levantou e pudemos ver agora com mais clareza de quem se tratava: Era Suizen, que se ergueu em meio ao nada e sua aura dourada se intensificou e se elevou junto com ele, até se tornar imensa e tremendamente assustadora.

Aquela força era muito maior do que a do próprio Urameshi. Ele então lhe disse:

 Seja bem vindo. Eu sou aquele que sobreviveu ao fim e que te arrastou para o vazio junto comigo. É hora de pôr um ponto final na nossa batalha.

Naquele momento, o maior de todos os confrontos estava prestes a acontecer.

Fim do episódio.
Eu não conheci o outro mundo por querer!

Eu sei que meu coração, agora dói ...

25 - ETERNAMENTE YU YU HAKUSHO

EPS – 25 COLAPSO

A escuridão do Makai parecia engolir tudo ao redor, enquanto Suizen e Mukuro se encaravam friamente. Sem aviso, Suizen explodiu em movimento, como um animal feroz liberto de suas correntes, ele investiu velozmente contra Mukuro como uma besta desgovernada, exercendo uma força bruta tão absurda e avassaladora em seus passos que fez o solo rachar abaixo dos seus pés e até mesmo o ar se curvar ao passar por ele enquanto encurtava suficientemente a distância que havia entre os dois na pretensão de atacá-la.

Suizen primeiro lhe aplicou um soco direto, desferido com seu punho esquerdo, mas ao invés do golpe seguir um caminho linear, ele rapidamente se tornou imprevisível quando mudou de direção assim que Mukuro se esquivou. Suizen torceu seu tronco e girou o antebraço para fora em um arco amplo, quase atingindo Mukuro de raspão, que apesar de sua imensa experiência e agilidade, foi pega de surpresa pelo inesperado movimento. Ela desviou por pouco do ataque, mas sentiu um vento cortante passar rente ao seu tórax, sendo pega pela extensão invisível de suas afiadas garras. Sem nem mesmo tocá-la, apenas com o deslocamento do ar, Suizen abriu um considerável rasgo em seu peito, dilacerando sua pele e esfarrapando suas roupas ao fazer um fluxo considerável de sangue jorrar.

Mukuro, porém, não recuou e quis revidar. Furiosa, ela fechou seu punho e tentou lhe atingir um poderoso soco de direita seguido por um chute de esquerda, mas Suizen se esquivou de ambos os ataques e em seguida, se agarrou a ela com força, iniciando um novo combo de indomáveis agressões:

Primeiro, seu joelho direito disparou para cima de uma maneira brutal, mirando o estômago de Mukuro. Ela tomou dois fortes golpes cujo impacto lhe causou espasmos imediatos nos músculos do seu abdômen, fazendo seu corpo se curvar. Aproveitando o momento, Suizen torceu o quadril para fora ganhando ainda mais espaço e depois, num deslocamento semi-circular, realizou um movimento quase animalesco para desferir uma joelhada ainda mais brutal, desta vez com a perna esquerda, que colidiu violentamente contra as costelas de Mukuro, destruindo-as.

Retirando as mãos de seus ombros, ele recuou seu cotovelo e finalizou o ataque desferindo um poderoso soco de direita bem no meio da face da outrora rainha do mundo das trevas com uma força devastadora, que a jogou contra uma grande rocha que havia nas proximidades. Esta imensa rocha desabou parcialmente após o impressionante impacto.

Mukuro, no entanto, não estava morta. Mas ficou ali por alguns instantes, chocada e perdida em pensamentos ao ser tomada por uma indecorosa vergonha e timidez, fruto de um silencioso constrangimento pois seu orgulho como a mais poderosa guerreira do mundo das trevas havia sido ferido já na primeira troca de golpes que cruzou contra seu mais novo e formidável adversário.

– “O que diabos foi isso?” Pensou ela. “Seus padrões de movimento são rápidos, pouco refinados e bastante primitivos. Vão além das artes marciais e se assemelham mais ao instinto natural predatório e assassino de um grande felino. Terei que adotar uma nova estratégia.”

Enquanto ela recobrava o fôlego, nas proximidades, Suizen já não podia se dar ao luxo de perder tempo e por isso, havia se agarrado aos pés de Urameshi e o arrastava pela areia em seus primeiros passos vagarosos, fitando o horizonte enquanto tentava se localizar para só então definir a direção em que Uragami estava, sendo essa também, a direção à qual deveria seguir.

– Onde o miserável do Uragami se meteu? As coisas mudaram muito por aqui nos últimos séculos. E não consigo identificar direito qual é a sua energia pois há vários indivíduos com uma youki elevada por aqui.

Mukuro por sua vez, não demorou muito a se levantar dos escombros, agora, com seu corpo recoberto por uma aura feroz de energia e muito mais determinação, tomou a iniciativa para si logo que se recobrou e partiu imediatamente para o ataque. Como um raio, ela se achegou até ele num instante e o forçou a largar Urameshi. Mukuro fez isso de maneira tão rápida, mas tão rápida, que Suizen mal teve tempo de se recompor antes que ela estivesse novamente sobre ele.

A troca de golpes que se seguiu foi extraordinária! Não havia brecha para nenhum ataque especial, era a mais pura e franca porradaria. Os ataques vinham de todas as direções e com tanta força que o corpo de Suizen começou gradativamente a se desfragmentar.

Notando com o olhar refinado de uma lutadora experiente essa nova situação, sutil e quase imperceptível, Mukuro passou aqui a adotar uma nova estratégia de batalha, altamente agressiva e ao mesmo tempo, de modo a manter Suizen sempre em constante movimento mesmo quando seria mais prudente manter distância. Ela literalmente passou a dominar o combate, com uma contínua, descomunal e igualmente inesperada chuva de golpes seguida de esquivas curtas perfeitas.

Mukuro agora enxergava com mais clareza a falta de técnica do seu adversário, via seus movimentos ligeiramente abertos e tentava compensar isso com uma postura mais centrada e segura, usando com maestria a limitação de alcance dos ataques de seu oponente, para se posicionar sempre com inigualável precisão, evitando por pouco os danos de seus ataques, ao não ser atingida diretamente por eles.

E à medida em que o combate se estendia, ficava cada vez mais clara a diferença de habilidades entre os dois. Apesar de suas energias serem muito semelhantes, o corpo de Takuma não era capaz de atender aos anseios de Suizen e não era capaz de acompanhar os movimentos de Mukuro naquela batalha de altíssimo nível. Ao pressionar ainda mais seu adversário, Suizen passou a perceber também que seu deteriorado corpo por vezes falhava, ficando paralisado nos breves instantes que sua adversária usava para contra-atacar. Isso acontecia devido aos seus danos físicos permanentes.

Ciente de suas limitações, Suizen teve que se focar na sua imprevisibilidade para se provar mais uma vez como o mais perigoso ali. Ele passou a se mover de uma maneira ainda mais primitiva e a atacar de forma caótica, como um neandertal, saltando por vezes contra ela, com a intenção de esmagá-la com ambos os punhos, e em meio a tantos movimentos simples e até desconexos, avançou tentando rasgar tudo que estivesse ao alcance de suas garras.

Cada golpe era desferido com a mais sincera intenção de lhe destruir, sem hesitação e sem qualquer padrão que pudesse por ela ser previsto. Ele não tomava fôlego, era imparável e estava claro que queria simplesmente despedaçá-la. Mukuro bloqueava como lhe era possível, desviava, tentava contra-atacar, mas Suizen sempre encontrava uma brecha, sempre conseguia romper suas defesas das formas mais inesperadas possíveis, sendo estas maneiras, tão longe da lógica e da razão, a maioria deles, vindo de algum ponto cego que ele mesmo criava posicionando estrategicamente seu corpo para burlar os seus olhos.

Mukuro naquele momento finalmente se deu conta de que estava enfrentando alguém único em todo o Makai.

Demonstrando uma brutalidade implacável, Suizen deixou claro que havia abandonado todas as formas convencionais de combate marcial, forçando Mukuro a usar sua intuição tanto quanto seu corpo para não ser rechaçada por seus golpes subsequentes. O jogo parecia ter virado mais uma vez, e a cada investida, ela se via cada vez mais pressionada. O que vimos ali, foi um pau a pau tremendo! Suizen não era apenas tão forte quanto os antigos reis do Makai, era um enigma envolto em pura selvageria.

Em determinado momento, Mukuro saltou, e após um giro, manifestou um devastador ataque de energia com a palma da sua mão esquerda. O impacto foi fulminante, formou um gêiser enquanto assoviava e por fim, uma grande explosão aconteceu. Suizen foi engolido pelo fluxo imensurável de youki que se espalhou pelo deserto arenoso daquela região do Makai como uma tempestade de relâmpagos eletrificada. Mas do centro daquelas ondas de choque e de todas aquelas explosões em cadeia, seu inimigo ressurgiu com vida, envolto em uma barreira protetora iluminada.

Espantada, ela se questionou:

– O que afinal de contas é aquilo? Nem mesmo Yomi poderia ter resistido a este ataque. A energia envolta naquela barreira é algo jamais visto. Talvez semelhante apenas à que Yusuke manifestou antes. Mas isso ainda é diferente … essa energia, está corrompida.

Assim que Suizen desfez sua barreira, seus penetrantes olhos se cravaram em Mukuro com a impetuosidade de um predador. Ele ergueu seus braços, concentrando uma quantidade insana de energia em suas mãos, de modo que foi o suficiente para iluminar o horizonte obscuro de todo o Makai.
O ambiente ao seu redor tremeu e o ar vibrava e se distorcia quando ele finalmente disparou uma rajada de energia devastadora diretamente contra Mukuro. Ela, no entanto, já estava preparada. E num movimento rápido e previamente calculado, saltou para sua esquerda, deixando o lampejo de pura luz enegrecida colidir violentamente contra o solo, explodindo em uma nuvem de destruição.

Antes mesmo que a fumaça daquele primeiro ataque se dissipasse, Suizen lançou outro, mas Mukuro como uma ágil sombra indomável, dançou entre os raios de energia que contra ela foram disparados. Cada explosão era maior do que a anterior e com isso, o chão cada vez mais se partia. Mas Mukuro manteve o foco, e sem demonstrar fraqueza, se esquivou ininterruptamente. Seus fios de cabelo foram abrasados, mas nenhum de seus ataques conseguia alcançá-la.

Ela então se lançou contra Suizen, cruzando a distância que havia entre os dois muito rapidamente. Mas ao ser quase atingida, foi forçada mais uma vez a recuar num movimento lateralmente tão amplo e com a rapidez de um raio, que forçou Suizen a ajustar o ângulo de seu ataque repetidamente.

Suizen disparou dezenas de rajadas de energia continuamente com uma raiva cega, seu youki rugiu de maneira furiosa pelo lugar, criando novas crateras e inexploradas fendas, enquanto Mukuro continuava a se desviar de maneira esguia e flexível, por vezes, se contorcendo de forma sobrenatural. Foi tudo tão rápido, que ela se tornou literalmente um vulto no campo de batalha.

Ela não apenas se esquivava, como também o provocava. Pois sabia que a volumosa energia de Suizen estava sendo drenada a cada ataque seu que era desperdiçado, e mesmo se essa energia fosse infinita, seu corpo logo iria sucumbir. Levado ao limite, a ferocidade de seu inimigo apenas crescia e a cada minuto que se passava ele estava cada vez mais perto de se consumir.

Finalmente, Mukuro conseguiu encontrar uma brecha em seus ataques e avançou pela última vez, desencadeando a mais gloriosa e formidável troca de golpes que já se viu. Eles subiram ao céu e centenas de ataques foram desferidos em segundos, de maneiras tão brutais e impactantes que era como se uma trilha sonora pulsante de pura adrenalina preenchesse o ar ao seu redor com um ritmo furioso para acompanhar seus movimentos.

Aquilo havia se tornado uma batalha épica, onde ambos emanavam poderosas ondas de youki e desafiavam os limites físicos da própria realidade. Cada investida de Suizen era ornada com demasiada escuridão, sendo este um testemunho indiscutível de sua conexão com as sombrias forças de Hametsu, enquanto Mukuro estava igualmente imersa na batalha e irradiava uma aura poderosa e nada contida que se manifestava como feixes de pura luz na cor violeta.

Ambos estavam determinados a vencer e se mostraram equiparadamente fortes, até o momento em que seus últimos golpes riscaram o firmamento e se chocaram com muita fúria num determinado ponto do céu. O impacto foi colossal! E ambos foram varridos para longe. Mas logo se reestabeleceram, e voltaram para se encararem mais uma vez, levitando frente a frente.

Diante um do outro, o campo de batalha havia ficado em silêncio, e da mesma maneira que teve início, aquela tempestade inimaginável subitamente se acalmou. Mukuro parou em pleno ar, levitando a alguns metros diante de seu oponente e passou a observar com cuidado a respiração pesada de Suizen, notou o quanto ele estava furioso, exausto, com o suor escorrendo por seu rosto, e com a sua energia cada vez mais fraca, começando a desaparecer.

Mas ignorando tudo isso com um sorriso empolgado estampado no rosto, Suizen disse a Mukuro:

– Isso foi maravilhoso! Eu não me sinto assim a muito tempo. Quem afinal de contas é você?

Mukuro se manteve calada, cuspiu o sangue que se acumulava na boca e avançou por alguns metros em sua direção com furor como se fosse reiniciar o combate, até que mais uma vez interrompeu seu ataque e parou de repente.

Confuso e sedento por sangue, Suizen a provocou dizendo:
– O que foi sua megera? Por que parou? Venha agora! Venha me enfrentar mais uma vez!

Mas com uma voz agora serena, Mukuro respondeu:
– Não. Ainda não percebeu? Parece que a minha vez de brincar com você já acabou.

Ainda confuso, Suizen insistiu:
– O que foi que você disse? Por acaso amarelou? Venha!

Neste momento, uma voz enraivecida foi ouvida por trás de Mukuro, que beirando a rouquidão dizia:

– Eu não vou morrer aqui, tá me ouvindo ô filhote do capeta? Me deixe lutar mais uma vez Mukuro. Esse desgraçado é meu!

Deixando a postura de combate de lado e movimentando-se sutilmente para sua esquerda, Mukuro deu espaço a uma figura que surgiu envolta numa verdadeiramente poderosa aura de energia atrás de si, para que ele pudesse passar. Tratava-se de Yusuke Urameshi, cujo corpo até então inerte, havia finalmente despertado de seu estado de torpor. Seus olhos irradiavam uma luz intensa, que refletia a força interior que agora o impulsionava. Sua aura dourada se elevava excessivamente ao céu, liberando pequenas partículas de energia comparadas aquelas fagulhas que regularmente vemos se desprenderem de um braseiro.

Ensandecido e tomado pela cólera agora, Urameshi retomou a palavra mais uma vez dizendo:

– Takuma! Ou melhor, Suizen! É hora do nosso segundo round, boneca!

Após socar sua própria mão esquerda em tom de ameaça, Yusuke avançou em direção ao seu inimigo, mas vendo que ele agia impulsivamente, Mukuro o deteve antes que partisse para a batalha.
Ela então lhe disse:

– Espere Yusuke, há algo importante que eu preciso lhe dizer. Esse cara não é nada normal, há alguma coisa a mais ali, muito mais antiga do que você e eu. Se enfrentá-lo cegamente, ele na certa irá matá-lo. Então me escute.

Ao mesmo tempo em que tocava o peito de Urameshi refreando seu avanço, ela seguiu dizendo:

– Enquanto lutava contra ele percebi o quanto essa criatura é primitiva, seus movimentos são imprevisíveis, então você vai ter que confiar na sua intuição. Além disso, ele possui uma estranha barreira impenetrável, que nenhum poder no mundo das trevas será capaz de romper. Temo que nem mesmo a energia de um Toshin poderá transpassá-la.

– Então é isso? Está tentando me dizer que não há como derrotá-lo Mukuro? Saiba que eu vou enfrentá-lo de qualquer jeito. E antes dessa luta acabar eu vou botar esse miserável para lamber o chão. Fica olhando Mukuro, essa pode ser a minha saideira, a minha grande despedida.

– Idiota, você não entendeu nada. E age inconsequentemente sendo o mesmo cabeça dura de sempre. Algumas vezes você poderia ser mais analítico, sabia? Você não precisa morrer aqui. Ele já está sofrendo os efeitos colaterais excessivos do combate, gastou uma quantidade significativa de energia e o corpo que possuiu já está se deteriorando. Não vai aguentar a sobrecarga de forças por muito mais tempo. E tempo é aquilo de que você também necessita. Talvez ainda haja um modo de salvá-lo. Basta sabermos qual de vocês dois vai cair primeiro.

– Ah, entendi. Então eu basicamente só preciso segurar o combate e resistir até lá? Não faz bem o meu estilo mas pode deixar que eu vou tomar cuidado. Obrigado por ter ganho algum tempo para mim, Mukuro. Sem você, uma hora dessas eu já estaria perdido. Mas agora me deixe passar, pois antes que um de nós dois desapareça, eu preciso muito socar aquilo que ele chama de cara.

Yusuke então avança furiosamente contra Suizen para findar a batalha.

Noutro ponto do campo de batalha, a gigantesca fissura que se abriu no solo do mundo das trevas  alargava-se como uma boca faminta, devorando tudo que havia em seu caminho para as mais profundas entranhas da terra enquanto, mergulhando nas profundezas, Hoozen se agarrava a Hiei num abraço suicida, medindo forças com ele enquanto o mesmo se debatia. 

Eles se mantiveram envoltos nessa dança mortal em pleno ar até que ela lhe disse:
– Eu vou te conduzir para o inferno!

Mas Hiei, com uma determinação incrível, respondeu:
– Você quer conhecer o inferno? Então eu vou te mandar pra lá pessoalmente.

Com um movimento repentino de sua cabeça, Hiei acertou a boca da youkai e se libertou, ao mesmo tempo em que seu braço direito começou a resplandecer inteiro em uma luz negra diferente. Concentrando poderosamente suas energias, Hiei invocou as chamas do submundo, e as moldou inconscientemente numa imagem distorcida semelhante ao Ryutoki que seu pai outrora invocou. O rosto sombrio e ameaçador da criatura surgiu nas chamas, lançando seu feroz olhar para Hoozen antes de toda a fenda se acender numa grande fornalha incandescente.

Ao mesmo tempo, lá em cima, Darla se preparava para mergulhar no abismo para lhe socorrer, mesmo com o seu braço estando ferido. Mas antes que pudesse agir, ela testemunhou uma monumental erupção de chamas irromper através da fenda, e se elevar por dezenas de metros acima do solo. 

Iluminando todo o lugar com um clarão infernal, as chamas se ergueram em pilares gigantescos, que lançaram suas sombras dançantes pelos arredores do que sobrou do vilarejo. Com os olhos arregalados, Darla assistiu ao espetáculo aterrador, até que passados alguns instantes, ela viu uma sombra se mover entre as chamas, e avistou Hiei emergir das profundezas da fenda, esgotado e tremendamente ferido, mas inteiro e triunfante. 

– Hiei! Foi você quem fez tudo aquilo? Perguntou Darla.

Ao que ele respondeu:
– Foi. A maldita vai arder até que morra engolida pelas minhas chamas.

_ Então Hoozen, finalmente morreu?

Em resposta, Hiei disse que sim. Mas ao fitarem o abismo, de sua adversária não havia sinal algum, e quando as chamas se apagaram de vez, apenas o vazio permaneceu, deixando os dois aliviados mas com um insistente sentimento de inquietude e incerteza. 

Teria sido este realmente o fim de sua rival? Hoozen havia se mostrado tão dura na queda que era realmente difícil de acreditar que eles finalmente a tivessem vencido.


Não muito longe dali, Yusuke avançou furiosamente contra Suizen para dar fim a essa batalha, cortando o céu numa velocidade incrível e externando uma força arrasadora. Cada golpe seu, carregado com a mais pura raiva e energia destrutiva, fazia o ar estremecer como ocorre quando é rompida a velocidade do som. A cada contato entre os dois, uma nova sequência de golpes brutais era desferida. 

Mas Suizen, também se movia rápido demais, e com uma destreza tão imprevista que acabava escapando por um fio de suas investidas. Sempre que Urameshi estava para atingi-lo, como uma sombra, Suizen se desvanecia no ar e desaparecia no mesmo instante.

Irritado, mas com determinação, Yusuke gritou:
– Você não vai fugir de mim pra sempre, Suizen! 

Ao que recebeu em resposta por parte de seu oponente:

– Me atacar desse jeito é uma piada garoto. Toda essa força ... é insignificante se você não souber usá-la! Se quer mesmo me destruir, vai precisar de muito mais do que você tem agora. Eu já enfrentei deuses da batalha antes, guerreiros formidáveis como Houko e o próprio Raizen, então eu digo, você não é nem sombra do que eles já foram um dia.

Irritado, Yusuke perguntou retoricamente:
– É o que? Tá fazendo pouco caso de mim?! Ah maldito! Eu vou te mostrar.

E cerrando os punhos, prosseguiu com o ataque. Golpe após golpe, de maneira cada vez mais rápida e brutal, Yusuke foi se aproximando, mas seu inimigo, mesmo sendo furiosamente pressionado, parecia manter-se por cima, como um predador dominando sua caça. Seu sorriso sinistro ainda permanecia escancarado e intacto em seu rosto e isto era o que mais lhe incomodava.

Até que em meio à trocação insana de golpes, Yusuke finalmente o atingiu, primeiro uma vez, depois outra e mais uma. E começou a perceber que a cada novo golpe seu, aquele maldito sorriso desaparecia e se apagava, mesmo que apenas por um segundo enquanto ele se contorcia de dor. Suizen parecia odiar ser tocado por aquela aura de luz que envolvia os punhos de Urameshi, mas não era só isso que o inquietava, também, o orgulho ferido. O orgulho de uma besta que nunca aceitaria ser ferida ou derrotada.

– "Você tá sentindo isso, né?" rosnou Yusuke. “Sentiu como a minha mão é pesada?” continuou.

Enquanto socava Suizen mais uma vez com ainda mais força, ele novamente gritou:

– Você não sabe o prazer que me dá enfiar a mão com gosto bem no meio dessa sua cara feia!

Mas defendendo-se com os antebraços, Suizen respondeu:

– Tolo, suas palavras são tão vazias quanto sua resistência. É você quem vai morrer no final se continuar abusando de sua força  assim.

Mas os impactos passaram a ser subsequentes e os insultos de Yusuke, lhe sobrevieram acompanhados de indefensáveis e impiedosos golpes. A cada chute que desferia, ele aproveitava a oportunidade para lançar uma nova provocação venenosa dizendo:

– "Qual é, gostosão? Não era você o bam bam bam da parada? Toma aqui mais essa bicuda!

E quanto mais ele sorria, mais seu adversário se irritava. Sua expressão antes calma e confiante agora se desmanchava, desfigurada em uma máscara de puro ódio. Até que Suizen também gritou, e esbravejando rugiu: 

– "JÁ BASTA! E CALE ESSA MALDITA BOCA!"

Levantando suas mãos para o céu e perdendo completamente o controle, Suizen lançou uma devastadora chuva de rajadas de energia. Ele botou tudo pra fora e atacou com muita força, mas consequentemente, sem nenhuma precisão. O campo de batalha inteiro mais uma vez foi devastado enquanto Yusuke desviou daquele ataque precipitado facilmente. E sorrindo, viu que suas provocações haviam deixado o orgulhoso Suizen descuidado.

Enquanto o caos ao seu redor demasiadamente crescia, em tom jocoso Yusuke disse:

– E não é que eu enfezei o desgraçado de vez? Olha que maravilha! Eu gosto é assim. Eu gosto é de ver nego pilhado e a coisa toda pegando fogo.

Em meio a mais esquivas, Yusuke então perguntou:
– Aí maluco, tudo isto é desespero?

Ao que Suizen respondeu:

– Não, desespero é o que eu trago! E a minha fome por destruição é maior que a sua vontade de vencer!

Diante do fluxo incontrolável de rajadas de energia, em fuga, Yusuke se lançou através de uma pequena floresta de vegetação curvada e surrealista que havia na região próxima ao curral humano que anteriormente destruiu, as árvores logo se tornaram um borrão de cores e formas distorcidas enquanto Yusuke a atravessava bem pelo meio delas numa velocidade incrível. Atrás de si, Suizen lançava rajadas cada vez mais massivas de energia puramente negra, gerando uma espécie de tempestade sombria. Tudo parecia se desintegrar atrás de si e foi formado um rastro de destruição imenso.

Urameshi então, passou a contra-atacar. Disparando, mesmo enquanto se movia, uma série de explosivos espirituais que colidiram com as rajadas de Suizen em pleno ar e também, com a sua poderosa barreira. Ao disparar por fim um poderoso Leigun, um raio devastador cortou o céu e colidiu diretamente contra sua barreira, causando um impressionante trovão que reverberou por toda a floresta sombria. 

A barreira, inicialmente impenetrável, oscilou e piscou até que finalmente rachou e desapareceu, deixando cair uma cascata de fragmentos de energia que se misturaram ao poder divino de Yusuke antes de atingir o chão. 

Ao tocar o solo, as explosões de energia negativa geradas pela mistura de forças, foram tão violentas que mexeram com o tecido da realidade do campo de batalha, formando “zonas acinzentadas e mortas” em que a energia vital parecia ter sido sugada e conduzida para outra dimensão. Era como se tivessem derramado ácido em tudo que existia por ali. A terra era calcificada, parcialmente derretida e marcada com uma grande mancha cinzenta. E a cada explosão, a floresta e tudo mais que havia ao seu redor, se partia.

Suizen então, desceu rumo ao solo e buscou Yusuke em meio à densa nuvem de poeira de rocha vaporizada misturada à fumaça que se formou. Urameshi naquele momento concentrou sua força em um pequeno Leigun, e envolveu a esfera brilhante com pequenas e estranhas centelhas de pura luz. Ele disparou diretamente contra Suizen, que ao ver um ataque tão medíocre, zombou, escarnecendo dele:

– O que foi garoto? Por acaso a sua energia já se esgotou? Que porcaria de disparo é este?

Com um sorriso debochado estampado em sua face, Suizen esbofeteou o Leigun com toda força, como na reação automática e instintiva de um animal, fazendo o mesmo se desfragmentar em pleno ar. Mas, naquele mesmo instante ele percebeu que havia cometido um grave erro, pois as faíscas que gerou com seu golpe, incendiaram todo o solo abaixo de si, que estava repleto de óleo sem ele nem mesmo perceber.

De repente, aquele ponto da misteriosa floresta explodiu em chamas, e gêiseres incandescentes subiram por dezenas de metros através do céu. As labaredas iluminaram todo o lugar, transformando o cenário da batalha num verdadeiro inferno.

Suizen então, reforçou seu campo de força e voltou a atacar, erguendo-se mais uma vez por dezenas de metros através do céu e disparando novos e incontáveis projéteis de energia aleatoriamente, que forçaram Yusuke a se movimentar mais uma vez pelo que restou da floresta em chamas indo em direção a um enorme montanha. Encurralado entre as subsequentes explosões e o paredão do grande rochedo, Yusuke se viu engolido pela força de um novo ataque, disparado pela mão esquerda de seu inimigo. 

A colossal esfera de energia desintegrou completamente a área, criando uma bola de fogo gigantesca e muito intensa, além de gerar uma chuva inimaginável de destroços. Confiante de que o golpe havia surtido efeito, Suizen testemunhou perplexo o momento em que Urameshi atravessou toda aquela monstruosa esfera de chamas e veio em sua direção.

Mais possesso do que nunca e disposto a acabar com o predador que o ameaçava, em êxtase, Urameshi berrou:

– Você vai cair!

E tomado pela mesma fúria assassina, Suizen gritou em resposta:

– Não, quem vai cair é você! E quando eu acabar contigo, será como se nunca tivesse existido.

Os punhos de Urameshi então, dispararam descontroladamente uma nova chuva incessante de golpes contra seu oponente, e a cada manifestação do leigun, faíscas de pura energia explodiram pelo ambiente. Apesar daquela nova barreira ainda proteger seu inimigo, Yusuke notou que ela já não era mais tão sólida quanto antes. Pequenas falhas apareciam continuamente no campo de força que o envolvia, como se aquela barreira estivesse prestes a ceder. 

Yusuke então sorriu, percebendo que, por mais que a barreira ainda resistisse, a qualquer momento agora ela iria desabar. Ele já não tinha mais energia para mantê-la. Yusuke precisava de mais poder bruto naquele momento, precisava se manter firme e de pé na mais profunda persistência. Sua intenção era simples: cansar Suizen até que o próprio demônio caísse de exaustão, mas algumas vezes sua força parecia infinita.

Focado no oponente e ignorando o próprio estado em que ele mesmo se encontrava, Yusuke novamente o provocou:

– Já tá no fim, hein, seu mal-acabado.

Mas em resposta, Urameshi tomou um soco certeiro bem no lado direito da face e voou por dezenas de metros enquanto Suizen falava: 

– Você acha mesmo que este é o meu fim? Este é o seu fim. Eu vivi mais de mil anos na escuridão ... você não sabe sequer o que é a dor, e nem mesmo começou a entendê-la!

Em meio àquele embate feroz, Suizen esticou seu braço esquerdo e preparou uma nova ofensiva. Mas quando estava pronto para disparar um poder aterrador, uma presença inesperada nas proximidades o deteve. Ele sentiu que havia alguém o observava de perto. E quando virou a cabeça ligeiramente para o lado, se viu diante da presença de Mukuro.

Silenciosa e imóvel, ela observava cada movimento da batalha. Suizen então hesitou, congelado por um breve momento. Não sabia se ela iria intervir e atacar ou não, e no segundo seguinte, o ataque que preparava simplesmente foi desfeito e desapareceu de suas mãos. No entanto, Mukuro ainda assim não se moveu, seus olhos frios apenas o seguiam penetrantemente.

Apenas alguns segundos mais tarde é que ele percebeu que ela só estava assistindo, havia ficado claro que ela não iria intervir. Essa batalha era do Urameshi. Talvez, a sua grande despedida, e não seria Mukuro quem iria interrompê-la.

Trancando os dentes com irritação pelo tempo perdido, Suizen voltou sua atenção mais uma vez para Yusuke, mas algo inesperado aconteceu. Uma força colossal o atingiu em cheio após o fulgurante disparo de mais um leigun. Ao virar seu rosto para Urameshi, ele só pôde notar o brilho da monstruosa bola de energia vindo em sua direção, antes de ser engolido por ela. 

Após uma grande explosão que iluminou os céus, Suizen caiu em chamas violentamente contra o solo, próximo a uma grande fenda.

Ao tentar se levantar, percebeu que o corpo de Takuma, que é usado por ele como um recipiente, como um avatar para que se manifeste no mundo dos vivos, havia sido parcialmente desintegrado e destruído. Uma nuvem de pequenas partículas então se formou, a partir de sua carne acinzentada e do que restou de seus ossos, que se evaporavam no ar. 

Tentando conter desesperadamente aquela notável perda e manter o controle de si, Suizen começou a se regenerar, tentando fazer as partículas ficarem juntas para recriar seus membros perdidos, mas elas lhe escapavam, então reclamou veementemente dizendo:

– Maldito corpo, é frágil demais! E está se esfacelando.

Enquanto Suizen lutava contra a falência de seu receptáculo, Yusuke disparou de longe um poderoso leigun, que se desmanchou abruptamente ao entrar em contato com uma nova barreira que, enfraquecida, logo também se desfez. 

Surpreso, Suizen viu seus olhos se estreitarem ao observarem Yusuke ressurgir no local, acompanhado logo em seguida por Mukuro, que permanecia calada mas com um sorriso. Havia algo diferente em Urameshi, algo mais profundo e ancestral. A energia que Yusuke estava manifestando parecia ter mudado, crescido e se moldado enquanto ele esticava seu dedo para disparar um último leigun. 

Por um breve momento, Suizen sentiu algo gelar dentro de si, ele reconheceu aquela assinatura espiritual, sentiu algo que estava vivo e que pulsava em cada célula do corpo de Urameshi. Era sem dúvidas a presença demoníaca do próprio Raizen diante de si. Ele não estava realmente ali, mas paralisado por antigas memórias de um confronto brutal que no passado ocorreu, pela primeira vez em séculos ele sentiu medo.

Irritado e tentando se manter de pé após aparentemente consumir suas últimas forças, Urameshi novamente disparou seu leigun enquanto gritava com todo o sopro dos seus pulmões:

– PARE DE SE ESCONDER NESSA BARREIRA MALDITA, DESGRAÇADO! EU NÃO VOU MORRER SEM ANTES TE DERROTAR!

O seguinte disparo porém, eclodiu ineficazmente contra sua poderosa barreira mais uma vez.

Ofegante e completamente esgotado agora, Urameshi finalmente perdeu sua transformação Toshin. Seu cabelo e suas roupas deixaram de ser alvos e ele voltou a manifestar seu aspecto Mazoku de sempre.

Concentrando então, tudo o que lhe restava daquela fabulosa energia no último disparo que preparava em suas mãos, Yusuke não perdeu tempo. Com um grito furioso, descarregou a mais estupenda bola de energia espiritual de que se tem notícia, mirando diretamente contra o núcleo maligno que ocupava o lugar do coração de seu oponente. 

Naquele momento, o sorriso de Yusuke era selvagem, e ao mesmo tempo eufórico, como se estivesse demasiadamente empolgado com o que aquilo faria ao seu inimigo. 

Ao ver o brilho fulgurante e intenso vindo em sua direção, Suizen também concentrou toda a força que lhe restava para intensificar sua impressionante barreira, intentando resistir ao ataque do seu adversário. 

Confiante de sua vitória, ele gritou:
– Jamais me atingirá! Essa barreira é impenetrável! 

Mas rompendo suas expectativas, o monstruoso disparo do leigun de Yusuke dessa vez a atravessou, sem nenhuma dificuldade, como se fosse um fantasma, e explodiu apenas quando entrou em contato com seu oponente, já do lado de dentro, no interior da inderrubável barreira. 

O ataque foi tão devastador e a explosão foi tão intensa que Suizen a sentiu lá das trevas através de sua conexão. Tremendo, e com a mão eletrificada por um brilho dourado, ele então percebeu: Aquilo não era meramente uma rajada de energia qualquer, mas sim, algo mais intangível, espiritual e dimensionalmente penetrante. Aquilo visava destroçar diretamente a sua alma e não apenas o núcleo maligno de seu inimigo. 

Nas profundezas de Hametsu ele sussurrou:

– É impressionante! O garoto é muito esperto, e mais uma vez me surpreendeu. Por mais que um alvo possa resistir fisicamente a isso, qualquer outro teria sentido uma dor insuportável até que sua alma fosse dilacerada. Mas esse tipo de ataque eu conheço bem, ele é capaz de fragmentar parte da essência espiritual do inimigo, enfraquecendo-o permanentemente. Sem dúvidas, muito semelhante a uma técnica devastadora que a muito tempo eu enfrentei, desenvolvida pelo próprio Raizen durante a última era negra das sangrentas guerras demoníacas. 

Sacudindo sua mão dormente buscando alívio, Suizen então disse:

– Muito bem, Yusuke. Não vejo a hora de enfrentá-lo cara a cara. Vai ser muito prazeroso matá-lo com as minhas próprias mãos.

O golpe disparado por Yusuke havia lhe causado certo reconhecimento, e ecoou pelas profundezas de Hametsu como uma espécie de vingança ancestral. Era como se Raizen tivesse ajudado de algum modo seu descendente indiretamente a derrotar seu antigo inimigo. Mas a verdade é apenas que os dois haviam chegado ao mesmo resultado por caminhos diferentes.

Longe dali, no campo de batalha, uma nuvem densa de poeira havia se formado diante de Yusuke, encobrindo totalmente o corpo de Takuma após a devastadora explosão. Aliviado com o desfecho da batalha, Urameshi enfim exclamou:

– Acabou. Finalmente esse aí morreu. Essa peste não vai mais nos incomodar.

Mas, surpreendendo a todos, uma voz grossa e poderosa foi, em resposta, ouvida:
– Não. Creio que nós já te dissemos, isso nunca vai acabar fedelho!

Ao se virar para o profundo abismo que os cercava, Yusuke viu a figura aterradora de Hoozen ressurgir no local. Apesar dos graves ferimentos de sua última batalha contra Hiei, ela sobreviveu e se dirigiu até ali. E mesmo carbonizada e parcialmente derretida, ainda estava disposta a lutar. Sua presença, sem dúvidas, lhes causava terror.

Com convicção e um sorriso psicótico no rosto ela, então, lhe disse:

– Nós somos uma força imparável, não entende moleque? Nós, Mazokus, somos fortes demais. Sobrevivemos a tudo que essa terra atormentada nos ofereceu durante os últimos 20 séculos, e não vai ser você quem irá nos derrotar. Não é mesmo Takuma?

Por um breve momento de tensão, Yusuke suou frio, pensando que mesmo esgotado agora, ainda teria que enfrentar Hoozen e Takuma novamente. No entanto, quando a fumaça se dispersou e seus olhos puderam ver, foi revelado o corpo inerte de Takuma, e só então, algo verdadeiramente inesperado aconteceu. A figura antes ameaçadora e terrível, começou a se esfarelar lentamente. O outrora formidável guerreiro Mazoku se dissolveu em cinzas que se espalharam suavemente pelo chão, deixando Hoozen paralisada e perplexa.

– "Tá, Takuma … ?" Disse Hoozen incrédula e gaguejando antes de cair desiludida de joelhos, agora, sem demonstrar aquela voz poderosa que a pouco transbordava tanta confiança.

O silêncio então reinou por alguns instantes, enquanto as criaturas ferozes antes invocadas por Takuma para perseguir os moradores evaporavam-se juntamente com ele por todo canto. A arrogância de Hoozen se desfez e seu rosto agora refletia a mais pura desolação de quem acabara de perder o controle da situação. Tudo aquilo que antes lhe guiava, parecia ter perdido o sentido agora, desaparecendo junto com as cinzas de Takuma. Era difícil admitir, mas eles finalmente haviam sido derrotados.

Fim do episódio.
Eu não conheci o outro mundo por querer!

Eu sei que meu coração, agora dói ...